Arquivo da Categoria: aspirinas

Vemo-nos em Fátima. Ou em Évora Monte.

Viu a luz? Creio que não.

“Os desastres de 1834 (…)” – 1834? mas qual desastre de 1834? mas que horrendo Apocalipse considera o imperial César se terá passado em 1834?

Das duas uma: estará a referir-se à assinatura da Convenção de Évora Monte, onde lacaios do comunismo-ainda-por-nascer, esse bacocos que se batalhavam por ideais fraudulentos e despesistas forçaram Sua Real Majestade D. Miguel I, Rey de Portugal, dos Algarves e de Além-mar, a assinar, contra a vontade de Deus nosso-senhor, um pedaço de papel demoníaco, em que abdicava dos seus salvadores projectos absolutistas para a pátria e pró ‘sereno’ povo?

Ou estará o ártico das Neves referindo-se à socrática D. Maria II, brasuca de nascença (oh impura Bragança!), que, ao chegar ao fanado trono real nesse mesmo ano, decidiu, com um blasfemo desplante, renegar a magna e legítissima dívida contraída por seu nobre tio e ex-noivo junto de banqueiros da Santa Aliança com o intuito de custear a defesa da honra e pureza do rei de poder absoluto incontestável na guerra contra os fanáticos liberalistas?

Deduzindo que estamos a falar do segundo (estou de bom humor), S. João César, tutor na Apostólica Católica Romana Escola de Lisboa, acha mesmo correcto comparar tal momento do luso passado com o de 1890 (Ultimato Inglês) e 1926 (golpe de 28 de Maio), equiparando-os na escala de ‘desastres’? Pegar na história recente de Portugal, mandar uns pontos altos da wikipédia ao ar, e concluir que “não são azares externos, mas efeito directo das soluções milagrosas da elite, que depois compõe uma magna falsificação histórica para se desculpar e acusar os adversários”? Eu até assinava por baixo esta (tímida) declaração, não fosse o autor um ilustre membro dessa mesma elite, a que falsifica história (case & point), que turva o presente com o intuito de se desculpar a si e aos seus e, como corolário, crucifica os que lhe fazem oposição com o pensamento.

Ao Caro Dom Neves, proponho que se entusiasme menos com cada livrito que lhe apareça à frente a dizer menos mal da Inquisição numa caixa do Pingo Doce perto de si e pegue na sua sofistica conclusão e comece por aplicá-la à sua douta pessoa, como um mantra (credo, mil perdões, como um ‘salmo’) no qual poderia melhor desenvolver o seu enferrujado e beato raciocínio.

Deduzo que não o fará. Vemo-nos em Fátima. Ou em Évora Monte.

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Oferta do nosso amigo David Crisóstomo

Relvas, o fazeiter

Gostei muito de ouvir o Príncipe de Massamá afirmar que não demite o ministro Relvas porque ele é um “doer” (em americano, “fazeiter”). Concordo plenamente e acrescento que é também, sem sombra de dúvida, um mestre do verbo e sua reinvenção. As cadeiras que a generalidade dos estudantes faz “a doer”, com muito estudo e trabalho, fá-las o “doer” simplesmente sendo-o, isto é, fazendo (em americano, “fazeiting”).

Ora um “doer” de cadeiras, como é fácil de entender, é coisa bem mais inteligente do que cadeiras a doer, extravagância antiquada que é consabidamente responsável pelo crónico atraso do país.

Dizem os happy few que tiveram o privilégio de assistir que dá gosto ver o “doer” (em americano erudito, “fazeiteiro”), com um martelo na mão, “fazeiting” cadeiras para bundas virtuais à velocidade de um flato do bosão de Higgs. Tão inestimável capacidade levou, aliás, a Universidade Lusófona a decidir equivalenciar-lhe (em americano, “equivaleitingar-lhe”) a licenciatura em Carpintaria de Toscos, com posterior doutoramento “odoris causa” (na genial terminologia do Marco Alves) em Cadeiras a Martelo.

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Oferta do nosso amigo Joaquim Camacho

Da procura do conhecimento permanente

O Relvas debitou ontem, com os olhos em alvo e aquela cabecinha linda a girar ainda mais furiosamente que o habitual, qual ventoinha louca, a pérola que se segue:

«NORTEIO A MINHA VIDA PELA SIMPLICIDADE DA PROCURA DO CONHECIMENTO PERMANENTE.” (sic)

Duas conclusões:

1 – A patética verbalização em público da “fórmula” com conotação maçónica tem todo o aspecto de apelo subliminar desesperado às hostes da confraria (aux armes, citoyens!) para que não o deixem cair, tentando contrabandear a ideia de que o que lhe está a acontecer resulta não de pecados próprios mas sim de um ataque insidioso à agremiação, que assim se sentiria na obrigação de fazer tudo para impedir o “irmão” de se estatelar. Esperança idiota, penso eu de que, não me parece que os manos vão na conversa.

2 – Mas ao mesmo tempo, duro de ouvido e cábula como parece ser, (mal) habituado a que a matéria pegada com cuspo lhe chegue para singrar em mar calmo de equivalências, papagueou a máxima ao contrário e saiu-lhe a equivalência gripada. O lema maçon é, tanto quanto julgo saber, qualquer coisa equivalente (cruzes, canhoto!) a “procura permanente do conhecimento” e não “procura do conhecimento permanente.” Isto, mais uma vez, penso eu de que.

Aliás, que porra poderia ser essa de “conhecimento permanente”? Conhecimento cimentado com doses maciças de fósforo? Conhecimento à prova de Alzheimer? Wikipédia em comprimidos… ou intravenosa… ou em supositórios? Estará a resposta no bosão de Higgs?

