Aterra na Portela o homem mais rico do mundo e Portugal volta a exibir a sua idiossincrasia de oito séculos. Nada a fazer. Somos mesmo um país pequenino, pequenino, pequenino e provinciano, provinciano, provinciano.
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Graffiti imaginário (escrito nas paredes do metro)
Sete notas finais
Há coisas difíceis de explicar. A neve em Lisboa, por exemplo. Ou as proporções atingidas pela polémica em que me quiseram converter, à má fila, no bode expiatório de todos os insondáveis pecados da crítica literária portuguesa. Desde sexta-feira, o tema do “crítico que escreve sobre o livro do amigo” espalhou-se pelos quatro cantos da blogosfera, despertando toda a sorte de oportunismos, hipocrisias, ressentimentos, golpes baixos, demagogias e também, devo assinalar, igual número de reacções equilibradas, lúcidas, sensatas, por parte de bloggers que não se deixam cegar pela esquizofrenia conspirativa e maquiavelicamente moralista de João Pedro George.
Recuperar todos os links, agora, seria fastidioso (muitos deles estão elencados no fim deste post). Quem não acompanhou a história desde o início, acabará por a encontrar, mais ou menos distorcida, numa qualquer esquina deste mundo digital. Se escrevo uma última vez sobre o assunto, é apenas para esclarecer alguns equívocos e deixar bem clara a minha posição sobre esta matéria de tantos melindres.
1. Se descontarmos os insultos gratuitos e a bazófia pachequiana, o cerne das acusações de JPG é este: eu escrevi um texto sobre um amigo meu, Nuno Costa Santos, o que consubstancia gravíssimo crime de lesa-tudo-e-mais-alguma-coisa, além de ser uma prova de preguiça, falta de recursos críticos e de uma escrita “em função de favores” que o Nuno, obviamente, mais tarde reciprocará. Quanto à falta de recursos críticos, nada a opor. Trata-se de uma opinião pessoal respeitável, embora contraditória com esta, assinada pelo mesmo JPG há pouco mais de três meses. Já a insinuação de que concedo “benesses e mesuras a amigos” é, mais do que uma atoarda, um acto difamatório lançado para o ar, à toa, com a soberba e o desplante dos inimputáveis.
2. Na sua verborreia descontrolada, JPG insurge-se várias vezes contra o “bater palmas só porque é meu amigo” ou contra quem diz “bem passivamente, por reflexo de amizade”. Que o meu texto seja tudo menos um panegírico, aliás com reservas explícitas que já sublinhei, foi-lhe completamente indiferente. Prova-se que eu afinal não bati palmas, mas ele recusa-se a voltar atrás. Salta aos olhos que eu estive muito longe de dizer apenas bem, passivamente, pelo tal reflexo de amizade e ele o que faz? Reincide na grosseria e nos insultos. “Repito: o texto que José Mário Silva escreveu é sintoma de medievalismo e de oportunismo. Mais, denuncia a estrutura mental de um crítico que ainda não atingiu a idade de pensar.” Há muito tempo que não via tamanha desonestidade intelectual.
3. Levado pela verve, JPG não se limita a terraplanar tudo o que lhe aparece à frente. JPG também inventa, acrescenta, mente e omite. Mente, por exemplo, quando dá a entender que o Nuno Costa Santos trabalha na redacção do DN. Não trabalha. Nunca trabalhou. E omite, por exemplo, que o Nuno é apenas colaborador pontual do suplemento 6.ª (como foi em tempos do DNA) sem sequer fazer parte da ficha técnica.
4. Deixemos os detalhes e sigamos então para o fulcro do problema: pode-se ou não se pode falar sobre livros de amigos? Neste ponto, concordo com o que Eduardo Pitta escreveu aqui e aqui. Resumo das ideias principais: “Frequentes vezes levantei objecções a livros de amigos, circunstância que afastou dois ou três; enquanto, do mesmo passo, nunca regateei elogios a livros de autores acerca dos quais, enquanto pessoas, tenho as maiores reservas. Mas quando os livros valem por si, a pessoa do autor é irrelevante.” (sublinhado meu); “É de um puritanismo inadmissível pretender que alguém não escreva sobre amigos ou conhecidos. Se as pessoas tivessem um pouco mais de mundo, sabiam que outra coisa não se faz desde Homero”; “O problema não está em escrever sobre amigos e conhecidos, mas na eventual troca de galhardetes, infelizmente comum em certas moradas. Se a recensão for isenta, ninguém pode acusar o crítico de favoritismo”. A minha legitimidade para escrever sobre amigos (e já o fiz no passado, dizendo bem) passa pela consciência de que abordei esses livros como abordaria quaisquer outros: de forma honesta, sem benevolência nem piedade, no pleno uso das minhas faculdades críticas, por muito subjectivas e diminutas que elas sejam. Essa consciência está limpa e não há ataques maliciosos capazes de a conspurcar.
