Já o enalteci, mas merece novo destaque: wikiHow. Esta biblioteca de saberes práticos contém, actualmente, mais de 40 mil artigos, duplicou num ano. Será muito? Será nada se não tiver o que procuramos, e nada será se o conteúdo não servir. É escusado dar exemplos avulsos, em especial de ninharias, pelo que salto para um caso que me interessa sobremaneira: How to End a Controlling or Manipulative Relationship.
Em Portugal não se fala da violência doméstica, a qual tem como mais usuais alvos as mulheres, mas que também se estende a idosos, crianças e vizinhos. Em Portugal não se fala nisto porque Portugal é um país de cobardes, temos de começar por o reconhecer. E não se alivia esta vergonha com a constatação de não estarmos sós na cobardia, de noutras partes do mundão a situação ser igual; e nalgumas vastas zonas ser até bem pior. A cobardia consiste nisso de se abusar dos fracos, chegando anualmente à morte em dezenas de casos, provocando incontáveis agressões físicas e psicológicas, e mantendo milhares de pessoas diminuídas, fragilizadas, em constante sofrimento, perda de saúde e alienação de direitos. Ora, grande número destes casos entram na categoria das relações de manipulação, ainda consideradas normais pela enorme maioria da sociedade. Junta-se os ignorantes aos abrutalhados, polvilha-se com os cínicos, e temos uma cultura cobarde, que varre as histórias de violência doméstica para debaixo do tapete do esquecimento. Casos como os de Albarran, Tallon e Pinto da Costa são apenas 3 átomos da molécula que está na parte final do fim da extremidade da ponta do icebergue. Interessa destacá-los por o seu perfil revelar figuras que não carecem de informação nem instrução formal, indivíduos em quem se delegam responsabilidades públicas e cívicas. No entanto, os seus comportamentos de violência doméstica não se diferenciam dos de um alcoólico sem a 4ª classe. Tal é a desvairada magnitude do problema que ele chega a encontrar cúmplices e coniventes em todos os eixos da sociedade, do pobre ao rico, do iletrado ao intelectual, do crente ao ateu, da direita à esquerda. A propósito, veja-se o que diz um passarão.
Pois bem, este wikiHow sobre o fim de uma relação de manipulação está cheio de bons conselhos. É uma síntese da literatura usual em formatos deste género jornalístico, com a vantagem de estar focado na decisiva mensagem:
Controlling and manipulative people are often produced by external factors such as abusive parents or clinical mental disorders. You cannot hope to change or rescue such a person, as much as you may care for them; the best help you can give them is to (A), refuse to be their victim, and (B), direct them to professional help.
No fundo do fundo, é isto: querer bem a alguém jamais passa por se aceitar ser sua vítima. É precisamente ao contrário.