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Oferta do nosso amigo Joaquim Camacho

A Constituição não cede à crise: eis a sua mais bela função. Ganharam os que serviram de bode expiatório das contas públicas

“A diferença de tratamento é de tal modo acentuada e significativa que as razões de eficácia da medida adotada na prossecução do objetivo da redução do défice público para os valores apontados nos memorandos de entendimento não tem uma valia suficiente para justificar a dimensão de tal diferença, tanto mais que poderia configurar-se o recurso a soluções alternativas para a diminuição do défice, quer pelo lado da despesa (v.g., as medidas que constam dos referidos memorandos de entendimento), quer pelo lado da receita (v.g. através de medidas de carácter mais abrangente e efeito equivalente à redução de rendimentos). As referidas soluções, podendo revelar-se suficientemente eficientes do ponto de vista da realização do interesse público, permitiriam um desagravamento da situação daqueles outros contribuintes que auferem remunerações ou prestações sociais pagas por verbas públicas.

Daí que seja evidente que o diferente tratamento imposto a quem aufere remunerações e pensões por verbas públicas ultrapassa os limites da proibição do excesso em termos de igualdade proporcional.

Apesar de se reconhecer que estamos numa gravíssima situação económico-financeira, em que o cumprimento das metas do défice público estabelecidas nos referi­dos memorandos de entendimento é importante para garantir a manuten­ção do financiamento do Estado, tais objetivos devem ser alcançados através de medi­das de diminuição de despesa e/ou de aumento da receita que não se traduzam numa repartição de sacrifícios excessivamente diferenciada.

Aliás, quanto maior é o grau de sacrifício imposto aos cidadãos para satisfa­ção de interesses públicos, maiores são as exigências de equidade e justiça na repartição desses sacrifícios.

A referida situação e as necessidades de eficácia das medidas adop­tadas para lhe fazer face, não podem servir de fundamento para dispensar o legisla­dor da sujeição aos direitos fundamentais e aos princípios estruturantes do Estado de Direito, nomeadamente a parâmetros como o princípio da igualdade proporcional. A Constituição não pode certamente ficar alheia à realidade económica e financeira e em especial à verificação de uma situação que se possa considerar como sendo de grve dificuldade. Mas ela possui uma específica autonomia normativa que impede que os objetivos económicos ou finan­ceiros prevaleçam, sem quaisquer limites, sobre parâme­tros como o da igualdade, que a Constituição defende e deve fazer cumprir.

Deste modo se conclui que as normas que preveem a medida de suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal ou quaisquer prestações corresponden­tes aos 13.º e, ou, 14.º meses, quer para pessoas que auferem remunerações salariais de entidades públicas, quer para pessoas que auferem pensões de reforma ou aposenta­ção através do sistema público de segurança social, durante os anos de 2012 a 2014, violam o princípio da igualdade, na dimensão da igualdade na repartição dos encargos públicos, consagrado no artigo 13.º da Constituição.

Por esta razão devem ser declaradas inconstitucionais as normas constantes dos artigos 21.º e 25.º, da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro (Orçamento do Estado para 2012), tornando-se dispensável o seu confronto com outros parâmetros constitucio­nais invocados pelos Requerentes.

Apesar de a situação específica dos reformados e aposentados se diferenciar da dos trabalhadores da Administração Pública no activo, sendo possível quanto aos primeiros convocar diferentes ordens de considerações no plano da constitucionalidade, em face da suficiência do julgamento efectuado, tendo por parâmetro o princípio da igualdade, tal tarefa mostra-se igualmente prejudicada.

6. Estas medidas de suspensão do pagamento de remunerações e de pen­sões inserem-se, como ficou aludido, no quadro de uma política económico-financeira, tendente à redução do défice público a curto prazo, de modo a dar cumprimento aos limites (4,5% do PIB em 2012) impostos nos memorandos acima mencionados, os quais condicionam a concretização dos empréstimos faseados acordados com a União Europeia e com o Fundo Monetário Internacional.

Sendo essencial para o Estado Português, no atual contexto de grave emer­gência, continuar a ter acesso a este financiamento externo, o cumprimento de tal valor orçamental revela-se, por isso, um objetivo de excecional interesse público.

Ora, encontrando-se a execução orçamental de 2012 já em curso avançado, reconhece-se que as consequências da declaração de inconstitucionalidade acima anun­ciada, sem mais, poderiam determinar, inevitavelmente, esse incumprimento, pondo em perigo a manutenção do financiamento acordado e a consequente solvabilidade do Estado. Na verdade, o montante da poupança líquida da despesa pública que se obtém com a medida de suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal ou prestações equivalentes a quem aufere por verbas públicas, assume uma dimensão relevante nas contas públicas e no esforço financeiro para se atingir a meta traçada, pelo que dificil­mente seria possível, no período que resta até ao final do ano, projetar e executar medidas alternativas que produzissem efeitos ainda em 2012, de modo a poder alcançar-se a meta orçamental fixada.

Estamos, pois, perante uma situação em que um interesse público de excep­cional relevo exige que o Tribunal Constitucional restrinja os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos permitidos pelo artigo 282.º, n.º 4, da Constituição, não os aplicando à suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal, ou quaisquer prestações correspondentes aos 13.º e, ou, 14.º meses, relativos ao ano de 2012.

Decisão

Pelos fundamentos expostos:

a) Declara-se a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, por viola­ção do princípio da igualdade, consagrado no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, das normas constantes dos artigos 21.º e 25.º, da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro (Orçamento do Estado para 2012).

b) Ao abrigo do disposto no artigo 282.º, n.º 4, da Constituição da República Portuguesa, determina-se que os efeitos desta declaração de inconstitucionalidade não se apliquem à suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal, ou quaisquer prestações correspondentes aos 13.º e, ou, 14.º meses, relativos ao ano de 2012.

