Todos os artigos de antoniofigueira

Dá Deus o talento a quem não tem tempo

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A Periférica acabou. Como nos anos 90 acabou a Kapa, como nos anos 70 acabou A Mosca, como nos anos 60 acabou o Almanaque. Deixando-nos a aguar por mais. Aguando eternamente. Há um mito para isto, não me recordo qual.

A Periférica era a nossa melhor revista literária? Quem o saberia afirmar, sem ofender demasiado a Ler, ou a Colóquio Letras? Mas não acabou também a Ler, metamorfoseada em volume anual? E a Colóquio Letras não se está fazendo bela e etérea? Chega de perguntas, vamos às lamentações.

Durante quatro anos, Trás-os-Montes trouxe encantado o resto do rectângulo. Produziu, num enternecedor papel reciclado, um objecto cultural que queimava nas mãos. Vinha ele das forjas de Rui Ângelo Araújo, de Carlos Chaves, de Paulo Araújo, de Vítor Lamas, de José Ferreira Borges, de Fernando Gouveia, que ainda varavam o país, arregimentando para a empresa qualquer arrojo ou não-alinhamento que se lobrigassem. Tudo benfeitores da cultura.

Como começou a coisa? Sabemo-lo agora. Foi a mais singela prenhez auditiva. «A ideia de criar uma revista de âmbito nacional», diz o editorial de despedida, «foi deixada pelo Divino Espírito Santo no voice mail do telemóvel de um de nós». E os chamados largaram tudo – remanso, carreiras, mulheres e crianças – para lançarem ao Mundo, em catorze tremendos números, o melhor que tinham e que nós não merecíamos.

Hoje perguntam-se: «Que estruturas abalámos?» E, para nos cortarem qualquer devaneio, eles próprios respondem: «Não evitámos que a “cultura” da metrópole ficasse tantas vezes contentinha-da-silva e auto-satisfeita com as palmadinhas dos amigalhaços». Assim mesmo. Com assassinas aspas e puídos clichés. Era isso o que merecíamos, com isso se nos deixa.

A Periférica acabou. Pelas mais respeitáveis razões. «Fazer uma boa Periférica», confia-se-nos, «exige talento, tempo, dedicação, atenção, treino – uma redacção em forma e altamente disponível. De todos os requisitos apenas nos sobra o talento». O talento. Para nós, o talento não era um ‘requisito’. Era tudo o que sabíamos que por ali existia.

[ Mais e melhor no site da Periférica ]

O número 14, o último, acaba de ser posto à venda. Numa boa livraria perto de si.

Dubai on the Algarve

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Sou um leitor do «Metro». Falo do «Metro» neerlandês, um bocado melhor do que o nosso. Tem um trabalho redaccional sério e fama de simpatias à direita. Mas leio também o concorrente, «Spits», ‘Hora de Ponta’.

E que se soube pela «Spits» de hoje? Que um multimilionário holandês, Sander van Gelder, projecta criar uma ilha ao largo do Algarve para receber gente discreta, para quem € 2.000 por uma noite de hotel não é avaria de maior. O senhor, que já é dono do luxuoso complexo turístico de Vale do Lobo, inspirou-se na península que o Dubai está a construir, a tal em forma de palmeira, que até da Lua é visível.

A ‘nossa’ ilha terá forma de vieira. Nela haverá hotéis, um court de ténis, um restaurante subaquático (sim, os dois mil pacotes são para se tomar o pequeno-almoço entre os peixinhos), e vai chegar-se até lá de monorail e teleférico.

«Com o crescente número de milionários, há uma maior procura de coisas invulgares», afirma o senhor Van Gelder. Pode ser. Mas não faz grande impressão aos nossos ecologistas, que já se perguntam sobre os efeitos da ilha artificial.

Ah, e uma vivendazita modesta, algures nos rebordos da vieirinha, ficará por uns 4 milhões de euros.

