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Não sabia que a “burqa” estava na ordem do dia, mas a posição do PS surpreende-me

Não deve haver em Portugal muitas mulheres que enverguem a burqa. Eu ainda não vi. O niqab sim, já vi, e fiquei bastante impressionada com o conformismo e o estoicismo que aquelas mulheres revelam, sobretudo no Verão. Mas hoje, as notícias dizem que foi votada, assim de repente, uma proposta do Chega na Assembleia da República que visava a proibição (ao que parece apenas da burqa!)  no espaço público invocando razões de segurança e de igualdade.

Evidentemente que, vinda do Chega, esta proposta tem todas as intenções e mais alguma menos a de garantir a igualdade entre os sexos. No entanto, expurgando a proposta dos seus autores do momento*, todos devíamos concordar que a burqa ou o niqab, pelo que representam de opressão das mulheres (e as iranianas que o digam), não podem ser aceites no espaço e nas instituições públicas de um país ocidental civilizado. Fora de casa, as mulheres não devem transformar-se em vultos, sem identidade, sem personalidade, sem corpo, por força de princípios de insegurança masculina, ou de convicções sobre a inferioridade feminina, ditados sabe-se lá por que tarados há não sei quanto tempo.

Antecipo já as idiotices que irão ser ditas sobre a liberdade de cada um de escolha da indumentária, a liberdade religiosa, a comparação com as freiras católicas, a tolerância e por aí fora. Não me convencem. Nunca me convencerão. A burqa e o niqab são mais do que uma indumentária, são um símbolo de uma civilização oposta à nossa (inferior mesmo, arrisco dizer) em matéria de costumes e não só, não são uniformes de uma congregação restrita que, só por si, não representa a posição do catolicismo em relação às mulheres, e só são impostas às mulheres. Além disso, considero o voto contra  um desrespeito por todas as corajosas raparigas e mulheres que foram presas ou mortas em determinados países por quererem desenvencilhar-se de tais trapos e deixar o cabelo ao vento. A posição do PS é incompreensível. O que é que acontecia se tivessem votado a favor? Nada de mal e tudo de bom, assim tivessem querido ao mesmo tempo subalternizar o Ventura e sus muchachos (machistas e boçais) e defender os valores da dignidade, da igualdade, da liberdade e distanciar-se de vez dos retrógrados da geringonça, que se borrifam para todas as religiões (e bem), menos a islâmica. Mas está difícil. O argumento de que, assim, as pobres mulheres não vão sair de casa é risível, além de ridículo. Pelo contrário, se a perspectiva é a de não poderem sair de casa, talvez façam qualquer coisinha para sair dessa escravidão. Estão em Portugal, afinal.

*A propósito do asterisco lá atrás, deixo aqui a lista dos países europeus que proibiram ou restringiram o uso da burqa ou do niqab em locais públicos, instituições de ensino, hospitais, etc., sem que tivesse sido o André Ventura, demagogo e populista execrável, a propor:

França, Bélgica, Áustria, Bulgária (proibição total); Países Baixos, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Itália, Espanha (Catalunha), Noruega (proibição parcial ou localizada); Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Rússia (proibição em certos locais/regiões).

As razões foram várias, mas não certamente o racismo. Se tiver sido a islamofobia, a culpa é deles? Deve haver sequer culpa?

Arraial, arraial, por Portugal

«O que me parece que existe neste caso de Ivo Rosa é algo que é absolutamente habitual na actuação do Ministério Público, o que é raro é que isto seja feito relativamente a um magistrado judicial. [...] Esta espécie de instrumentalização do processo penal, de medidas altamente intrusivas dos direitos, liberdades e garantias, não em função da tentativa de apuramento de crimes, mas de pura e simplesmente andar à procura de coisas, isto é típico de Estados policiais. Isto é o que fazia a Stasi, isto é o que fazia a KGB, isto é o que fazia a PIDE. [...] Isto ocorre há muito tempo. Isto ocorre perante ou a passividade, ou a inoperância, ou a cumplicidade de sucessivos responsáveis da Procuradoria-Geral da República. [...] Neste momento, não só podemos pensar que há uma intimidação do sistema político, como podemos pensar que há também uma intimidação do poder judicial. [...] É uma questão de regime, a de saber se nós temos separação de poderes, se nós temos o respeito pelo Estado de direito dentro dos próprios operadores judiciários, e se os magistrados judiciais vão ou não ser o garante do Estado de direito e das liberdades, ou vão ser um instrumento ao serviço do Ministério Público.»

