Diz Luis M. Jorge:
Eu, que nunca conheci cubanos de Cuba nem de Miami (mas sei o que pensam e o que dizem), não podia estar mais de acordo.
Diz Luis M. Jorge:
Eu, que nunca conheci cubanos de Cuba nem de Miami (mas sei o que pensam e o que dizem), não podia estar mais de acordo.
Tem gente de esquerda. Tem gente de direita. Tem boa escrita. Tem bom gosto. Tem boas ideias. Tem bons argumentos. Tem razão.
Eis a notícia do dia, que já anda a circular pela blogosfera com a rapidez do costume (mas por enquanto sem reflexos na comunicação social): segundo o blogue Freelance, alegadamente escrito por um jornalista chamado Olavo Aragão, uma repórter portuguesa foi raptada por uma milícia islâmica no Sul do Líbano, em Outubro de 2006.
Verdade? Mentira? Noutro lugar já expus as minhas dúvidas.
Fotografia de Rui Coutinho
Paula Rego em entrevista ao Diário de Notícias:
Falava há pouco da abnegação das mulheres e do aborto. Portugal fará em breve outro referendo. O que lhe apetece agora dizer?
Sim! Apetece-me dizer que já não é sem tempo. Parece impossível que ainda exista uma lei assim num país da Europa. Acho inacreditável que ainda se debata uma questão dessas. Com franqueza! Vamos lá ver se vai desta!
Agora que o programa Bancada Central acabou, como é que vai ser? Onde é que os maluquinhos da bola poderão lançar as suas teorias conspirativas, os seus desabafos hilariantes, os seus insultos gratuitos e as suas exuberantes demonstrações de insanidade clubístico-maniqueísta? Temo pelo bem-estar de muitas mulheres portuguesas, cujos maridos encontravam naquelas conversas nocturnas com o “sr. Fernando Correia” uma válvula de escape para as suas frustrações e formas de agressividade latente. Temo pelo futebol português, que perde de uma só vez centenas de atentos teóricos e exegetas. Temo pelo auto-estima do ouvinte Costa Pereira, do Porto, opinion maker que precisava deste cantinho do éter nacional como os restantes mortais precisam de pão para a boca.
Enfim, eis um problema a exigir reflexão profunda, petições na Assembleia, manifs nas ruas e, porque não, um Fórum TSF. Pense nisso, senhor Manel Acácio, até porque desconfio que vai herdar muita da massa crítica que ficou subitamente órfã de protagonismo radiofónico.
Cá vai: James Blunt é o André Sardet inglês e André Sardet é o James Blunt português.
Se repararem bem, são quase iguais: bonitinhos, melosos, pirosos e medíocres (embora Blunt tenha estado na Bósnia ao serviço do exército britânico, o que constitui uma atenuante de peso para o apocalipse musical que nos inflige; enquanto Sardet não tem desculpa para massacrar guitarras e tímpanos como massacra).
Agora, fico à espera que em 2007 Sardet faça uma cover de You’re Beatiful (És Tão Linda) e Blunt uma versão inglesa de Foi Feitiço (It Was a Spell).
Perguntou a revista NS’ (suplemento de sábado do DN) a António Mega Ferreira, director do Centro Cultural de Belém: «Qual foi o acontecimento do ano em Portugal?»
Respondeu António Mega Ferreira, director do CCB: «Não se passou nada de muito excitante, de facto. Não me lembro de nada marcante.»
Curiosa amnésia. Mesmo desvalorizando tudo o que aconteceu cá no burgo (da febre reformista de Sócrates à Presidência soft de Cavaco, da OPA da Sonae sobre a PT à morte de Cesariny), Mega sempre podia lembrar-se de algumas coisas que aconteceram à instituição que dirige: cortes substanciais do orçamento, perda do módulo de exposições para o Museu Berardo (em condições desfavoráveis para o CCB, que passa a ser uma espécie de montra dourada do espólio interessante, mas tematicamente limitado, que o comendador pretende valorizar a todo o custo), programação de espectáculos reduzida ao mínimo exigível e fim abrupto da Festa da Música, o acontecimento que mais espectadores trouxe a Belém nos últimos anos.
«Não me lembro de nada marcante», diz Mega Ferreira. Pois, pois.
Se a amostra a partir da qual escolhi os meus 10 telediscos nacionais favoritos de 2006 ainda podia ter (algumas) pretensões de ser (quase) completa, é óbvio que tal é impossível quando se trata de fazer uma selecção dos 10 melhores vídeos do ano a uma escala (como é que eu hei-de de dizer isto?) «planetária». Só para vos dar um exemplo, tenho acesso a uma prodigiosa base de dados audiovisual chamada fastrax que disponibiliza mais de uma dezena de vídeos novos por dia (já ultrapassou os 5000 vídeos só este ano) e que ainda assim está bem longe de cobrir a produção mundial de telediscos (de repente, fiquei com vertigens). A minha selecção parte essencialmente desse (apesar de tudo, considerável) «corpus», mais alguns vídeos que consegui ver em diversos blogues e sites dedicados ao tema. Desta forma, o que deixo aqui é novamente apenas um convite para ouvirem boa música de olhos abertos e para deixarem, na caixa de comentários, outras sugestões que, miseravelmente, apenas não couberam na minha selecção devido à minha ignorância ou ao facto de o nosso sistema númerico ser decimal.
