Todos os artigos de Valupi

Eppure si muove

As eleições do PSD dão corpo à agonia de uma geração, de uma classe e de uma forma de fazer política. A geração é a que tem governado o Estado, a classe é a que dirige e milita nos partidos. Desde o 25 de Abril a gerir, negociar e desviar os recursos económicos, esta elite apodrece sem arrependimento na cadeira — uma parte deles está há muito afastada, de bandulho empanturrado e trôpegos, outra parte recusa-se a cair. E mesmo que nada mude a seguir no futuro próximo, que se repitam os modelos e os processos, os motivos e as intenções, agora já se sabe, agora está claro, nu e cru: as maiores figuras do sistema político são directos responsáveis, ou cobardes cúmplices, por 30 anos perdidos para a cidadania, a democracia e a liberdade; ou seja, 30 anos de estagnação e marasmo cívico. O que mudou foi só por obra do tempo e das circunstâncias inevitáveis, aquilo que teria de mudar para que a lógica do Poder se mantivesse. Nada nasceu das vontades, a não ser os projectos pessoais de conquista. E assim se constata como o salazarismo, que moldava por simetria até a sua própria oposição, apenas conheceu alteração de chefias políticas. Iniciou a troca de pele ao longo do marcelismo e concluiu a metamorfose com a Revolução. Conseguiu permanecer como axiologia uniformizadora da política, sociologia, economia e psique nacionais até 2004, altura em que se atinge a miséria moral com a fuga de Barroso e o abandono do País à incompetência e irresponsabilidade de Santana. Não por acaso, é também o ano do Portugal Hoje — O Medo de Existir, finalmente o diagnóstico que permitia ter consciência da gravidade e alcance da doença.

Soares, aos 81 anos, queria voltar a ser Presidente da República pela terceira vez. Cavaco abandonou irresponsavelmente, enojado, o PSD e o Governo, só para se agarrar rústico ao seu sonho provinciano. Guterres e Barroso são a prova de que o crime político compensa. Freitas ziguezagueou entre o sonho e a realidade, um caminho cada vez mais idiossincrático e solitário. Adriano refugiou-se na aristocracia intelectual. Monteiro e Portas destruiram o CDS sob aplauso geral. O PCP substituiu esse soporífero Carvalhas, prova maior do fanatismo de Cunhal, por um Avô Cantigas afinado com a cassete. O Bloco é uma federação de groupies borboleteando à volta da estrela pop. Alegre é um velho jarreta, a caricatura narcísica e senil dos delírios adolescentes dos anos 60. Marcelo, com dotes para trapezista ou domador de leões, prefere ser palhaço rico e planeia dar espectáculos no lar de Belém. Pulido Valente, António Barreto e Pacheco Pereira, as três Graças do decandentismo opinativo, tão diferentes nas estratégias e metodologias, são iguais enquanto velhos gaiteiros, fazendo psicoterapia com textos que expressam pensamento, mas que não dão a pensar. Estes nomes, avulsos, são os que se apanham à mão-cheia na saca da memória recente. Por cada um, há mil réplicas com mil vezes menos talento e mil vezes mais ressentimento.

Os candidatos a presidente do PSD são os paradigmas obscenamente pífios da necrose do modelo. Manuela é o tipo de político que não ambiciona mais do que administrar o Estado como se fosse uma empresa recebida por herança. Santana é o tipo de político que não ambiciona mais do que administrar as regalias, prebendas e sinecuras, do exercício do poder. Passos Coelho é o tipo de político que não ambiciona mais do que administrar as regras do jogo que se esforçou por aprender e respeitar desde menino. E Patinha Antão é um tipo, que não ambiciona mais do que ser administrador, de qualquer coisa. Nenhum deles — como nenhum dos outros que inscreveram o seu nome na História por terem chegado ao topo da cadeia alimentar, e dos quais aqueles se imaginam pares ou epígonos destes — ambiciona transferir para a comunidade a administração do presente e futuro de Portugal. Porque, para isso, teriam de abdicar de si próprios e de tudo o que já fizeram, e estão dispostos a fazer, para continuarem quem são e o que são: oligarcas.