Qualidade portuguesa

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Saber falar é uma arte. Saber ler também. Luís Gaspar, «locutor de publicidade», tem-nas, uma e outra. Podem ouvi-lo no seu audioblog ESTÚDIO RAPOSA (www.estudioraposa.com), eventualmente pela ligação no TRUCA (www.truca.pt).

Aí se percebe como o nosso idioma – apesar do fechamento sonoro dos últimos séculos, que se vem acelerando – ainda tem sonoridades fortes e maviosas. Aí se aprende a ler aos outros: aos amigos, aquele poema que nos saiu esta tarde no café, aos miúdos, aquela história antes de adormecer. O efeito é o melhor. Os amigos ficam boquiabertos. As crianças não. Mas ficam crendo, para a vida, que o meu papá, a minha mamã, são os maiores.

A qualidade nunca esquece.

Esta pergunta não é parva

E se…

E se os brilhantes espíritos, os inefáveis artistas que decidiram misturar religião com política de maneira desnecessária e ofensiva, tivessem reflectido duas vezes antes de criar a confusão e interferir com a existência e a segurança de outras pessoas, tinha-se perdido alguma coisa? O que é que se ganhou, em todo o caso? Quem é que ganhou alguma coisa com esse exercício fútil da “liberdade de expressão”?

João Camilo no seu blogue blueeverest.blogspot.com

Uma Esquerda limpinha de cima a baixo

A Esquerda é muito sensível, muito consciente e muito exemplar. Tão sensível, tão exemplar e tão consciente, que toma sobre si todo o peso do Mundo. Por isso a vemos por aí intimamente encurvada, vergastando-se, pedindo penitência. A Esquerda assusta-se à ideia de que haja havido algum grande crime que não denunciou, alguma grande injustiça de que não lavou expressamente as mãos. E assim se dispõe a pagar por todos: por quanto o filho faz, por quanto fez o pai. Onde a Direita é uma balzaquiana vendendo frivolidade, a Esquerda sofre cronicamente de má consciência. Só a santidade a satisfaz. Resultado: tão entusiasmada anda no caminho da perfeição que qualquer chantagem fundamentalista terá nela uma presa feliz. E aí anda ela, pronta a entregar-se a quantos integrismos, locais ou mundiais, lhe apareçam. Para qualquer azar, a menina anda sempre limpinha de cima a baixo.

A prosperidade em Viseu

A gente não se pode zangar por causa de tudo. Isso deixa-se aos profissionais da indignação. No terreno do idioma, por exemplo. E, assim, a gente deve fechar os olhos a «entrada proíbida», a «retire o titulo», a «SAIDA», a «POLICIA» nos carros dela. Deve, porque não valem uma úlcera em qualquer parte.

Mas abro uma excepção [em versão anterior estava excessão, eu não sou melhor que os outros, embora mo diga] ao que hoje se ouviu na SIC-Notícias. Era uma peça sobre a visita de Jorge Sampaio a uns concelhos de Viseu, aonde ele ainda não tinha ido no decurso dos dez anos. E mostrava-se a nova (o novo?) Viseu, longas avenidas, centro regurgitante. Em suma: Sampaio visitava um distrito de «aparente prosperidade».

Aparente? Parece prosperidade, mas não é? Nassenhora: é próspero, tá-se a ver. Então em que ficamos?

É assim. O autor do comentário sabe o seu inglês, língua onde «apparent» quer dizer «aparente», portanto «enganador», mas também «nítido», «visível». Mas que em inglês haja confusão não justifica que a importemos.

Eu sei que é bradar no deserto. Hoje, pergunta-se a alguém «O fulano é rico?», e respondem-nos «Aparentemente». E a gente fica sem saber se é ou não é. Se é, «como tudo indica», «pelos vistos» («apparently», «apparemment»), ou se não é, como sempre se quis dizer entre nós. Bradar no deserto, repito. Ninguém percebe, e não quer perceber. Não é com eles, claro.

