Arquivo da Categoria: aspirinas

Fait-divers à portuguesa

Que a Mariana sempre fora destrambelhada, disso eu já sabia, mas que um episódio estouvado e arriscado chegasse a este concretismo hilariante, isso eu estaria longe de imaginar.

Agora que recuperei do meu acesso de riso, disponho-me a contar-vos o que é uma autêntica barracada das telecomunicações modernas.

Sempre conheci a Mariana um tanto ou quanto desequilibrada em relações amorosas. Tanto me aparece de uma forma extravagante, com brilhantes nas pálpebras e nos lábios e um cheiro carregado ao mais insustentável Chanel, como me aparece desmazelada, o cabelo arranjado às três pancadas e a sensação de que anda com o período a gritar por tudo quanto é canto que é uma desgraça ser mulher.

Eu julgava saber tudo sobre a Mariana. Desenganem-se. A caixa de Pandora contém menos surpresas que esta inconcebível mulher gerada entre um charro e uma parede.

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Koisas

Acho que sim, mas tem que adoptar um sistema com mais cautelas defensivas. O que não sera um grande problema já que conta com o A. Santos Silva na Defesa. A meio campo a distribuir jogo o Vieira da Silva que é um valor seguro, experiente e que poderá ser fortemente coadjuvado pelo Amado que faz muito bem o vai-vem pela ala direita. Do outro lado como ala esquerdo poria a Maria Helena André e como ponta de lança o Antonio Mendonça mais a Dulce Pássaro (para o jogo de cabeça). Como 10 o Teixeira dos Santos que é por onde passa o jogo todo da equipa. Optaria assim por um 4-4-2 em losango, não muito rigido.

Oferta do nosso amigo K

Traquinices

Existe no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros uma mão cheia de grandes explorações de inertes pertencentes a empresas subsidiárias das grandes construtoras. São responsáveis por algumas enormes crateras mas não consigo sequer imaginar que os estudos de impacto ambiental não estejam devidamente aprovados ou que os buracos posam ser simplesmente abandonados no final da exploração. Com essas, suponho que o Parque Natural pouco se deve preocupar e pouco mais lhes resta do que fazer cumprir as condições de licenciamento.

A maior dificuldade para os responsáveis do Parque Natural é lidar com as dezenas, senão centenas de pequenas explorações que proliferam por concelhos como Porto de Mós, Alcanede*, Rio Maior, Mira d’Aire* e outros, porque têm alguma consciência da sua importância na economia local, sobretudo depois do colapso de alguma agricultura e pecuária de subsistência resultante da adesão à CEE e das suas famosas politicas agrícolas.

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pois

pois. o deus da bíblia não é de fiar. palminhas, saramago.
o deus da bíblia é um autoritário: criou o homem e exigiu-lhe que dominasse os peixes do mar, as aves do céu e os animais que se arrastam na terra

(e ordenou que os comesse quando a fome apertasse, claro).

mas esse deus também é sexista: criou um homem e depois decidiu que o homem que andava nu precisava de uma companhia – criou a mulher e vestiu-os de peles, claro

(alguém teria, depois, de passá-las a ferro).

ai. o deusinho da bíblia andava preocupado com a performance sexual, com a carne do prepúcio, daquele que criou à sua semelhança

(de outra forma, para que mandou circuncidar os meninos de treze anos?)
palminhas saramago: esse deus ordenava homicídios e proclamava as concubinas

(e os guisados).
pronto. não vos chateio mais, seguidores fieis, leitores de palas sem tempo. urge, agora, perguntar: não terão tanta credibilidade esses textos escritos – talvez sobre efeito de marijuana, quem sabe, ou ópio – como os de luz, mais luz, ainda mais luz da alexandra solnado que jura, a pés juntos, receber as mensagens que escreve desse mesmo deus?
o único deus que existe é aquele que sentimos. a força que nos grita para continuar; o sorriso que damos quando, a chover cá dentro, nos olhamos ao espelho; o que nos faz ter prazer em oferecer comida a alguém; o que nos dá alegria em levar, para casa, um cão. esse não precisa de evidências escritas para mostrar qualidade e, perdoem-me, serem alvo de não conformidades explicitas.