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Corpinho de Deus

Quase todos os católicos, mesmo os cristãos, são não-praticantes. Porque praticar dá muito trabalho, pouco ou nenhum prazer e ainda reputação duvidosa. Mas a malta ateia e agnóstica, secularizada, e que calhe ser de esquerda, só para completar o ramalhete, também é relapsa e mandriona. Podendo protestar contra os feriados religiosos, encontrando aí uma bandeira de um vermelho tão vivo para agitar, estes não-praticantes da coerência ficam calados. E descansados.

É que cada esquerdista secular, agnóstico ou ateu, tem um corpinho divino a pedir repouso. Os deuses cansam-se muito, porque estão sempre a pensar em nós.

Milagres de Maio

Para além deste estar a ser, na minha enviesada percepção, o mês de Maio mais chuvoso de que há memória, mérito que vou atribuir a Sócrates e que fará dos nossos bombeiros os melhores do Mundo na prevenção e combate de fogos florestais, e de se ter assistido ao fenómeno de uma equipa que joga mal à bola que até dói ir ganhar a final da Taça ao Porto, aconteceu um outro milagre neste domingo passado — Vasco Pulido Valente apresentou uma solução para a doença chamada Portugal. Este sinal de esperança, vindo do mais rigorosamente decadente dos publicistas pátrios, é revolucionário. E consiste nisto: desaparecermos. Ou pela sua pena,


Precisamos de espaço, de espaço físico e “espaço humano”. Por outras palavras, precisamos de transformar Portugal numa sociedade cosmopolita e de esquecer as fronteiras, que nos sufocam e limitam. A única resposta à crise perene do país não é “nacional”. A nova emigração já compreendeu essa realidade básica. E a “Europa”, ou parte dela, compreenderá a seu tempo — e com a nossa ajuda — as vantagens da imigração.

Cá está a panaceia. Os portugueses que ainda estão no rectângulo devem emigrar, e os imigrantes que não param de chegar, esses pretos de África, mulatos do Brasil e loiros de Leste, tomam o nosso lugar e copulam uns com os outros. Eis a injecção cosmopolita que renovará mentalidades, sistemas, processos e, por favor, a natalidade. Obviamente, tem razão.

Excelente notícia sobre o preço dos combustíveis

O Aspirina B está em condições de confirmar que hoje não haverá novo aumento do preço dos combustíveis até à hora de almoço. Também sabemos da existência de condições favoráveis para a manutenção dos preços durante o período da refeição, conhecida a apetência de operadores e especuladores para a comezaina alarve e demorada. A partir das 15h, mais coisa menos coisa, a situação volta à imprevisibilidade usual, podendo acontecer um ou dois novos aumentos ainda antes da hora de jantar. Assim, recomenda-se à população que tenha de viajar de automóvel, em especial no caso de longas distâncias, para se despacharem e saírem já de casa.

O maior mistério da televisão portuguesa

Não há nada mais misterioso na televisão portuguesa do que a presença de Luís Delgado a botar opinião. Quem é que o convida? Quem é que não se importa? Quem é que finge não ver a miséria intelectual da figura? Foda-se, mas quem é o imbecil, ou grupo de imbecis, que o convida?!… O Luís Delgado é o Pôncio Monteiro do comentário político, um monumento à vacuidade bovina e monocromática.

Como ele próprio afirma na peça, há muita sinuisidade na origem deste mistério.

Sócrates fuma, mas não trava

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[toca na imagem para fumar o resto do pacote]

Sócrates fuma e corre, e não trava para dar atenção aos cães que ladram. Acelerou até à Venezuela na tentativa de fazer excelentes negócios, e, de caminho, proteger a comunidade portuguesa, a qual vive numa situação volátil e imprevisível. A josémanuelfernandização da blogosfera exultou com a filha-de-putice da notícia sobre o tabaco durante o voo. Os moralistas saíram à rua de braço dado com os ressabiados, todos com archotes na mão. E assim se confirma que não há fumo sem fogo: a área de neurónios queimados em Portugal é incomensurável, a verdadeira tragédia nacional.

PSD – Partido Sem Direcção

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Até agora, não há nada que interesse nas eleições para o PSD. A inanidade é tal que chega a ser indiferente o resultado, cada um dos candidatos apostado em provar que nada percebe da realidade que lhe entra pelos olhos; por não ser esta transformada, nos seus neurónios, em projectos políticos relevantes para o País. Há fenómenos assim, onde a imbecilidade é tão frequente num dado grupo que nenhum dos envolvidos tem a distância suficiente para a conseguir detectar.

