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Cheira a guerra e, por ironia do destino, só os israelitas podem ajudar a resolver

Em Israel, chegou a hora do tudo ou nada. Cercados, ou morrem ou vivem para sempre e em paz com os seus vizinhos. Deve ser isto que pensam neste momento.

Depois há a Rússia, a China, o Irão e a Coreia do Norte. Este quarteto tenebroso está de repente unido contra o “Ocidente”, que inclui também o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália e claro… Israel. Tudo democracias liberais livres, por oposição à autocracia da Rússia, à ditadura da China, à espécie de monarquia infanto-comunista da Coreia do Norte e à teocracia do Irão. Fantasmas que sabíamos estarem lá, mas para atemorizar outros.

Neste momento, no entanto, todos eles ameaçam com uma guerra: a China ameaça directamente (e provoca) os Estados Unidos no sudeste asiático por causa de Taiwan e indirectamente todo o Ocidente ao apoiar – embora dissimuladamente – a Rússia contra a NATO, após a invasão da Ucrânia; a Coreia do Norte ameaça constantemente a Coreia do Sul e apoia com homens e armamento a Rússia no ataque à Ucrânia; a Rússia ameaça quase diariamente a Europa caso esta “ponha as botas” na Ucrânia e mesmo que não ponha, porque entende que pode invadir os vizinhos que quiser, sobretudo se ganhar à Ucrânia e se os Estados Unidos (com Trump, o amigo de Putin) nos retirar o apoio; o Irão dos ayatollahs, na impossibilidade de ameaçar directamente os Estados Unidos, ameaça islamizar a Europa, a potência (melhor, “os infiéis”) mais à mão e neste momento “inundada” de muçulmanos tão retrógrados como os mais obscurantistas islamistas, não integrados, e receptivos à adopção de aberrações como a Sharia nos países para onde emigraram, começando, o Irão, por cercar e bombardear Israel, um aliado americano e uma democracia livre de tipo ocidental (não digam, eu já sei: tem os seus próprios fundamentalistas alucinados e arrogantes. Para esses, o meu repúdio. Por mim, iriam para um centro de reabilitação cerebral multiconfessional).

De modos que, apesar de, na Europa, reinar a descontração e ninguém ter pensado na possibilidade de uma guerra real, a quente, a doer, e isto há muitas décadas, cada vez mais me parece inevitável um conflito sério, uma convulsão monumental, com epicentros na Ucrânia e em Israel. A tensão aumenta a cada dia. Dizem os líderes do eixo da morte que querem uma nova ordem mundial… Pois querem, mas nós não, cruzes! Uma ordem mundial ditada por eles? Por muitos defeitos que os Estados Unidos tenham, mil vezes a liberdade que lá existe e as regras que impõem (bom, pelo menos até hoje) do que a total opressão desses regimes.

O eixo da morte está, de facto, extremamente agressivo. Bombardeiam, ameaçam.

Vamos deixar morrer os ucranianos, entregar a Ucrânia à Rússia, encorajar o Putin e pandilha a recapturar de seguida os países do Pacto de Varsóvia ou acabará a NATO por intervir? Ou os ucranianos por desistir. Quereremos a Ucrânia, depois de arrasada, de novo governada pela oligarquia russa e seus fantoches, aqui mesmo à nossa porta? Queremos isso para nós, para a Lituânia, para a Polónia? Morreremos para que isso não aconteça? Sim, não haverá outra hipótese.

Vamos deixar que o Irão e a Rússia aniquilem Israel? Não vamos, e o assunto é sério. Por muitos Pedros Sanchez e universitários imbecis e ignorantes que vociferem contra a malvadez da IDF e enalteçam a bondade e a pureza dos palestinianos, as alternativas islamistas são mil vezes piores. O Hamas, o Hezbollah, o ISIS, a Irmandade Muçulmana, que dominam agora a Palestina, são duas mil vezes piores. Por alguma razão nenhum vizinho que queira ter sossego os quer lá. Deixar que Israel sucumba às mãos desses bárbaros será uma tragédia. Queremos voltar às cruzadas? Estamos à beira de entrar para uma espécie de filme de terror apocalíptico: existe a ameaça de virmos a ser aniquilados por monstros vindos de outra era, de outra idade. Monstros que usam os seus como escudos, matam, degolam, violam e torturam em nome de uma divindade, como há milénios. Acontece que com armas do século XXI, compradas aos infiéis, que as inventaram. E, para somar desgraça ao terror, há quem, entre nós, defenda os monstros e os considere umas vítimas.

E cá dentro? Vamos permitir que a rua muçulmana na Europa tome conta das políticas internas e sobretudo da nossa política internacional? Será bom que não aconteça. Vai haver luta, violência urbana. Aliás, já começa a haver. É olhar para Inglaterra, onde uns cantam o Rule Britannia enquanto outros gritam Jihad! nas ruas de Birmingham.

Como saímos da ameaça tenebrosa da Rússia e da ameaça de guerra com o islão, ao mesmo tempo que gerimos as nossas ruas?

Não sabemos, alguma coisa terá que ser feita, mas, como alguém já disse, seria mesmo um bem para a humanidade se os israelitas conseguissem dar cabo dos ayatollahs. Aposto neles. Torço por eles. Não resolveria tudo, pois haveria provavelmente uma retaliação russa e uma intervenção americana, mas que daria uma preciosa ajuda, daria. Por exemplo, para a pacificação de todo o Médio Oriente (a Arábia Saudita não quer guerras). E sobretudo se a população saísse à rua a festejar. Quero muito que isso aconteça.

Afinal o Ventura saiu pelas traseiras ou não?

Uma hora de entrevista a André Ventura no NOW (das 22h00 às 23h00) e não sei a resposta à pergunta ali de cima. A jornalista está de parabéns, ufa!, e merece ir para casa descansar. Mas o que acontece quando há dois mentirosos e trafulhas de direita em disputa pelo poder?

Um espectáculo risível, mas degradante. À atenção do Marcelo.

Montenegro andou a negociar com o Ventura, mas não quis que se soubesse. Recentemente desqualificou e insultou o Chega em público, depois dos encontros negociais, pelos vistos da iniciativa do Montenegro, que não levaram a nada, porque o Ventura queria um acordo de governo para toda a legislatura e o Governo só queria que o orçamento passasse. Ao mesmo tempo, fingia que negociava com o PS (que estupidamente caiu na esparrela e levou tudo a sério) enquanto o PSD e a sua tropa de comentadores apelavam à responsabilidade deste partido na aprovação do orçamento.

