Todos os artigos de Nuno Ramos de Almeida

Votos crípticos

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O que acontece quando dois excelentes blogues se unem em matrimónio? Uma prole infinda de posts minimais?
Seja como for, o que nos importa, a nós leitores, é que as alegrias que hoje começam não vos roubem tempo para a blogação. E aqui fica um pequeno mas decorativo vasito, à laia de presente que gostaria de vos oferecer, se a penúria não fosse tão aflitiva.

“Compramos Sucata”

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“A Cormetal, que atua a mais de 20 anos no mercado de RECICLAGEM compra para reciclar:”
Inicia-se desta forma auspiciosa e ortograficamente inovadora um mail que por aqui recebemos “a” bem pouco tempo. Gostaria de responder a estes senhores com boas novas. Mas que sucata lhes poderemos vender? Comentadores inoxidáveis? Polémicas enferrujadas mas ainda com alguns quilómetros para dar? Bloggers a precisar de recauchutagem, como este vosso criado?

Mais três achegas para confirmar a superioridade moral da Civilização Ocidental

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1- após o final da II Guerra Mundial, os ingleses montaram os seus pequenos sucedâneos de Auschwitz, onde foram interrogados alguns suspeitos de comunismo. Tortura, privação de sono, falta de alimentação, uso de adereços surripiados à Gestapo; tudo valeu para sacar informações aos detidos.
2- no Afeganistão, local da primeira batalha da “guerra de civilizações” e país recentemente arrancado às garras do fundamentalismo, a Justiça já se distanciou das práticas bárbaras dos talibans. Agora, os corpos dos condenados só são expostos por períodos decentes e o estádio de Cabul deixou de ser palco de execuções e amputações públicas; as autoridades andam em busca de um local decente para tais espectáculos. Ah: hoje em dia, os adúlteros são, ó cúmulo do humanismo!, lapidados com “pedras mais pequenas”.
3- as forças armadas dos EUA ponderaram seriamente a hipótese de assassinar civis e militares americanos só para terem à mão um bom motivo para invadir Cuba.

Um último Rodriguinho (1)

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Já nenhum êxito de Hollywood dispensa os lucros do merchandising. Agora, é o oscarizado Brokeback Mountain que dá origem a uma linha de educativos brinquedos. Começando pelo dócil cavalo Bottom, imprescindível companheiro de folguedos dos cóbois modernos.

(1) Uma pequena graça à la maniére de RMD.

Enxotar as aves necrófagas

Só um esclarecimento, não vá alguém pensar que os vampiritos do costume desta vez até acertaram uma. Não. Se não “me reconheço” (raio de chavão que fui desenterrar…) no Aspirina actual, isso nada tem de censura ao meu amigo Valupi — aqui, a dissidência é visita bem-vinda. Tem sim a ver com o predomínio esmagador de posts como este, este, este e até este.
O meu projecto inicial para este blogue passava por combinar alguma reflexão politizada com intervenções mais intimistas, centradas em objectos artísticos, ou mesmo em torno de pequenos exercícios de humor ou ficções. Quiseram as correntes da vida empurrar o Aspirina B para outro lado. Hoje, ocasiões há em que ele surge quase como porta-panfletos, como veículo para proclamações várias, sem grande hipótese de servir de catalisador para discussões que me interessem. Por sentir essa tendência, já o João Pedro da Costa nos abandonou; e tenho eu também alguma dificuldade em continuar a considerar esta a “minha” casa. O que não vai impedir a sua continuação, em busca de outros caminhos e de outros estilos.
Já agora, pela centésima e provavelmente derradeira vez: não sou “bloquista”. Vai daí, e por muito que isto custe à pequenina imaginação do AAA, a minha saída não representa nenhuma “crise” no tal “bloquismo”. Folgo, no entanto, em constatar que o Aspirina, apesar do “gritante vazio de ideias” e do seu “estado de degradação”, continua a ser mais lido do que “O Insurgente”. Isso, para quem idolatra de tal forma a presciência do “mercado”, deveria encerrar importantes lições de humildade. Mas é muito mais fácil dar lições aos outros, não é, AAA?

