Esther na escola

‘a estrada de auschwitz foi construída pelo ódio, mas o seu pavimento foi a indiferença’, diz esther, citando ian kershaw. tomo a liberdade de acrescentar a estupidez. porque o ódio é acima de tudo estupidez. e porque a indiferença é acima de tudo estupidez. e porque só a estupidez permite que alguém escreva um texto destes, e o publique, sem perceber que está a exemplificar exactamente aquilo que supostamente pretendia combater.

f.

 

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O infame texto de Esther Mucznik – Hitler na escola – leva-nos para mais um daqueles momentos em que o grotesco à nossa frente nos obriga a pôr como primeira hipótese explicativa a possibilidade de a autora estar doente, ou a passar mal por efeito de trauma recente, ou sob a influência de substâncias químicas capazes de provocarem estados de consciência alterada. Mas a causa mais provável talvez seja mesmo esta que a Fernanda aponta: a estupidez.

A favor, vou citar um excerto particularmente estúpido no abjecto escrito:

O ex-chefe do Governo de Portugal que durante seis anos nos conduziu de vitória em vitória até à situação actual, que fugiu para França e das responsabilidades que nunca reconheceu, e cujo único comentário que exprimiu a propósito do Memorando – que ele próprio assinou – foi que as dívidas não são para pagar, esse homem não merece um espaço de autopromoção numa televisão que é paga com o dinheiro dos contribuintes.

Repare-se que não há neste jorro de fel uma única ideia que se aproveite. Isto é prosa de jota laranja e de taxista. Isto, deixa-me cá ver se arranjo um comparativo ainda mais insultuoso, podia muito bem ter sido assinado pelo José Manuel Fernandes ou pelo João Miguel Tavares. O que me prende em espanto a atenção, contudo, é o preciosismo de se ter ido buscar uma declaração de Sócrates a respeito das dívidas não serem para pagar – que no original reza assim: “As dívidas dos Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se.” Pelos vistos, Esther Mucznik, alguém que viveu em Israel e em Paris onde estudou, respectivamente, Língua e Cultura Hebraicas e Sociologia na Sorbonne, que é membro da direcção da Comunidade Israelita de Lisboa e sua vice-presidente desde 2000, que é fundadora da Associação Portuguesa de Estudos Judaicos e membro dos seus corpos dirigentes, que é redactora da Revista de Estudos Judaicos, que é coordenadora da Comissão Instaladora do Museu Judaico e membro da coordenação do Itinerário Europeu do Património Judaico, sendo ainda co-fundadora da Associação Universos, Associação para o Diálogo Inter-Religioso e do Fórum Abraâmico de Portugal, acha que as dívidas dos Estados são para pagar sob pena de esses Estados passarem por caloteiros.

Estamos perante a metáfora do Estado como família. Consiste esta operação cognitiva em estabelecer uma analogia entre o que se passa na esfera doméstica e o que se deverá passar na esfera estatal e governativa. Adentro nessa lógica, o modo como uma família gere os seus rendimentos e despesas institui-se como matriz do que deverá ser a boa prática na gestão de um Estado: se uma família gasta mais do que ganha, ficará endividada e isso é algo da sua inteira e exclusiva (ir)responsabilidade – portanto, tal-qualmente, um Estado com dívidas é algo a evitar a todo o custo caso este pretenda sair à rua com a cara destapada e não ser alvo dos olhares reprovadores da gente séria, a tal gente que aparenta não ter dívidas nem dúvidas. Esta fórmula tem a beleza da simplicidade, por isso cativa demagogos e broncos por igual. Mas é uma expressão da estupidez, por um lado, e um estratagema ideológico, por outro.

Numa curiosa coincidência temporal, a Shyznogud publicou uma ligação para a obra completa de Jean-Jacques Rousseau – À distância de um clic – onde os valentes poderão apreciar um texto escrito no ano do Terramoto de Lisboa: DISCOURS SUR L’ECONOMIE POLITIQUE. Neste artigo, Rousseau casca em Jean Bodin a propósito de se conceber o Estado como uma família. Bodin tinha recorrido a essa analogia para justificar uma soberania absoluta e indivisível para o rei, o qual figuraria como um pai cujas decisões imitariam a natural ordenação do poder numa casa de família. Rousseau contrapõe que um pai procura adquirir património para o distribuir pelos membros da sua família. Se um rei se reger por estas inclinações e paixões naturais, então não estará a respeitar o interesse público. Bem ao contrário, o rei deve é servir a “vontade geral”.