Sabem o que vos digo? Vamos para eleições. Safa, que choldra.

A violência do Hamas deve-se à violência de Israel contra os palestinos, pareceu dizer Guterres há um ano

Pessoas que envergam com fervor o “kaffieh” no Ocidente por estes dias, olhemos para o Médio Oriente. Paquistão, Afeganistão, Irão, Iraque, Síria. Fiquemo-nos por aqui (e para não irmos até África). Não vivem nestes países palestinos cuja opressão justifique a violência. E, no entanto, são países com regimes violentos. Matar e morrer estão à distância de uma escaramuça, de uma infracção mínima às regras, de uma ofensa religiosa, de um interesse russo. Sacar de uma faca, de uma arma ou de uma bomba é muito fácil. Abusar das mulheres mais fácil ainda. Frequentemente carros explodem, manifestantes são alvejados ou levados para prisões onde são mortos. A esmagadora maioria da população (dizem-me que muito afável) vive silenciada e submissa. Não há por lá palestinos “roubados” e “acantonados” e, no entanto, a morte às mãos de um ou de outro grupo, ou dos governantes, é sempre um fim plausível a cada instante. São todos seguidores do islão e, no entanto, matam-se.

O regime do Irão elegeu como bode expiatório os judeus para justificar a violência também naquele sítio e exercer a sua vingança pela hostilidade com que é naturalmente tratado pelo Ocidente. Serve-se dos palestinos, uma comunidade com razões de queixa antigas e muitas vezes justas em relação aos judeus e com ressentimentos crescentes. Uma comunidade paralisada e receptiva a mensagens de ódio. Arma o Hezbollah no Líbano, arma o Hamas em Gaza, arma os Houtis no Iémen, arma a Irmandade Muçulmana em geral, cerca Israel. Objectivo: expulsar os judeus, um povo livre e “ocidentalizado”, uma democracia, que, segundo eles, não terá o direito de viver ali, e atingir assim os ocidentais seus aliados. Libertar os palestinos é altruísmo a mais para ser credível.

No entanto, tiremos de lá os judeus (reduza-se Telaviv a escombros, não haverá outra hipótese) e a violência não acabará. Porquê? Em primeiro lugar, porque continuará ainda a sobrar “O Ocidente”. Em segundo, porque existem facções rivais que se odeiam (Fatah, Hamas, Estado Islâmico, sunitas, xiitas, etc.). Em terceiro, porque, não havendo judeus naqueles países mencionados, a repressão e a violência são uma constante, ou seja, os problemas que existem noutras paragens não são os judeus nem desaparecerão após o extermínio dos judeus. Pelo contrário.

Pior: fartos de miséria e violência (e não particularmente na Palestina), muitos muçulmanos fogem para a Europa em busca de paz e bem-estar. Mas não todos. À boleia de gente à partida pacífica, vêm os alucinados fundamentalistas que, por programação cerebral desde tenra idade, acreditam que matar “infiéis” e islamizar todo o Ocidente é uma missão terrena e tudo farão para isso (muitos deles pagos, neste mundo, neste mundo), incluindo pela captação da simpatia e solidariedade da tal população pacífica ainda dificilmente integrada na sociedade para onde emigrou. E pelo terror (a que já estão habituados), como explosões em recintos de espectáculos. E é nisto que estamos, na exportação da violência, com a agravante de a eles se juntarem cidadãos ocidentais que se solidarizam com os que nos querem dominar. Em nome da Palestina! Não estão a ser parvos, os islamistas. Nada mesmo.

Os palestinos, se o quiserem muito (o que não é certo, como aconteceu aquando dos acordos de Oslo), até podem vir a ter o seu Estado, depois de devidamente expulsos (e bem) os colonos judeus da Cisjordânia (também tinham saído de Gaza). A questão é “para quê”. O Hamas já teve Gaza e o que fez? Construiu, desviando o dinheiro da ajuda internacional, toda uma infraestrutura subterrânea com vista a armar-se e a assassinar os vizinhos, sem a mínima preocupação com as consequências, sem o mínimo respeito pela vida da população que os elegeu. Será para isso que a Cisjordânia quer ser um Estado Palestino? Para dispor do seu próprio exército de extermínio? É legítimo perguntar. Há que esclarecer. É razoável duvidar.

Por tudo isto, esta guerra não se resolve enquanto as armas não se calarem, sim, mas de ambos os lados. Ambos. Não só do lado de Israel. E, das duas uma: ou o Estado de Israel é reconhecido pelos muçulmanos e se definem as suas fronteiras de vez, ou não é reconhecido e não haverá outro remédio que não seja manter a guerra intermitente e as mortes que acarreta, ou então destruir Israel com uma bomba atómica, matando igualmente palestinos, libaneses, sírios e jordanos. Estranhamente, não ouço os manifestantes de Londres, Paris, Berlim ou Nova Iorque de kaffieh a reclamarem o desarmamento de todos os beligerantes. Apenas o de Israel. O que me leva a concluir que, também eles, querem a destruição do Estado de Israel e a sua substituição por um Estado islâmico. Muito melhor, sem dúvida. Super tolerante e pacifista. Sem perceberem que, perante tanto humanismo e (visto pelos árabes) fraqueza, a seguir serão eles. Comidos de cebolada, caril e muita hortelã. Se forem homossexuais, com direito a suspensão em guindaste.

Pela minha parte, toda a minha solidariedade vai para os inúmeros iranianos, libaneses, sírios e outros, que festejam a cada golpe que é desferido nos respectivos regimes e seus braços armados, por Israel ou por seja quem for mais civilizado. Estou com eles.

Mas quem consegue ainda ouvir a Mariana Mortágua?

Começo por dizer que não sei se é de boa política baixar os impostos para as grandes empresas, independentemente do que investem, no que investem, de quem contratam ou dos salários dos seus funcionários.  Possivelmente para o país que temos não é.  Digo também que as grandes empresas devem, como todas, estar sempre debaixo de olho, não vão cometer abusos de posição dominante. Mas aumentar-lhes os impostos a doer, por castigo, devido ao seu peso económico, como gostaria uma certa esquerda que vive no Ocidente, como comunistas, bloquistas, LFI (ver as suas propostas em França) e quejandos, não é de todo um bom princípio e só revela saudosismo de economias estatais de má memória, desejo de caça aos ricos e amor por regimes autocráticos.