pois. o deus da bíblia não é de fiar. palminhas, saramaguinhõ. :-)

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Oferta da nossa amiga Sinhã

Discípula de Dostoiévski

Dia entediante, moroso e deprimente. Tudo anunciava um dia sem surpresas. No café da esquina, esperando o café e o pão integral com manteiga, vasculhando na net do telemóvel o último resultado do Euromilhões, dou com o sorteio 42 com resultados e números mais que familiares. Será possível? Eu nunca ganho nada. Tenho o 30. Tenho o 12. Tenho o 4 nas estrelinhas. Vou ver quanto me deve calhar: 9 Euros e uns restos. Fixe. Vou voltar a jogar. Faço notar à cambada leitora que gastei apenas 2 euros na jogada, ok?
Vou à tabacaria onde joguei:
- Acho que isto dá alguma coisita.
A canastrona melosa mete o papel na máquina:
- Dá. 9,04 Eur. Mas não lhe posso dar o dinheiro. - começou a gemer. Sabe como é, hoje é Sábado... Se fosse dia da semana...
- Mas eu tencionava voltar a jogar!!! - digo eu, toda lixada pela sovinice trenga da outra.
Emudeceu, não respondeu e tirou os 9,04 Eur. da caixa.
Pego num papel e começo a preencher: 4 apostas + 1 jocker.
- Mas assim a menina gasta o dinheiro todo!
- Quero lá saber. O dinheiro é meu, não é? - retorqui, irritada pela lição de moral logo de manhã.

De tarde, na reunião de trabalho, o pessoal todo acusava uma cara de aterro por causa dos horários. Lembrei-me então de jogar, não jogar com números, mas jogar com palavras.
- Ei, sabem que eu ganhei no Euromilhões?
As cabecinhas atarefadas ergueram-se de imediato:
- Hã? O quê? A sério?
- Ganhei, sim - corroborei com o sorriso mais Pepsodent da cidade do Porto.
Ficou tudo a olhar para mim, de olhos esbugalhados, à espera de algo. À espera de quê? Da quantia?
- Ganhei 9 euros e tal.

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Oferta da nossa amiga Cláudia

Gorjeios

Meu caro, “bom rapaz” eu? Ora bem, o nosso amigo Ibn Erriq, e os da sua espécie, via visão marxista da realidade, são adeptos da suspeição generalizada. Vejamos: o marxismo contém uma teoria sobre a consciência do seu opositor (qualquer que seja); esta encontra-se necessariamente eivada de erro, uma vez que a sua situação de classe o condiciona no sentido de pensar como um capitalista. Até aí tudo bem. É capitalista! Ou seja, a consciência não passa de uma máscara de interesses. Ora, com o marxista passa-se precisamente o mesmo, com a diferença de que os seus interesses coincidem com os da própria humanidade. Onde vai isto parar? A consciência do marxista é a que está certa. Vai daí, quem tem a consciência errada, os não marxistas, torna-se culpado. Isso faz do esclarecimento um dever sagrado do marxista, no que não difere assim tanto do fundamentalista islâmico. Mas vejamos mais de perto. No marxismo dialéctico, a ideologia equivale invariavelmente a uma consciência errada, pelo que, está ao nível da moral e não da ideologia. É uma espécie de jogo onde diz o Ibn Erriq ao parceiro: – “vejo uma coisa que tu não vês, a saber, as estruturas que tens nas costas e que condicionam o teu pensamento”. Agora, não fora tudo isto assentar num período histórico desfasado destas construções ainda passaria despercebido. Precisando, o Ibn Erriq, qual bardo incansável da mensagem, com a sua harpa, vai dedilhando um compasso roufenho, em que, lendo os elogios ao Sócrates e os seus admiradores, do seu aparente distanciamento, isto é, perspectivando a cidade num todo, consegue imaginar quão tolhidos estamos todos nós. Estamos portanto cegos da proximidade do movimento alternativo, porque se quer uma cidade diferente, alternativa. Bom, o pior, é que não passa de um desejo piedoso. Ibn Erriq, a sociedade machadiana que o menino tão bem vê, é demasiado complexa para a podermos alterar a nosso bel-prazer. Se porventura acredita nessa possibilidade, isso deve-se ao facto de ainda se orientar pelas revoluções ocorridas na transição da sociedade tradicional para a moderna e pensar que pode tratar a sociedade moderna, ou, pós-moderna (segundo alguns) como se fosse tradicional. Assim confunde tudo e não se entende a si próprio. Perdoe a simplificação, mas não precisava é de vir para aqui fingir-se do partido socialista, afinal, sempre tem o seu “arrastão” para arrotar postas de pescada requentadas.