Lisboa, 5 de julho de 2012.- João Cura Mariano – Ana Guerra Martins – Joaquim de Sousa Ribeiro – Maria João Antunes – Carlos Fernandes Cadilha – Gil Galvão – Catarina Sarmento e Castro (com declaração, quanto ao efeitos) – Carlos Pamplona de Oliveira (vencido quanto à alínea b), nos termos da declaração junta) – J. Cunha Barbosa (com declaração de voto quanto aos efeitos) – Vítor Gomes (Vencido, quanto à al. a) da decisão, nos termos da declaração anexa). – Maria Lúcia Amaral (vencida, quanto à alínea a) da decisão, nos termos da declaração anexa) – Rui Manuel Moura Ramos (Vencido, quanto à alínea a) da decisão, nos termos da declaração anexa).”

ver aqui todo o AC do TC

Relvas agrava a crise do crédito malparado

O curso de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Lusófona, de 6 semestres, tem 36 disciplinas, correspondentes a 180 créditos. Admitindo boamente (não estou a dizer que acredito) que o Relvas passou em 12 exames em 2006-2007, restavam 24 cadeiras, correspondendo mais ou menos a 120 créditos.

O Público analisou os regulamentos para reconhecimento de competências de outras instituições de ensino, como a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a Universidade do Algarve e a Universidade Autónoma e verificou que, nestas instituições, a creditação de competências originárias da “experiência profissional” não podem ultrapassar os 30 créditos, no caso da primeira, e de 60 créditos, no caso das restantes.

Como é que foram atribuídos os tais 120 créditos (se não foram mais) a Relvas?

A Lusófona não quer explicar, por isso vou imaginar:

30 créditos – valiosa “experiência profissional” adquirida como secretário de Estado no governo de Barroso.

30 créditos – simpatias maçónicas da Lusófona.

10 créditos – bónus de manteigueiro.

10 créditos – prémio de chico-esperto.

10 créditos – cartão do partido laranja.

10 créditos – cunha de Silva Carvalho.

10 créditos – comprados na candonga.

10 créditos – surripiados num cacifo da Lusófona.

Cenas dos próximos capítulos: a licenciatura de Passos Coelho em Economia na Universidade Lusíada (2001).

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Oferta do nosso amigo Júlio

Uma nódoa de vinho tinto à vista de toda a gente

Ao considerar que averbou uma vitória este governante de baixo calibre demonstra claramente que ainda não percebeu o que é que pôs em causa com as suas atitudes prepotentes e chantagistas e com as suas ligações ao submundo malcheiroso da promiscuidade entre os serviços de informação, o governo e o mundo empresarial. O fulano ainda não percebeu que pôs em causa a credibilidade do governo pelo qual dá (ou costumava dar) a cara diariamente. Nem ele nem o personagem cinzento, esquivo e relapso que dirige o governo querem perceber isso. O tempo se encarregará de lhes mostrar que não podem assobiar para o lado. Qualquer governo PERDE por ter alguém tipo Relvas a dar a cara por ele. Será assim tão difícil de entender?

De que vitória se gaba o abstruso governante? Vitória sobre Maria José Oliveira, que investigou as suas mentiras e a quem a insolidária directora do Publico criou uma situação tal que a jornalista, enojada, se sentiu obrigada a demitir-se? Isto é uma vitória para o fulano? Uma vitória para ele é quando uma jornalista que lhe é desagradável é safada do mapa?

Por maioria de um voto alaranjado, a ERC aprovou, ao fim de um mês a arrastar os pés, obviamente para deixar esfriar o caso, uma declaração tipo Pilatos, em que, fingindo-se tribunal, dava como não provado algo que só poderia ser provado (em tribunal) se houvesse uma gravação (ilegal) do telefonema, ou se este tivesse sido ouvido em alta-voz na sala da redacção pelos restantes jornalistas. Assim, é a palavra dele contra a da editora política do Público. Mas qual é o português, da extrema direita à extrema esquerda, que neste caso acredita na palavra dele? Grande vitória!

Atenção: a editora política do Publico, que testemunhou sobre o teor e o tom dos telefonemas, ainda não se demitiu. É uma meia vitória, quando muito, não?

A pergunta que a jornalista Maria José Oliveira pôs ao foleiro governante ainda não foi por ele respondida até hoje. Disse que 32 minutos era apertado para responder. De quantos meses precisará? Repita-se aqui a pergunta: se Relvas só conheceu Silva Carvalho em 2010, como afirmou no parlamento, como é que em 2007 já recebia recortes de imprensa do fulano, que na altura era director da secreta? O governante aldrabão parece que acha que tem todo o direito de não responder e de continuar a ser o número dois do governo e a fazer declarações diárias em que apela à boa fé dos portugueses, esperando que acreditem nele.

Há muitas mais perguntas a fazer a este indivíduo tanto sobre a cronologia como sobre os meandros do seu envolvimento com Silva Carvalho. Quem as faz? Há aí algum jornalista vivo?

Não me preocupa a credibilidade deste governante. Para a oposição até é preferível que o Coelho mantenha o descredibilizado Relvas. É como se o governo usasse todos os dias uma camisa com uma nódoa de vinho tinto à vista de toda a gente.

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Oferta do nosso amigo Júlio

Perguntas de algibeira

Sobre as notícias que dão conta do aumento do número de pais que não têm dinheiro para pagar as refeições dos filhos nas escolas, Cavaco Silva disse apenas que essa é uma das razões porque tem «sublinhado tantas vezes o papel das instituições de solidariedade social, das misericórdias, da Cáritas e de outros voluntários».

«Devemos continuar a demonstrar um espírito de solidariedade e em particular apoiando essas instituições que estão a minorar significativamente o sofrimento dos cidadãos», defendeu.

Fonte

Quanto é que o Primeiro Cínico da Nação declara, em sede de IRS, em donativos a instituições de solidariedade social e a que instituição ou instituições consigna 0,5% do IRS liquidado?