“As grandes empresas” são, para a Mariana, o exemplo máximo do que não deve existir. Mariana, se pudesse, acabava com as grandes empresas. Mariana tem raiva das grandes empresas. Mariana nunca terá uma grande empresa (nem pequena) nem privará com ninguém que tenha. Para Mariana, todos devíamos ser funcionários do Estado, o único gestor admissível. Para Mariana, os Estados Unidos deviam ter vergonha da Google, da Amazon, da Microsoft, da Oracle, da Walmart, causas de todos os males do mundo, e acabar com elas. A Gazprom talvez fosse uma empresa aceitável para a Mariana, mas nunca a BP, a Airbus, a Engie, a EDF ou a Renault. A Alibaba, a JingDong ou a Tencent podem estar prósperas e felizes na vida, para a Mariana, mas nunca a Sonae, a Mota-Engil ou o Grupo Melo, como se sabe empresas enormes e imortantíssimas quando comparadas com as anteriores.

Ao invés de querer que os portugueses tenham iniciativa empresarial e vontade e sabedoria para ganharem dimensão e dinheiro com isso, dentro da legalidade, claro, a Mariana quer que ninguém faça nada e que não tenha ambição nenhuma de grandeza, porque isso é “pecado” no código comunista e bloquista. Da próxima vez que ouvirem a Mariana referir as “grandes empresas” reparem no tom persecutório com que o faz. E fala-vos quem a ouve de passagem e não mais de dois minutos de tempos a tempos (hoje calhou). Como é que alguém consegue mais do que isso é a pergunta que aqui deixo.

Il a raison

Notre culture est judéo-chrétienne. Le creuset français se fait à Jérusalem, il se fait à Athènes, il se fait à Rome. C’est une civilisation unique, qui est aussi européenne et le pire pour moi, c’est de voir cette mauvaise conscience européenne alors que l’Europe est le symbole de la liberté. Comment voulez-vous intégrer des jeunes qui doutent, en leur disant que la France n’est pas aimable, qu’elle est coupable de tous les crimes ?

 

Bruno Retailleau, ministro da Administração Interna de França

 

Tudo indica que a discussão sobre os valores europeus versus outros valores entra finalmente na ordem do dia catapultada (em força nas redes sociais) pelo problema da imigração, sobretudo muçulmana, um problema bem detectado e aproveitado pelas forças nazis e de extrema-direita, até há pouco adormecidas e, convém lembrar, pelos russos do regime de Putin, apostados em apoiá-las, sempre na mira da desestabilização dos seus rivais “ocidentais” e da NATO.

Com o Próximo Oriente em ebulição, com os vários atentados à faca na Alemanha e com as manifestações da “rua euro-árabe” um pouco por todo o lado na Europa a pretexto do que se passa no Médio Oriente, chegou finalmente a altura de a Europa deixar de se consumir pela culpa do colonialismo – até porque russos e chineses “colonializam” e “imperializam” à vontade hoje em dia, embora por outros processos – e deixar de se envergonhar da sua história, da sua filosofia, das suas descobertas, da sua literatura, da sua liberdade, da sua laicidade, enfim, dos seus valores. Valores esses, diga-se, altamente apreciados por muitos dos que, vivendo sob os regimes opressores do Médio Oriente e não só, gostariam de se libertar deles, e dos quais tiram proveito os que decidem emigrar para o Ocidente.

Por isso, tem razão, sim, o ministro francês, se não em tudo o que diz sobre o Estado de direito nesta entrevista, sobretudo neste particular da integração dos imigrantes provenientes de partes do mundo onde imperam regras e valores bem diferentes dos nossos. Como querer que os filhos dessas pessoas se integrem nas nossas sociedades se uma parte estridente de nós, normalmente a extrema-esquerda, grita os mais irados vitupérios contra a nossa história, o nosso sistema económico, a nossa política e tudo o que é ocidental em geral? Assim é complicado.

Idiotas úteis ao serviço das autocracias (também simplesmente “agentes”) é mesmo o termo mais adequado para os designar.

E da “rientrê”, ninguém fala?

Rentrée” (regresso às aulas ou à política, termo francês) agora em Portugal é “reentré”, “reentre” ou outras aberrações.

[Qu’est-ce que ça veut dire la rentrée ?
Action de reprendre ses fonctions, ses travaux après l’interruption des vacances : La rentrée des classes.]

 

Está à vista que a língua francesa já não é “coisa que assista” à maioria dos portugueses. A palavra escreve-se como no início do primeiro parágrafo, mas começa a haver jornalistas, publicitários e outros que conseguiram ver ou inventaram os dois “ee(s)” no princípio da palavra e não no fim e então dizem “reentré” ou, pior, escrevem assim e por vezes sem acento. Caso do autor deste artigo do Público:

Passe ferroviário a 20 euros: muitas borlas para tão pouca oferta?

A reentre política do PSD ficou marcada por uma novidade ferroviária: na Festa do Pontal, Luís Montenegro anunciou um passe ferroviário nacional para todos os comboios – com excepção do Alfa Pendular – por um preço mensal de 20 euros.” […]

“A reentre”?? Se assim é, mais valia “a reentrada”.

Também há para aí um anúncio para o regresso às aulas em que a rapariguinha que fala diz “reentré” (pronunciado “rientrê).

Querem ser chiques a valer? Digam “rentrée” em francês (vão informar-se da pronúncia correcta). Para evitarem fazer figuras tristes, mais vale que digam “reentrada”, “regresso a”, “recomeço”, sei lá. Mas podiam começar por ir a um dicionário.

Diz que estão há 19 meses a investigar, mas com Lucília Gago os esclarecimentos são uma maçada

Como já aqui alvitrado, há gavetas no Ministério Público que têm a etiqueta “Não abrir”. Este caso da venda da TAP em 2015 não parece ter a complexidade a que o MP gosta de aludir para a falta de fundamento em algumas das suas acções. Como justificam não terem ainda ouvido nenhum dos actores envolvidos? Com a etiqueta na gaveta? Só pode.