Pedro Siza Vieira

«Este caso do juiz Ivo Rosa é de facto muito grave, e eu tenho pena que o Senhor Presidente da República ainda não se tenha pronunciado sobre isto. Tinha que meter o dedo na ferida. A ideia que fica para a opinião pública é muito simples: este juiz estava a decidir contra a opinião do Ministério Público, passa a ser investigado. Ponto. E a partir daí isso também é um sinal para os restantes: "Quem manda somos nós, e vocês ou se portam bem ou nós vamos atrás de vocês". Essa forma de o Ministério Público actuar é completamente inaceitável. [...] Sobre um crime que se passa dentro de casa, que é as fugas de informação, não há uma investigação. Isto significa que todos nós podemos ser acusados, se cometermos crimes temos de pagar pelos crimes que cometemos, mas aqueles senhores podem cometer crimes diariamente e nunca são responsabilizados pelos crimes que cometem. E não há crimes bons nem crimes maus. Um crime é um crime, e isto é um crime.»

Duarte Pacheco

Pedro Siza Vieira e Duarte Pacheco são duas prestigiadas figuras da elite política nacional, tendo já desempenhado cargos de alta responsabilidade política. Comungam também por terem uma invariável pose de estadistas, respeitando as regras de decência e deferência no trato das questões públicas e na relação com os diversos agentes políticos e comunitários. Não se venderam à indústria da calúnia, discursam a partir de uma assunção de honra e, portanto, responsabilidade.

Pois aqui estão eles em sintonia, fazendo em público uma das mais alarmantes denúncias que é possível conceber em democracia — a de que temos um Ministério Público que viola o Estado de direito democrático; portanto, que comete crimes impunemente. Que o mesmo é dizer que estamos numa situação de irregular funcionamento das instituições, agravado tragicamente pela cumplicidade do sistema partidário e, principalmente, do Presidente da República.

Estas palavras lancinantes e implacáveis não geraram qualquer comoção popular, nem reacção fosse de quem fosse. Os patrões da imprensa, os editorialistas, os jornalistas e o comentariado, a que se somam os deputados, são todos igualmente cúmplices. Sabem o que se passa, sabem o que significa, sabem as consequências, mas alinham porque há diversas agendas que se juntam com a mesma finalidade: é preciso que o auto-de-fé de Sócrates, em que uns foram linchadores e outros cobardia, se consume. Estar a dizer que o Ministério Público violou a lei com o Ivo Rosa dá azo a que, por maioria de razão, se leve o bom povo a pensar que fez o mesmo na Operação Marquês. E isso seria uma chatice do caralho para o projecto de manter o País subjugado por criminosos que juraram defender a Constituição.

Perguntas simples

Quando Marques Mendes disse que Ivo Rosa era “um perigo à solta” — Abril de 2021, já a devassa do Ministério Público estava em andamento — tratou-se apenas de mais um dos seus exercícios de difamação e calúnias ou foi em consequência de este conselheiro de Estado ter sido criminosamente informado da investigação em curso, querendo aparecer como vidente do que julgava ser a iminente prisão do perseguido e odiado juiz?

Uma grande força popular

Há uma declaração de Paulo Raimundo, em Janeiro deste ano, que diz tudo o que de essencial há para dizer sobre o PCP: Segundo o secretário-geral do PCP, o partido está empenhado em “transformar a CDU naquilo que ela é, uma grande força popular”.

Se a CDU já é uma grande força popular, então não há transformação possível sem que a CDU deixe de ser uma grande força popular. E se a CDU precisa de ser “transformada” para ser uma grande força popular, então a CDU actualmente não é uma grande força popular, o que cria uma contradição de identidade. Estamos perante uma violação do princípio de identidade em lógica formal: A = A (uma coisa é idêntica a si própria). A expressão sugere simultaneamente que A = A e que A ≠ A. Este oxímoro, entretanto, tem mais de 50 anos de presença na retórica dos comunistas portugueses porque eles consideram-se a si próprios como os legítimos proprietários (e monopolistas!) do 25 Abril. Há ponderosas razões para tal, com muito sofrimento e heroísmo nas biografias dos seus militantes e simpatizantes na luta contra a ditadura, a que acresce uma ideologia com a densidade do Antigo Testamento e a simplicidade dos Evangelhos. Naturalmente, estabilizada a democracia, quando os eleitores de imediato passaram a preferir ser governados ora pelo PS, ora pelo PSD, eles sentiram-se roubados. O povo é deles mas não são eles que tratam do povo. E é nesse estado mental que se mantêm até hoje. Preferem passar fome (de poder) a perderem a pureza religiosa que é só o que lhes resta para suportar o sentido da vida.

