Há uns tempos que eu e o Jorge Mateus emigrámos ali para a coluna dos has-beens, dos obsoletos, dos “ex” do Aspirina B. Agora, apaziguando a comichão dos dedos do teclado, inaugurámos um outro estaminé, aqui mesmo ao lado: a Zona Fantasma. Ali iremos deixar as tralhas que andamos a produzir para o “Tal&Qual” e toneladas da costumeira fancaria.
Fazendo jus ao nome, a coisa ainda está ténue, desgrenhada e notoriamente carenciada dos iminentes arranjos gráficos. E, a bem da verdade, o ectoplasma Mateus ainda não deu um ar de sua graça. Mas é, para todos os efeitos, a nossa humilde casinha na blogosfera. Visitem-nos sempre que vos apetecer.
Arquivo da Categoria: Luis Rainha
Falta de Chá no Deserto
No que já é um dos episódios mais grotescos de sempre no desporto automóvel, o piloto Carlos Sousa teve um ataquinho de raiva e resolveu deixar o seu navegador em pleno deserto. Por mais explicações que surjam, continuo a gargalhar cada vez que penso no incidente.
A TMN, patrocinadora do cromo, é que já o conhecia de ginjeira. Vai daí, teve a prudência de pôr no ar uma promoção em que oferece a cada concorrente a hipótese de se tornar “co-piloto do Carlos Sousa”. O spot acabava de forma presciente: com um montão de malta, presumo que voluntários para a tarefa, empoleirada no tejadilho da morconeta do temperamental Sousa. E serão poucos para o resto da prova, a continuarem as ejecções para as dunas. Mas não sei se a perspectiva de serem deixados no meio de nenhures, entre a Mauritânia e o Fim do Mundo, não irá arrefecer o entusiasmo dos participantes nesta promoção…
King of the Road
No meu trajecto matinal pela Serra de Sintra afora, já me tinha habituado a um frequente mas penoso encontro: um velhinho sentado num daqueles veículos ronceiros que não exigem carta para serem conduzidos. As maquinetas periclitantes a que uma amiga minha chama “papa-reformas”. Dia sim, dia não, lá apanhava o homem a subir e descer encostas sempre à mesma velocidade. Uns estonteantes 25 Km/h; isto numa estrada em que a maioria das ultrapassagens equivale a tentativas de suicídio mal disfarçadas. Mas pronto; fui-me habituando àquele obstáculo móvel e à visão da nuca enrugada do seu condutor.
Hoje, dei de novo com a aparição. Só que o geronte imparável seguia ao volante de um refulgente Fiat Seicento. Automóvel infinitesimal mas “a sério”; prova de que o homem tinha por fim a preciosa carta de condução. Estava capaz de jurar que a sua nuca sacolejava com uma outra altivez, talvez proclamando uma nova cidadania do asfalto.
Infelizmente, uma coisa não mudou: o homem continua a circular à velocidade de sempre: 25 Km/h. Nem mais.
Vira o disco e toca o mesmo
Acabo de ouvir o Rui Castro na TSF, perorando contra a despenalização do aborto. Acreditem ou não, ele saiu-se a páginas tantas com este raciocínio: não vale a pena agora avançar para esta solução radical, quando obra bem mais meritória e eficaz seria investir na educação reprodutiva e sexual.
Ora lembro-me eu muito bem dos senhores que há uns anos se bateram com êxito pela mesma causa a garantirem, com rasgados sorrisos para a TV, que aquela vitória seria o início de um grandioso movimento em prol da… educação reprodutiva e sexual. Deram por isso, nestes 8 anos? Claro que não; de notável, só me vem à ideia uma tal Mariana Cascais, senhora muito bem então com responsabilidades governativas, a garantir que, se dela dependesse, a educação sexual desapareceria dos currículos escolares. E de continuar a ver uns senhores de sotaina a maldizer o preservativo e a pílula.
Bem dizia o Marx que a História tende a repetir-se como farsa.
Por fim descobertos os culpados do fiasco iraquiano
No “Público” de hoje, Rui Ramos explica-nos que a ocupação do Iraque não foi bem como imaginávamos. Afinal, as armas terríveis que povoavam os sonhos da menina Rice com cogumelos atómicos não assustaram ninguém. Afinal, os horrores do regime de Saddam não impressionaram George Bush por aí além. E mesmo aquela ideia de montar no Médio-Oriente um glorioso farol da Democracia e da American Way não era para levar a sério.
