Os travecas da TVI

Sempre que vi o serviço deformativo da TVI, às sextas, fui tomado pelo mesmo sentimento: compaixão. Porque o que se exibe é uma tocante fragilidade. Hoje esteve lá o apocalíptico Medina Carreira. E repetiu que o Mundo vai acabar por causa deste Governo, se é que não acabou já e alguém esqueceu-se de nos avisar. A Manela quis terminar com alguma esperança, um plano, uma promessa de libertação para as massas escravizadas. Medina não tinha nada na manga, pois o PS e o PSD eram iguais, explicou, apenas associações de criminosos organizadas para assaltar o orçamento de Estado. Ficaram assim um bocadinho. Até que se calaram. Ela disse que isto estava muito mau, para se despedir. Ele ainda conseguiu dizer que estava péssimo, com entusiasmo.

O aparato policial, justiceiro, insurgente, com que se faz o marketing do JN6 simula uma força igual ou maior à do Governo, do PS e de todas as tenebrosas entidades que conspiram para nos esmagar com os seus diabólicos poderes. É a TVI a chefiar a resistência ao fascismo, não têm medo de nada nem de ninguém. Só que desde a circense apresentadora até ao albergue espanhol daquela redacção, o que fica depois das canhestras manipulações é apenas completa desorientação política e ética. Uma inquestionável realidade os consola: Sócrates existe, portanto a vida ainda tem algum sentido. Sócrates é uma paixão, e todas as paixões são obsessivas, claro. Então, não o largam, pedem a sua atenção, desejam o seu amor. E lá sobem ao palco, vestidos com trajes muito fantasiosos, para cantar espalhafatosamente I Will Survive.

Os travecas da TVI, afinal, o que querem é um pouco de ternura. Como todos nós.

15 thoughts on “Os travecas da TVI”

  1. Meu amigo
    Do antes guardo a memória do menino assustado, num banco da já extinta Esquadra do Campo Grande , esperando que o fossem buscar por ter cometido o hediondo crime de jogar à bola na via pública (logo eu que sempre fui um pé de chumbo). O constante desfilar dos namorados, a caminho do mesmo banco, acompanhados de um diligente cívico, por se beijarem em público. O ingresso tão precoce no mundo do trabalho. O British Bar onde não entrava uma senhora. O exílio num país claustrofóbico que era o meu.
    Do dia lembro-me de, antes de ter subido a rampa da RTP, me ter sido perguntado se estava com os índios ou com os cowboys. Respondi:-Naturalmente com os índíos!
    Do pós, assaltam-me as memórias. Um mau poema, que felizmente já não sei onde pára, exaltando a liberdade, introduzido à socapa no berço da minha primeira filha, recentemente nascida. O vórtice da discussão política tendo D. Pedro IV como patrono. As pulhices, as traições, as esperanças, o ano de 1981, os que ficaram pelo caminho. O palmilhar dos caminhos da Universidade coisa até aí impensável para uma pessoa oriunda do meu estrato social.
    Pouso o olhar nas minhas filhas e orgulho-me do que vejo. Desvio-o para as minhas netas e acredito que é possível. Da mesa cá do fundo, sob o olhar tutelar do José Cardoso Pires e de um relógio que subverte o tempo, caro Val, recordo a minha geração, a tua, a que virá. Mas uma coisa te asseguro se me fizeres a mesma pergunta que me fizeram, faz hoje trinta e cinco anos, respondo-te: – Naturalmente com os índios!

  2. Um dia Medina Carreira será reconhecido como um visionário, um homem com uma visão maior do que ele. Medina Carreira e Vasco Pulido Valente serão recordados como homens fora do seu tempo, muito à frente dos seus dias!
    E então chegará o funcionário da instituição, que lhes recordará o horário dos remédios e que os fantasmas e demónios que os perseguem, só existem porque o comprimido azul não é afinal a realidade que eles gostariam tanto de adivinhar!

  3. Jafonso, belas palavras.

    Eu acrescento, “vamos agarrar a madrugada”, sem medo.

    Com Salgueiro Maia como exemplo, acreditar que é possivel, fazer “um imenso Portugal”.

    Ignoremos os “travecos da TVI”.

  4. O Medina Carreira não tarda muito terá que ser internado, se não morrer no dia em que Sócrates voltar a ganhar umas eleições, não sei qual delas. O velho advogado fiscalista voa a caminho do crash cárdio-vascular ou cerebral. Isso é que poderá despertar compaixão. No resto, não. Está doente, mas continua a facturar, vendendo o seu fanatismo ao casal Frankenstein, ao Crespo, a quem precisar.

  5. “Os travecas da TVI, afinal, o que querem é um pouco de ternura.”

    Então mas a Manuela não teve já todo o amor e carinho dos portugueses reflectido a quando da sua eleição como deputada do CDS de Paulo Portas?
    E, claro, na parte correspondente da reforma que lhe há-de caber.

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