Mude-se a língua, amigos. A nossa língua é viva da costa. Mas, por favor, não se instale a confusão.

Fumigações e enigmas

Quando se tem um jornal e algum tempo pela frente, lê-se qualquer coisa. Quando se tem um jornal e muito tempo pela frente, lê-se bastante mais. Imaginem o que sejam dois jornais e muito, mas mesmo muuuito tempo pela frente. Sucedeu-me isso hoje.

Eu tinha já despachado o Público, quando o meu companheiro do assento adjacente deu por vasculhado o seu Correio da Manhã. Ah tempo, ah um jornal! suspirei. E, valente, sem a intelectualidade portuguesa o olhar-me por cima do ombro, fui indo, indo, e cheguei até ao «Desporto».

Num impulso de temeridade, li uma crónica desportiva. Era sobre o Pinto da Costa e a sua draconiana claque. E falava do treinador, o meu compatriota Adriaanse. Ora, e aviso, não vai ser questão nem do presidente nem do seu (se bem percebi) periclitante técnico. É pura questão de língua portuguesa, esta sagrada minha.

O autor da crónica, Rui Santos, exprimia-se assim:

«O problema é que Adriaanse não está nem na Holanda nem em Inglaterra. Co Adriaanse está em Portugal, num campeonato fraco, de pequena exigência…»

Até aqui percebo. Mas leiam comigo.

«…em que os jogadores não projectam uma cultura técnico-táctica e físico-atlética capaz de assimilar uma nova e fracturante conceptualidade».

Perceberam?

E depois, Valupi, a ti me queixo, a crítica literária do Expresso é que se exprime em enigmas e fumigações.

Negri, Raposo e os talheres (1)

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Caro Henrique Raposo,

A sua resposta esmagou-me, não que você tivesse argumentado, mas como me atulhou de citações, ainda hoje estou a sacudir frases de cima. Por gosto e para que “afine a pontaria”, como com tanta graça escreve, vou-lhe responder:
– Homem, pode estar de arma na mão, mas está virado ao contrário!
De qualquer forma não dei o tempo por mal empregue, ao reler os dois artigos que Slavoj Zizek escreve sobre Negri , que você cita mal (já lá vamos), deparei com uma passagem que lhe endereço; Thomas De Quincey no seu “Assassínio considerado como uma das belas artes”, dá o seguinte conselho: quantas pessoas começaram por uma simples morte, que no momento, pareceu-lhes não ter nada de repreensível, e acabaram por se comportar mal à mesa!
Meu caro Henrique Raposo, o problema é esse mesmo, você começa por escrever sobre autores que não estudou e vai acabar por trocar os talheres na refeição. E é sobretudo isso que, no seu caso, eu quero evitar.
Você cita Zizek, pretendendo demonstrar que o pensador esloveno considera que Negri não vai beber a Marx. Se tivesse tido a atenção de ler na integra os dois artigos, em vez de andar à procura de frases espúrias, teria descoberto que Zizek afirma que “voilà, exactement, ce que Michael Hardt et António Negri essaient de faire dans Empire, un essai qui touche à son but dans sa tentative d’ecrire le Manifeste communiste du vingt-et-unième siècle” (Zizek, Slavoj: “Hardt et Negri ont-ils Réécrit le Manifeste Communiste ? », em Que Veut L’Europe ?,Climats, Paris, 2005, pag 91), apesar do elogio, Zizek mais à frente vai criticar Negri e Hardt não por não terem sido fiéis a Marx, mas por não terem ido buscar Lenine. Para ele, Negri falhou depois de ter analisado o processo sócio-económico global não foi capaz de apontar as medidas radicais necessárias e que a esse respeito, “L’Empire reste un ouvrage prémarxiste.<Quoi qu’il en soit, peut-être la solution reside-t-elle dans la prise de conscience du fait qu’il n’est pás suffisant de revenir vers Marx, de renouveler l’analyse de Marx, mais qu’il est nécessaire de se tourner vers Lénine.» (Ob. Cit. Pag 94), o sublinhado é meu.

