Milagres de Maio

Para além deste estar a ser, na minha enviesada percepção, o mês de Maio mais chuvoso de que há memória, mérito que vou atribuir a Sócrates e que fará dos nossos bombeiros os melhores do Mundo na prevenção e combate de fogos florestais, e de se ter assistido ao fenómeno de uma equipa que joga mal à bola que até dói ir ganhar a final da Taça ao Porto, aconteceu um outro milagre neste domingo passado — Vasco Pulido Valente apresentou uma solução para a doença chamada Portugal. Este sinal de esperança, vindo do mais rigorosamente decadente dos publicistas pátrios, é revolucionário. E consiste nisto: desaparecermos. Ou pela sua pena,


Precisamos de espaço, de espaço físico e “espaço humano”. Por outras palavras, precisamos de transformar Portugal numa sociedade cosmopolita e de esquecer as fronteiras, que nos sufocam e limitam. A única resposta à crise perene do país não é “nacional”. A nova emigração já compreendeu essa realidade básica. E a “Europa”, ou parte dela, compreenderá a seu tempo — e com a nossa ajuda — as vantagens da imigração.

Cá está a panaceia. Os portugueses que ainda estão no rectângulo devem emigrar, e os imigrantes que não param de chegar, esses pretos de África, mulatos do Brasil e loiros de Leste, tomam o nosso lugar e copulam uns com os outros. Eis a injecção cosmopolita que renovará mentalidades, sistemas, processos e, por favor, a natalidade. Obviamente, tem razão.

46 thoughts on “Milagres de Maio”

  1. mas repara que se pedia ao crescimento exponencial que desse um sinal claro de amortecimento, senão de inflexão, e o dragão dá um jeito num vôos lá por fora, com saudades mas enfim

  2. Totalmente de acordo. Portas abertas, excepto para aqueles que detestam e rejeitam a nossa cultura, a nossa liberdade, a nossa democracia, a nossa tolerância. Excepto para terroristas. E como estes não trazem um selo na testa, aprendamos com o Sarkozy e com os outros que já tiveram de enfrentar o problema, antes que ele nos rebente no Metro de Lisboa ou na ponte D. Luís.

  3. nós cá temos a N Sra de Fátima que nos protege alguma coisa dos terroristas, eles gostam muito porque lá naquela coisa do Corão têm falta de mãe, mas depois também tem o problema do ‘fia-te na virgem’…

    eu gosto desta salsa toda, incluindo romanos e javalis

  4. o post está muito bom, concordo com o z, mas quanto ao vpv já eu ando a dizer há bué que o segredo de tudo, até o da maionese não deslaçar, está na miscigenação. tem que ser assim, com mestiçagem, não podem ser comunidades fechadas em que casam sempre uns com os outros.

  5. Discordo com o termo “mulatos do Brasil”, a miscigenação é grande, sendo a maioria brancos, sou a prova viva de que esta terra Tropical tem espaço pra todos, europeus, africanos, japoneses, chineses… Eis que os chineses agora estão vindo pra cá a comprar terras.

    Eu sou casada com português. Minha sogra e sogro migraram pra cá depois da guerra de Angola, há uns trinta e poucos anos atrás. A migração era grande na época, vinham de barcos escondidos para que não fossem pegos e mortos.

    Na época da descoberta do Brasil há um grande mito também: aprendemos no primário que foi descoberto pelos portugueses. Discordo! Os índios já habitavam essas terras, então não há quem o descobrisse.

  6. ainda há outro milagre que é ver gente como o Valupi contente com a racionalidade política deste governo. Acabou por nos destroçar a esperança, reclamando-se de socialista e erodindo a base da pirâmide até ao limite, mas pelos vistos não é mau para todos

    bem vistas as coisas nem podia ser, há vírgulas que valem milhões

  7. Caro Valupi.

    É tarde,um velhote do norte que ia para Portugal passar o résto dos dias,ficou com a sensaçâo que se sentia imigrante outra vez,voltou para tràs creio que nâo déve ser o unico!!?!..Vejo o sorriso do primeiro menistro que vai falar d’economia,sabendo ele que o pior està para vir a crise està às portas,o escandalo dos subprime ainda nâo deu o seu real estatuto,a alimentaçâo vai augmentar o prêço da gasolina ainda nâo parou,o trabalho escaseia e ele sorri

  8. z, quem preferias ver no Governo? E a fazer o quê?
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    Nik, que fez o Sarkozy que aches imitável cá no burgo?
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    susana, também concordo com o z. Já sobre a maionese, consta que nem sempre sai bem.
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    Karin, os mulatos são um dos ícones do Brasil, precisamente por causa do encontro de povos dos 3 continentes, os quais criaram uma comunidade original e única. São tão Brasil como o samba. Usei o termo para o ligar a “preto” e “loiro”, meras referências cromáticas.

    Quanto à “descoberta” do Brasil, não passa de uma palavra que descreve a experiência de quem aí chegou pela primeira vez, não de quem já aí estava, claro. No entanto, e isto não se trata apenas de uma subtileza sem importância, o que existia antes dos portugueses chegarem, e começarem a alterar a realidade local, não era o Brasil. Este, é invenção de Portugal.
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    canuk, se ele sorri, ’tá tudo bem. Acredita.