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Oferta da nossa amiga Teresa (por email)

Mas quem ia adivinhar?

Este post recordou-me, vá lá saber-se porquê, o período que se seguiu às eleições de 2005 em que Sócrates esmagou o Flopes e o Marques Mendes assumiu a chefia do PSD e da oposição. Fui ler umas velharias pela imprensa da época e aconselho os meus amigos a fazerem o mesmo.

Eleito o governo Sócrates, foi pouco depois adoptado um pacote de medidas de saneamento das finanças públicas e de combate ao défice, que os governos do Barroso e do Flopes tinham deixado em 6,7% do PIB (2004). Quando em Maio de 2005 o IVA foi aumentado de 19 para 21%, Marques Mendes atacou de imediato essa e outras medidas, considerando-as “erradas” e acusando Sócrates de faltar à sua palavra de não aumentar os impostos (Sócrates referira-se aos impostos sobre o rendimento). A direita juntou-se assim desde muito cedo à esquerda irresponsável para denunciar e combater todas as medidas que durante o ano de 2005 se começaram a aplicar e a agendar para reduzir o défice das contas públicas.

Em Setembro de 2005, MM era já obrigado a reconhecer a eficácia dessas primeiras medidas, pois o défice previsto para esse ano indicava uma descida de mais de dois pontos percentuais relativamente ao ano anterior. Contudo, MM não deixou de atacar as “medidas dolorosas” e os “cortes orçamentais” (aquilo que hoje se diz que Sócrates não fez…), pois aproximavam-se as eleições autárquicas de Outubro de 2005, que foram o primeiro teste eleitoral do pequeno político empertigado. MM tentou então alarmar o eleitorado com acusações a Sócrates de estar a esconder medidas de austeridade e de contenção orçamental (sobretudo cortes nas verbas do OE para as autarquias) que, segundo ele, o governo iria adoptar após as eleições autárquicas. Nunca se ouviu um aplauso desse filho da mãe às medidas de contenção orçamental do governo de Sócrates que entre Abril de 2005 e princípios de 2008 beneficiaram claramente o país. MM sempre aproveitou essas medidas do governo para fazer demagogia barata em coro com os irresponsáveis do costume.

A demagogia do MM não conhecia limites. Qualquer meia décima de crescimento sasonal da taxa de desemprego (então um terço da actual) lhe servia para fanfarronadas “social-democráticas”, com piscares de olhos lúbricos a Louçãs e Jerónimos. A coligação negativa medrava a olhos vistos, infelizmente para ela ainda sem maioria no parlamento.

Em 2006 deu-se um episódio interessante, quando Sócrates, antecipando-se cinco (5) anos a outras entidades e aos dirigentes do PSD nacional, acusou MM de “apoiar a indisciplina financeira” na Madeira e de dar cobertura “à resistência ao cumprimento da lei” por parte de Alberto João Jardim (Público, 7 de Novembro de 2006). Compreende-se bem a sanha peçonhenta do velho bananeiro madeirense contra Sócrates, que foi o primeiro a denunciar alto e bom som aquilo de que Jardim é hoje finalmente acusado por Bruxelas e pela troika.

Se MM por acaso tivesse chegado ao poder em 2005, que teria feito? Em matéria de saneamento das contas públicas, teria – no melhor dos casos – feito algo de semelhante ao que os socialistas fizeram, ou seja, tudo aquilo que MM censurou no governo de Sócrates…

Em relação à Madeira o cobardola do MM teria feito 100 vezes pior do que Sócrates.

No ano de graça de 2008 o preço do petróleo passou para o dobro, rebentou o maior escândalo financeiro português de sempre (BPN) e começou a crise financeira internacional cujas consequências ainda estamos a viver. Suponhamos que em 2008 MM ainda não tinha sido largado borda fora pelos seus correligionários e que era PM. Que teria acontecido? Como teria MM lidado com a maior fraude da nossa história, cometida por dezenas de amigos e colegas do seu partido, e com os escândalos do BCP, BPP, etc? Creio que a primeira medida teria sido culpar Constâncio (coisa que a oposição da direita e da esquerda irresponsável realmente fizeram) e colocar gente de sua total confiança no B de P, para abafar as escandaleiras quanto fosse possível.

O resto nem o consigo imaginar, apenas lamento que o PSD não tivesse estado realmente no poder, pois teria sido um espectáculo imperdível. Com a chegada em 2009 e 2010 das consequências da crise a sério, dobrada de crise das dívidas soberanas na Europa, MM ou quem ainda estivesse no lugar teria levado um chuto tal que ainda hoje não teria voltado a aterrar. O PSD teria implodido com grande estrondo e desaparecido do mapa, de preferência para sempre. A direita teria levado a maior tareia desde 1974.

Pelos vistos, Sócrates não devia ter ganho as eleições de 2005. Devia ter deixado os PSDs ganhar. Devia tê-los deixado pousar. Devia ter esperado pela crise, para então dar cabo deles sem dó nem piedade, como eles merecem. Mas quem ia adivinhar?

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Oferta do nosso amigo Observador

Custa dinheiro? Claro!

Marco, ainda não percebi o que está, afinal, a criticar. A existência das obras per se ou as derrapagens e o crónico desgoverno financeiro que, infelizmente, as tem pautado a todas.

Todas essas obras que menciona não se limitam a “encher” o olho. São obras estruturantes na Sociedade portuguesa, que a enriquecem de uma forma que muito ultrapassa o valor “nominal” em euros. Quero dizer, claro que estamos a onerar as “futuras gerações” mas, caramba, não lhes estamos também a deixar algo tangível?

Repare: se tiver uma empresa e quiser aumentar / melhorar a capacidade produtiva o que é que pode fazer? Investir. Comprar equipamento novo, formar os trabalhadores, expandir as instalações. Custa dinheiro? Claro!