João Pedro da Costa
Apesar de algumas ilustres excepções como as dos realizadores Paulo Costa Pinto (Driving You Slow dos The Gift), António Ferreira (Sunset Boulevard dos Belle Chase Hotel), José Pinheiro (co-realizador do documentário Brava Dança sobre os Heróis do Mar) ou Rui de Brito (autor do magistral Feeling Alive de Gomo), não existe em Portugal uma tradição na criação de videoclips que estejam, pelo menos, ao nível da qualidade da nossa produção musical. As razões são diversas, mas prendem-se sobretudo com as características do nosso mercado musical (o investimento não tem retorno e, quando tem, raramente compensa) e audiovisual (que apenas recentemente começou a disponibilizar plataformas onde os telediscos nacionais pudessem ser, pelo menos em potência, difundidos de forma regular). Na sua esmagadora maioria, a produção de vídeos musicais no nosso país deve-se sobretudo à carolice de músicos e (algumas) produtoras, pois quando as editoras nacionais resolvem investir a sério na produção de um vídeo mainstream, esses projectos tem sido quase sempre concretizados com uma displicência de bradar aos céus.
João Pedro da Costa
Constou ir acabar. Chegaram a passar a notícia em rodapé. E se calhar vai mesmo. Ou já não. Mas se acabar vou perder o Leno e o Conan. Dois exuberantes exemplos da vitalidade da democracia norte-americana. Dois cómicos que fazem crítica política subversiva, porque aparentam estar só a servir inócua diversão a mando do grande capital e demais imperialismos nefandos. Mas neles a fiscalização da incompetência dos políticos e vacuidade das figuras públicas não é escabrosa, imbecilizante ou medricas. E a estes dois ainda se deve juntar, por maioria de razão, Jon Stewart (SIC Radical), o qual se atira ao gasganete do Poder.
Portugal não tem ninguém que faça humor com tal inteligência, coragem e propósito cívico. Portugal não sabe rir, nem consegue chorar.
O recente post do Luis faz-me antecipar uma reflexão que, no meu ritmo de tartaruga dos Galápagos, tinha previsto introduzir lá para 2016. Refiro-me à ambiguidade intrínseca, e irresolúvel, dos blogues enquanto objectos mediáticos entalados entre o angelismo de se sonharem órgãos de imprensa e a bestialidade de se saberem voluntarismo e aleatoriedade.
Uma parte do que o Luis escreve é expressão da sua pessoa e respectiva weltanschauung; logo, é matéria que apenas diz respeito a quem se identifica com os parâmetros ideológicos assinalados. Mas o restante, aquilo que manifesta uma concepção do que deve ser um blogue, suscita-me a crítica. De facto, e servindo-me do exemplo, ninguém no Aspirina tinha assinalado o 1º (e último?…) aniversário. Há boas razões para tal, a começar pelo facto de todos os seus membros fundadores, de uma forma ou de outra, terem debandado. Uns saíram, outros ausentaram-se, outros afastaram-se. Contudo, haveria ainda uma melhor razão, boicotada bondosa e involuntariamente pelo Luis: não haver nada para celebrar. E não me refiro particularmente ao Aspirina, que não precisa dos meus encómios. Não há nada para celebrar na quase totalidade dos blogues, eis a realidade. Que eu conheça, só o Abrupto mereceria aniversários e foguetes, tão distinto e profícuo é o produto que oferece à populaça. Mas o resto?!… Não há mérito nenhum em emitir opiniões ou em fazer uns malabarismos literários — ainda por cima usualmente banais, quando não pífios. O mundo não carece de mais opiniões ordinárias, desconfio.
Agora que saiu de cena, entrou directamente para o panteão dos políticos norte-americanos que prestam inestimáveis serviços à comédia; lugar onde ainda é rei Dan Quayle, mas só até à chegada do Bush filho, marcada para 2008.
Rumsfeld hilariante.
O EQUADOR continua a influenciar o clima blogosférico, contribuindo para estes dias de S. Martinho estival em que muita castanha está a ser distribuída. O nosso amigo Jagudi aproveitou a distracção para injectar um composto de alta inteligência numa caixa de comentários, o qual recolheu célere o selo de garantia do Fernando. Generosidade tamanha não é para desperdiçar.