 

Ministério Público investiga compra da TAP há 19 meses

O Ministério Público está a investigar o processo de venda da TAP em 2015 pelo segundo Governo de Pedro Passos Coelho há 19 meses, ou seja, desde Fevereiro de 2023, sem que seja ainda conhecido qualquer resultado dessas diligências. O recente relatório da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) sobre a mesma operação de venda entregue na semana passada ao Governo seguiu também para o Ministério Público, mas, contactada pelo PÚBLICO, a Procuradoria-Geral da República não esclareceu se abriu outro processo ou em que estado estão as investigações iniciadas no ano passado.” […]

 

Tiremos então a limpo o viés do Ministério Público

Irregularidades na atribuição de prémios e remunerações aos gestores da transportadora portuguesa, e contratos de consultoria sem a devida justificação conduziram a Inspeção-Geral das Finanças (IGF) a sugerir ao Governo o envio da auditoria realizada às contas da companhia aérea, entre 2005 e 2023, ao Ministério Público. O relatório da IGF, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, aponta para graves irregularidades e atos lesivos do Estado, que podem configurar crime.”

O nebuloso processo de privatização da TAP ficou agora mais claro com a auditoria da IGF, pedida no ano passado ao Governo pela Comissão Parlamentar de Inquérito à Gestão da TAP. Segundo o documento, a Atlantic Gateway, detida por David Neeleman e Humberto Pedrosa, comprou 61% da TAP com fundos provenientes da Airbus, um total de 226,75 milhões de dólares americanos [cerca de 205 milhões de euros ao câmbio atual], em troca da aquisição de 53 aviões. A transportadora portuguesa ficou obrigada a pagar esse valor, caso desistisse da aquisição das aeronaves.“[…]

Segundo Luís Montenegro, “não há nenhuma novidade” no relatório que a IGF enviou ao Governo e este para o Ministério Público relativo à privatização da TAP em 2015, feita por um governo sem legitimidade para a fazer, já em fim de mandato.

Mas eu pergunto se o facto de não haver nenhuma novidade (embora haja detalhes de clareza alarmante) significa que a matéria não é grave.  Não significa. Significa apenas que o MP pode ter gavetas especiais para processos nunca prioritários. Prioritárias são, pelos vistos, as escutas intermináveis a governantes do PS só por serem governantes e do PS.

Pergunto também se não é confiança a mais na cumplicidade do MP com a direita o facto de Luís Montenegro gostar de repetir que não há novidade. Tem que haver, e de uma vez por todas, da parte do Ministério Público. Este negócio, sim, foi uma vergonha. Mas feito sem qualquer vergonha.

Pergunta para queijinho

A Hungria, um país com uma população idêntica à de Portugal, já leva 4 medalhas* nestes Jogos Olímpicos, 1 das quais de ouro. Qual a razão ou razões para Portugal ter tão poucos atletas, e ainda menos atletas de alto nível, e ainda ainda menos atletas medalhados nos Jogos Olímpicos?

 

  1. Falta de investimento/patrocínios
  2. Uma política de educação que não valoriza a prática de desportos
  3. Políticas autárquicas não voltadas para essas actividades
  4. Famílias que preferem frequentar os centros comerciais aos domingos a ir praticar desporto com os filhos
  5. A falta de instalações desportivas
  6. Ideia de que os outros são malucos e nós não
  7. Nós (99,9%) os tugas não gostarmos de testar limites
  8. A excessiva qualidade das nossas televisões
  9. O clima
  10. O excesso de imigrantes
  11. O preço das casas
  12. O imperialismo americano

*Na primeira versão deste artigo indiquei erradamente, com base numa informação mal confirmada, um número de medalhas muito superior (27), obviamente impossível nesta fase. Fica a correcção.

Eliminado, mas não de uma competição olímpica

Não posso deixar de considerar um exagero que um comentador do Eurosport tenha sido despedido por dizer que as nadadoras estavam a demorar um bocadinho a sair porque “estão a acabar de se arranjar, sabem como são as mulheres, gostam de ficar na converseta enquanto dão uns toques na maquilhagem” (tradução livre). Alegadamente isto é sexismo. Falou demais, pobre homem, rua. A sério. Não será por causa destes rigores e intolerâncias, desta negação de evidências até, que as posições opostas, as de machismo puro e com carga negativa, ganham adeptos?

Eurosport commentator Bob Ballard has been removed from the broadcaster’s coverage of the Olympic Games after he made a sexist remark regarding Australia’s female swimmers.

After securing gold in the women’s 4x100m freestyle relay, Australia’s quartet – consisting of Emma McKeon, Shayna Jack, Mollie O’Calloghan and Meg Harris – made their way out of the Paris Aquatic Centre. 

At this point, experienced commentator Ballard said: ‘Well, the women just finishing up. You know what women are like… hanging around, doing their make-up.

Paris e o “Festim dos deuses”. Dois milénios, uma revolução iluminista e o conceito de blasfémia ainda existe no Ocidente

(Pintura de van Biljert, Séc. XVII)

Caros cristãos ofendidos: sabe-se que o cristianismo ocupou o espaço e a hierarquia do império romano e constrangeu, quiçá aliviou, as almas que nele habitavam durante séculos (sem acabar com a maldade, pelo contrário, intensificando-a por vezes por acção directa dos seus agentes). A onda foi de tal maneira que, quase dois milénios volvidos, ainda subsistem fortes resquícios do domínio da sua doutrina em boa parte do mundo (o império romano atravessou mais tarde os oceanos). A imponência das basílicas e catedrais ajudou porque deslumbram e impõem respeito.

Mas outras filosofias e imaginários já existiam. Não somos apenas, como europeus, herdeiros do cristianismo, by the way, fundamentado em filosofias como o zoroastrismo, oriundo da Pérsia, noutras correntes vindas da Suméria, trazidas para o próximo Oriente, somos também herdeiros da filosofia grega, não indiferente às outras, assim como de representações artísticas bem terrenas e carnais e das autênticas divinas comédias e tragédias que a mitologia grega e os seus criadores nos proporcionaram.  Digo “criadores” e todos o reconhecemos agora tranquilamente como termo correcto. Estranho é a morte dos “nossos” deuses ser difícil de aceitar.

Sei também que a religião, por desígnio, formata e condiciona as mentes dos indivíduos (por definição frágeis) pelo simples facto de lhes incutir narrativas e rituais desde muito cedo, na infância. No caso do cristianismo, narrativas violentas, trágicas e assustadoras, de infernos em chamas e um deus tirano e insensível, capaz de exigir a Abraão o sacrifício do filho Isaac como prova de obediência, coexistem com outras de extrema bondade e amor ao próximo personificadas na figura de um homem que é o filho do tal deus prepotente, mas uma bondade que não dispensa o sentimento de culpa permanente por uma morte redentora. Enfim, que neurónios não se retorcem com tamanhos conflitos e incongruências? Que tempo precioso não se perdeu a estudar, deslindar, justificar estas narrativas e simbolismos? E para quê?