O PCP não queria que o PS ganhasse as eleições. Se quisesse, ou tinha aceitado o convite para a Viver Lisboa ou desistiam de participar e mandavam a sua gente votar nos socialistas. Mas o PCP também não queria ganhar as eleições, pois para tal teriam de começar a agitar as bandeiras do PS, do PSD e do Chega, todas ao mesmo tempo enquanto metiam a sua cassete numa gaveta, na loucura de esperar receber votos desses eleitorados. Impossível, apenas aqui deixo a caricatura para ilustrar o argumento. Então, que queria o PCP para Lisboa nestas eleições autárquicas? Resta só uma resposta: queriam o que veio a acontecer.

Ter o PCP na Viver Lisboa levaria a uma outra dinâmica de campanha, recuperando-se o prestígio e a esperança dos tempos de excelente memória de Jorge Sampaio. Ao mesmo tempo, caso fosse vitoriosa a coligação, tal daria a João Ferreira quatro anos de intensa promoção de imagem, naturalmente deixando-o nas melhores condições possíveis para suceder ao banana Raimundo e conseguir chegar a eleitores que desconhecem completamente qual a história do PCP antes e depois de 1974. Pelo meio, o PCP estaria a influenciar decisivamente as políticas da Câmara, assim cumprindo o que apregoa fanaticamente, essa entrega aos verdadeiros e profundos interesses do povo mais povo. Mas lá no Comité Central votaram noutro caminho, dado serem todos cientistas da História. Optaram por um futuro sem contaminações burguesas, longe desses traidores do PS e quejandos. Assim impunha a luta de classes como processo dialéctico.

A dialéctica fez-lhes a vontade: por 11 votos, perderam um vereador e ficaram atrás do Chega. Se não fossem uma grande força popular, as coisas poderiam ter sido bem piores.

Em Lisboa, perdeu o Pedro Nuno e… a flotilha

O PS tem que esquecer de vez a geringonça. Teve o seu momento, em circunstâncias muito específicas (depois dos anos negros da dupla Troica/Passos Coelho), mas acabou. Por duas razões: o PCP, sobretudo desde que começou a guerra na Ucrânia, passou para um nível de contradição, desadequação e repúdio que jamais tivera, o que se soma à morte do comunismo enquanto ideologia política. E que não se pense que os 10% que a cara laroca do João Ferreira conquistou passariam directamente para a coligação, caso se tivesse querido juntar. Não passariam, e a Alexandra Leitão também não ganharia.

O Bloco tem-se afundado lentamente por falta de objectivo, pelo definhar do esquerdismo e porque a liderança da Mariana Mortágua só veio agravar a situação: nada empática, pose rígida, fraca oradora, mais à vontade em salas de interrogatório. Ultimamente, o grande objectivo de ser presa pelas autoridades de Israel, a exibição de tal acontecimento como troféu e prova da maldade dos judeus e a ideia mítica de Gaza contribuíram para a sua descredibilização. Oh, que imbecil, então não és sensível à vontade de levar ajuda a quem sofre? Neste caso, perdoem, mas não. Se a Mariana não tivesse sido detida, a viagem teria sido uma desilusão e um flop para ela (já que os “alimentos” eram apenas um pretexto). A situação naquela parte do mundo não é classificável na simples dicotomia de “os bons e os maus”. A dita ajuda, a existir, era tão insignificante que nem a Sofia Aparício (que vi em entrevista num canal) sabia bem em que consistia nem onde seguia. Depois, o sonho daquela gente de “ver Gaza e morrer” (salvo seja), como testemunhei ao ouvir uma inglesa da flotilha num outro canal, era tão alucinado que só provoca dó ou o riso. Gaza é uma situação demasiado séria para ser tratada por poetas. Poetas à distância, pois se penetrassem naquele antro e sobrevivessem depressa se deixariam de romantismos. Por isso, não,  a Mariana junto à Alexandra Leitão não foi bonito de ver e, pior do que isso, não lhe deu votos.