Sinistro quem?

Só para o caso de algum leitor tomar a mudez geral dos sócios do Aspirina como uma espécie de aquiescência passiva, tenho de proclamar o seguinte: não vejo grandes vislumbre de razão ou de sentido neste post ou neste, ambos lavrados pelo meu acetilsalicílico parceiro Valupi. Nada de dramático; apenas formas divergentes de espreitar a realidade, o que nem sequer obriga à invenção de novas alternativas ao quinto postulado de Euclides.
Vejamos: primeiro, Valupi descobre-se no meio de uma sociedade embrutecida e bovina, fascinada por “ricalhaços” e “futebol”, que, de todo, “não speaka marxês”. De caminho, ainda estranha que os partidos de esquerda não estejam sempre no poder, como seria natural se as suas propostas fosse assim tão bondosas para os “trabalhadores”. O facto de o PS até ser governo é sacudido com um fácil e mui conveniente envio deste partido para o “centro”, como o provaria à saciedade o facto de ter alcançado a maioria absoluta. Ora isto representa uma confusão homérica entre centro sociológico e centro político, levando-nos de escantilhão para um lindo corolário: o PSD e o PS são, uma vez que já ambos foram maioritários, rigorosamente iguais. Passa-se que não são. Podem ser parecidos, pode o PS não ser “de esquerda” para o PCP, mas é inegável que está à esquerda do PSD, se aceitarmos que estas definições ainda retêm algum resquício de significado.
Ora o facto de a nossa sociedade não “speakar marxês” não tem de ser visto como um problema de “passar a mensagem” nem sequer como mais uma demonstração da falta que faz uma vanguarda esclarecida. Basta relembrar Marcuse para vermos como o marxismo não congelou no Jurássico e até já demonstrou, há décadas, compreender bem esta “sociedade unidimensional”(1) que agora Valupi descobriu. Pois — e atenção que esta pode ser revelação espantosa para muitos — a Esquerda não se limita a berrar os seus vómitos “anti-América” e “anti-autoridade” (semelhante uso deste chavão chega a ser cómico, em dias em que alguma direita pugna pela quase anulação do papel regulador do Estado…); também consegue pensar o mundo em que vive. Ignorá-lo é de um simplismo a toda a prova.

No post seguinte, o alvo é outro mas a caçadeira continua munida de chumbo grosso e orientada por desfocadíssima pontaria. Partir do princípio que um acervo de episódios e tendências negativas chega para definir por atacado toda uma “civilização” ou uma religião seria risível se não fosse algo sinistro.
Ora deixem-me dar uma ligeira volta ao valupiano texto, mantendo no entanto intactos todos os delicados maquinismos da sua lógica:
“O caso do presidente convertido ao fundamentalismo mais alucinado, e já antes notório por não comutar penas de morte, é uma nítida radiografia da sociologia do Ocidente. Estes evangelistas enlouquecidos são aliciadores de fanáticos, numa lógica puramente religiosa. Nos países cristãos onde não há outras fontes de informação e de formação, ou onde elas são totalmente subservientes, o sentido constrói-se coercivamente a partir das patologias instituídas como cultura religiosa. O resultado é o contínuo fluxo de carne para canhão.”

Ou, em alternativa, também podia pegar no recente episódio do influente rabi que recomendou aos pais judeus que amputassem partes das bonecas das suas filhas para que estas não caíssem na categoria de “ídolos”. A partir daqui, seria fácil inferir que o Judaísmo é coisa de psicopatas delirantes.

Seria grotesco e simplório, não é? Pois. I rest my case(2).