Na realidade, como nos revela Ramos, o falcão Rumsfeld era sim adepto de uma mera «expedição punitiva». Só que «houve que contar com a célebre “comunidade internacional”» e esta acabou por empurrar os renitentes EUA para o calvário da ocupação.
Bem me parecia que ainda estava para aparecer uma luminária com a derradeira desculpa: a culpa de tudo isto é dos malvados europeus.
PS. Aqui, pode ler-se uma excelente resposta ao artigo de Rui Ramos que lançou as bases para o disparate de hoje.
Os quê de onde?
«Queres de ti lapidar
as rosas sanguíneas
Os rubis do teu útero
quando o tempo se esquece»
Excerto de um poema de Maria Teresa Horta,“Pastora do Corpo” (a sério), integrado na “colectânea de escritos pela despenalização” a lançar hoje pelo Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim. Confirma-se que nem os bons escritores se dão bem com os panfletos. E tremo só de imaginar o resto da obra. Entre isto e as declarações do ministro da Saúde, não sei bem qual será o melhor candidato a um pequeno exercício de censura profilática a bem da causa.
Já tenho lista de prendas para o próximo Natal
E pronto. Lá tratou a Apple de revolucionar aquilo a que antes chamávamos telemóveis. E, depois de tanta especulação, a coisa acabou por ficar com o nome esperado: “iPhone”.
Meia-surpresa
Descobri há uns minutos o blogue do Pedro Lomba. Gosto imenso.
Antes de aplicar a graxa, impõe-se uma cuspidelazita
O estilo do bom graxista, como é normal nas criaturas com mais ambição do que coluna vertebral, passa por reverenciar a autoridade e tentar cuspir em quem não se adivinha préstimo. O dono do Portuguese Ass Suckin’ julga que chamar a alguém que nem conhece “monte de esterco” revela algo para lá de boçalidade e falta de cabecita. Estará no direito dele. Mas receio que esta cuspidela tenha sido enviada contra o vento; com as consequências que se adivinham.
PS: quanto ao post do Maradona que o Ass Sucker cita, estamos noutro campeonato. A argumentação parece escorreita, faltando-lhe apenas levar em conta um facto incómodo mas decisivo: a maioria das vítimas do “Luz do Sameiro” dormia quando o barco naufragou. E julgo que ninguém será obrigado a usar colete durante o sono. Isto para não especular sobre o mais que provável efeito letal da hipotermia naquelas condições, com ou sem colete. A verdadeira inconsciência terá sido, isso sim, a proximidade excessiva da zona de rebentação.
Assim Não
João Vacas continua a fazer de conta que não percebe onde é que meteu água. Mas eu volto a explicar: foi ao estender a todos os partidários do “Sim” uma declaração que, a corresponder ao que li, é profundamente infeliz: “para os defensores do SIM, o facto de criar uma criança sair mais caro que abortar é razão suficiente para liberalizar o aborto.”
Já está a ver a marosca? Apenas uma pessoa, o tal “cavalheiro careca, de barba e óculos” terá dito esse disparate. Não “os defensores do SIM” em geral, como lhe daria por certo jeito. Aposto que não gostaria de ler algo como “os defensores do NÃO defendem a castidade como único método anticoncepcional aceitável, publicam folhetos com fotos a escorrer sangue, mesmo que sejam de fetos com 24 semanas, mas não se coíbem de mandar as filhinhas para Londres quando o azar reprodutivo bate à porta.” No entanto, trata-se precisamente do seu método: tomar a parte idiota pelo todo, insultando de caminho todos os adversários que não foram tidos nem achados na tirada em apreço. Chama-se a essa técnica da erística “desonestidade intelectual”.
Portuguese Ass Suckin’
O Nuno é que os topa bem. Desde o lançamento do Presto que não se via um glutãozinho tão aplicadinho na conversão de nódoas em brancura ilimitada. Qualquer sombra de suspeita lançada sobre o nosso brilhante, impoluto, genial, proactivo e presciente Governo é logo erradicada e apresentada ao papalvo como virtude óbvia e incontornável.
Os voos provavelmente carregados de clientes para umas sessõezitas de tortura só não são vigorosamente denunciados pelo MNE pois este, coitado, apesar de todos os seus cojones, não pode “menosprezar o impacto que isso teria nos tais acordos bilaterais” e a tonta da Ana Gomes é que anda a perturbar a corajosa, astuta e mui confidencial “manobra do governo português”.