  9. pau brasil…

    eu voto na esquerda ‘bafienta’ Valupi: ao menos não sou cúmplice de ver o PS a fazer as reformas que a direita queria fazer e não deixávamos – e deixamos a estes à conta da ‘racionalidade’ das contas públicas e da palavra honorável do Estado que manda as pessoas pró caralho

  10. “Nik, que fez o Sarkozy que aches imitável cá no burgo?”

    Valupi, eu respondo-te: arranjar uma boa zona. Os portugueses só arranjam maltrapilhos.

  11. também acho. a maria ia casar à américa e o nosso presidente casava com, sei lá, talvez a linda evangelista. era um bonito nome para uma primeira dama portuguesa.

  12. Val: a palavra imitar é tua, a que te convém. Quando muito a atitude de Sarkozy poderia ser imitada. A atitude de um governante sintonizado com as preocupações de grande parte do seu povo, que não tem medo das acusações parvas de ser xenófobo ou racista, vindas de uma esquerda que gosta de ser parva e estar na oposição.

    Concretamente, como ministro, fez um proj de lei sobre imigração (aprovado em 2006), tendente a acabar ou diminuir fortemente a imigração clandestina, promovendo a imigração legal, que é a que permite ter algum controlo, seleccionar candidatos, estabelecer quotas de procedência e, em geral, ter uma política de imigração, como os EUA (esse país xenófobo e racista!) têm desde sempre.

    Susana, usas o termo miscigenar como uma experimetadora de laboratório. Também queres estabelecer METAS de miscigenação?

  13. z, as palavras socialismo, socialista são um grande engano, sempre foram. O teu socialismo não é o único legítimo e nada tem a ver com o de Sócrates e vice-versa.

    Lembro-me às vezes da história dum comunista que foi preso pela polícia de Stalin na famosa Lubyanka, sede e prisão do KGB. Dum postigo da retrete conseguiu ver a bandeira vermelha a esvoaçar no topo do Kremlin. Só assim se convenceu de que não tinha havido um golpe de Estado na União Soviética. O KGB não ia prender um comunista, não é?

    O PS está muito habituado, desde 1975, a que toda a esquerda à sua esquerda pense que os votos no PS andam enganados e extraviados, que o ‘socialismo’ não mora ali…

  14. Nik, eu já não me reclamo do socialismo, já que as soluções estatizantes se mostraram tão cerceadoras das liberdades. O meu voto é táctico – o que eu reclamo é dos direitos constitucionais, marco fundamental de um suposto Estado de Direito.

    Eu sei que a política ‘realista’ é essencialmente uma máscara de hipocrisia e dissimulação, e que disso sempre viveram os porcos triunfantes na sua obesidade.

    já agora: Sayed, jornalista afegão, 23 anos, condenado à morte, sem encontrar advogado que o defenda por medo de retaliação, hoje no Público

  15. Sarcozy déve ter um maudito compléxo d’inferioridade!!precisar d’uma caixa de madeira para falar no micro.

  16. Se o Sarco nâo tivésse filhos eu deria que tem um “zizi sò par as exposiçôes”terà compléxos com a starléte!!?!

  17. Por isso é que sublinhei as metas, Susana. Pareceste-me um miscigenadora pró-activa e militante tipo ASAE. Ou soviética, com plano quinquenal de miscigenação…

    K’é k’sé une zigounette, Claudette? Não faças de nós inguenorantes.

    z, pensei que eras mesmo da bafienta, tu o disseste.

  18. Val, agora reparei que a teoria do VPV é a do espaço vital, o lebensraum nazi, só que virada do avesso. Ele, VPV, de facto tinha uma coluna Às Avessas, que depois deu livro, quando o gajo ainda se podia ler.

  19. mas Nik, eu agora tenho de sair, mas se quiseres uma sessão de Sociedade de Geographia vamos lá a uma cachimbada. Fazemos de Blake & Mortimer alternadamente ou parecido. O que me irrita é a nossa desvinculação, de cidadãos, da discussão da economia. Por que raio o BCE não há-de assumir parte dos encargos com as pensões de reforma dos cidadãos europeus, se é isso que também está a sufocar e economia? Por que razão já não há governantes que digam ‘não pagamos’ a propósito do serviço da dívida externa e os seus juros galopantes? Algures no século XVI ou XVII resolveu-se uma situação assim.

    Ontem trespassou-me um soluço existencial ao ver a fleite feita boazinha a dizer que o principal problema é social, já não é o problema das contas públicas

    Mas que falta de imaginação é que anda aqui numa época em que o dinheiro é digital?

    Isto sem falar no Burroso, ele deve a Portugal o lugar, ou não fora a cimeira das Lajes

  20. z, votes onde votares, não respondeste: que devia estar o Governo a fazer que não está, seja por opção ideológica ou incompetência técnica?