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Oferta do nosso amigo Paulo Gorjão

Traquinices

Raispartam. Dizem que o Sócrates tem tantos contactos e move toda uma rede de influências e não foi capaz de convencer quem oferecesse um descaroçador de fruta à rapariga? Tinha-se poupado isto. Ah pois… não podia ser porque senão o bloco começava logo uma gritaria porque o governo estava a subtrair postos de trabalho. Ontem já não tive dúvidas que esta volta da escravatura protagonizada pelos arrastados só podia estar relacionada com os números do INE relativos ao PIB. Realmente o que é que se pode esperar da produtividade num país onde ainda se paga salário (digo eu) a alguém para tirar as grainhas da uva? Como a semana estava a chegar ao fim seria de esperar o sermão moralista do bloco. Ao responso juntaram a luta de classes como convém. No entanto, ninguém me tira da ideia que esta volta do esclavagismo está intimamente ligada com a tentativa de restauração da monarquia na capital. Vou esperar para ver.

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O tronco de carvalho e a vareta

Meu caro Val, não são propriamente a mesma coisa. Entre um stalinismo de consumo interno e um trotskismo a favor da revolução universal vão algumas diferenças. Experimenta pensar no caso do stalinismo como um daqueles cagalhões género tronco de carvalho que um gajo quando o caga até se sente orgulhoso, e no trotskismo como uma daquelas cagadas género vareta, como se diz na minha terra, que borrifa todos os sagrados cantos de uma retrete. Um marca bem a sua posição como única e irrepreensível e o outro espalha-se infantilmente por tudo o que o rodeia. Se de acordo com esta minha comparação não te fiz compreender que são merdas muito diferentes, experimenta pensar no seguinte, o stalinismo vence mais cedo ou mais tarde, nem que seja às custas de uma machadada bem aplicada nas longínquas terras do México.

Abençoada a esquerda que tem por ídolos semelhantes facínoras.

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Oferta do nosso amigo Nicolae

Filho de gente pobre

Como os anos passam e trazem-nos à memória o tempo passado. Fez ontem dia 18-07-2009, 49 anos que iniciei a minha carreira como trabalhador numa fábrica de móveis. Fiz a 4.ª classe, antes oito dias. Era filho de uma família humilde com cinco filhos, àquela data, hoje tenho mais nove irmãos, sou o segundo filho mais velho e naquela altura o que nos esperava era tentar fazer a 4.ª classe porque o nosso destino estava traçado. Tanto valia ser inteligente, se fosse filho de gente pobre, sabia que tinha as fábricas de móveis à minha espera e ganhava 10 tostões por dia. Dinheiro esse que somado ao do pai e de uma irmã que era criada de servir num senhor Doutor em Santo Tirso, ajudava a minorar o equilíbrio quinzenal; nessa altura recebia-se à quinzena. Era um aluno média alta, mas como referi atrás as condições económicas não davam mais esperanças. Naquele tempo não havia liceus nas proximidades a não ser S. Tirso ou Guimarães. Hoje tudo é perto, antes era uma eternidade para lá chegar. A primeira vez que vi o mar foi num passeio da catequese, de borla, porque não tinha dinheiro para esse fim.

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A voz do cidadão

A distorção institucional e política que o actual PR está a introduzir em Portugal é tal que há o direito de nos interrogarmos, com grande preocupação, sobre o que estará subjacente. E o que se perfila é: o PR assumir-se, a breve prazo, como chefe da oposição, designadamente do PSD, fazendo tudo, como a sua despudorada parcialidade mostra à evidência, para que este partido ganhe as próximas eleições. E tanto fará que com maioria absoluta como não: com um amigo destes é irrelevante.