Obviamente, dou-lhe toda a razão quando falamos na forma como se adjudica ou se financiam estas obras. Penso, contudo, que não terei de lhe dizer que isso não é exclusivo da Maria da Lurdes Rodrigues. Inclua aí todos os governos até à data, incluindo (de forma não dispicienda, bem pelo contrário, as autarquias, esses sorvedouros “understated” de dinheiro público). Ora é isto que tem de ser mudado. E a mudança não é apenas imputável aos Governantes A ou B, mas também a todos os decisores e gestores de dinheiro público. Começa nas resmas de papel no escritório da repartição e acaba nas concessões das auto-estradas.

O que é nojento – e tenho de apoiar o Valupi – é a forma como se tenta perverter aos projectos unicamente para tirar dividendos políticos imediatos. Ao optar por nunca reconhecer o objectivo virtuoso do programa (pelo contrário, apresentando-o sempre como um desperdício de dinheiros públicos), o deputado do PCP está a alinhar com aqueles para quem, justamente, argumentam que escola pública “para quem é bacalhau basta”.

A discussão política tem de ser sempre assim maniqueísta?

No que isto redunda hoje é na aparente resignação das pessoas à política de pladur. Por agora. Apontemos os dedinhos ao Sócrates, à Milú e à restante xuxaria. O problema é que, ao expiar assim os “culpados”, não só estamos a retroceder, com o modelo de desenvolvimento reaccionário que hoje nos aplicam (o BE e PCP bem podem limpar as mãos à parede), como evitamos confrontar os presentes e futuros governos (e próprias responsabilidades pessoais) com uma cuidadosa introspecção acerca do uso e da legitimidade dos dinheiros públicos.

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Oferta do nosso amigo Gonçalo

Isto está a ficar um nadinha mais claro, está

Falando de coisas importantes: quando e por quem é que terá sido produzido o dossier das secretas sobre Ricardo Costa, que hoje foi revelado? Não terá sido aí por alturas da publicação pelo Expresso das cartas de Cavaco e filha a Oliveira e Costa dando “ordem de venda” das acções da SLN?

E o famoso dossier sobre Rui Paulo Figueiredo? Não terá vindo na mesma época da mesma fonte, Silva Carvalho, o amiguinho que trata por tu o Relvas e lhe dá palpites para as chefias do SIS?

Já não sabem quem é o Rui Paulo Figueiredo? Cito o famoso email de Alvarez para Tolentino, que pôs a nu a inventona cavaquina-limiana das escutas de Belém:

“Depois [Fernando Lima] entregou-me um dossier sobre um Rui Paulo da Silva Figueiredo que é adjunto jurídico do PM [José Sócrates], trabalha para o MAI, já passou pelos gabinetes de diversos ministros e, segundo o Fernando Lima, terá tentado entrar para o SIS mas chumbou.”

Já agora, quem terá chumbado o Figueiredo e porquê? Silva Carvalho deve saber.

Muito mais importante: qual terá sido o papel de Silva Carvalho nas campanhas de assassinato de Sócrates?

Hoje sabemos, por causa duma vulgar viagem de George W Bush ao México em 2007, que Silva Carvalho já “trabalhava” para Relvas (e para Belém?) bem antes da inventona das escutas.

Isto está a ficar um nadinha mais claro, está. Esperemos os desenvolvimentos.

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Oferta do nosso amigo Júlio

O que a gente perdeu!

Manuel Alegre manifestou-se satisfeito com o facto de não ter sido eleito Presidente da República. No prefácio de um livro de Alfredo Barroso, o histórico socialista diz-se satisfeito de não passar pela “humilhação” de ver “três homens de pasta na mão a dizer a este velho País o que tem de fazer” (Agência Lusa).

O essencial desta declaração não está na alusão aos “três homens de pasta”, com que pretende dourar a pílula. Nem na transparente atitude “estão verdes”, glosada já por La Fontaine no séc. XVII. O essencial desta confissão – que revela o poltrão balofo que em 2011 reapareceu a defrontar Cavaco – está na forma implícita como o tipo encara a responsabilidade e o desafio de um alto cargo político, por fáceis ou difíceis que sejam as circunstâncias, sobretudo se forem difíceis. Os “três homens da pasta” fá-lo-iam sentir-se “humilhado”, ora ele não está para desconsiderações. Se tivesse sido eleito, demitir-se-ia à chegada da troika. Teriam de o agarrar ou ele partir-lhes-ia as ventas. No discurso de resignação o poeta Alegre repetiria o slogan da campanha: “Há mais vida para além da dívida!” E ao chofer: “Ala para casa, que estou inspirado!”

Diz que gostaria de ser presidente, mas que assim não valia a pena. Como é que valia a pena, então? Sem crise, com crescimento económico e com um governo chefiado por Sócrates, como em 2005-2007? Pois, nessas circunstâncias qualquer cobardola emproado faria figura em Belém. Alegre seria o Pai Natal da esquerda unida. Mandaria para trás todos os diplomas a que o Louçã torcesse o nariz. Daria ralhetes semanais ao PM, ensinar-lhe-ia o b-a-bá do socialismo. Almoçaria às terças com o homem da CGTP, às quartas com comissões de reformados e às sextas com grupos de desempregados. Às segundas verteria uma lágrima pela infância desvalida e aos domingos visitaria lares de terceira idade. Faria belos discursos com um vozeirão esmagador até que o salário mínimo nacional alcançasse o espanhol, o PIB desatasse a crescer à chinesa e a dívida pública morresse de susto. O que a gente perdeu!