Seja como for, a Alexandra Leitão não foi boa escolha e eu própria teria dúvidas sobre o meu voto não fora o Moedas ser a tamanha incompetência que é. Continuo a não perceber, porém, mesmo com o handicap da Geringonça, por que razão se votou maioritariamente naquela incompetência. Vão ser mais quatro anos de estagnação, que muitas freguesias da capital preferem à coligação “das esquerdas”. Dá que pensar e o José Luís Carneiro, que até me está a surpreender pela positiva, pela sua vitalidade e simpatia, tem algumas arrumações  e revisões de estratégias a fazer no partido.

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Dominguice

No programa dos quatro caluniadores profissionais pagos pelo Balsemão voltou-se a censurar o maior ataque ao Estado de direito democrático desde o 25 de Abril. O nome Ivo Rosa só tem gasto com estes pulhas se for para continuarem a campanha de difamação que alimentam há anos. Nem mesmo a abertura de averiguação, pelo Conselho Superior do Ministério Público, ao inquérito que devassou o juiz durante três anos os levou a tocar no assunto. Em vez disso, Ricardo Araújo Pereira fez uma equivalência entre Sócrates e Ventura, e os outros igualmente se agarraram a Sócrates não sei quantas vezes. A Sócrates e às pilinhas uns dos outros. Mesmo como espectador muito ocasional desta bosta, os momentos em que fazem piadinhas nervosas e acéfalas com a temática genital masculina parece-me uma constante. Será por imposição do contrato?

Mas com este bafo a balneário, não espanta que Sócrates seja a sua grande paixão — porque gostos são gostos. Viva o amor, sem preconceitos!

Ivo Rosa (ainda) não foi torturado, informa o Ministério Público

Na passada segunda-feira, à tardinha — uma hora e tal depois de Marcelo ter descansado os criminosos do Ministério Público afiançando que Parlamento, Governo e Presidência não iriam mexer uma palha para defender o Estado de direito democrático, a legalidade e a vítima Ivo Rosa — saiu um comunicado da Procuradoria-Geral da República onde se confirmava o que já era público: o agora Desembargador tinha sido perseguido e devassado durante três anos.

A imprensa destacou a seguinte passagem: “não foram efetuadas quaisquer interceções telefónicas“. Fixe, né? Sugere que houve cuidado em proteger a privacidade do alvo, e que tudo não terá passado de um acto contemplativo bué à distância, sem qualquer importância. Acontece que não se discrimina a seguir o que realmente foi feito a Ivo Rosa. Não sabemos sequer se para os procuradores e agentes da Judiciária as mensagens por SMS e WhatsApp entram no âmbito conceptual de uma comunicação telefónica. Seguramente, o correio-electrónico não. O que se sabe é outra coisa, farfalhuda, que reza assim: “A prova, uma vez recolhida, careceu de análise.

Essa frase é uma tautologia. Qual a prova (a prova!), uma vez recolhida num inquérito judicial, que não carece de análise? Inclusive para batráquios e anémonas, nenhuma. Pois se é a prova, estúpido. Porém, abre-se uma perspectiva interessante, a de que a frase esteja a implicar que haja inquéritos no Ministério Público onde a prova não careça de análise. Por isto ou por aquilo. Alguém lá dentro decide “Eis a prova”, e depois não se procede à sua análise, segue tranquila para a acusação. Com sorte chega ao tribunal com a virgindade intacta. Admitindo esta metodologia, a frase teria como objectivo mostrar uma especial deferência para com Ivo Rosa, como quem diz “Vejam, até analisámos as provas por ser para ele, um juiz”. Porém, aplicando os celebérrimos “padrões do homem médio” com que os juízes despacham a torto e a direito, uma outra hipótese aparece como muito mais provável: o comunicado contém essa frase para justificar os três anos da devassa.