5. Corolário lógico do ponto anterior: mesmo que se possa falar sobre livros de amigos, deve-se falar sobre livros de amigos? Agora mais do que nunca, eu diria: manda a prudência que não. Justamente porque se abre campo a todo o tipo de suspeitas, conjecturas e especulações, esse caldo de que se alimentam os oportunistas da estirpe do JPG. Por muito seguros que estejamos da nossa honestidade, nunca faltará quem se disponha a duvidar dela e a tecer as mais estapafúrdias conspirações. Até porque o que há mais para aí são fretes verdadeiros e miseráveis conúbios, secretos ou às escâncaras. Não é pelo facto de JPG ter falhado o alvo que o alvo deixa de existir.
6. Concluamos. Foi legítimo escrever sobre o livro do Nuno Costa Santos? Tenho a certeza que sim. Era aconselhável escrever sobre o livro do Nuno Costa Santos? Admito que não. Porque raio escrevi eu então sobre o livro do Nuno Costa Santos? Para ser o mais sincero possível, foi uma contingência, mais do que uma opção. E o Nuno Costa Santos, vítima colateral deste processo todo, nada teve a ver com essa contingência.
7. Coda: há muitas pontas por onde pegar na problemática da crítica literária; pena é que o JPG tenha escolhido logo a mais fútil e insignificante.
Game Over.
Pela minha parte, o “banzé escusado” termina aqui.
[Post publicado em A Invenção de Morel.]
Portugal no seu melhor
Dique
Top-5 do Blogómetro (hoje):
1- Aqui é só gatas
2- Sexo na Banheira
3- Pitas Nuas
4- Abrupto
5- Apanhadas na Net
Pacheco Pereira faz-me lembrar a criança holandesa daquela velha história moral, aguentando com o dedinho na fenda o dique da blogosfera, enquanto do lado de fora há um oceano de pornografia a querer entrar. E o pior é que até esta imagem tão cândida, hélàs, se torna abruptamente suspeita.
Coisas que me dizem
– Olha lá, o vosso Rodrigo Moita de Deus não é o Rodrigo Moita de Deus, pois não?
– É, é.
– Não pode ser.
– Mas é.
– Não é.
– É.
– Não é.
– É.
– Não é.
– É, é.
– A sério?
– A sério.
– O do Acidental?
– O do Acidental.
– Não pode ser.
– Pode, pode.
– Não pode ser.
– Pode, pode.
– Não pode ser.
– Pode, pode.
– Já parecemos um sketch dos Gatos Fedorentos.
– Pois parecemos.
Happyness
Uma vitória é uma vitória é uma vitória
O triunfo de Cavaco não se discute. Entra em Belém à primeira volta e com a direita às costas (uma coisa nunca vista), enquanto a esquerda perde em toda a linha e por culpa própria (uma coisa vista demais).
Convém, no entanto, sublinhar o óbvio: vencer com 50,6% não é a mesma coisa que ganhar com 56%. Na primeira quinta-feira de “cooperação estratégica”, José Sócrates recordará decerto ao novo Presidente esta evidência.
Espírito democrático
0,7%
E o sonho quase se cumpria. Sacana do quase.
Atenção, cinéfilos
Há um filme português inédito a passar, em sessões contínuas, na Procuradoria Geral da República (ali para os lados do Príncipe Real, não muito longe da Cinemateca). A história é inverosímil; o realizador, péssimo; mas isso não importa nada quando estamos diante de um objecto de culto. Refiro-me, é claro, ao muito citado por estes dias Envelope 9 from Outer Space.