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Oferta do nosso amigo Júlio

Decência e sanidade neste chiqueiro malcheiroso

Noronha do Nascimento é uma lufada de decência e sanidade neste chiqueiro malcheiroso. Um senhor. Ainda bem que resta alguém como ele entre as principais figuras do Estado. Ao seu lado, gentalha como Cavaco dá vómitos. É alguém como Noronha do Nascimento que é necessário colocar em Belém, depois de lá se varrer o actual inquilino e se desinfectar as instalações.

Ainda recordo a entrevista safada a que em Fevereiro de 2010 Noronha do Nascimento se submeteu na RTP, conduzida pela ordinária Judite de Sousa. A ordinaríssima Judite que por essa época se permitiu dizer: “Sou levada a crer que Sócrates emprenha pelos ouvidos”. E que largou também da boca fora, como uma regateira de baixo coturno: “Sócrates é agressivo comigo por causa do meu marido”.

Pois essa gajolas permitiu-se na referida entrevista acusar directamente o presidente do Supremo de estar a “lavar as mãos como Pilatos” (na questão das escutas que Noronha tinha mandado destruir e alguém se recusava a cumprir) e acusá-lo, assim como ao procurador-geral da República, de “parcialidade política e negligência”. Para cúmulo da provocação e da degradação de uma profissional da TV pública, a reles Judite chegou a perguntar ao presidente do STJ se ele achava que ainda tinha condições para continuar a exercer o cargo…

A tipa não só revelou nessa inesquecível entrevista todo o seu partidarismo político, toda a sua histeria anti-Sócrates e anti-governo, como mostrou ostensivo desrespeito por uma alta figura do Estado. E tudo isso porque o presidente do STJ tinha frustrado os interesses políticos golpistas de que ela e a Moura Guedes eram militantes e o pasquim Sol o órgão oficial.

Pois o olímpico Noronha do Nascimento lidou pacatamente com a ofensiva provocadora da reles, calando-a, ponto por ponto, apenas com a sua serena razão e a sua consciência tranquila. Domou a besta e desarmou-a sem levantar a voz nem precisar de se indignar.

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Oferta do nosso amigo Júlio

Vox populism

É uma experiência esmagadora, deprimente, ouvir a “voz do povo”. Constata-se que não tem o mínimo sentido crítico acerca do que a bendita comunicação social divulga, seja por iliteracia pura e simples, seja por falta de informação, seja por tendencialmente acreditar no que dizem “os que sabem”, que são os senhores dos telejornais e jornais. O assalto aos meios de comunicação foi o golpe de mestre da Direita. Por isso não é de estranhar que o povo mantenha elevadas as intenções de voto no gang que se apossou das instituições da República, apesar de sentir que está a ser arrastado para o empobrecimento calculado e forçado. Aceita, resignado, o retorno à miséria de muitos e fausto de alguns senhores. É uma resignação entranhada, que vem desde a instauração da ditadura da Santa Inquisição. Cinco séculos de cerviz cangada fizeram mirrar a dignidade humana do povo luso. Três breves décadas de alvoroço parecem não ter sido mais que um raio de luz, um relâmpago na noite escura da secular servidão.

Quem ouviu a última e deprimente emissão do “prós e contras”, se tinha dúvidas acerca do miserabilismo enraizado na alma lusa, deixou de as ter. Foi a lição de uma meia dúzia de totós e filhos da mamã e da mãe, explicando direitinho como nunca deveriamos ter, sequer, sonhado deixar aquela “vidinha” de antes do 25 de Abril, pobrezinha, de terceira e quarta classe (agora retomou-se sintomaticamente o antigo “exame”- “aquilo é que era aprender!”). Diziam, apluandindo-se uns aos outros, que é preciso torcer o pepino aos meninos que “querem tudo”. E lá vinha o grande pedagogo Herman José a dizer quanto teve de penar para o pai lhe dar um carro em segunda mão e o Milton, outra sumidade pedagógica, a contar que fora trabalhar para as obras com treze anos (!!!) para comprar os ténis caros que o pai lhe recusava.

Aquilo só visto, meus amigos. Era a alma lusa, velha de quinhentos anos, saudosa da sua ainda mais antiga e mísera servidão. Merece bem o mísero professor e presidente que elegeu e reelegeu.

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Oferta do nosso amigo Mário

Fez mal?


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Sócrates não se alongou em comentários à revelação do DN, pois a interpretar à letra a notícia do DN e a tirar dela todas as ilacções, teria de entrar de imediato em choque frontal com o PR, em vésperas de eleições. Fez mal? Acho que fez bem. O DN tinha prestado um serviço ao país, as pessoas poderiam fazer livremente os seus juízos sobre o caso. E fizeram-no, sem que Sócrates tivesse que lhes preparar a papinha. De que adiantaria ao PM abrir naquele momento, finais de Setembro, um conflito com o PR? Encostando Cavaco à parede, Sócrates iria ser acusado (como de costume) de estar a fabricar um caso para dele tirar proventos eleitorais. A estúpida legião de comentadores com lugar cativo nos meios de comunicação continuaria, apesar das evidências, a pôr as culpas no PM. O inestimável Pacheco Pereira falaria mesmo de um “golpe” do PM. Marcelo acusaria Sócrates de exploração política de uma simples notícia de jornal e de “abrir fogo” sobre o PR. Desarmadilhando a carrapata, Sócrates apenas fez votos de que o PR se mantivesse acima da disputa eleitoral que estava à porta. Actuou como um senhor e como uma pessoa prudente e inteligente. Não deixou, porém, de afirmar a 19 de Setembro que José Manuel Fernandes tinha que apresentar provas sobre a sua nova acusação de que os serviços de informação tinham acedido ao sistema informático do jornal da Sonae.

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Oferta do nosso amigo Júlio

Sei lá se é

O FMI nomeou para Portugal um novo chefe de missão: Abebe Aemro Selassie, com um apelido igual ao do antigo Negus, seu conterrâneo, Hailé Selassié de seu nome, o Imperador (ver o livro homónimo de Riszard Kapuscinski sobre o fim do regime desse senhor, uma das coisas mais delirantes que já li), que nos anos 60 visitou o Portugal do Botas, talvez com a espinhosa missão de o dissuadir de manter as colónias.