Indo por aqui, começa a parecer lógica, inevitável, a demora. Repare-se: a denúncia anónima dizia que Ivo Rosa tinha comprado um Audi TT com dinheiro fresco, em notas, vindo do Sócrates. Se fosse outra marca, especialmente outro modelo, teria sido muito rápido averiguar a credibilidade da suspeita. Podiam até recorrer à genialidade de usar a matrícula para desvendar tudinho sobre o carro em minutos, caso não quisessem incomodar o actual proprietário com a pergunta. Só que, azar do caralho, tratava-se de um Audi, e logo de um TT, viatura mundialmente famosa por se esquivar a revelar a idade e as relações que já teve com pessoas que lhe põem as mãos no volante (e noutros sítios). Assim, os coitados dos procuradores tiveram de recorrer a meios alternativos, sofisticados, criativos. Por exemplo, geolocalização do alvo. Começando a mapear as deslocações do juiz, acrescentando uns agentes à paisana para tirarem umas fotos e tal, a esperança era a de que pudesse aparecer uma pista acerca da data em que o TT primeiro amparou o meritíssimo traseiro na berlinda. Outros procuradores, já impacientes com a dificuldade na obtenção da prova, resolveram ir a Fátima de joelhos, mas com um desvio pelo Pedro dos Leitões na Mealhada. ‘Tá claro que isto tudo atrasou o inquérito, e até podemos ponderar se três anos não terá sido, afinal, muito pouco tempo para a investigação dada a magnitude do desafio: apanhar o Documento Único Automóvel de um Audi TT.

Conclusão. Temos de agradecer ao Ministério Público por ter vindo a terreiro, com exemplar transparência e incrível coragem, garantir que não se fizeram intercepções telefónicas ao maldito juiz. Creio ser justo reconhecer, a partir desse gesto magnânimo do actual procurador-geral da República, que o Ministério Público também nos está a transmitir que Ivo Rosa (ainda) não foi torturado. Provavelmente, pela mesma razão que levou aos três anos da exaustiva investigação: os procuradores andaram assoberbados de trabalho na análise da prova, não tinham tempo nem cabeça para pensar em mais nada.

Apresenta-se o orçamento na véspera de eleições autárquicas (e uma nota sobre outro tema)

Primeira observação: não se percebe por que razão o Ministério Público não abriu ainda um inquérito crime a Luís Montenegro por causa da Spinumviva, da casa de Espinho, etc., quando estão em causa conflitos de interesses, fraude fiscal, abuso de poder e recebimento indevido de vantagem. O facto de António Costa se ter demitido por causa da existência de um inquérito à sua pessoa (e com base na mera menção do seu nome em telefonemas, num caso que não deu em nada, como se previa) não devia ser critério para a opção por uma averiguação preventiva que pouca investigação permite no caso de Montenegro. E a esperteza-saloia de que todos desconfiamos no que toca à sua empresa não é aceitável. Nem jurídica nem politicamente.

Do que veio à luz ontem, deduz-se que os procuradores com o caso nas mãos consideram imprescindível a abertura de um inquérito, mas o PGR, Amadeu Guerra, tem receio de enveredar por aí. E porquê? Por achar que o que está em causa não o justifica? Como assim? Por causa da instabilidade política que tal decisão suscitaria? Por “lealdade” para com Montenegro, que foi quem o escolheu para o cargo? Perguntas legítimas. Até porque falta documentação (pedida há muito) e nem tudo cabe no âmbito de uma averiguação preventiva, como o PGR decerto sabe. Espera pelo fim das autárquicas? O Dr. Amadeu Guerra prometeu não desiludir em matéria de isenção, integridade e transparência. Estamos atentos, mas preocupados, para não dizer “estupefactos e revoltados”. Mas não tranquilos.

Segunda observação: o Passos Coelho anda por aí na campanha a espalhar charme… que horror, desculpem, não sou a Helena Matos nem o Miguel Pinheiro, eternos carentes. Charme nenhum, credo. Espalha sim, mas uma única ideia desde que começou a abrir a boca: a aproximação ao Chega de André Ventura seria algo extremamente positivo para o PSD e para o país. Aliás, ele próprio foi quem lançou o André Ventura na política e, pelos vistos, está a amar as suas poses nazis, o seu discurso violento, as suas mentiras, o seu elogio ao salazarismo, a má educação dos seus apoiantes. Se o Montenegro for à vida, teremos não um, mas dois Venturas nos palcos. Novamente, que horror.

