Talvez Ruben Amorim ainda venha a ser campeão nacional e europeu pelo Manchester United. Não é impossível, numa eventual futura época. Mas neste momento, três meses após a sua triunfal mudança para Inglaterra, ele é o pior treinador que alguma vez passou pelo clube. De longe.
O interesse do caso, que vexa o nacionalismo parolo dos portugueses e seu actual Presidente da República, não consiste na intenção de causticá-lo nesta fase aziaga da sua carreira. Antes, na investigação do seu sucesso, o caminho que o levou, em tão pouco tempo, para um clube com a dimensão mundial do MU. E a chave dessa investigação está no que Amorim foi dizendo antes de entrar no clube inglês, já com o contrato assinado, e depois no que continuou a dizer ao ir acumulando empates e muitas derrotas. Que foi isto, primeiro, a promessa de colocar a equipa a jogar à sua maneira, logo a partir do jogo inicial consigo à frente. Chamou-lhe a “ideia”, uma ideia que levava no avião para revolucionar o modo de dar pontapés na bola daquela rapaziada. Ao constatar que o seu idealismo não estava a puxar a carroça, começou a pensar no assunto. Disse que a equipa estava com jogos a mais durante a semana, daí os resultados negativos, e também a dificuldade para que a tal ideia desse um ar da sua graça. A solução para os problemas no relvado, afiançou, viria dos treinos, assim conseguissem ter tempo para tal. Esse tempo foi conseguido mas as coisas continuaram na mesma, pelo que ele foi dizendo outras coisas. Por exemplo, “a equipa precisa de um choque”, “este é o pior plantel na história do clube”, e “o MU pode descer de divisão”. Não contente, e para explicar ter batido o recorde do clube para derrotas seguidas em casa, lembrou-se de dizer que os jogadores tinham problemas em Old Tradfford por quererem muito agradar aos adeptos. Sem dúvida, uma explicação com poder explicativo.
O cúmulo deste duvidoso, embora original, método de motivação ocorreu a 19 de Janeiro, após a derrota em casa com o Brighton. Foi noticiado (sem ter sido desmentido) que o treinador do MU deu um animado responso aos jogadores, ainda a quente no balneário. E que no entusiasmo de lhes manifestar o desagrado pelo seu desempenho chegou a partir um televisor. Facilmente imaginamos que a causa imediata para a destruição do equipamento terá resultado do seu afã em indicar onde devia estar um certo jogador, ou mais do que um, dentro do campo. O ecrã que exibia a inépcia da equipa a defender (aposto nesta versão os 10 euros que tenho no bolso) foi o alvo de uma bem colocada pancada (ou arremesso de um par de chuteiras) que o impediu de continuar a exibir misérias futebolísticas.
Que tem tudo isto a ver com o percurso de altíssimo sucesso de Ruben Amorim antes deste ciclo onde está a ganhar cabelos brancos? Algo que pode ser aplicado em qualquer outra actividade onde a incerteza seja indomável. A ideia, esta validada por milhares de anos de repetição, de que mais vale ter sorte do que juízo.