Será competente este novo Seleassié, que tem à sua frente uma missão não menos espinhosa do que a do outro? Caso para responder: sei lá se é… (uma piada dos anos 60). Quem estiver interessado no perfil deste mangas, vá ao site do FMI ler dois artigos dele.

Num dos artigo diz que, como economista, espera sempre o pior. Aviso à navegação… No outro fala sobre o desemprego na África do Sul, onde também já trabalhou para o FMI. A taxa de desemprego lá é 24% da população activa, 50 % entre os jovens. Um puzzle, de facto.

Há vinte e tal anos, os rufias portugas da direita racista, bacoca e delinquente contavam anedotas de muito mau gosto sobre a Etiópia e os etíopes que morriam à fome. É a eles que dedico a nomeação de Abebe Selassié como novo chefe da delegação do FMI em Portugal, à frente da troika.

Oferta do nosso amigo Júlio

Cavaco não se demite por impedimento moral

Portugal é o único país da Europa (cf. o caso exemplar da Alemanha) onde o presidente não se demite depois de uma escandaleira como a dos benefícios pecuniários que ele e a família auferiram num negócio de favor com Oliveira e Costa, o presidente mega-burlão do BPN/SLN. Cavaco já se devia ter demitido há três anos, depois de se ter provado que omitiu factos relevantes e que mentiu descaradamente num comunicado em que declarou que nunca tivera negócios com o BPN (detido a 100% pela SLN) e que as suas acções da SLN, não cotadas na bolsa, tinham sido compradas e vendidas pelo banco gestor das suas “poupanças” e não (como realmente aconteceu) por ele próprio, directamente, ao presidente do BPN/SLN. Cito o comunicado de 23 de Novembro 2008:

«1. O Prof. Aníbal Cavaco Silva, no exercício da sua vida profissional, antes de desempenhar as actuais funções (nem posteriormente, como é óbvio):
(…)
b) nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas;
c) nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas.
(…)
3. O Prof. Cavaco Silva e a sua mulher têm, há muitos anos, a gestão das suas poupanças entregues a quatro bancos portugueses – incluindo o BPN (…) As alienações de títulos efectuadas pelos bancos gestores …» etc.

O presidente não só mentiu no comunicado como depois, em declarações adicionais à comunicação social, repetiu as mentiras. Não teve descaramento para processar o semanário que divulgou as provas da sua aldrabice. Mas queixou-se da quebra do sigilo bancário, atrás do qual teria preferido esconder-se, mesmo tratando-se de um banco nacionalizado que estava a ser investigado pela justiça, nomeadamente por todas as operações ilícitas e tratamentos de favor que contribuíram para a bancarrota do banco.

Os benefícios de favor, logo ilícitos, que o presidente alemão auferiu num crédito bancário concedido por amigos foram o suficiente para o obrigar a demitir-se. Mas na Alemanha há uma comunicação social que não larga os políticos corruptos.

Já nem falo do caso escabroso das “escutas” a Belém, em que Cavaco estava ao par da manipulação vigarista que Fernando Lima e o Público tentaram levar a cabo – e isto ao mesmo tempo que o primeiro-ministro Sócrates estava, ele sim, a ser alvo de escutas e gravações ilegais.

Oferta do nosso amigo Júlio

Medir o esquerdismo

E infelizmente, pelo que eu posso testemunhar à minha volta, até pessoas crescidas do PS ainda hoje continuam absolutamente convencidas de que “o Sócrates é um corrupto” (e até se abstiveram nas últimas Legislativas, dá para acreditar?)!…

Mas parece-me que a maior gravidade de tudo isto não é já tanto o que fizeram a José Sócrates, bem como a Portugal e, sobretudo, aos portugueses, em especial às gerações que já não conheceram o 25 de Abril, mas sim a real possibilidade de TUDO SE PODER VOLTAR A REPETIR no Futuro, sempre que um Governo afronte os poderosos interesses instalados na Sociedade portuguesa e que, desde há décadas ou mesmo Séculos, lucram com o nosso sub-desenvolvimento económico, político, social e cívico!

As mesmíssimas forças, sob formas históricamente diversas, que pegaram em armas contra D. Pedro por D. Miguel, que sabotaram o funcionamento da 1ª República fora de Lisboa e Porto e que criaram o artifício propagandístico de Fátima, as mesmas forças que ungiram Salazar e benzeram a Colonização, que resistiram quanto puderam ao 25 de Abril e que ainda clamam por “vingança”, são essas as forças que se opuseram aos Governos de Sócrates, não tanto pelo personagem em si (ao contrário do que tão bem tentaram fazer crer à populaça), mas pela única e inquestionável razão que foi ele, Sócrates, e os seus Governos, sobretudo o primeiro, que deram as maiores sapatadas sérias e com efeitos profundos a essas forças invisíveis, mas bem organizadas e estruturadas, de forma muito mais orgânica do que formal, desde os Governos de Vasco Gonçalves e Mário Soares! De formas absolutamente distintas, claro, para alguns será necessário afirmá-lo explícitamente (e mesmo assim muitos não o conseguirão atingir…).