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Olhe, não parece mesmo nada

Há uns dias, Cavaco Silva dizia-nos que estamos da iminência do que, em futebolês, se chama uma “chicotada psicológica”: “a chegada de um novo presidente pode ter o efeito, quer se queira quer não, da chegada de um treinador novo”. É que “às vezes, a equipa não é má, mas precisa de um novo treinador”, com direito, presume-se, a ditar a táctica, substituir elementos, exigir reforços, etc.
Agora, Cavaco tentou tranquilizar-nos: “conheço muito bem as competências do Presidente”. Escasso valor terá esta garantia, vinda de alguém que parece, como na altura realçou Vital Moreira, incapaz de distinguir as competências do árbitro das do treinador.

Espiritismo eleitoral

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Primeiro, foi Manuel Alegre. Confortado pela presença da viúva do capitão de Abril, tratou de o arregimentar para a sua causa: “Sei que o Salgueiro Maia gostaria de me ouvir dizer o que estou aqui a dizer”. Agora, outra viúva ilustre, Matilde Sousa Franco, tratar de anunciar aos viventes as vontades do esposo: “toda a gente sabe que foi um grande amigo de Mário Soares, estando certa de que, se fosse vivo, o apoiaria”. Mas, com tamanha alergia ao que chama “oportunismo político”, que terá passado pela cabeça da senhora quando aceitou fazer parte das listas eleitorais do PS, escassos meses após a morte do marido?

Prós e contras

O programa que ontem à noite animou a RTP 1 proporcionou-me uma das experiências televisivas mais divertidas da minha vida.
O espectáculo foi entregue a meia dúzia de mentes brilhantes que supostamente iam discutir a alma lusa ou coisa que o valha. O professor Adelino Maltez ficou com o papel de dizer umas banalidades isentas de conteúdo com voz ribombante e condizente expressão grave e intensa; acabava uma frase — invariavelmente sem conclusão — e ficava a olhar com ar de mau para as câmaras e para os comparsas, não fosse algum ter a ousadia de lhe perguntar o que queria afinal dizer. Clara Pinto Correia entretinha-se a demonstrar a sua erudição com umas historietas medievais e a falar dos filhos a propósito do estado deplorável do ensino, do bom que é morar no Bairro Alto, local onde as crianças podem brincar à vontade na rua (talvez a ver qual encontra mais seringas), da maravilha que foi ir a pé a Fátima (pobres petizes). Um padre velhinho muito simpático dava ideia de se ter enganado no estúdio: quando lhe perguntavam qual devia ser o perfil do próximo PR, falava de Goa. Um senhor publicitário discorria sobre a falta de gravatas do primeiro-ministro japonês e sobre a miséria que é a “marca” Portugal.
Como guardião da racionalidade ficou, imagine-se, Nandim de Carvalho, que teimava em remar contra a maré e tentar dizer coisas com sentido. Jacinto Lucas Pires, ao longo de todo o programa, não conseguia reprimir um sorriso incrédulo.

Talvez já nem ele escape

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Manuel Alegre, não contente em incomodar os vivos e recrutar os mortos, já ameaça publicamente vir a ser o “presidente de todos os portugueses e de todos os estrangeiros” residentes em Portugal. Mas o delírio não pára aqui: ele começou a apresentar-se aos transeuntes estupefactos como o “Presidente da República”. Começo a gostar do nosso candidato-dadá.

Défice de juízo

Garcia Pereira andou pela Madeira a promover a obra de Alberto João. Parece que o candidato deseja “a mais ampla autonomia” para as nossas ilhas, se preciso for com um Supremo Tribunal por arquipélago, mantendo apenas uma vaga ideia de defesa nacional em comum com o resto do país (parece-me ideia excelente; sobretudo se tratarem primeiro da correspondente autonomia económica). O patusco candidato do MRPP tem ainda uma outra ideia original sobre a Madeira: “o que há aqui é défice de oposição”.
O homem não perceberá mesmo que a tal falta de oposição não é a raiz do problema mas sim um mero sintoma? Que oposição pode sobreviver naquela atmosfera asfixiante, marcada pelo nepotismo e pelo mais absoluto desprezo pelas regras da vida em democracia? Quem é que se sujeitaria a ser perseguido, ver bens seus expropriados e ter o nome arrastado pela lama todos os dias, apenas por brio cívico?
Parece-me que quem não entende isto não devia ser nem candidato a presidente do Benfica.