«««««««««««««««««

Sobre Gaza: Contente, muito contente, com o alívio que o acordo representa para a população de Gaza e para os reféns israelitas e suas famílias, assim como para os prisioneiros palestinos libertados. Espero que desta vez seja de vez e considero que só uma solução radicalmente diferente das que têm sido aplicadas até agora tem alguma hipótese de vingar. Chega de mortes. Que se construa algo de positivo e produtivo em Gaza. Chega de dependência de ajudas humanitárias. As pessoas de Gaza são tão capazes como quaisquer outras.

Espero que o problema da Cisjordânia também conte com a colaboração de todos os interessados (árabes, judeus, palestinos, turcos, jordanos, europeus) para a sua resolução, que, a meu ver, tem que implicar o fim dos colonatos, também de uma vez por todas, mesmo que tal implique causar apoplexias nos judeus ortodoxos radicais, fanáticos e alucinados.

Quem nos protege do polícia?

No Fórum TSF: O juiz Ivo Rosa e o silêncio do Ministério Público, de 3 Outubro, três ouvintes quiseram participar para manifestarem o seu apoio ao linchamento de Ivo Rosa. Deram-se ao trabalho de ligar, ficar à espera, e depois usaram o tempo de antena para partilhar a sua iliteracia com os ouvintes. Fica como placa de Pétri da eficácia da campanha mediática e política de destruição do tal juiz. Campanha que começou ainda antes de Ivo Rosa ficar com a Operação Marquês, mas que depois explodiu em violência inaudita, tendo gerado o mais grave atentado ao Estado de direito na história da democracia portuguesa. Se esses três infelizes ouviram o programa até ao fim, fatalmente não entenderam patavina do que foi dito.

Uma das participantes foi Mónica Quintela, ex-deputada do PSD. Deixou uma notável denúncia do escândalo em curso, a um ponto tal que até parece inexplicável a sua pertença ao actual PSD (na verdade, a um PSD já com 20 anos ininterruptos de judicialização da política e de politização da Justiça). Mas o que quero realçar das suas palavras terá, muito provavelmente, passado ao lado da audiência. Que é isto: explicou não ser obrigatório, por lei, avisar o alvo de uma investigação ao ter sido esta arquivada quando a pessoa em causa não foi constituída arguida. Ela deixou esta clarificação porque, no Fórum, alguns intervenientes tinham referido que Ivo Rosa devia ter sido informado da existência de uma investigação a seu respeito na ocasião do arquivamento, pelo menos. Estavam enganados, dado o juiz não ter sido constituído arguido.

Muito bem. Então, atendendo ao contexto tornado público no assunto, quais são as inferências que se podem fazer imediatamente a partir dessa nota de rodapé, sem carência de ir a correr tirar um curso de Direito?

São de arrebimba o malho:

i. O plano do Ministério Público era, de facto, o de deixar na ignorância Ivo Rosa a respeito da devassa que lhe foi feita.
ii. Ninguém fora do Ministério Público e da Judiciária sabe qual a informação que foi recolhida acerca da vida privada de Ivo Rosa e quantos indivíduos tiveram acesso a ela. Daqui decorre que os cidadãos não sabem o que vai ser feito, e por quem, com essa informação. Se calhar nada, se calhar alguma coisa. Não se sabe.
iii. Os cidadãos sabem que a informação recolhida numa investigação do Ministério Público jamais é destruída, pois para além de ficar conservada em documentos, mesmo que só em parte, quem a ela teve acesso pode ter guardado o todo da mesma ou elementos seleccionados. Se calhar não acontece, se calhar acontece.
iv. Se é possível, como demonstrado só numa das várias investigações do Ministério Público a Ivo Rosa, usar uma denúncia anónima sem pés nem cabeça para saltar logo para uma devassa de três anos a um juiz, e logo este com a sua notoriedade, conseguindo depois manter secreta essa perseguição, então vale tudo. E, por tudo, pode ser: espionagem política, espionagem industrial, perseguição a políticos e jornalistas, chantagens avulsas, conluio com redes criminosas nacionais e/ou internacionais, interferência de serviços secretos estrangeiros. E mais, e mais, e mais. Tudo.

Temos criminosos no Ministério Público? Sim, temos. De cada vez que há uma violação do segredo de justiça por um procurador, comete-se um crime. Mas serão esses criminosos apenas uns pacholas amigalhaços dos jornalistas parceiros no crime, e ninguém liga porque é o PS a vítima preferida e o bombo da festa da indústria da calúnia, ou será caso para se aplicar a sabedoria bíblica, Lucas 16:10, e admitir que muito provavelmente quem comete de forma contumaz um certo tipo de crime — com absoluta impunidade — está a exibir a sua apetência para diversificar e amplificar a prática?