Qualquer um reconhecerá em MST o cronista exemplar das fealdades paisagísticas a que uma corja de patos-bravos, e os portugueses em geral, vêm sujeitando o país todos os dias. Ou o que nos ajuda a distinguir a América da liberdade original e dos direitos fundadores, da perigosa América actual, conduzida por fanáticos medíocres. Ou o autor de reportagens e relatos de viagem como os que nos deixou em SUL. MST tem a ousadia, a lucidez e o desassombro que ao jornalista competem. O que ele não tem é o sentido estético do ficcionista. E não manifesta saber, em EQUADOR, que o trajecto da ficção narrativa é multifacetado, mas segue um caminho tão estreito como o fio duma navalha. Onde o artista se estatela ao mais ligeiro escorregar do pé.
Tendo presente quanto há de pessoal e subjectivo na apreciação duma obra, dir-se-á que EQUADOR não passa do sofrível. Tem uma história a contar e muito para dizer, já isso não é pouco, se anda este mundo pejado de figuritas imberbes a dar-se por escritores. Mas é um trabalho desequilibrado e prolixo, a espraiar-se em secundárias peripécias longuíssimas, que apenas lhe roubam vigor e o empobrecem. O todo ganharia com outra economia.
Há nele situações mal cosidas, em que o pesponto se vê. Mas o grande senão é o modo de contar, que nada de novo nos propõe. Não se conta hoje uma história com as técnicas narrativas, o tipo de linguagem, os mesmos exercícios e recursos dos finais do séc. XIX. Ainda por cima sem a artilharia requintada que nesse tempo alguns sabiam usar. A técnica primaríssima e descuidada de que MST faz uso, se é apropriada e eficaz num trabalho jornalístico, resulta de todo inadequada, e gasta, e anacrónica em literatura. Por isso o seu efeito estético é nulo, já que também o jogo sonoro da frase, a harmonia e o ritmo do discurso utilizado são ausências. Ora nada disto a literatura pode dispensar, por infindável que seja a discussão sobre o que ela é.
Lá onde MST brilha é quando se conserva no seu campo. É quando analisa, quando aponta, quando denuncia, quando levanta o véu da nudez dum império a fingir. O seu EQUADOR vendeu muito, com mais proveitos para o editor que para a literatura. E os leitores.
Jagudi
Boa lembrança a do Gibel. A SOCA tem um ano preenchido com blogoliteratura de gineceu. Nesse efémero feminino, encontramos a mesma dinâmica que em qualquer outro blogue, singular ou colectivo, com começos apaixonados e curvas descendentes de participação. O que se produziu neste ano de vida, porém, é material de inquestionável interesse antropológico, sociológico e psicológico — porque servido por um nível médio de qualidade de escrita que consegue notável compromisso entre o conteúdo e a forma. Não sendo um blogue com qualquer pretensão estilística, nem ideológica, habita num reino lúdico onde há cupidos e bestas furiosas em feminil harmonia. Encantador, pois.
Chamo a atenção para algo que transcende o projecto, e que é filão para editores que ambicionem vender o que publiquem (aspecto que deveria ser óbvio, mas que num País sem cultura capitalista se torna esconso). Trata-se da colaboradora Fox Trotter, recentemente desvelada como sofrendo de múltipla personalidade. Ela relata as suas experiências sexuais de um ponto de vista que os homens desconhecem por fatal limitação cognitiva, assim contribuindo para se continuar a desacreditar Freud e outros amantes de charutos. Com mais material reunido, era best-seller garantido. Cá vai um exemplo, com erro ortográfico charmoso e tudo a que temos direito:
Acordaste a minha líbido, que tanto demorei a silenciar. Eu, que nos dias em que fodia, fodia todos os dias. Não queria o grelo aos saltos e as mamas duras, a língua a tocar na aresta dos dentes em antecipação. Nem o torpor insensato nas depressões internas das coxas, enquanto sentia escorrer a vontade pelo eixo de simetria. Consegui deixar de me foder com os dedos porque estava farta de me vir sozinha.
Chegas, fascinas-me com palavras. A minha tesão com a tua voz. O teu cheiro, pele, as duas mãos. Rendes-me nua, viras-me de costas, do avesso, prendes-me o corpo à distância do teu. Prendes-me o corpo, presas as mãos (para que não te possa tocar). Dás-me finalmente a língua e penso que te vou ter. E então vais-te, levas-me o sono e deixas, em troca, uma cona a arder.
“Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.”
F.P. (A.C.)
Sobre o tema, e para além de poder asseverar que tem razão o heterónimo, cujo criador, de resto, era perito no magnífico rídiculo das ditas (pobre Ophelinha, “Meu amorzinho, meu Bébé querido”), dei hoje por mim a tresler o “D’este viver aqui neste papel descripto“.
Entre as já usuais “minha gazelinha adorada, meu diamante querido, minha pérola e minha estrela”, dei com esta, à laia de despedida.
“Coloco o meu pénis na forquilha do teu corpo.
António”
(Todas as cartas de amor são
Ridículas)
Esta malta (que escreve de escrever) também fode.
“Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.”
F.P. (A.C.)
PS – Por falar em cartas de amor, recebi esta agora mesmo.