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Intermitência

“Você é mas é uma puta de uma advogada”, vocifera, agressiva, a mulher irada na direcção de C. “Sim”, intrometo-me. “As palavras que usou estão, efectivamente, correctas. A ordem é que não”, explico. “Ela é, na realidade, a advogada de uma puta”, finalizo.

Intermitência

Na igreja, e na missa que já decorre, pela primeira vez na minha vida. “Graças a Deus”, ouço, em coro, no momento em que entro. “Ok ok. Já sei que estou atrasado. Mas – fogo – não é motivo para ironizarem dessa maneira, é”, replico, bem alto, aborrecimento latente.

Intermitência

“Sempre que estou diante de ti encontro, nos teus olhos, maldade, frustração, ódio, inveja, insatisfação”, diz-me H., um rival de longa data. “Sim, sou forçado a admitir que tens razão”, respondo com serenidade. “Sempre me disseram que tenho os olhos bastante espelhados”, concluo. E recebo, com tranquilidade, o murro que me esmurra.

Intermitência

“O que me faz preferir-te em relação às outras é o facto de ser apertado”, digo, na ressaca do prazer, a N. “Sim, eu sei que o meu sexo é apertadinho”, responde-me ela, entre orgulho e satisfação. “É-o, sem dúvida. Mas, na verdade, estava a referir-me ao meu orçamento. Não dá, mesmo, para investir em melhor”, explico.

Dixit

“Não é por seres, agora, uma mulher viúva que vou deixar de te respeitar, e sobretudo ao teu falecido marido, tal como respeitava antes de esta tragédia ter acontecido. Nada se vai alterar. Fica então, desde já, definido que continuaremos a encontrar-nos às escondidas.”

Intermitência

“Ainda bem que trouxeste, hoje, roupa interior negra”, digo a M., semi-nua diante de mim. “Excita-te, é”, pergunta-me ela, ao mesmo tempo em que passa as mãos pelos mamilos que adivinho erectos. “Não. Mas pressinto que o meu sexo, hoje, está morto. Foi uma excelente opção teres vindo de luto”, explico.

Dixit


“O verdadeiro problema da humanidade é uma insuficiência gritante ao nível dos conhecimentos de geometria. Na realidade, apesar de ser movido pelas suas bolas (circulares na sua concepção geométrica), o homem continua a ser quadrado na sua forma de observar o mundo. Tudo para conseguir chegar a uma posição horizontal sobre um rectângulo.”

Intermitência

“Vim aqui, hoje, para saciar o desejo, imenso e já antigo, de te abrir as perninhas”, revelo, sinceridade e vontade, a N. “Também já há muito que o queria. Anda. Vem”, ouço. E, sem perder tempo, retiro a faca do bolso e começo a encostá-la sensivelmente a meio de uma das pernas. “Preferes que comece por abrir a direita ou a esquerda”, pergunto.

Intermitência

“És bom na cama”, pergunta, esfomeada, a mulher ao jovem de aspecto másculo encostado, entre as luzes que brilham alto e a música que toca em raios de suor, a si. “Até agora nunca nenhuma mulher se queixou”, responde, confiante e orgulhoso, ele. E, poucos minutos mais tarde, ali estão, os dois, nus e excitados, sobre os lençóis molhados. Sentem-se, ambos, surpreendidos. Ela por, ao fim de apenas dois minutos, ele já ter chegado ao orgasmo. E ele por, finalmente, ter perdido a virgindade.

Dixit

“A nossa complementaridade, enquanto equipa, é quase perfeita. Aquelas que são as minhas principais qualidades são, em ti, enormes defeitos. Mas, por outro lado, aqueles que são os meus principais defeitos são, em ti, também, os teus principais defeitos.”

Intermitência

“E deste, gostas”, pergunta-me, entusiasmada e viva, F., ao mesmo tempo em que aponta para a zona dos seios. “Sim, fica muito bem. Ainda melhor do que o modelo anterior”, respondo. “Óptimo. É maravilhoso saber que, ao contrário de todos os outros homens, não achas que o meu peito é demasiado grande”, confessa-me, feliz e aliviada. “Porque haveria de pensar isso”, pergunto-lhe, surpreso. E, alegres e de braço dado, abandonamos a loja especializada em pára-quedas.

Intermitência

“Obrigada, amor”, diz-me C., ao mesmo tempo em que experimenta os óculos de sol que acabo de lhe oferecer. “Mas não achas que são demasiado grandes para o tamanho do meu rosto”, pergunta-me. “Sim”, respondo. “Beneficiam-te, de facto, bastante.”

Intermitência

“Só vejo uma forma de eliminar esta pele eriçada, arrepiada”, explico a H., abraço apertado. “Mas tenho medo de estar, ao fazê-lo, a ir longe de mais. Afinal de contas é a primeira vez que estamos juntos. A primeira vez que estou aqui, em tua casa, a dois”, prossigo. “Não tenhas medo de o fazer. Vai. Faz”, ouço, lábios em sussurro. “Dá-me só um segundo”, peço, palavras acarinhadas. E, num movimento rápido e audaz, fecho a janela do quarto.

Intermitência

“É tempo, creio, de definir, de uma vez por todas, em que pé está a nossa situação”, diz-me, circunspecção e seriedade, N. “Sim, tens toda a razão”, aquiesço. E, com força e determinação, pontapeio-a na boca. “Nunca fui bom nestas coisas dos lados, mas parece-me que é o direito”, pormenorizo, obediente.