No médio prazo está em causa o ataque para o reforço de poderes do PR, passando Portugal a ter um sistema constitucional presidencialista. Como? Não parece ser previsível a obtenção de maioria qualificada na AR, não que os dois partidos da oposição que se assumem como de esquerda não tenham demonstrado a sua vocação para a tudo estarem dispostos desde que seja derrubar Sócrates. Mas parece mais crível qualquer tentativa, inconstitucional, de recurso a qualquer acção do tipo referendário ou plebiscitário. O recurso ao mito do desejado para resolver os problemas que nós próprios não queremos resolver, não implica necessariamente o sair das brumas de Alcacer Quibir. Mas se for alguém musculado tanto melhor (recomenda-se de novo a leitura da edição recente da Tinta da China do Antero das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares…).

Enumerar de novo as incongruências institucionais e políticas do actual PR vai-se tornando tarefa demorada. Cada sachadela, cada minhoca, e já tresandam bastos anelídeos para os lados de Belém. Dois exemplos apenas: Madoff, autor da maior fraude financeira de todos os tempos nos EUA, foi condenado a 150 anos de prisão em apenas 6 meses. O nosso PR não considera motivo suficiente para intervenção no caso Freeport, em lume brando no Ministério Público há mais de quatro anos e sem fim à vista. Com isto, de um modo canhestro, o primeiro-ministro de um País da União Europeia anda a ser objecto do mais despudorado e desavergonhado ataque de que temos memória. É culpado? Provem-no. Não é culpado? Encerrem este hediondo processo de não funcionamento regular das instituições. Mas trata-se talvez de um PR muito legalista relativamente à separação de poderes, zeloso do legado de Montesquieu. No entanto ainda a semana passada (um entre N exemplos) lançou insinuações sobre alegada falta de transparência no caso PT/Média Capital. Que atingem, obviamente, o Executivo.

Segundo exemplo: o inacreditável caso Dias Loureiro/BPN/SLN. Aqui não é o regular funcionamento das instituições que está em causa. Não é o direito que um cidadão tem de ganhar dinheiro através da valorização de acções numa taxa muito pouco usual. Não. É muito mais que isso: a credibilidade das declarações do primeiro magistrado do País num processo em que meias verdades e ensurdecedores silêncios se tornam verdadeiramente ensurdecedores.
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Oferta do nosso amigo cidadão presente

Pateta Alegre by Nik

A utilidade do Pateta Alegre só é sentida à direita e à esquerda do partido dele, e só enquanto estiver a fazer trabalho cisionista. O Pateta não interessa nada ao PS. Se sair, não interessará logicamente a ninguém, nem à esquerda, nem à direita. Todos passarão a adversários dele.

Deitar-se com a mulher do próximo é sempre uma hipótese para o Pateta, no que dizem que tem já bastante treino. Mas quem o atura já? Ninguém o vai querer como parceiro ou sócio, com toda a sua pesporrência e vaidade. E velho e acabado.

Os socialistas andam a fazer este joguinho de puta com ele, para ver se o gajo não rouba votos nas próximas eleições. E para ver se o gajo não traz para a praça pública possíveis informações que tenha e que possam ser prejudiciais ao partido que ainda é o dele. E ele a chantagear, que isso sabe fazer.

Se o Pateta resolver criar um movimento ou partido novo, vai ter que sair amanhã do PS e que se colocar na margem da bancada socialista no parlamento, onde há muito já devia estar.

Se o odre de vaidade resolver ficar no PS, por amor ao lugar certo de deputado e outras prebendas de “senador”, será muito mau para todos. Para ele, para o PS e para o país. Ele não tem a mínima chance de aspirar a nada dentro do seu actual partido, excepto um retrato na parede do corredor mais escuro do Largo do Rato. Não o estou a ver a contentar-se com isso. A vaidade é muita.