Negri, Raposo e os talheres (2)

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Deineka

Caro Henrique Raposo,
Como apenas leu em diagonal o que escrevi, vou-lhe relembrar as três correcções que fiz ao seu artigo na revista do “Diário de Notícias”, que eram para ser de começo de conversa, mas vão mesmo para o fim dela, para não torturar incautos leitores. Não vou perder muito tempo com a sua modesta afirmação de que o marxismo morreu. A afirmação coexiste desde do tempo de Marx e se ainda hoje há quem a discuta é porque estamos perante um moribundo muito saudável. Mas vamos por partes:
1. Não há entre os marxistas uma chancela oficial de quem é ou não é marxista. Ao contrário do que você está convencido, existem muitas correntes no marxismo e até existem várias leituras de Marx. Melhor dizendo, Marx escreveu coisas diferentes e às vezes contraditórias durante a sua vida. Para agudizar esta questão, dá-se até o caso de que as obras de Marx foram sendo conhecidas durante um intervalo de tempo muito grande. Parafraseando Gramsci, que você conhece da autobiografia da Filomena Mónica, cada geração teve de descobrir o seu próprio Marx. Veja bem, se os livros II e III do Capital só ficaram disponíveis no fim do século XIX, já os Manuscritos económico-filosóficos só viram a luz do dia no final dos anos 30 do século XX e os importantes textos que Marx escreveu entre os anos 1858-1863, incluindo o Grundrisse – sobre o qual Negri vai escrever um dos seus livros mais importantes: “Marx oltre Marx” – só são conhecidos depois de 1945!
Você cita as críticas, a Negri, de Samir Amin e de Imannuel Wallerstein, ambos de uma corrente do marxismo que investiga o “sistema mundial capitalista”, mas tem que ter em conta que ao contrário da Santa Madre Igreja, não há um Papa que possa excomungar os crentes. O próprio Wallerstein está ciente da multiplicidade das leituras marxistas quando afirma que “mais do que o fim do marxismo, assistimos ao florescimento disperso e impotente de mil marxismos” (Bidet, Jaques; Eustache, Kovélakis: Dictionnaire Marx Contemporain , PUF, Paris, 2001, pag 59).

Negri, Raposo e os talheres (3)

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Estimado Henrique Raposo,
Acho-lhe imensa graça quando garante peremptório que aqueles que, como Negri, incorporam contribuições de Deleuze ou de Foucault não são marxistas!
Meu caro Raposo, enquanto as suas contribuições para o “Acidental” não são cristalizadas, como diamantes, no corpo teórico dos estudos sobre o marxismo, existem algumas obras de referência para os investigadores. Há entre milhares de obras de estudiosos do marxismo, quatro livrinhos fundamentais: Dictionary of Marxist Thought de Tom Bottomore, Dictionnaire critique du marxism de G. Labica e G. Bensussan, Historisch-Kritisches Worterbuch des Marxismus,dirigido por W. F Haug e sobre desenvolvimentos mais recentes temos alguns livros, entre os quais, Dictionnaire Marx Contemporain, dirigidos por Jacques Bidet e Eustache Kouvélakis. Estranhamente, talvez porque ainda não souberam do seu veto, grande parte destas obras abordam como corrente do marxismo o “operarismo” italiano (o tal do Negri), e, vergonha das vergonhas, o último dicionário dedica um capítulo a Deleuze e outro a Foucault. Vão ter que enviar, como nos tempos da saudosa enciclopédia Soviética, uma lamina para os leitores arrancarem as páginas, para a obra ficar de acordo com o “cânone Raposo”.
Mas vamos a matéria de facto, esta diversidade e mudança deve-se entre muitas causas, a uma pequena que você vai reconhecer na frase de Sorel: “é preciso ter em conta, para apreciar correctamente a mudança acontecida nas ideias, a mudança que o capitalismo teve ele mesmo.”(Sorel, Georges: La décomposition du marxisme, PUF, Paris, 1982, pag 237).
Esta constatação das mudanças no capitalismo tardio e das novas formas como o actua e da especificidade do problema do poder, encaixa na segunda correcção que eu fiz ao seu texto no “Diário de Notícias”, como se recorda eu afirmei-lhe que a sua ideia que “Negri reduz o mundo a duas estruturas anónimas. Não existem homens ou ideias”, era incorrecta. Porque Negri e o “operarismo” italiano vão contestar as correntes marxistas mais sujeitas ao determinismo económico, apoiando-se numa longa tradição marxista italiana, começada em Gramsci, afirmando um certo primado da política e das questões do poder e garantindo que mesmo os desenvolvimentos tecnológicos eram frutos dos homens e dos seus conflitos. Em Negri, o poder constituinte da multidão está em potência, é uma possibilidade, mas não uma fatalidade. Ele vai buscar a Deleuze e a Guattari a sua reinterpretação do materialismo histórico e a Foucault a análise das formas do poder, nomeadamente, a transição de uma sociedade da disciplina (Escola, Fábrica, Exército e Prisão), para uma sociedade do controlo, onde as formas do poder se tornam biopoder e são incorporadas pelos próprios controlados. E em passada rápida chegamos à quarta crítica que eu lhe fiz, entre muitas que lhe podia ter feito, a ideia de que um homem não “alienado” não é originária de Marcuse, como você escreveu, no seu texto, mas encontra-se em páginas do próprio Marx. Mas isso fica para o meu último post sobre os seus talheres.