Pois a medida do “esquerdismo” de uma ação política mede-se muito mais pelo que a Direita perde com ela, do que por aquilo que a “Esquerda” ganha, representando e defendendo a Esquerda valores e entidades muito mais complexas e difusas do que as diretamente representadas, com inequívoco imediatismo, pela Direita…

Por isso, exorto todos os que prezam o Estado de Direito e o desenvolvimento político e social (por isso também mental) da Sociedade portuguesa que coloquem em segundo plano a raiva que sentem pelos efeitos diretos do derrube de José Sócrates, que serão muito mais fundos do que os meramente económicos e orçamentais, e centrem as suas preocupações na necessidade de alterar, profundamente e com urgência, as condições concretas que permitiram o que aconteceu no Passado recente e, pior do que isso, voltarão fatalmente a acontecer no dia e com o líder político que encete de novo o caminho do Progresso Social e do desenvolvimento de Portugal de acordo com os padrões civilizacionais europeus. Senão, tudo o que já vimos voltaremos a testemunhar, seja a vítima chamada Assis, como Costa, como até por hipótese académica Alegre, Carrilho, Louçã, até Bruno Dias, o que quiserem…

Oferta do nosso amigo Marco Alberto Alves

Monocultura do descontentamento

O PCP e a CGTP são, de facto, farinha do mesmo saco. É a eles que assenta como uma luva a imagem farinácea com que costumam atacar e difamar os outros.

Farinha do mesmo saco e infestada pelo mesmo gorgulho. PCP e CGTP vivem ambos da exploração em monocultura do descontentamento. É exclusivamente com as ferramentas do protesto, da reclamação e da obstrução que mantêm o funcionamento da máquina. Não sabem fazer outra coisa senão explorar politicamente em seu proveito os problemas, carências e misérias dos trabalhadores, se exceptuarmos as lambidelas no cu do Estaline, os beijos na boca do Brejnev e os preparativos de guerra civil em 1974-1975.

O PCP é um partido sindical, mas no pior sentido do termo: egoísmo sectário, irresponsabilidade social, maquiavelismo político, desprezo pelas necessidades reais daqueles cujo descontentamento explora e chula.

Um sindicato tem, num país normal, funções e objectivos úteis, como a prestação de diversos serviços aos trabalhadores e a prossecução de uma estratégia de criação de emprego. Quando assim é, a taxa de sindicalização é alta e toda a gente entende para que existe uma organização sindical. No Norte da Europa, os sindicatos sabem o que é negociação construtiva, ajudam eficazmente a resolver os mais diversos problemas individuais e colectivos dos trabalhadores e batem-se todos os dias nos terrenos político e económico pela criação de postos de trabalho. Os sindicatos têm vida própria, força na sociedade e na economia e poder autónomo dentro dos partidos.

Aqui não. Os sindicatos, que no sector privado raramente atingem os 10% de taxa de sindicalização, são meras agências da seita partidária a que pertencem. O partido, com 7% dos votos, é uma máquina de protesto moldada pela pior filosofia sindical, apenas preocupada em chular os descontentamentos em proveito próprio. São a imagem um do outro.

Restam-lhes as manifestações e as “greves gerais” para dar a ilusão de que têm força, atraindo para isso tolos de várias procedências que só sabem reclamar, protestar e votar com os pés.

Há porém duas coisas em que esses tais tolos não são tolos: não lhes dão a quotização sindical nem o voto. É só fazer as contas, como dizia o Guterres.

Oferta do nosso amigo Júlio

Aborto: da mulher “reincidente”

Há quem tenha por inadmissível a não introdução de taxas moderadoras no caso de mulheres reincidentes numa IVG.
Ou seja, isto não é um debate sobre a possibilidade – que está na disposição do legislador, concorde-se ou não – acerca do fim da exclusão de taxas moderadoras num acto médico específico: a IVG.
Mais uma vez, diz-se, com superficialidade avassaladora, que tem de se fazer das taxas moderadoras um mecanismo punitivo das mulheres. Sim, porque há umas malucas, que engravidam sozinhas, uma e outra vez, nada querendo com métodos contracetivos, já que gostam, acham agradável, até às dez semanas, sujeitarem-se a um procedimento festivo.
Naturalmente, psicopatas haverá por todo o lado, mas isso não define o universo de destinatários de um procedimento legal.
Qualquer coisa não está a funcionar – dizem. Muitas coisas não estão a funcionar há muito tempo, antes da despenalização da IVG, mas felizmente acabou a perseguição penal como a conhecemos, e tantas complicações, por vezes mortais, decorrentes do aborto clandestino.
Há sempre alguém que continua a perseguir penalmente as mulheres. Não “querem” uma pena de prisão outra vez, mas querem que as taxas moderadoras sejam a nova moldura penal para a IVG. Assim mesmo, porque se aplicariam automaticamente às mulheres “reincidentes”, ou seja, às que “reincidem, que incorrem novamente na prática de um ato condenável”.
Seja lá por que for..matemática.

Bem haja elle, como eu o comprehendo agora…

Embora eu seja republicano, penso que em materia de ortographia nunca deveriamos ter abandonado a do tempo da Monarchia, egual á que estou usando agora. Fernando Pessoa deu o exemplo, mantendo-se fiel a ella até á morte e recusando-se a acceitar a reforma de 1911. Bem haja elle, como eu o comprehendo agora… Continuou a escrever abysmo, mysterio, mystico, epocha, psychologia, cahir, sahir, fallar, comprehender, affirmar, applicar-se-ha, admittir-se-hia, intellectual, egreja, catholico, attitude, immoral, sciencia, portuguez, inglez, trez, nullo, theoria, theorico, commum, communista, sociaes, taes, anarchista, addição, espirito, phenomeno, Catharina, Alvaro, Sylvia, Ruy, Russia, Italia, etc.

Os inglezes, esses atrazados, mantiveram até hoje as mesmas regras de transliteração da etymologia grecco-latina e dão-se bem com ellas. O mundo inteiro as usa hoje e, apparentemente, gosta de usal-as.

Para “simplificar”, a reforma republicana de 1911 cortou umas tantas consoantes, mas criou montes de accentos. Qual a vantagem d’isso? E alguem teve difficuldade em entender o que aqui vae?

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Oferta do nosso amigo Júlio