Como facilmente se constata, nada de bom ou de mau neste mundo acontece pela intervenção ou a vontade de qualquer divindade. Pessoas boas morrem a caminho de locais de culto, aqui, em Meca, em todo o lado. Outras a combater em nome da mesma divindade que se marimba para o esforço. Mas talvez eu esteja equivocada e a vida não seja importante. Nesse caso, o que será? A morte?

A verdade é que, quando se morre não se volta, e também, quando se morre, a Terra cá continua, verdinha ou sequinha, habitada ou não habitada, indiferente a divindades, cá continua e continuará, bem como o sol (pelo menos por mais uns milhões de anos, dizem), todos os planetas e estrelas, as galáxias e todas as agitadas partículas e fenómenos do universo, universos mesmo, que vão sendo descobertos. O que isto significa não sabemos. Como acaba, não sabemos. Como começou, temos apenas algumas luzes. Para já, morreremos sem saber. Não há deus que nos valha. Adorar quem não me deixa ver está fora de questão.

Mas histórias que orientam e condicionam o comportamento humano houve muitas ao longo dos tempos. Levá-las à letra é sintoma de alienação mental irreversível, tendo chegado a inventar-se a palavra “fé” para a crença em seres que se sabe não existirem e nas suas acções impossíveis. Ilustradores de algumas dessas histórias também sempre houve. Quantas obras de arte não representaram Zeus e os seus humores e caprichos, Apolo, Poseidon, Atena, Cronos ou Hefesto, ou mortais como Sísifo e Salmoneu ou Perséfone. Histórias que punham os deuses a interagir com os humanos. Ou seja, a descer à Terra, a andar pelo seu submundo inclusive. Era fatal que assim fosse. A importância desses seres derivava justamente das incógnitas e dos medos, sendo os humanos constrangidos a criá-los. O cristianismo não fugiu à regra, embora a montagem inclua menos actores e preveja um deus único, à semelhança da já referida filosofia persa.

 

Mas chega de prédica e de sermão aos peixes. O Da Vinci pintou “A Última Ceia” e o que fez foi ilustrar uma das muitas histórias inventadas da Bíblia, existindo praticamente zero provas da existência real daqueles personagens chamados apóstolos e da sua convivência com um tal Jesus Cristo, segundo a mesma história, prestes a sacrificar-se pelos pecados dos homens. Uma história terrível, sem dúvida digna de registo em livro e em tela, assim como de dramatizações várias e de grande impacto. Também van Biljert, um holandês, pintou “O festim dos deuses” no século XVII, representando criaturas mitológicas da antiguidade clássica, de que somos herdeiros também, numa animada festa presidida por Apolo. Foi esta, segundo parece, a inspiração para a brincadeira apresentada na sessão de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. A ser assim, ninguém devia protestar, porque esses deuses já morreram. É isto: deuses nascem e deuses morrem e tal facto, comprovado pela História, devia ser consensual. Mas ai de quem toque nos que ainda não morreram. Se não a fogueira, o espirito de fogueira continua lá, à espera.

Podemos deslumbrar-nos com a longevidade e o poder de união dos pressupostos cristãos e orgulhar-nos das obras de arte que nos legaram e ao mesmo tempo rir-nos de nós próprios e do nosso por vezes lamentável percurso enquanto cristãos? Eu acho que sim. Lineu, que procurou classificar, com algum sucesso e muita fama, todas as espécies de plantas existentes, não ousou admitir, apesar de suspeitar, que nem tudo nascera exatamente como lhe era dado ver naquele momento, porque isso era ir contra a explicação cristã da criação do mundo e, logo, os seus princípios. Ao contrário do francês, George Louis de Buffon, seu contemporâneo e muitos anos director do Jardin du Roi. Hoje facilmente se reconhece que o sueco perdeu tempo e podia ter ido mais longe, não fosse a condicionante da religião. Darwin manteve a sua grande obra sobre a evolução das espécies escondida durante anos com receio de que a sua publicação abalasse os alicerces da santa madre igreja. Como tem vindo a acontecer desde então. Para já não falar do Galileu e do triste fim de Giordano Bruno, julgado e condenado por blasfémia.

Mas muitas pessoas gostam e precisam do sobrenatural, dir-me-ão. Pelo que vejo, e pelos comentários que não vão tardar, tenho a certeza que sim. As igrejas não vão acabar. Podemos brincar com as histórias e os quadros que as ilustram? Totalmente. Até porque eles são irrelevantes para o fenómeno da religião. Narrativas colectivas têm a sua utilidade na criação de comunidades mas são narrativas e em latim até eram melhores, porque ninguém percebia. Trump pode assassinar alguém na 5ª Avenida em frente a uma esquadra da polícia e milhões de pessoas continuarão a votar nele! É isto a irracionalidade. Existe, mas há alguma utilidade em combatê-la. Nem que não seja para ninguém ir parar à fogueira.

Se as grandes potências mundiais forem todas ditaduras amigas, deixa de haver interesses nacionais a defender? Não me façam rir

Pelo que observamos hoje, há vários candidatos a ditadores no mundo ocidental. A democracia, infelizmente, permite-o e as redes sociais facilitam a manipulação de massas anónimas da população por essas pessoas e suas claques. Invejam o poder de líderes como o da China, o da Rússia e o da Coreia do Norte e até de muitos países africanos. Pensam: se eles podem, porque não eu?

Viktor Orban, da Hungria, é um deles. Admira Trump (esse “wannabe” Kim Jong Un) e admira ainda mais e inveja Putin e Xi Jinping e quer, à sua escala, ter poderes semelhantes (para lá caminha), o que lhe permitirá perpetuar-se na liderança do país por longos e infinitos anos. Mas, se puder conseguir aliados para desestabilizar outros países europeus onde existam políticos com igual ambição e pensamento, a maravilha que não será dar cabo da União Europeia e da democracia! Uma volúpia.