O inferno é capaz de ser verde

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Dark Wood (Una Selva Obscura), Tom Phillips, 1979-80

Não é preciso ser um Marcuse ou um Ballard para ver que muito do que se passa dentro dos nossos crânios acaba por imigrar para o mundo “real”; as nossas neuroses, fobias ou depressões dificilmente passam sem se manifestarem, mesmo que de forma latente, nas circunstâncias de que nos rodeamos.
No meu caso, a bandeira que melhor reflecte o estado da ondulação na minha alma é o meu jardim.
Por mais que laborasse, não conseguia fazer com que ele saísse do estado de selva primeva. Tentei arrancar as canas, cortar as silvas, envenenar as ervas. Por umas semanas, a coisa ganhava ar quase civilizado; depois, no que me parecia um lapso de tempo absurdamente ínfimo, regressava o caos vegetal, mais feio que nunca.
Tentei, a páginas tantas, organizar, como as pessoas crescidas fazem, a minha vida. E o jardim, epifenómeno obediente, foi a primeira vítima. Contratei profissionais de variadas nacionalidades, projectei e instalei, com as minhas doridas mãos, um complexo sistema de rega automática. E dei ordem para espalhar um manto impenetrável de escalracho, tapando de uma vez por todas a fertilidade insana do solo da serra. Fui de férias, confiante e já de cabeça mais desanuviada (sim, que estas coisas sempre confundem a fronteira entre sintoma e causa).
Quinze dias depois, o meu cantinho de Amazónia estava de volta. Canas da minha altura, flores selvagens de ar carnívoro por todo o lado, plantas daninhas com ar de estarem ali há anos. Garanto-vos: aquilo não é natural.
Hoje, voltaram os jardineiros. E aniquilaram 500 metros quadrados de escória folhuda, revelando, para minha surpresa, um tímido mas viçoso tapete de relva. Que, afinal, até ia medrando por debaixo da selva.
Deve haver por ali uma valiosa lição à espera de ser aprendida; entretanto, vou saboreando o perfume de coisas verdes acabadas de cortar. Cheira-me a felicidade, imagine-se.

Este escapou às garras do Luís Filipe Vieira

Cabe-me a subida honra de anunciar o nosso primeiro reforço de Inverno. Se ele conseguir domar as renitentes complexidades do HTML em tempo útil, não tarda nada teremos por aqui as ilustrações, os cartoons, as caricaturas, a imaginação a traço firme do Jorge Mateus. Grande herói da BD, esforçado artista residente do DN (e sem saber, também da nossa farmácia), recente vencedor (em condições rocambolescas) do Salão Nacional de Humor de Imprensa. O Aspirina B conta com ele para ver se conseguimos dizer alguma coisa de inteligente sem vos maçarmos com mais conversa de chacha como esta.

Deve ser da data

Estava há uns minutos uma senhora num programa da SIC Mulher (“Elas sobre Eles”, julgo) a lançar um alerta importante: “Olha, desculpa lá estar a armar-me em intelectual, mas este é um assunto sério que temos de discutir. Sabes do Iraque, não? E sabes do problema do urânio no Iraque? É. O enriquecimento de urânio no Iraque. É grave”.
Alguém diga à senhora, por favor, que anda um pouco atrasada. A história das armas de destruição em massa no Iraque já passou à História. Agora é mesmo o Irão que está na berlinda.