Entretanto, Portugal transforma-se. Completamente indiferente ao que acontece no PSD, um partido que acabou em 1995.

Fitna – III

Em Fitna – II, apareceu uma ligação para este poste. Trata-se de nova contextualização do filme de Wilders, agora a partir dessa estupidez chamada Schism. Mas o que mais importa está ao lado, lá na página. Estamos no meio de um dos vários movimentos que procuram introduzir racionalidade na religião e cultura islâmicas. A vitalidade destes grupos e personalidades parecerá chocante àqueles que permanecem apavorados — e, portanto, enlouquecidos — pelo terror islamita. Mas é verdade: afinal, há muitos que arriscam combater a patologia e a maldade apenas com palavras de paz. A sua coragem rivaliza com a sua lucidez.

O comentário de robito, o último ao tempo em que escrevo, é lapidar. Porque expressa, sumária e simplicissimamente, uma visão democrática e secular sobre o fenómeno religioso; naquilo que se constitui como exemplo de uma posição que representa o actual paradigma civilizacional, onde as religiões têm de se circunscrever à esfera individual e submeter ao primado da liberdade. Só por ele, vale a viagem.

Valupi passeia na PARQ

A revista PARQ ainda só vai no quarto número. A estultícia da sua juventude explica o fenómeno: estreia de Valupi fora da blogosfera, e até em papel. A ocasião (singular) é relativa ao Festival OFFF, o qual começou hoje.

Quem sabe, pode ser que descubram um excelente veículo editorial, a revista, e conheçam um pouco mais da vanguarda digital, o festival. Ou, pelo menos, que apreciem a ideia brilhante, que os amigos da PARQ tiveram, para usar a Internet na promoção da revista: basta entrar no website e ficamos a vê-la, as páginas a passar, mas sem nada se ver afinal, mesmo que tudo esteja à mostra. Tão simples, tão inteligente, tão chato não ter sido eu a ter essa ideia.

O Daniel e o blogodrama

O Daniel saiu do blogue com estas palavras. De comum com a saída do Fernando, e para além da proximidade temporal dos eventos, temos a surpresa causada, a ausência de comunicação interna, o laconismo críptico da justificação. Quanto às razões silenciadas, ou tão-só esboçadas, não nos dizem respeito por não terem sido explicadas. Já o lado público do acontecimento permite uma breve reflexão. Entretanto, assino por baixo o que o meu primo disse aqui e aqui, igualmente me sintonizando com a declaração da Susana.

Só há 5 anos é que os blogues apareceram em força em Portugal. Sabemos como utilizá-los e para que servem, mas ainda não estamos imunizados contra a sua ilusão. Isso leva a que alguns imaginem vir a ser lidos por milhões, ou pela elite que influencia o gosto institucional, quando começam a escrever num blogue. A verdade pede água geladamente gelada na ambição: um blogue é lido por umas poucas dezenas de indivíduos, se correr muito bem. Em casos raros de popularidade, é lido por centenas. E será preciso algo de extraordinário para ser lido por milhares. 99,999% dos blogues não têm um único leitor para além dos autores. Os números que se apresentam relativos ao tráfego são isso mesmo: passagens. Mas passar não é ler, é partir.

Ainda mais relevante do que a quantidade, para a higiene e ecologia autoral em blogues, é a qualidade dos leitores. Nos blogues que permitem comentários, em especial nos que fazem moderação mínima e retroactiva, os leitores podem interagir sem mediação temporal ou de conteúdo. Isso confere-lhes um poder de recontextualização que ultrapassa o do autor, por causa do acrescento de interpretações. As caixas de comentários são selvagens e tempestuosas, as temáticas intencionadas nos postes poderão ser completamente ignoradas, deturpadas, fragmentadas. Não se controla o ambiente, a menos que se entre nele abdicando dos poderes inerentes à administração do espaço: de censuras, inconfidências e ameaças. E deste caldo caótico, onde qualquer um pode expressar livremente qualquer coisa, desde que não seja ilegal, nasce vida.