Estás aqui, estás a levar uma cabeçada!

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Há um fenómeno que me intriga na internet e nos blogues: as transformações psicológicas que os seus autores sofrem. Lendo amigos e desconhecidos, verifiquei que se dá uma transformação similar aos condutores de carro quando protegidos pela quentinha armadura do carro ganham palavrão fácil. Tenho estimáveis amigos que rompem o casulo habitual das pacíficas criaturas e aparecem com ademanes de Rambo. Ligados à rede, não há violência verbal ou possível violência física que não sejam capazes.
Quando leio, nos blogues, textos que prometem tabefes e bengaladas penso sempre num velho professor de Judo que tive, o mestre Vasco. Certo dia, estávamos à espera dele, já tinham passado 20 minutos da hora do início do treino. O mestre chegou afogueado e bastante alterado como se tivesse corrido a maratona. Perguntamos preocupados: mestre o que sucedeu! Contou-nos que tinha discutido com um homem numa paragem de autocarro, palavra puxa palavra e o sujeito tentou-lhe dar um murro. E nós ainda mais preocupados: mestre o que é que fez? Projectei-o sobre o ombro e atirei-o ao chão, disse o experimentado judoca. E nós todos em coro: e a seguir? A seguir, respondeu o mestre serenamente, dei-lhe um pontapé e fugi não fosse o gajo levantar-se.

É pá, eu não sou como o Pepe Carvalho, não queimo livros

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O estimado Raposo respondeu-me finalmente com muitas citações e insinua que eu quero queimar livros. Garanto-lhe que das minhas relações ideológicas só o detective Pepe Carvalho usava a biblioteca para fazer chama. O hábito dos autos de fé era mais para as suas bandas. Já que se deu ao trabalho de citar Leszek Kolakowski, autor dos três volumes sobre as “Main Currents in Marxism”, segue a resposta daqui a uns dias.
Finalmente, a sua ideia de que eu só leio gajos da minha tribo é comovedora. Parece-me que anda muito tenso, aconselho-lhe vivamente a ler este post sobre cenas de sexo na literatura, que a tensão é capaz de lhe passar.