    E outra: a “esquerda bafienta” quer o quê para Portugal?

    Quanto à temática das reformas, ainda pior: não as querias feitas? Ou não estas? Ou não assim? Demasiadas interrogações.
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    claudia, “arranjar uma boa zona”, escreveste. E de facto. Mas eu preferia que contasses mais pormenores desse sonho com o Cavaco almariado por tua causa.
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    Nik, tens razão quanto ao Sarkozy. As imigrações têm, inevitavelmente, de receber crescente atenção e cuidado.

    Aconselho-te é a aplicares essa linha de raciocínio quando lês textos onde se fala de terrorismo islamita. Isso de não ter medo de acusações parvas de xenofobia e racismo dá um grande descanso ao deitar (e ao escrever ou falar).
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    shark, sábias palavras.

  21. Valupi, almariado? É um neologismo valupiano? Amado pela alma? Tens que me explicar…
    Bah, bah, não vou contar… Sonhei que ele se esquecia de todos os protocolos e deveres oficiais só para me convidar e me seguir por toda a parte. Agora, quando o vejo no TV, fico toda envergonhada. Não sei o que me passou pela cabeça…

  22. Tens razão, claudia, a grafia é: almareado. Do verbo almarear. E, pelo que contas do teu Cavaco onírico, era mesmo assim que ele estava.

  23. 1. só respondo quando me apetecer. Mas ao fazeres as perguntas também vais ter que dar as respostas

    2. és um fã da produtividade e da competitividade, não, Valupi? As estradas saturadas de pópós tudo muito produtivo e competitivo devidamente engarrafado. Queres menos gente a trabalhar muito mais, não? Pois eu quero mais gente a trabalhar menos. Em nome da qualidade de vida e saúde mental dos meus compatriotas

    sou contra a produtividade e a competitividade como esteios maxime, pela floresta mediterranica e contra o eucaliptal

    faz-te muita impressão o perdido no fundo? Mas é aí que estamos portanto venha o fundo perdido

  24. claudia, a tua semântica para a palavra é original, mas creio que possível.
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    z, respostas é comigo mesmo. Quanto às estradas saturadas de popós, e não sei quê de menos gente a trabalhar mais, não é nesta repartição. Aceito, contudo, qualquer fundo, perdido ou por achar.

  25. Ainda bem Valupi que também procuras respostas, e melhor ainda se já as tiveres achado. Anda aí uma coisa diabólica ‘blame the victim’ a lixar-nos a todos e eu vou-me a eles.

    Que se trabalhe melhor, isso sim, com mais qualidade, restabelecendo laços fiduciários, e daí emerge naturalmente a produtividade – não esquecendo que numa floresta madura tens uma enorme riqueza e diversidade mas a produtividade primária líquida, medida em termos de crescimento em biomassa, é quase nula

    Espero que o Cavaco leia isto, ele era gamado em eucaliptais mas agora com a idade já deve estar mais carvalho ou castanheiro talvez

    «Aceito, contudo, qualquer fundo, perdido ou por achar.», idem e espero que dê acesso ao Céu que eu gosto de voar

  26. Almarear é palavra moura, alentejano-algarvia, que quer dizer ou – enjoar, ficar tonto e, por extensão, despassarar, flipar, amalucar. Andar almareado é não estar lá muito bem da pinha ou com uma ganda neura. Tem relação com o mar, portanto, Claudette. Ainda não me disseste o que é uma zigounette

  27. Encontrei isto também:

    almareado – adj. (de almarear) diz-se de pessoa perturbada, com as faculdades pouco lúcidas. Agoniado, enjoado. Embaciado, baço (referindo-se a metais), in Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua Portuguesa.

  28. z, o “blame the victim” pode ser bem intencionado, e útil. Pode ser, repara no condicional. Quanto aos “laços fiduciários”, pois são esses que têm estado no topo das preocupações governativas, daí o ênfase nas contas públicas. Isto é, conseguir ter um Estado bom pagador é motor da economia. E conseguir ter um Estado zelador dos seus haveres (impostos, mas não só) é decisivo para a economia.

    O que aumenta a produtividade é sempre uma e a mesma coisa: a inteligência. Pois que até países com recursos naturais em abundância dela carecem para serem ricos. Ou remediados, que vai dar ao mesmo.

  29. foste meiguinho. Pois olha eu hoje já mordi o Socras que se lixou e bem precisa, para cogitar cá umas coisas – agora que deixou de fumar falta-lhe o monóxido do Cartésio, espero bem que ele recaia

  30. (tu não achas que aquele pinguim que levou com o foca almariado ficou logo a perceber de Teoria da Relatividade? É muito mais insinuante que a maçã do Newton. Aprendi com a Zazie que descobri na ribeira uma pedra de alfiz, nome lindo que não conhecia)

  31. Valupi, hei-de ver o significado dessa palavra. Por ora, ando metida em livros ancestrais sobre a história do país e faço umas visitinhas por Cinfães (Museu Serpa Pinto). Vale pelas esculturas que estão cá fora. :-) Tenho que ler Como atravessei a África…

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