Mas formar um movimento e concorrer a eleições numa lista autónoma dá uma grande trabalheira – e o ego dele, no final, pode ficar mirrado como um carapau seco. Não tem coragem para isso. Aliás, o modelo perfeito dele, Jean-Pierre Chevènement, quis suceder a Mitterrand, não conseguiu, armou uma barracada semelhante no PS francês, saiu, formou um movimento de merda e hoje ninguém sabe quem ele é. Nem quem ele foi.

Então?

Acho que vamos ter mais do mesmo: nem fode nem sai de cima, antes pelo contrário. Vai facturando, enquanto tiver poder de causar dano. Para mais não serve.

Depois das eleições o PS devia expulsá-lo rapidamente.

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Daqui

Citações de ESTACA

OS SEGREDOS DA CAROCHINHA

Nos meus tempos de rapaz, grande parte da minha curiosidade era dominada pelo desejo de explorar os currículos extra-escolares e os segredos dos homens de calo, de migas e azeitonas, suor mal pago, muita ganga e pouca missa. Alguns desses homens roçavam os quarenta anos de esperança no futuro e outros a velhice desanimada e descrente, mas todos devidamente educados nos Institutos de Tropeção-de-Baixo e Trambolhão-de-Cima. Essa gente boa e inocente nunca, nunca enjeitava uma oportunidade para me “abrir” os olhos e revelar-me os seus segredos. O serviço era gratuito, sem maldades estudadas — algo que me beneficiava, mas nem sempre, como vim a saber mais tarde. Nunca havia falta de pregadores auto-nomeados, graves e peremptórios nas declarações das suas crenças, politizados, mentalizados, devidamente endoutrinados e generosamente distribuídos pelo mapa da Aldeia Grande de Sordovelhas, a minha terra natal.

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Jornalistas by Nik

Eu acho que os jornalistas que andam a molhar a sopa no “caso Freeport” e a armar manigâncias contra determinados políticos deveriam também ser submetidos ao mesmo “inevitável escrutínio” (expressão de Vasco Pulido Valente, há dias, no Púbico) a que o PM tem vindo a ser sujeito. Ou há moralidade ou comem todos, diz o povo.

O “quarto poder”, justamente porque é um poder, e cada vez mais reconhecido como tal, não se pode furtar à devassa a que se julga no direito de submeter os governantes. Os leitores e telespectadores esperam e julgam ter no jornalista um intermediário, uma espécie de representante ou procurador, através do qual as perguntas dos cidadãos ao poder político são respondidas. O jornalista não pode nem deve, pelo seu comportamento como profissional, quebrar essa relação de confiança que há entre ele e o público anónimo. Ninguém em seu perfeito juízo confia a função de seu intermediário, procurador ou representante ao primeiro imbecil que aparecer. Ninguém, devidamente informado, quer comprar um carro em segunda mão a um burlão.

Assim, deveríamos ter direito a conhecer mais sobre a classe jornalística — sobretudo sobre os directores de informação e outros tenores da imprensa, rádio e televisão — do que aquilo que geralmente conhecemos, que é zero, ou perto disso.

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Com os índios

Meu amigo

Do antes guardo a memória do menino assustado, num banco da já extinta Esquadra do Campo Grande , esperando que o fossem buscar por ter cometido o hediondo crime de jogar à bola na via pública (logo eu que sempre fui um pé de chumbo). O constante desfilar dos namorados, a caminho do mesmo banco, acompanhados de um diligente cívico, por se beijarem em público. O ingresso tão precoce no mundo do trabalho. O British Bar onde não entrava uma senhora. O exílio num país claustrofóbico que era o meu.

Do dia lembro-me de, antes de ter subido a rampa da RTP, me ter sido perguntado se estava com os índios ou com os cowboys. Respondi:-Naturalmente com os índios!

Do pós, assaltam-me as memórias. Um mau poema, que felizmente já não sei onde pára, exaltando a liberdade, introduzido à socapa no berço da minha primeira filha, recentemente nascida. O vórtice da discussão política tendo D. Pedro IV como patrono. As pulhices, as traições, as esperanças, o ano de 1981, os que ficaram pelo caminho. O palmilhar dos caminhos da Universidade coisa até aí impensável para uma pessoa oriunda do meu estrato social.