Um soberano que se dedique a respeitar o bem comum é uma entidade que está sempre em dívida para com a comunidade. Simetricamente, um Estado que emita moeda está no mesmo passo a criar dívida. Só que essa dívida – entenda-se, essa moeda – é exactamente o que vai permitir a produção de riqueza através da sua circulação pela sociedade e pelo Estado. Exactamente como acontece com uma soberania que se cumpre no serviço aos cidadãos, sendo o garante dos seus direitos e liberdades.

Dito isto, não espero que Esther Mucznik deixe de odiar Sócrates. Os mistérios não se desvendam, sofrem-se. Apenas lhe desejo que a sua estupidez não seja tão grande que passe o resto da sua vida na ignorância de algumas noções básicas de economia e de política.

Judite de Sousa acusa Sócrates de ter olhado para ela

A Judite, uma jornalista que não consegue esconder a sua agenda política, queixa-se de Sócrates por este não se ter sujeitado sem resistir às suas tentativas de manipulação. Mas a subjectividade retórica do “olhar feroz” dá bem conta do terreno psicanalítico donde fala e onde se passeia, qual Lady Godiva montada num burrico assustado.

“Sócrates tinha uma estratégia enquanto entrevistado. Fala por cima da pergunta, ignora-a para levar os temas para onde quer”, lembra Judite Sousa. E se o jornalista insiste, “há faísca”.

José Sócrates é um entrevistado “agressivo, duro, muito duro. Tem um olhar intimidatório, o que é muito relevante na televisão. Tem um olhar feroz”, descreve Judite Sousa.

A atual diretora adjunta de informação da TVI, deparou-se muitas vezes com o olhar do antigo Primeiro Ministro quando moderou, estava ainda na RTP, o espaço de comentário entre Sócrates e Pedro Santana Lopes. Continuou a enfrentar em diversas entrevistas o seu “olhar feroz” quando já era Sócrates Primeiro Ministro.

Judite Sousa diz que José Sócrates “tem um olhar feroz”

Os verdadeiros socráticos

Sócrates, o anticristo do laranjal

Quando falamos da reacção da direita portuguesa a Sócrates temos de começar por manter aprioristicamente presentes estes três factos:

– A direita portuguesa deixa-se representar ideológica e moralmente pelo Correio da Manhã.

– A direita portuguesa não se perturba quando um Presidente da República é cúmplice, se é que não foi mentor, de uma conspiração para perverter dois actos eleitorais. E não se perturba porque esse Presidente da República foi eleito pela direita portuguesa, o que permite concluir que a direita portuguesa apenas lamenta que esse Presidente da República não tenha alcançado pleno sucesso.

– A direita portuguesa educou, instruiu e preparou o casal Passos-Relvas para fazer exactamente aquilo que esse casal fez e faz.

A partir destas evidências é mais fácil de entender a grave perturbação que Sócrates provoca na já gravemente perturbada direita portuguesa. Nunca antes tinham encontrado um adversário que lhes tivesse tão pouco respeito, precisamente por conhecer de ginjeira a direita portuguesa. E foi necessário que o mundo se afundasse na maior crise económica dos últimos 80 anos, a que se seguiu de imediato a maior crise da Zona Euro, para que a direita portuguesa tivesse finalmente um programa político de interesse para o povoléu: diabolizar Sócrates.

Convenhamos que não se trata de uma originalidade, pois é algo que se faz desde que há humanos a disputar através do uso da palavra o poder num grupo, algures no neolítico. Mas resulta. Caluniar o adversário, macular o seu nome, assassinar-lhe o carácter é um ímpeto cujas raízes são biológicas, nasce do instinto de sobrevivência e é um exacto substituto da agressão física. O que se pretende é a morte simbólica do adversário através da sua ostracização. Foi neste quadro antropológico que Sócrates se tornou o alvo de campanhas de ódio que não têm paralelo na democracia em Portugal.