A mensagem de Ano Novo de Cavaco é, afinal, um desbragado encómio à actividade de Sócrates, o glorioso timoneiro que já nos colocou no “caminho certo”.
A crise que assola a classe média afinal não existe. A prova? Há muita gente nos centros comerciais.
E por aí afora, num autêntico festival do mais refulgente e militante graxismo.
Este rapaz vai longe, sim senhor. Ainda não lhe arranjaram um emprego na Lusa ou coisa que o valha?
Rall rules!
A Wikipedia no seu melhor
“There is raely no need to talk about Phish becaus they are a sucky band who has no life. All they are is fat hippies who tihnk they live in the seventies. They probably jsut want to bring ack the peaceful hippy age which sucked cuse hippies suck. While you think they are making music they are actualy eating your babies and protesting about how the government is evil. PSHISH SUCKS there is realy no need to talk about phish because they happen to be the worst band that ever xisted.”
Belíssimo excerto da entrada sobre os Phish.
Something entirely different
But nonetheless enthralling.
Sabichões de teclado
Desconheço se o helicóptero de socorro poderia mesmo ter chegado mais depressa aos náufragos do “Luz do Sameiro”. Mas gostava de saber se os iluminados que interrogam agora os cadáveres sobre o paradeiro dos seus coletes salva-vidas alguma vez tiveram um vestido. Sobretudo enquanto tentavam trabalhar dentro de um barco minúsculo. Pois é.
Onde mora o mal
Na luta em redor do próximo referendo, a Igreja e seus apaniguados querem à viva força ocupar o trono da virtude imaculada, remetendo todas as demais opiniões para o Inferno. E isto não promete melhorar até dia 11 de Fevereiro, antes pelo contrário. Querem ver com que linhas é que se cose esta malta? Dêem um salto ao “Blogue do Não” e arrepiem-se com um despudorado desfile de aldrabices, calúnias, falácias e omissões. Tudo coisas que nunca imaginaríamos em criaturas tão puras e virtuosas.
Comecem por ler o que um tal Vacas escreve: “para os defensores do SIM, o facto de criar uma criança sair mais caro que abortar é razão suficiente para liberalizar o aborto. É imbatível esta lógica. E arrepiante.” Arrepiante é sim alguém querer fazer passar este asco por uma ideia. Porque se não dedica a criatura a pensar antes de escrever? Ou, pelo menos, que trate de citar quem defenderia tal absurdo. Mas claro que é mais fácil atribuir ao inimigo (generalizando, claro) ideias monstruosas do que explanar argumentos próprios.
Depois, outra luminária, a assinar “Ferreira Martins”, garante-nos, com a solenidade de um la Palice involuntariamente cómico, que “A vida começa no princípio”, esquecendo-se de nos explicar se o espermatozóide e o óvulo estão falecidos ou coisa que o valha, no momento da concepção. Que eu saiba, “vida” já existe bem antes de o João e a Maria decidirem coisar.
Há também espaço para as descobertas fulminantes, como esta de Francisco Mendes da Silva: “o Ministro Correia de Campos assegurou que em nenhum caso o SNS efectuará um aborto a uma mulher que não se queira identificar”. Fantástico: quem diria que é preciso um documento de utente para usar o SNS?
A única coisa que me consola nesta parada de monstros, de mentiras flagrantes e de má-educação é que ninguém parece inclinado a dar-lhes muita atenção. Talvez seja mesmo uma boa forma de lidar com o mal (sim, com minúscula, que isto não passa de gente chunga e pequenina).
Sem me querer armar em JPC…
Como se vê, julguei que seria boa ideia começar o ano dedicando algum tempo às coisas do espírito. Olhem que o teledisco que inspirou esta paródia sempre tem a vantagem de incluir a Michelle Pfeiffer. E a coisa valeu a Coolio um Grammy em 95. Ecos do original de Stevie Wonder, Pastime Paradise, andam, bem audíveis, também por estas bandas.
Vamos ter um Ano Novo em grande
Pelo menos, se metade disto acontecer.
Surdez
Serei eu o único a pensar neste senhor sempre que toca uma peça de Lopes Graça na rádio?
Tropismos
É da minha vista ou Maria José Nogueira Pinto, sempre à cata de câmaras que a apanhem de dedo em riste e pose grave a tentar fazer passar slogans por ideias, está a transformar-se na Odete Santos da direita?