Que têm estes considerandos, que deveriam ser óbvios para todos os que optam por gastar o seu irrecuperável tempo nos blogues, a ver com a saída do Daniel? É que o Daniel saiu a conversar. Deixou o seu email e anda por cá a discutir o que lhe dá na gana. Ou seja, tornou-se um bloguista completo, finalmente aceitando que os blogues também podem ser tertúlias de arruaceiros — e que a barulheira é sinal de alegria. Eis um caso de blogodrama propedêutico.

Há vida na Internet – II

O nosso amigo Rui Vasco Neto junta-se ao nosso amigo Shark no fértil pantanal Sapo. O Sete Vidas Como Os Gatos está com um ar todo catita, ostentando veludo granadino (ou assim me aparece no monitor) num fundo donde saltam os saborosos textos do patrão — e a que se junta a presença assídua do Daniel de Sá, neste momento com uma imponente resenha histórica acerca da ópera em Portugal.

É de lá ir e voltar para mais.

Cineterapia

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Coeurs_Alain Resnais

O cinema King devia fechar, e abrir noutro lado. Num lado onde não se ouvisse a sala do lado ou o Metro a poucos. Mas fui lá ver este filme com 84 anos, a idade do realizador ao tempo. É filme de puto. Surpreendente? Para quem tem Manoel de Oliveira na cinematografia nacional, inevitável. Quando Douro, Faina Fluvial foi estreado, Resnais tinha 9 anos. Um puto então; então, e agora?

Coisas horríveis podem acontecer a quem veja o filme. Como a de nunca ter estado em Paris. Fica o aviso.

Esta é uma obra onde se deve contar o fim. Cá vai: não acontece nada. O realizador filmou um final onde não acontece nada, e as cenas que o antecedem são a meticulosa preparação para esse fim que, por ser nada, pode acolher aquilo que tu queres. Claro, estou aqui a ser alucinadamente optimista, pressupondo que tu queres. Mas faz-me este favor: bate em quem te contar o começo. Se te contarem o começo, perdes o filme. É tão complicado quanto isto. Mas se bateres naquele que te contou o começo, bateres com força, nem tudo estará perdido. E é para isso que vamos ao cinema, para que alguma coisa se salve.

Não, não, não. Isso que se diz ser isto e aquilo, que se repete, não importa para nada. O quê? Isso? Não, não penses nisso. Não ligues a isso. Nem àquilo. Quão mais vale aqueloutro. Oh, muito mais!

Teatro.

A minha cena preferida é discutível. Eis o critério da preferência.

BnF (e podes bater-me com força).

Como se come bem no Palácio de Belém

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No último almoço com Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, neste domingo que passou, éramos apenas 5 convivas. Ele, eu e outros três. Calhou ficar a seu lado, mas costumo ficar de frente, prefiro. Começámos com Carpaccio de Atum Fresco Albardado com Coentros Regado com Vinagrete de Pimentos, o qual suscitou genuíno entusiasmo. Seguiu-se Peito de Pato Lacado com Mel Sobre Batata Gratinada com Queijo da Ilha, provocando polémica precisamente por causa do Queijo da Ilha. A paz aterrou sob a forma de Pastéis de Toucinho do Convento da Esperança. E foi por me ter recordado da conversa sobre o Queijo da Ilha com sabor a pato, e ainda com meio pastel na boca e perdigotos kamikaze prontos para levantar voo na direcção do pulôver amarelo do anfitrião, que me virei para ele e disse Olha lá, ó Cavaco, mas para que é que os jovens se hão-de interessar por política e por História de Portugal, e o camandro que para lá disseste na Assembleia, quando o seu Presidente vai à Madeira, leva bailinho dum merdas que só diz merda, e volta com o rabo entre as pernas? Ficou tudo a olhar para mim, atónitos, porque se davam conta de ter eu comido o último pastel. E foi então que Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, aparentemente imune à crise dos postres, me perguntou com oportuno sentido do meu estado, Cafezinho?

A tragédia de um homem ridículo

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Menezes não tem juízo e saiu do Conselho Nacional em lágrimas, há dias. Já tinha saído de um Congresso em lágrimas, há anos. O homem é um choramingas e consegue contagiar a assistência: a sua passagem pela presidência do PSD foi de ir às lágrimas, seis meses de cachinadas.