Será então o Orban o potencial Hitler dos tempos modernos? Não diria. Para já, porque está a ser pago pela Rússia, nomeadamente em espécies, e Hitler era muita coisa repugnante, mas não uma marioneta. Por outro lado, havendo na Europa mais candidatos à função, só travando uma nova guerra na Europa para tirar a limpo quem teria mais força se conseguiria repetir a História. Para já, os candidatos a ditadores, como a Marine Le Pen ou o Mélanchon e demais populistas saídos das cavernas europeias, mas com bons resultados eleitorais, que têm como caderno de encargos desestabilizar primeiro e acabar depois com a União Europeia, não têm o acesso ao poder garantido. Mas, se tivessem, para que o quereriam? Para além do proveito próprio, penso que o resto não lhes interessaria por aí além. Seriam ditadores e pronto. A Rússia paga-lhes para não fazerem perguntas dessas. Teriam apenas que agradecer com boa vassalagem. E o mundo seria belo. Imigrantes lançados ao mar. Ah, espera, e as represálias das ditaduras muçulmanas? Ah, mas são ditaduras, logo, amigas. Será? Não. Claro que não.

Trump, a uma escala mais perigosa, é outro que ambiciona o mesmo para os Estados Unidos. Pensa que, se o Putin pode, porque não ele também? Conta, para isso, com um número elevado de estúpidos dispostos a apoiá-lo faça ele o que fizer, crimes incluídos. Da maioria no Supremo já ele tratou, para a questão dos crimes. A Constituição não o impede de nada. Com Biden como adversário, seria só dizer meia dúzia de patacoadas anti-modernices, de aplauso fácil, e duas dúzias de insultos ao velhinho e o voto, pelo menos dos estúpidos, que são muitos e demasiados, estaria garantido.

 

Com a Kamala tudo se complica, hélas. Mas, imaginemos que não se complica e que o farsante é eleito presidente. Teríamos uma ditadura nos States baseada na força das armas? Uma guerra civil? E se todos os americanos se silenciassem e os Estados Unidos passassem a ser um regime autocrático como na China e na Rússia? Passaria a economia a ser definida pelos bons negócios entre amigalhaços, que só querem poder e dinheiro? A Europa nas mãos da Rússia e o mundo enfim pacificado? Santa ingenuidade de quem pensa que sim. Mil vezes o digo: nada disso aconteceria.

Lutemos, pois, pela liberdade e pela democracia, por muito caóticas que às vezes pareçam. E assumamos os nossos interesses, como outros o fazem. A alternativa é um milhão de vezes pior.

Mulheres em idade fértil, raparigas e outras pessoas que menstruam

Num questionário online intitulado “Vamos falar de menstruação?”, que tem por objectivo “realizar um diagnóstico de situação sobre saúde menstrual em Portugal”, a DGS convidou a participarem “todas as pessoas que menstruam”.

Parece-me que a formulação correcta, para incluir as pessoas “trans”, devia ser a do título acima. No entanto, achei piada, muita piada mesmo, a um comentário no Twitter (X) da “Revista Minerva Universitária“, que diz o seguinte:

Mas não é uma generalização abusiva pensar que toda a gente se identifica como uma “pessoa“? Pode sugerir-se a formulação “aglomerados de átomos com probabilidade de constituírem vida consciente sujeitos a fenómeno ovulatório de periodicidade mensal“? Não custa nada.”

“Campanha orquestrada”. A entrevista da PGR foi fácil. A sua demissão também devia ser fácil

Afinal não custou muito à senhora Procuradora-Geral ir à televisão responder a perguntas. Eis o contexto que justificou esta maçada.

Desde 2019 (tomou posse em Outubro de 2018) que não há notícias sobre as actividades da instituição a que preside, apesar do aumento do número de assessores de imprensa de que entendeu rodear-se, conforme fez questão de assinalar no início desta entrevista, sabe-se lá porquê, pois ninguém notou qualquer afã ou empenho comunicacional da parte do Ministério Público nestes seis anos*, pelo contrário. Não há contas prestadas sobre coisa nenhuma. (Esta dos assessores foi uma primeira argolada, que podia ter sido mais explorada.)

O relatório referente a 2023, que, a pedido do Parlamento, vai ser enfim apresentado, não está sequer feito, obrigando a um pedido de adiamento da comparência perante os deputados. Vergonhoso. (Onde estão os outros, pergunto eu.)

O acompanhamento de processos, sobretudo os mais mediáticos e políticos e com consequências graves no funcionamento da democracia, não foi actividade a que a senhora PGR se tenha dedicado por aí além nestes anos, confissão da própria, “dada a extensão e a minúcia” dos mesmos e a “impossibilidade humana” de tudo conhecer. Palavras da própria. (Qual extensão e qual minúcia no caso Influencer?). Já suspeitávamos do alheamento, mas está errado.

Não se vislumbrando, pois, na actividade de Lucília Gago qualquer indício de transparência, competência ou responsabilidade, foi preciso uma inédita queda de governo por via judicial (por outras palavras, um golpe) e que um coro de vozes indignadas se viesse manifestar contra o silêncio da senhora procuradora-geral para finalmente esta se dignar a falar em público. Estão em causa abusos, absurdos e ilegalidades/crimes do Ministério Público. Não é coisa pouca.

E aqui chegámos. À cadeira televisiva. Lucília Gago falou, mas poderia perfeitamente ter continuado calada. Se não compreende o alarido, realmente terá pouco a dizer. E pouco disse. Viu-se que estava melhor sossegada. Como defesa, acusa quem a tirou do sossego de orquestrar uma campanha. Exceptuando umas greves de funcionários judiciais numa altura menos própria, considera que está tudo impecável no Ministério Público, mais uma vez não compreende “o alarido”.

Confirmou, porém, aos nossos olhos, a incompetência, a ignorância, o desconhecimento da vida política e a perversidade do MP de que todos já suspeitávamos. Os processos não se fecham porque pode sempre surgir qualquer coisa. Uma vez suspeito, eternamente suspeito. É o lema deste Ministério Público. E nunca erra. Está apenas e para todo o sempre à espera de um dado novo. O direito das pessoas à liberdade e ao bom nome não colhe para este MP e para os juízes que caucionam os seus abusos.

Um governo cai por suspeitas canhestras do MP e parágrafos ilegais e precipitados, cidadãos são presos dias e dias infindáveis para depois serem soltos sem qualquer acusação grave, ministros são escutados durante anos, numa devassa total da vida privada, para no fim se pescarem dois almoços oferecidos, ordenam-se fugas de informação venenosas programadas para prejudicar alvos políticos em determinadas alturas políticas, mas tudo no MP está perfeito! A leveza com que esta mulher atropela pessoas é inacreditável.