O Bloco no seu labirinto

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Francisco Louçã teve um resultado pior do que aquele que o Bloco teve nas legislativas. Escaparam mais de 1% dos votos, grande parte deles jovens e urbanos. Ficou provado que uma parte do eleitorado do Bloco é volátil. A frase de campanha que ninguém é proprietário dos votos tem um reverso menos simpático: se as pessoas não se acham implicadas em causas comuns e num projecto político, isso quer dizer que têm uma relação de consumidor/espectador com a política e com o Bloco e não uma relação de sujeito da acção e de participante. Ora, o projecto político do Bloco implica a tentativa de construção de um nova organização que consiga responder a questões novas e evitar erros antigos. Esta construção não exige só a feitura de um programa de esquerda mais actual, mas sobretudo conseguir formas de ganhar, para a actividade política e para acção da Esquerda, importantes camadas da sociedade que se encontram privadas da capacidade de colocar a sua opinião.
Um tal movimento/partido tem de ter a capacidade de usar os novos meios e as tecnologias da comunicação, mas não pode ficar prisioneiro das mediações da comunicação. A política tem de existir para além da televisão e da comunicação social.
Um tal movimento político não se pode resumir à acção parlamentar tem que ganhar a rua. Tem que colocar muitas causas na ordem do dia e contribuir para uma nova hegemonia na luta das ideias.
Um partido de causas não deve ter a pretensão de ser a vanguarda de ninguém, mas tem de afirmar uma relação de “afinidade electiva” com os movimentos sociais e construir políticas e acções que dinamizem uma cidadania activa.
É preciso uma política que ultrapasse fronteiras nacionais, saiba responder às questões da ecologia, da precariedade do trabalho, da imigração, da privatização do genes e dos serviços públicos, dos novos meios de comunicação, e que se bata contra a política de guerra permanente do Império.
Os resultados das eleições presidenciais demonstraram que existe um elevado número de votos na esquerda (Alegre, Jerónimo e Louçã) que não se reconhecem nas políticas neo-liberais de Sócrates e que não se vão identificar com o sovaquismo (um híbrido de Sócrates com Cavaco). O papel do Bloco deve ser o de facilitador de convergências, construtor de pontes, tendo em vista a criação de novas plataformas plurais e de políticas de esquerda para a sociedade portuguesa. A capacidade de participar no necessário processo de reconstrução da esquerda portuguesa passa obrigatoriamente por abandonar todos os sectarismos. A forma como o Bloco conseguir acolher os seus militantes e simpatizantes que participaram nas campanhas de outros candidatos de esquerda é um sinal importante que é dado nesse sentido.

Manda a lista de livros sff

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Li no Acidental um simpático texto que me era directamente endereçado,em resposta a um post meu. Infelizmente, Henrique Raposo não se referiu a nenhuma das minhas críticas e, pelo que escreveu, nem sequer leu o texto.
Eu não critiquei Henrique Raposo por usar escritor liberais, eu apenas disse que ele não percebe nada de autores marxistas, TAL COMO EU TERIA DIFICULDADE EM CRITICAR UM LIBERAL, USANDO OUTROS PENSADORES LIBERAIS, QUE EU CONHEÇO POUCO.
Sobre as minhas críticas de substância, Henrique Raposo não respondeu a nada. E mais grave, não me enviou a listinha de obras para me libertar do Espada.
Junto deixo os dois textos para as restantes pessoas ajuizarem.

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Qualquer dia é ministro?

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Contaram-me amigos que num país distante, há bué, bué, tempo, publicavam-se uns jornais maoístas. Num deles, vários redactores descobriram que havia um camarada deles que mandava falsas cartas de leitores, assinando com nomes inventados, criticando desvios pequeno-burgueses dos outros jornalistas-militantes e elogiando a “firmeza revolucionária” do abnegado… ele próprio.
Quando li o texto de um determinado jornalista, sobre os resultados eleitorais, lembrei-me disso. Eu sei que foi a despropósito, mas a falta de honestidade intelectual do texto fez-me recordas outras histórias. Dá-se um Rainha de latão a quem adivinhar o nome do brioso guarda vermelho.