Talvez não, talvez sim. Não fazemos ideia. E os nossos representantes políticos estão-se a marimbar para isso, uns, ou exibem-se como protectores dos criminosos, outros.

Uma estátua para Marcelo

«A República e a Democracia estão hoje bem vivas em Portugal»

Presidente da República_5 de Outubro de 2025

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Ontem, finalmente questionado sobre a perseguição a Ivo Rosa, Marcelo confirmou o que é: cobarde e cúmplice de criminosos. A sua resposta consiste em dizer que se pode varrer para debaixo do tapete a devassa ao juiz. A espionagem correu bem, pois não foi preciso usar o material recolhido dado o serviço das juízas que anularam o que Ivo Rosa demonstrou ser a Operação Marquês. Foi um azar ter sido descoberta, e logo quando estava em vias de ser destruída a prova de ter existido, mas agora basta apelar a uma “reflexão” dentro dos mais opacos órgãos da República, o Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior do Ministério Público, para que o assunto fique arrumado.

É uma mensagem aos mandantes para estarem descansados e continuarem a fazer o que quiserem com os meios policiais à sua disposição, essa violência máxima do Estado:

«Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "o melhor caminho" é haver uma reflexão no quadro interno da justiça em vez de se apelar ao Presidente da República, ao parlamento ou ao Governo, porque isso "levanta outra vez o problema de cá está a política a meter-se na justiça e a condicionar a justiça".

"Se o problema é de saber se a justiça internamente tem problemas de funcionamento, então apelemos aos órgãos que podem, em nome da justiça, apreciar serenamente e refletir sobre isso — sem estar a intervir o Presidente da República, nem se fazerem leis novas por causa do caso A, B, C, D", reforçou.»

Mas o que nos vale é a República e a Democracia estarem hoje bem vivas em Portugal. Se assim não fosse, Ivo Rosa já estaria em parte incerta a fazer de estátua.

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Dominguice

Garcia Pereira publicou uma Carta aberta ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia da República e ao Primeiro-Ministro onde exige uma resposta destes máximos representantes da soberania democrática ao que já se conhece da violação dos direitos do juiz Ivo Rosa por iniciativa criminosa do Ministério Público. Vai ter alguma resposta? Teria melhor sorte se fosse pedir à Serra da Estrela para se deslocar até aos arredores de Beja. O primeiro-ministro é aliado do fulano que representa politicamente os criminosos do Ministério Público. O presidente da Assembleia da República é apoiante da violência verbal no Parlamento vinda dessa choldra. E o Presidente da República alinhou com os procuradores criminosos para derrubar um Governo de maioria absoluta. As três personalidades odeiam Ivo Rosa à pala do Sócrates e gargalham de gozo com todo o mal que lhe possa acontecer com os instrumentos totalitários usados por esse Estado acima do Estado que é o Ministério Público desde 2012.

Ser republicano, neste dia, é reconhecer que Marcelo nos envergonha — e trai. E que teríamos orgulho em ter Garcia Pereira como supremo magistrado da Nação.

Mariana Mortágua está contra o plano de paz para Gaza, mas o Hamas não. E agora? Junta-se à Irmandade Muçulmana? Busca refúgio no Hezbollah?

Estou a ser injusta. Na verdade, há um ponto do plano de paz em que  o Hamas partilha a opinião com a Mariana – não pode ser um governo internacional transitório chefiado por Tony Blair (que ela considera um criminoso de guerra, pelo apoio à invasão do Iraque) a liderar a pacificação e o período de transição. O Hamas (que não disse nada sobre o Tony Blair) defende que essa liderança seja entregue a “tecnocratas palestinos”. Quais e se existem, não sabemos. Mas espero que o Hamas no-los apresente em breve, entregue os reféns e saia de cena. Mariana é mais radical do que o Hamas ao rejeitar liminarmente tal plano, mal ele viu a luz. Basta ler o que publicou. Possivelmente nem a entrega dos reféns lhe agrada. Folgo em saber que o Hamas não lhe deu ouvidos.