Que diria a direita portuguesa se Sócrates fosse um dos seus? Diria que as perseguições de que é vítima ficam na História como a prova provada da sua importância, da sua coragem, da sua excepcional capacidade de liderança que estaria a incomodar os maiores interesses instalados. Aliás, a direita portuguesa o que mais adoraria era poder contratar Sócrates, como se viu aquando das últimas eleições para o PSD. Vários militantes soltaram esse desejo, dizendo que o partido devia abandonar de vez o serôdio cavaquismo de Ferreira Leite, e sua réplica nos baronetes Paulo Rangel e Aguiar-Branco, e entregar-se à juventude desempoeirada de Passos Coelho, o Sócrates do laranjal. Azarinho, ó pás, essa laranja estava demasiado podre.

Mas Sócrates não pertence à direita portuguesa. Circunstância que nos permite observar – mutatis mutandis – um fenómeno de alienação colectiva congénere das grandes perseguições históricas da Inquisição, das Bruxas de Salém, do Ku Klux Klan, do Macartismo. Trata-se de um processo de deturpação cognitiva a uma escala colectiva. No caso de Sócrates, o plano passou por retirar do debate político o contexto internacional que influenciava a situação nacional de modo a hipertrofiar até ao absurdo a responsabilidade do Governo socialista na evolução das contas públicas. Em simultâneo, lançaram-se campanhas negras e planos de espionagem ao mais alto nível, envolvendo magistrados e polícias, de modo a capturar material para continuar a alimentar as campanhas negras e, com sorte, reunir documentos capazes de levar Sócrates a tribunal fosse lá pelo que fosse e desse no que desse. Daqui resulta que existe um número indeterminado de indivíduos, que se calhar até atinge a fasquia dos milhões, a terem como certo que Sócrates roubou uma quantidade estapafúrdia de dinheiro, que esse dinheiro foi colocado em offshores, que é desse saque que ele vive luxuosamente em Paris e que as autoridades nada fazem para o apanhar apesar de toda a gente saber o que aconteceu porque… ele é o Sócrates – quer dizer, porque ele tem poderes sobrenaturais, ele não é humano, ele é um monstro.

A direita portuguesa, a direita do Correio da Manhã, mas também a direita do Pacheco Pereira que andou a jurar que Sócrates tinha um gabinete onde se utilizavam técnicas dos serviços secretos para assim controlar não se sabe bem o quê ou quem que ele essa parte já não explicou por manifesta falta de tempo, e a direita da Manela que chegou a verbalizar o seu pavor caso Sócrates derrotado em Junho de 2011 continuasse como deputado, e a direita do Cavaco que não descansou até o derrubar e depois ainda o continuou a maldizer, e a direita dos direitolas dirigentes e arraia-miúda que escrevem, gritam e cantam mil vezes ao dia o estribilho “Sócrates levou-nos à bancarrota”, toda esta gente seríssima e competentíssima vive fascinada, obcecada e desvairada com Sócrates. Sãos eles os verdadeiros socráticos, coitaditos.

Pato sem laranja

Hoje às 17h 30, parado num semáforo, estive a observar um pato de pescoço verde, vindo provavelmente da Gulbenkian, a atravessar paulatinamente as faixas de rodagem da Praça de Espanha. Pelo seu pé, sem pressa, com aquela bonomia olímpica dos patos andantes. Escolheu o momento e o local certo para não ser esmagado pelos muitos carros que ali passam a acelerar àquela hora. Não foi pela faixa dos peões, porque os primatas não lhe inspiram confiança. Tinha em alternativa a locomoção aérea, sem gasto de pitrol, mas optou pela travessia à pata. Ou à pato, que não lhe lobriguei o sexo. Estaria ferido? Não parecia nada. Quando chegou a meio do percurso perigoso, subiu para o lancil do separador e estacou, como quem diz: “Metade já está!” Bateu as asas, lançando um nuvem de gotinhas à sua volta, porque estava a cair uma chuva miudinha. O equipamento de voo também estava operacional, por consequência. Depois olhou calmamente em volta, talvez para verificar as luzes dos semáforos, mas é hipótese que não posso confirmar. Uma buzinadela atrás de mim impediu-me de continuar ali a admirar o génio tranquilo de um pato sem laranja, mas com tomates.