Com esta postura, a entrevista não a fez suar. A roupinha preservou-se. Lucília Gago não esteve sequer sentada numa cadeira, ela pairou. Problemas não existem. Vítimas da incompetência ou da politização dos procuradores, o que é isso? Existe, sim, uma campanha.

Dona Lucília, a senhora está no ar. E, uma vez aí, pode ir mais depressa para casa. Não é que os problemas do MP fiquem resolvidos com isso, porque a incompetência e os vícios são muitos, mas ter à frente do MP alguém com autoridade, isenção e conhecimentos (da lei e da vida) e que dê a cara já não era mau. Porquê esperar três meses?

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*Diz que consultou os assessores para escrever o famoso parágrafo

Rosário Teixeira está tão metido nas más práticas do MP que não tem noção e é esse o problema da instituição

Fui ouvir a entrevista que o procurador deu à SIC Notícias em defesa do Ministério Público. Confrangedora, digo-vos. Imaginam uma pessoa a justificar o injustificável? É ele. Várias passagens bradam aos céus (como a que refere o facto de António Costa não ser suspeito, ponto, ignorando tudo o resto que aconteceu justamente por causa da suspeita) e várias outras apontar-lhe-iam o inferno directamente e já, tal a indiferença com que trata a vida das pessoas. Por volta do minuto 11 reconhece que as provas com que o MP avança para a acusação podem nalguns casos ser frágeis e facilmente desfeitas pelas defesas ou pelas instâncias superiores, mas pronto, é o que é. É a Justiça a funcionar e há que voltar atrás e “repensar”, ou seja, continuar a vasculhar, devassar e escutar até a prova ser sólida (!). O facto de o mal estar feito, e por vezes irremediavelmente, e nunca chegar a haver fundamento para a acusação é coisa que não o preocupa um segundo. Mesmo que o suspense dure anos.

Este senhor entende que o Ministério Público pode e deve, por exemplo, andar a acompanhar e a vigiar as démarches de um governo para a concretização de investimentos só porque sim. Há negócio, há um governo, há marosca. Escute-se, pois. E se as pessoas são honestas, se apenas se deparam com obstáculos que exigem o estudo de soluções legais ou alterações legítimas de legislação face a interesse público maior? Não interessa. Discutem as leis, são suspeitos. Se forem dentro, vão, que é para aprenderem a não ganharem eleições (o PS, claro) ou a não quererem investir em Portugal. Nada disto foi dito na entrevista, mas pode facilmente deduzir-se. E se o governo durar quatro anos e os processos de investimento também, então escuta-se quatro anos, só interrompendo quando os protagonistas fizerem pausa ou forem de férias. Isto sim, foi dito. Neste particular, ainda tem a distinta lata de desculpar-se com o facto de as escutas não serem contínuas, porque às vezes os processos estão parados… Ufa, que alívio!

E quanto às escutas da vida privada e de tudo o que não tem a ver com os processos, mas que vem por arrasto? Ah e tal, diz ele, a lei prevê que se expurguem do processo. Só que, entretanto, já alguém andou a escutar a vida íntima e privada de outros e ficou a saber de assuntos que de todo não lhe dizem respeito e a dispor da possibilidade de usar esses dados como e quando bem entende. Isto importa ao procurador? Nada. Absolutamente nada. Rosário Teixeira diz isto com tamanho à-vontade que a nós só nos resta desejar que alguém faça alguma coisa e depressa para pôr fim a este estado de coisas.

Quanto aos megaprocessos, a justificação é que são complexos porque a realidade é complexa e os procuradores não podem focar-se numa árvore para deixarem de ver a floresta. Problema (não equacionado na entrevista, que até foi bem conduzida): e se a floresta for uma invenção deles? E se 15 anos de conjecturas arruinarem a vida de um cidadão? Não interessa. Há que aceitar (isto foi dito).

 

Em suma, Rosário Teixeira acha que está tudo bem na instituição onde trabalha. Se achasse que alguma coisa estava mal, tinha a oportunidade de o dizer. Para ele, está tudo tão bem que até o próximo procurador deve vir de dentro do Ministério Público. Não sei quem tem em mente (já que ele próprio se exclui), mas a ideia deve ser que estas boas práticas não se percam.  Possivelmente treme só de pensar que as ilegalidades e os abusos podem acabar.

“Pôr ordem na casa” parece-me uma expressão demasiado branda para definir o que é preciso fazer com o Ministério Público.

E eu pergunto: qual o objectivo, Mariana?

Se a Mariana Mortágua pensa que massacrar actualmente os nossos antepassados e nós próprios (suponho que ela também)  com as alusões ao tráfico transatlântico de escravos negros de há uns séculos leva a que, neste momento, se elimine o racismo em Portugal, está redondamente enganada. O resultado pode ser o contrário, tal o absurdo da culpabilização. Os portugueses não atravessaram os mares com o objectivo primeiro de ir torturar pessoas livres e de outras cores. Aliás, passaram-se séculos até se aventurarem pelo interior de África. Eram os próprios africanos que utilizavam pessoas já escravizadas como moeda de troca comercial. O erro não pode estar só nuns (a menos que se considere superior o estado de desenvolvimento dos europeus à época – e os europeus mais responsáveis, e inferior o dos africanos, o que é sempre discutível, dependendo da perspectiva, e nunca jamais admitido pelos movimentos de extrema-esquerda).

Nós também não somos os nossos antepassados. E as pessoas de cor de que se rodeia a Mariana para proferir estas acusações também não vão ganhar mais respeito com estas declarações, pois será legítimo perguntar-lhes por que razão elas ou os seus pais vieram então viver para o reino dos opressores e por que razão quem ficou em África e escapou ao tráfico não só não deixou de ser escravo à mão de negros como, não sendo escravo, não ficou melhor do que quem foi levado para o Brasil nem deixou de morrer por maus tratos, tendo ficado. Tudo isto e muito mais inconveniências que costuma retorquir quem gosta de prolongar estas discussões improdutivas. Foi um episódio negro da história europeia que felizmente terminou. Mas não em todo o mundo, facto de que a Mariana não fala. Na Arábia Saudita a escravatura ainda era legal em 1962 e consta que há países onde ainda se pratica, nomeadamente a Mauritânia, a Índia, a China, a Rússia, etc.