Pouso o olhar nas minhas filhas e orgulho-me do que vejo. Desvio-o para as minhas netas e acredito que é possível. Da mesa cá do fundo, sob o olhar tutelar do José Cardoso Pires e de um relógio que subverte o tempo, caro Val, recordo a minha geração, a tua, a que virá. Mas uma coisa te asseguro se me fizeres a mesma pergunta que me fizeram, faz hoje trinta e cinco anos, respondo-te: – Naturalmente com os índios!

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Oferta do nosso amigo jafonso, celebrando o 25 de Abril.

Do fundo da toca

Sócrates foi convincente e reforçou a ideia, mesmo em cidadãos que não são PS, de que é um grande político e o político de que Portugal precisa ― e ele é, seguramente, a última oportunidade para que isto venha a ter saída, enquanto país.

A não percepção disto, em nome da luta partidária, pura e dura, é um erro terrível, até porque quem o pratica não entende que se abriram as portas para o bota-abaixo total. A luta de interesses é enorme, o que está em jogo não é, por parte dos maiores críticos e urdidores de intrigas, o bem-estar do país mas sim a defesa, desesperada, dos muitos e muitos milhões que vão (estão indo) à vida.

Não se compreende a “surdez” perante coisas tão absurdas como um Joaquim Coimbra a dizer que achava que BI (de Banco Insular) queria dizer bilhete de identidade ― em plena Comissão da Assembleia da República, meus senhores! e sabendo que estava a ser filmado… ― que outro interveniente no processo diga da fuga de documentos em contentor na véspera da busca da PJ, and so on and on… E que não se veja nenhum órgão de CS a “investigar”, que não surjam fugas de informação, quebras de segredo de justiça, que Marcelo não largue uma palavra que seja sobre a matéria, que a Guedes não entre na matéria no seu “reputado” jornal de 6ª feira…mas que se continue, obtusivamente, a caça ao homem na figura do 1º Ministro…

Estamos num momento decisivo da nossa história ― em que, ou damos um passo em frente, ou nos deixamos ficar enredados na treta, num país da União Europeia onde presidentes de Câmara escolhem o 25 de Abril para inaugurar praças em homenagem a Salazar… E, em nome da razão, não vejo outra figura que seja capaz de levar isto avante que não seja José Sócrates. Por muito que não me agradem alguns tiques do senhor.

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Oferta do nosso amigo j.coelho

Esquerda de masoquistas by Nik

Há uma esquerda, que não se limita aos partidos de Louçã e Jerónimo, tendo também os seus representantes no PS, noutras agremiações e entre muita gente sem simpatia partidária, que sofre, sempre sofreu, de uma idealite aguda, agravada de uma profunda incompreensão do que é a política hoje, do que ela foi ontem e será amanhã.

É uma gente que, mesmo nascida depois da ditadura salazarista, só gosta de estar na oposição, indefinidamente, para sempre. Para eles a acção política é só o protesto, a denúncia, a defesa, a resistência a um estado de coisas inaceitável. Preferem deitar ao lixo os seus votos, ou não votar de todo, a interrogar-se seriamente sobre a validade dos seus próprios ideais, supostamente belos e nobres. Ideais que se confrontam permanentemente com uma realidade que não compreendem e recusam. Têm a sensação que está tudo sempre a piorar, desde o começo dos tempos.

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O Dia Nacional dos Centros Históricos no Porto

Ou como a burocracia mata um dia de lazer

Desde a semana passada que eu aguardava este dia: o dia de ter, para mim, todo o centro histórico de borla. Então não era o que estava escrito nos cartazes? Entradas gratuitas na Sé, na Igreja de S. Francisco, no Palácio da Bolsa; bebidas e petiscos a 1 euro nas mais diversas tascas da Ribeira. Querem melhor? Haveria um balão quente largado nos Aliados e um cruzeiro grátis no Douro. Eu não pedia tanto! Contentar-me-ia com o Palácio da Bolsa, que nunca tive a ocasião de visitar, e as bebidas e petiscos a 1 euro.

Convidei uma amiga de fora: Anda daí, vamo-nos divertir. Lá veio ela, com a tralha toda, quero ver a Sé! Antes de entrarmos na Sé, comemos umas pataniscas espinhosas com sabor a Porto Antigo. Tentei um desconto por causa das espinhas. Mandaram-me bugiar.

