«Entre críticas ao trabalho do Governo nos campos da saúde e da educação, mas também aos partidos de esquerda por "darem a mão" ao Partido Socialista nos tempos de geringonça, André Ventura atirou a Costa: "nem a sua mãe acredita em si".
A frase gerou uma reação do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que afirmou não haver espaço para afirmações "injuriosas e indevidas neste Parlamento". "Muito menos envolvendo familiares", acrescentou. A reprimenda gerou aplausos das bancadas de esquerda no plenário e o aplauso isolado de Joaquim Miranda Sarmento, do PSD, à direita.»
André Ventura, ao usar a mãe de António Costa como arma retórica, não está apenas a ser injurioso, nem apenas a ser torpe, nem apenas a ser um pulha. Por se ter passado tal ataque no Parlamento, e por se estar a dirigir a um primeiro-ministro, Ventura quis exibir-se na projecção de uma impune pulsão de violência. Porque o efeito pretendido no alvo, Costa e a sua relação filial, não tem qualquer relação com a dimensão política, qualquer que ela seja. A referência à mãe de Costa constitui-se como uma ameaça pessoal, uma afronta onde a privacidade e intimidade da esfera familiar surge como matéria pública passível de apropriação por um adversário político para fins de luta política.
Ventura sabe que não lhe vão responder com “a tua mãe ainda acredita menos em ti”, “o teu pai acha que és um palhaço” ou “tens um primo que limpa o rabo com a propaganda do Chega”. Ele também sabe que o responso de Augusto Santos Silva gera um efeito de validação do insulto junto da sua base de apoio. É o carimbo oficial de ter resultado, de ter causado dano. Dano naquele, e naqueles, que Ventura precisa de desumanizar para continuar a atrair broncos, alienados e facínoras.
Ventura não está sozinho. Joaquim Miranda Sarmento ficou muito bem acompanhado.