Subitamente, há comentadores a mais

Há gente que, de repente, descobriu que há comentadores partidários a mais. Que não devia sequer haver nas televisões comentadores que tivessem ocupado cargos governativos ou que fossem simplesmente políticos. Como se houvesse politólogos ou jornalistas totalmente isentos e imparciais. Não há, embora se façam passar por tal. O engraçado é constatar que, até ter sido anunciada a presença regular de Sócrates na televisão, ninguém reparara nesse fenómeno, que aliás não era considerado fenómeno algum (e possivelmente não é, analisado impessoalmente). Marcelo, um ex-dirigente partidário, a debitar semanalmente a sua visão intriguista, distorcida, maquiavélica e, no final, lúdica da política, sempre defendendo o seu partido, é algo tão natural como beber um vodka e comer um croissant. Marques Mendes, outro ex-dirigente partidário, a dar-se ares de grande conhecedor dos meandros da atual governação e a servir de canal anedótico de mensagens do Governo, também é naturalíssimo, instrutivo e até divertido. O próprio leva-se a sério. Bloquistas, comunistas e centristas, como Louçã, Otávio Teixeira ou Pires de Lima e Bagão Félix, a defenderem as perspetivas dos seus partidos, quando não os seus interesses pessoais e profissionais, nos ecrãs e a solo – todos uns queridos, afinal estão a esclarecer e a educar o povo com a sua sabedoria e a garantir a pluralidade. Agora, Sócrates, o alvo de todas as acusações, isso é que não. E que argumentam, em fim de prosa, para não parecerem censores? Ora, que a função é menor. Comentador? Os comentadores não valem nada, aquilo é uma comenda em fim de carreira, sem peso algum. Perguntam, aliás, o que faz um político a comentar a atualidade política? E por aí fora, notando nós o quanto já começou a campanha de desvalorização do que quer que seja que Sócrates tenha decidido fazer com o novo tempo de antena. Como os entendo.

O certo, meus caros, é que os comentadores andam há muito tempo por lá. E dizem o que dizem e de quem dizem. E o que dizem, como se fossem gurus, é reproduzido nos jornais. Os próprios sabem que vão ser citados no dia seguinte e arranjam frases a preceito. Da parte dos de direita, em clara maioria, é um círculo vicioso de maledicência focalizada e de falsificação que só pode ser contrariado, believe it or not, num primeiro momento, com uma entrada na dança ou, se quiserem, com a conquista da praça. Entretanto, se quiserem acabar com os políticos-comentadores, façam o favor. Não é difícil saber por onde começar.

Remodelação à moda do CDS

Nas mesmas declarações em que afirmam que o Governo deve ser remodelado, elementos do CDS presentes na reunião da comissão política do partido afirmam também que uma crise no executivo neste momento seria tudo menos desejável (Telmo Correia). A isto chama-se pressão insuportável sobre a outra força da coligação, então não? E o que dizer da exigência de substituição de Álvaro Santos Pereira e Miguel Relvas mas não a de Vítor Gaspar? Se acham, como dizem, que a austeridade foi longe demais e as medidas governamentais descuraram a economia, parece-me que o responsável por isso tem a cara do Ministro das Finanças, ou não? Olhando para as contas públicas, que satisfação traria aos portugueses e que frescura traria ao Governo a substituição de duas anedotas (sim, motivo para saírem, embora devessem ir acompanhados pelo líder do bando) e a manutenção do ministro que até agora decidiu a política orçamental e o modo de execução do Memorando? Gostais dele, senhores?

Declaração política do Deputado Pedro Marques: “Um Governo Falhado, em Guerra com o País”

 Conhecemos finalmente os resultados da sétima avaliação do Programa de Ajustamento. Única conclusão possível: O Governo voltou a falhar!