Entrámos na Sé. Momento solene, silêncio mórbido, respirações retidas, tosses rebeldes. Virei-me para a minha amiga: Já está tudo visto. Vamos embora. Persistente, não, vamos ao claustro, quero ver. Íamos a entrar e a recepcionista: Ei! Os bilhetes? Detive-me, estarrecida, e a minha amiga replicou: Então hoje não é o Dia Nacional dos Centros Históricos? É preciso pagar? A matrona antipática, numa falsa e fingida compaixão, expôs o trâmite misterioso, subjacente a toda esta organização mafio-turística: Têm que ir ao posto de turismo dos Aliados levantar os vouchers. Voucher, no meu imaginário verbal, remete incontornavelmente para vache e comecei a apreciar a recepcionista pelo seu lado bovino.

Armada em chica-esperta, discursei: O Porto tem três postos de turismo, portanto, se temos de ir para a Ribeira, vamos ao posto da Ribeira.

Descemos as ruas pedregulhosas, tortuosas; umas cheiravam a esgoto; outras, a urina. Avistámos o Palácio da Bolsa e entrámos no posto de turismo da Ribeira: Vouchers? Aqui não. Só nos Aliados. Têm que ir aos Aliados. Neste ponto dramático da situação, sobressaltou-me o lado caprino das recepcionistas. E a minha imaginação verbal corrompe o adjectivo caprino remetendo-o para a lamúria romântica Capri, c’est fini!

O meu dia nacional dos centros históricos acabou em tremoços e finos na Ribeira, tripas à moda do Porto no Ora Viva, uns chás marroquinos do caraças, umas inalações fantasmagóricas com sabor a cereja e umas músicas rock and roll, com Undercover Dj’s no Mercedes. Discuti com a minha amiga por ela me sair a literatura anglo-saxónica toda e berrei-lhe um J’emmerde les anglais et les américains!

Acordei hoje de manhã, perguntando-me o que teria feito de histórico ontem à noite.

Cláudia

Afonsinas

O nosso amigo jafonso teve a amabilidade de nos enviar um bilhete onde dá conta das suas mais recentes peripécias.

Amigo Valupi duas palavras, embora atrasadas, sobre o teu post. Regressei ontem de Fátima onde fui em excursão organizada pelo centro dos reformados rezar por alguns frequentadores aí da farmácia. A D.Rosa confidenciou-me em voz baixa, já que estava acompanhada pela neta Cátia Vanessa, que para além do Magalhães ser o assassino da leitura entre os jovens, segundo o companheiro Barreto, ele seria também o principal responsável pela proliferação da diabetes, da incontinência urinária e das doenças da próstata. Vou tentar conferir nos sítios do costume do P.P.P. (1) e do I.D.O. (2), porque se é verdade eles já o sabem com toda a certeza.

Passando a um registo menos sério devo dizer que o facto a que te referes não é dos mais felizes. Todavia também devo considerar que a reacção dos mesmos está na linha do habitual. O que é que esperavas? O episódio do Provedor de Justiça, as reacções de prima dona do “beto” Alegre, as elocubrações tácticas dos irmãos do costume, na tentativa de posicionar um candidato que, segundo eles se oponha ao Sr. Silva, vão conseguir a reeleição do pior Presidente da República após o 25 de Abril e logo o que em condições de normal sanidade mental da esquerda seria possível derrotar. Penso que para além das inevitáveis dificuldades pelas quais a crise nos vai obrigar a passar, ela demonstra também a incapacidade congénita de nos agregarmos em torno de um objectivo comum.

Quanto ao resto, depois de almoço, vou tomar café ao sítio do costume e deixar ao Silva do B.B. umas pagelas com a inscrição “Em Fátima rezei por ti” dedicadas a alguns frequentadores aqui da farmácia, desde que devidamente identificados. Sabes que a caminho de Lisboa, talvez já iluminado pela oração, tive a sensação que o cavaquismo nunca existiu.

1) Patético Pacheco Pereira
2) Inenarrável Daniel Oliveira