A população de Gaza está a passar horrores entre as garras e sobre os túneis do Hamas e as bombas do Netanyahu. Toda a gente que vive fora dali gostaria que o horror acabasse.  Mas a flotilha nada adianta e nada adiantou. Pelo contrário. Se os seus membros, como a Mariana, recusam liminarmente o plano de paz que está em cima da mesa e o Hamas o aceita, só podem querer a continuação da guerra e assim lá se vai o pacifismo e a compaixão por quem sofre. No dia em que o Hamas ou os palestinos reconhecerem o Estado de Israel, a Mariana morre de desgosto ou atira-se da ponte.

É estranho o que acontece, para quem usufrui de toda a liberdade que o mundo ocidental lhe oferece: nunca por nunca ser se vê esta mulher e as alminhas da sua índole a manifestarem-se contra alguma coisa, uma coisinha qualquer, referente aos países muçulmanos, aos islamitas radicais ou aos muçulmanos presentes na Europa que são violentos ou simplesmente rejeitam os nossos padrões de vida. Estes são sempre uns desgraçadinhos, vítimas de discriminação ou do tenebroso Ocidente, onde ela alegremente vive e onde os outros já vivem ou gostariam de viver. Esta esquerda bacoca anda definitivamente do lado errado da História e não admira que se afunde aos olhos do eleitorado. Deixou de atribuir importância à democracia e à liberdade, a não ser para poder defender causas perdidas, não percebe que não há causa mais nobre neste mundo do que defender o que levou séculos a conquistar e é inveja de todos e lutar contra os seus inimigos. Mariana devia ter orgulho de ser ocidental e livre. Mas não. Provavelmente, as pessoas que se manifestam nas ruas pela Palestina “from the river to the sea” são mais um joguete nas mãos dos russos, para os quais todos os meios são bons para desestabilizar o Ocidente – a extrema-direita, a extrema-esquerda, não importa, tudo o que possa desestabilizar é bom. Estão a ter algum sucesso.

E depois entram em cena os movimentos como o Chega (a imitar os MAGA), que visam resolver tudo à força. Donde lhes vem a atractividade? Uma boa parte virá do excesso de compreensão da esquerda para com os desmandos e os crimes de quem não quer deixar a Idade Média e a quer impor aos outros e do seu ódio ao Ocidente, esquerda essa que, ao mesmo tempo, quer ser hiperavançada em matéria de costumes. Tem que se decidir.

Há muito que já estão na falência moral

No Expresso da Meia-Noite de ontem, Ricardo Costa serviu-se de Gaza. Tratou o assunto como se o acordo proposto por Trump já tivesse sido assinado por todas as partes e os camiões com alimentos e medicamentos estivessem a entrar no território, assim justificando a necessidade de falar disso ao dia 3 de Outubro de 2025. Se não dispusesse dessa desculpa hipócrita à mão, teria ido buscar a absolvição de Joana Marques na acção dos Anjos, ou o álbum da Taylor Swift, ou a virose que atingiu o plantel do Benfica nas vésperas do jogo com o Porto. Qualquer assunto lhe serviria para não ter de falar no maior escândalo na Justiça — no regime — em 51 anos de democracia. Um escândalo tão grave que, seja qual for a sua evolução, nós sabemos que não estamos perante actos avulsos deste ou daquele, os quais poderiam ser retirados do Ministério Público com pinças. A origem dos crimes é sistémica, implica os três últimos procuradores-gerais da República, e também envolve a magistratura judicial.

Seguiu-se o programa dos quatro caluniadores profissionais (sim, Carlos Vaz Marques, és cúmplice das pulhices). Esta súcia paga pelo Balsemão tem feito parte da campanha de assassinato de carácter e difamação de Ivo Rosa, têm anos de ataque à sua autoridade e honra. Pois ontem não falaram no seu nome. Dava os 10 euros que tenho no bolso a quem me revelasse se foram eles que o decidiram, do alto da sua canalhice, ou se foi o mano Costa que ordenou a censura.

Na SIC e no Expresso, a violência inaudita feita a Ivo Rosa foi abafada, tratada como assunto terciário, rapidamente saiu da montra. Porquê? Porque a Operação Marquês é um processo político que nada tem a ver com os princípios civilizacionais que deram origem aos códigos das leis que usamos para vivermos uns com os outros em segurança. Para Ricardo Costa, defender Ivo Rosa e o Estado de direito democrático implica o risco de tal poder beneficiar Sócrates. Não lhe pagam para isso.

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório