O que estava anunciado para ir a debate, no último Expresso da Meia Noite, era o estado dos serviços públicos, um anúncio enganador. Sem surpresa, o que se pretendia era falar das filas para tratar de assuntos relacionados com o Cartão do Cidadão e, sobretudo, dos “casos” que vão surgindo semanalmente no SNS, especialmente do “caso” das urgências obstétricas, em Lisboa. Tendo em conta que o programa é moderado por profissionais competentíssimos, cujo único objectivo é esclarecer-nos com a máxima isenção, e que o Grupo Impresa não é um organismo público tutelado por um qualquer socialista incompetente, seria de esperar que viessem munidos, eles e os convidados, com novos dados que sustentem o alarmismo que têm alimentado nas últimas semanas. Por exemplo, dados que sugiram que os portugueses já não têm ou vão deixar de ter acesso a cuidados médicos ao nível do melhor que se pratica no Mundo. Que, graças à incompetência do Governo, a nossa longevidade está a diminuir. Ou ainda que se prevê que comecem a morrer pessoas por falta de assistência.
Mas não aconteceu, pelo que temos de ficar pelos tais casos que anunciam horrorizados. Como é óbvio, o ideal seria que não acontecessem, mas fazendo as contas e tendo em consideração a dimensão do SNS e os milhares de utentes atendidos diariamente, conclui-se que a percentagem dos tais casos, face ao total, é muito baixa. Também se conclui que para estes profissionais competentíssimos, que sabem imensos números de cor, mas só quando lhes convém, a matemática não é uma ciência lá muito exacta. E não é só a matemática, afinal, são os mesmos que não conseguem evitar, pelo menos, na versão digital do jornal onde trabalham, a publicação de textos com erros e gralhas, por vezes até nos títulos. Se calhar, é mais difícil rever um texto do que gerir o SNS, um hospital ou fazer determinados diagnósticos médicos.
Quanto à rotatividade das urgências obstétricas, em Lisboa, fiquei sem saber qual é exactamente o problema de uma grávida ter de se dirigir a um hospital e não a outro. No resto do país, é comum as grávidas deslocarem-se vários quilómetros para chegarem à urgência obstétrica mais próxima e, lá está, não é por isso que deixam de receber os melhores cuidados que a Medicina actual permite. O mesmo para os filhos após o nascimento. Assim os pais pudessem confiar num outro serviço público, o da Educação. Terem a garantia de que, no mínimo, os filhos saem da escola a saber pensar. Curiosamente, este serviço público não foi debatido no programa. Não devem ter sido detectados quaisquer problemas. E percebe-se, afinal, quem é que está interessado em que os miúdos aprendam a pensar? Estes profissionais é que não, com toda a certeza. Lá teriam de ir exibir o seu competentíssimo profissionalismo, mas ao volante dos respectivos táxis. Pelo menos, no discurso não teriam de mudar nada.