Se a Mariana pensa que os portugueses de há uns séculos não fizeram absolutamente nada de valoroso de que nós, os seus descendentes, nos devamos orgulhar e que tudo se resume à brutalidade do tráfico transatlântico ou à exploração da mão de obra negra nas colónias por racismo, só revela desrespeito pela memória, a ambição, os sonhos e o sacrifício de tantos, desdém pela imagem que o resto do mundo tem de nós, um profundo desconhecimento da história dos europeus, ou mais exactamente de todos os povos, todos eles com pessoas escravizadas numa altura ou noutra da sua história, e, mais grave, desejo de provocar reacções perigosas dos candidatos a autocratas que pululam um pouco por todo o mundo nos tempos que correm, esses sim racistas, reacções eventualmente percepcionadas como justificadas e compreendidas dado o exagero e o despropósito da culpabilização.

Se pensa que os portugueses foram os “fundadores” do racismo é ainda mais ignorante e, dada a vergonha que tem de ser descendente de tão maléfico povo, talvez fosse mais coerente mudar de nacionalidade de uma vez por todas e tornar-se palestiniana ou iraniana, correndo embora o risco de ser apedrejada por imoralidade.

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Nota: Se este meu post puder ser atribuído a alguém do Chega, fiquem a saber que eu penso o seguinte: muito do acolhimento que movimentos nacionalistas e xenófobos como o Chega lamentavelmente obtêm na sociedade deve-se ao completo exagero e ao radicalismo dos movimentos esquerdistas em matéria de revisão da História, de desprezo pelo passado e de culpabilização extemporânea e absurda do “homem branco”. Continuem assim que eles agradecem.

E delação premiada dentro do Ministério Público, não calhava bem?

A coisa não vai lá com discursos, críticas nos jornais ou grupos dos 50. Quatro anos de escutas a um governante sem indícios graves que as justificassem e sem que nada de criminoso se apurasse, nem em três, nem em seis, nem em doze meses, nem em 48!, é ilegalidade suficiente para qualquer pessoa exigir que alguém na hierarquia do Ministério Público ou da magistratura judicial seja exemplarmente punido. As escutas estariam para durar indefinidamente, enquanto João Galamba tivesse cargos políticos. Inacreditável. Uma vida profissional destruída por pura perseguição política, usando a Justiça.

Acusações graves e ordens de prisão preventiva a um autarca e a empresários pelo facto de negociarem a instalação de infraestruturas para uma actividade importante de milhões.

A inserção de um parágrafo assassino num comunicado (mais uma vez lançando suspeitas sem fundamento sobre um primeiro-ministro sem qualquer historial de desonestidade nos inúmeros cargos públicos que já desempenhou), que levou à queda de um governo legítimo e com maioria absoluta.

Também a recente divulgação de escutas sem qualquer outro interesse senão prejudicar o mesmo António Costa na sua ambição europeia, pela mera percepção e o mero alarde público e jornalístico, é um acto político que nada tem que ver com a administração da Justiça.

Os procuradores e os juízes não são pagos para fazerem guerrilha política e, se o fazem, devem ser obrigados a abandonar a profissão após cumprimento de pena.

Verifico que todos os partidos políticos, com excepção da seita do Chega, estão de acordo em considerar o comportamento do Ministério Público e do ou dos juízes inaceitável num Estado de direito democrático. Alguma coisa tem que ser feita, portanto, dado o escândalo em que se transformou a relação da Justiça com os políticos (sobretudo do PS) e a impunidade total com que os magistrados violam as leis.

Assim, eu pergunto: por que carga de água não se identificam os procuradores que pediram autorização vezes sem conta para escutar João Galamba e o ou os juízes que, igual número de vezes, autorizaram tais escutas e não são questionados em sede judicial? Por que razão ninguém pergunta à senhora Procuradora-Geral se teve conhecimento ou encorajou/consentiu estes abusos? Estará o Ministério Público de tal maneira minado que, de alto a baixo, não se aproveita ninguém, estando todos em conluio?

E pergunto ainda mais: se querem tanto a delação premiada para a corrupção político-económica, porque não começar a aplicá-la já dentro de casa? Reparem como estou a ser optimista ao achar que há lá dentro quem discorde dos abusos ou se queira arrepender.

O assunto é sério. Os salazaristas do Observador acham que é inadmissível comparar tudo isto com as práticas da PIDE (Helena Matos, ainda hoje ouvida no rádio do carro). E, claro, estão confortáveis com a divulgação de todas as escutas e elementos processuais que prejudiquem os seus adversários políticos (José Manuel Fernandes). Mas o facto é que estamos perante perseguições políticas. É certo que não se prendem pessoas por contestação a um regime estabelecido, mas arruína-se-lhes a reputação e a vida por terem orientações e perspectivas dos actos políticos diferentes das deles e dos seus amigos. Excepção feita à tortura física (e vontade não falta a alguns), vai dar ao mesmo. Se calhar ainda é pior, porque a PIDE teria e teve um fim, enquanto este estado de coisas, com que a democracia compactua por medo, não parece ter solução. Ainda menos quando o Presidente da República não só foi o instigador da perseguição, como também tem telhados de vidro devido ao caso das gémeas.

A ONU de Guterres e os talibãs

Segundo notícia do Guardian, para uma conferência das Nações Unidas sobre o Afeganistão, em Doha, os talibãs puseram como condição a não participação de mulheres afegãs e a não inclusão na agenda dos respectivos direitos. Se esta conferência se realizar nestes termos, é uma vergonha.

Notícia do Guardian

Aceitar que haja um país no qual os homens tratam as mulheres como prisioneiras para consumo privado e para assegurar descendência é uma traição às mães, consortes e filhas dos representantes do resto do mundo, que, a meu ver, deveriam recusar-se a participar. Guterres muito mal.

Ainda menos se compreende quando nos é lembrado que o próprio Guterres recusou condições semelhantes no início deste ano. (The Taliban did not participate in UN talks earlier this year, with the UN chief António Guterres saying at the time that the group presented a set of conditions for its participation that “denied us the right to talk to other representatives of the Afghan society” and were “not acceptable”.) Se nada mudou, porquê esta aceitação?

 

Friso de machões de tal maneira inseguros que impõem, pela força, uma vida de clausura e ignorância às mulheres.