Mais histórias de plágios

Pronto. É sina assente: agora, tudo o que tenha a ver com o gamanço de escritos alheios tem de me vir parar ao desktop. Ainda acabo como metade da população portuguesa: processado pela Clara Pinto Correia, que gastou esta semana a justificar, no “24 Horas”, os seus tormentos e a ameaçar este e aquele com ferozes litigações, pois “agora já não vai sair barato dizer mal de mim”. Isto enquanto persiste na colocação de aspas a proteger a palavra “plágio”, quando aplicada à sua pessoa, mas enfim. (Espero que ela não descubra que escrevi há um ano que “o Jorge Listopad e a Clara Pinto Correia deviam ser banidos para a Zona Fantasma”…)
É que nossa Margarida conseguiu por fim encontrar um texto assinado por Francisco Louçã em 2001 e outro de Michel Chossudovsky, alguns dias anterior. Podem ler ambos aqui. Até me dei, não fossem acusar-me de escasso empenho analítico, ao trabalho de assinalar a vermelho as passagens literalmente comuns aos dois artigos. Mas não era preciso; eles estão obviamente irmanados e expõem os mesmos factos, o mesmo raciocínio e a mesma conclusão.
Plágio? Para ter a certeza, precisaria de verificar alguns dados: datas, notas, o texto assinado por Louçã. Mas admito que parece bastante provável.
Sei que pode soar a coisa estranha, mas é verdade, Margarida: nem todos fechamos os olhos ao que parece ser a evidência só porque esta nos desagrada.

A nossa Teofania

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Era uma vez um mundo pequeno, sombrio e assustado. As povoações onde se escondiam os habitantes desta orbe eram pequenas e esparsas. E sujeitavam-se a uma topografia abrupta que propiciava a distância e o isolamento. Ainda por cima, ali o povo era belicoso: poucas quinzenas passavam sem pelo menos meia-dúzia de escaramuças e pequenas guerras. Mas tratava-se de gente religiosa: eles conheciam bem o seu Deus, sabiam-nO de boa índole e adivinhavam-Lhe aquele desvelo paternal sem fim que habita as histórias pungentes de amor filial (e onde a traição inesperada nunca anda longe, diga-se).
O abuso, naturalmente, imperava. Se numa manhã o sol se recusasse a iluminar as planícies poeirentas do pequeno mundo, logo os fiéis acorriam em massa aos templos para orar ao Criador da insolente esfera. A diferença crucial para o nosso universo abandonado é simples mas decisiva: ali, a Divindade acorria mesmo às súplicas dos Seus súbditos. Nunca passava mais de um dia sem que os pedidos — aflitos, estapafúrdios, egoístas ou apenas justos e sensatos — fossem atendidos pelo omnipresente e sábio Taumaturgo. Com o passar dos anos, adivinhava-se algum cansaço por detrás e tanta e tão generosa solicitude; mas nem assim abrandava o ritmo dos pedidos e nem assim se ouvia uma só nódoa de rispidez a tingir de forma menos própria as divinas respostas.
Os mais assustadiços asseveravam que Ele se iria embora, por fim farto de hóspedes tão pedinchões e agressivos. E todos tremiam ante o frio e a solidão que tal ideia lhes causava. Mas logo continuavam a importunar o seu deus.
O inevitável, como é de bom tom numa história com moral, aconteceu: Ele fartou-Se. E começou a divertir-Se menos com as cabriolas dos Seus súbditos. Por fim, confessou que já poucas vezes visitava, invisível e omnisciente, os miseráveis tugúrios onde eles se acoitavam, sempre tão inchados com a sua própria importância. Ali, já não aguardava novidade, já não almejava ouvir palavras capazes de atenuar o Seu ennui. E assim o desespero caiu como um manto fúnebre sobre aldeias, montes, planícies. Com a ameaça de sufocar toda a esperança, por eras e eras.

Até ao dia em que os aldeões de um povoado não menos miserável que os demais receberam a boa nova. O Altíssimo dignara-se a conceder-lhes a graça do seu agrado. Ele falara-lhes; dirigira-lhes de novo a sua augusta e cansada Palavra!
Cantaram-se hosanas, fizeram-se sacrifícios, desfloraram-se donzelas, inauguraram-se ruas com aquela data por nome. O Querido Demiurgo voltara!