Menezes não acertou uma. É um feito extraordinário. Contraria a lei das probabilidades, impondo a evidência: é preciso ter talento, e ser-se altamente disciplinado, para conseguir falhar cada uma das inúmeras ocasiões de comunicação com o País. A miséria começou logo no confronto eleitoral com Marques Mendes, onde exibiu o vazio que transportava entre as orelhas. Daí para a frente, só piorou, piorou, piorou. No pináculo do caso BCP, Dezembro, já estava enterrado. Tinham passado três meses, 12 semanas, e faziam-se apostas para a data de saída. Nos três meses seguintes, o PSD iria entregar ao PCP a liderança da oposição; e de forma inimaginável: sendo conivente com a demagogia da rua, com a retórica da luta. Naquele que foi o período mais difícil para Sócrates em toda a legislatura, quiçá o mais instável para a Nação desde a morte de Sá Carneiro, e que não se voltará a repetir nos próximos 20 anos, o estouvado dirigente dava tiros no pé, no próprio partido e na cabeça. Mas pior ainda era possível, e Vasco Pulido Valente e Pacheco Pereira, de repente e em maluqueira, acordaram para a possibilidade do moribundo PSD acabar às mãos de um gaio Kevorkian.

Menezes não prova que o PSD bateu no fundo, ou que os políticos são uma corja desprezível. Bem pelo contrário. A rapidez com que se conseguiu expulsar este traste é um dos mais optimistas sinais de saúde política. É cada vez mais difícil vender banha da cobra, e cada vez mais insuportável testemunhar o ódio à comunidade que esguicha dos partidos que não alcançam ser mais do que clubes de interesses ou hospícios para esquizóides ideologias, eis a boa lição do esdrúxulo fenómeno que levou um retinto incompetente para a ribalta. Recuperando o narcísico lema, se hoje somos muitos, amanhã seremos milhões a deixar de ligar aos tribalismos partidários, às barricadas, e barracadas, do maniqueísmo esquerda-direita. Em vez dessa forma rudimentar, porque ainda animal, de fazer política, passaremos a querer a coragem e a inteligência. Venham elas de onde vierem, estejam onde estiverem, é nelas que iremos votar. E é com elas que vamos ficar um bocadinho mais responsáveis, um bocadinho mais humanos.

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Menezes não realizou La tragedia di un uomo ridicolo em 1981, ao contrário do que defenderam publicamente Marco António Costa e Ribau Esteves nos últimos dias, isso deve-se a Bernardo Bertolucci. Quando vi o filme, alguns anos depois, não percebi nada daquilo, feliz ignorante das temáticas em causa. Mas a minha adolescência guardou a cena em que Laura Morante tira a camisola vermelha e oferece ao celulóide a imagem das suas gloriosas mamas. Como somos todos, por igual, homens e mulheres, apreciadores de um bom par destas fascinantes glândulas, desde que na sua versão feminina, e sendo daquelas predilecções que não carecem de explicação, partilho o meu entusiasmo de outrora agora. O filme demora muito a carregar, e a cena é lá para o final. O que significa três coisas: um prémio para a paciência, a oportunidade de ver um filme que nos acrescenta e um aplauso para a China, esse império capitalista que nos disponibiliza a raridade cinéfila na Internet e por inteiro.

O meu 31

Rui Castro, um dos autores do 31 da Armada — blogue onde escreve Rodrigo Moita de Deus, que já por aqui passou — convidou-me para um poste. O resultado foi este.

O Rui desafiou um conjunto de personalidades seguindo o seu estrito critério de gosto na leitura, daí o convite. Começou a série com José Tolentino de Mendonça, seguindo-se Ana Cláudia Vicente, Pedro Correia, Filipe Nunes Vicente, Jacinto Lucas Pires, Pedro Picoito e Pedro Rolo Duarte, até agora. Perante o alto perfil desta lista, e tendo em conta que o Rui e eu trocámos os primeiros emails por causa do seu desafio, a minha surpresa, e estulta vaidade, não pára de aumentar.

Excelente iniciativa, num excelente blogue. Mas só para quem gosta da direita inteligente, atenção.