A recessão mais do que duplicou, o desemprego já vai em 17,6%, um recorde em Portugal. O investimento terá caído cerca de 30% em dois anos, também o dobro do previsto.

O PIB registou em 2012 uma queda de 3,2%, e um recorde histórico de -3,8% no último trimestre, um afundamento sem paralelo no período democrático.

E em matéria de contas públicas, o descontrolo da execução orçamental levou-nos para um défice de 6,6%, muito acima dos 4,5% previstos, e para uma dívida pública de 122% do PIB, mais de doze pontos percentuais acima do objetivo inicial do Governo.

É a espiral recessiva no seu esplendor!

A 20 de Fevereiro, no início desta avaliação, o Ministro das Finanças tinha dito no Parlamento: “nesta nova fase, a prioridade do Governo é relançar o investimento. Este será o tema central do exame regular.” Anunciou também que pediria mais tempo para a consolidação das contas públicas. Registámos a pirueta, mas pedimos ao Governo que fosse consequente, que realmente mudasse de política, que não ficasse a meio da ponte!

No fim da avaliação trimestral, a desilusão com os resultados é total.

O Governo mudou de política na sétima avaliação, deu realmente alguma prioridade ao investimento e à recuperação da economia? Percebeu e agiu perante a maior causa do afundamento económico em curso, a queda da procura interna? Apresentou alguma políticas de apoio aos desempregados?

Não! O que temos é a insistência teimosa em mais cortes de rendimentos das famílias, mais 2,5% do PIB de medidas de austeridade (curiosamente, um valor muito próximo de 4.000 milhões de Euros), prolongando agora a agonia dos portugueses até 2015.

Cortes no Estado Social. Diz a direita que atingimos a asfixia fiscal, mas querem agora juntar-lhe também a asfixia social! A única decisão concreta que saiu da sétima avaliação, foi reiterar e antecipar os cortes de cerca de 4.000 milhões no Estado, em grande parte nas funções sociais. Uma mão cheia de nada de concreto, para o apoio ao investimento ou para estabilizar o crédito, total insensibilidade às consequências sociais e económicas do desemprego e da queda da procura interna.

Esta estratégia faz antever algo de bom para Portugal?

Não! Mesmo nas previsões do astrólogo falhado Vítor Gaspar, a recessão mais do que duplica em 2013, passados menos de três meses do novo ano. O desemprego chegará a tocar nos 19%,outro triste máximo histórico. A emigração continua a drenar os nossos jovens mais qualificados. O investimento não para de cair. Essa que seria a nova prioridade do Governo, prevê-se agora que caia mais 7,6% este ano.

O Governo escolheu continuar na mesma estrada, mesmo se essa estrada está cada vez mais esburacada, mesmo se o caminho de Passos Coelho é todo ele um grande buraco.

Um radicalismo nunca visto, uma estratégia de sobre-austeridade e empobrecimento, a níveis sem paralelo no passado ou no memorando original! Assinaram o memorando original, diziam até que a negociação do programa de ajustamento tinha sido essencialmente influenciada pelo PSD. Mas chegados ao Governo, não satisfeitos, duplicaram a austeridade, em sucessivas revisões do Memorando, através de repetidos e enormes aumentos de impostos. E ainda lhe juntaram uma vontade obstinada de empobrecer os portugueses. A designada estratégia de desvalorização interna, por outros apelidada de empobrecimento regenerador. Cortaram salários e pensões. De modo ainda mais direto e violento, quiseram aumentar a TSU dos trabalhadores, que baixava e muito todos os salários líquidos, e até o Salário Mínimo Nacional.

Aqui chegados, dizemos, sem medo das palavras, este Governo está em guerra com Portugal!

Em guerra com as pessoas, pois não para de as subjugar e asfixiar, sem nenhum horizonte à vista.

Em guerra com as empresas, pois apenas as condena à falência.

Em guerra com as instituições da democracia.

Em guerra com a Concertação Social, em guerras que destruíram o consenso social, como aquando da proposta de aumento da TSU dos trabalhadores. Ou mais recentemente com o corte das indemnizações à revelia do acordo de concertação social. Em guerra com patrões e sindicato, que querem o aumento do Salário Mínimo Nacional, para no Governo apenas encontrarem a vontade de o reduzir ou no máximo de nada fazer. A vontade de não apoiar os trabalhadores pobres, de não apoiar a recuperação da procura interna. Como diz Passos Coelho, não fosse ele tão baixo, o que faria sentido era, tal como a Irlanda, baixar o Salário Mínimo Nacional. E este é todo um programa político, que António Borges estendeu a todos os salários. O Governo queria baixar os salários, em particular o Salário Mínimo Nacional, como se demonstrou no episódio da TSU, e para isso não se importa de enfrentar abertamente os parceiros sociais.

Em guerra com os partidos políticos, apesar das profissões de fé no consenso político. Em guerra com o PS, desde logo, com quem nunca concertou nada antes das avaliações do Memorando, nem muito menos quando decidiu enviar para Bruxelas o Documento de Estratégia Orçamental antes sequer de o discutir no Parlamento.

Em guerra agora até com os partidos da maioria. Essa guerra começou na TSU, passou pelo enorme aumento de impostos, e vai agora na fratura aberta quanto à reforma do Estado. É ver PSD e CDS a defenderem publicamente e à frente de Vítor Gaspar, como ontem na Comissão de Acompanhamento do Memorando, que a reforma do Estado é para se fazer de modo aberto, sem prazos nem montantes de cortes pré-definidos. E é ver o Ministro logo a desautorizá-los, dizendo que as medidas adicionais de poupança na despesa do Estado são para fazer, com calendário definido, em 2013, 2014 e 2015, e bem quantificado, ascendem a 2,5% do PIB. Mesmo contra a vontade de muita gente na maioria, o país continua assombrado pelos 4.000 milhões de Euros, propostos pelo Governo e inscritos no memorando na quinta avaliação de triste memória!

Mas também em guerra com o Tribunal Constitucional, com Secretários de Estado e fontes ministeriais não identificadas a lançarem avisos, que outra coisa não são, senão pressão política sobre as decisões daquele Tribunal, que se esperam para breve.

Em guerra com o Presidente da República, que avisou que o país se encontrava em espiral recessiva, que era preciso portanto adotar políticas que alterassem esta situação, e viu o Governo fazer orelhas moucas a tal aviso. E que voltou agora a avisar que o corte de 4.000 milhões é uma intenção do Governo, mas não deixará de passar pela Assembleia da República, e bem se percebe, pelo crivo da promulgação do Presidente da República.

 

Uma política radical, falhada, derrotada pela realidade. Um Governo em guerra com o país, que não muda, que não vê, que não ouve!

O país precisa de mudar, mudar de política, precisa de outra governação. Precisa de trocar a sobre-austeridade e o empobrecimento, por sustentabilidade e crescimento.

 

 

Revolution through evolution

Men May Have Natural Aversion to Adultery With Friends’ Wives
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Men and Women Get Sick in Different Ways: Developing Gender-Specific Medicine Is a Major Challenge of the Future
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Parents Should Do Chores Together, Study Says
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Know Thyself: How Mindfulness Can Improve Self-Knowledge
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Tomatoes That Mimic Actions of Good Cholesterol Created
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Urban Living Raises the Risk of Emotional Disorders
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Love letters and kindness may improve mental health

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Marques Mentes

“Ele [Sócrates] não vai ser comentador, isso é meramente um instrumento para um objectivo”, considerou o antigo presidente do PSD Marques Mendes no seu espaço de comentário político da SIC.

Luís Marques Mendes – que é um autêntico comentador político desinteressado, isento e objectivo, daqueles que não deixam dúvidas, a quem nunca passou pela cabeça vir a candidatar-se a porra nenhuma, nem no passado, nem no presente, nem no futuro – não duvida que este regresso do anterior primeiro-ministro esteja ligado a uma candidatura a Belém dentro de dois anos. De resto, quem de boa-fé poderia duvidar disso?

Que fique bem claro que o puro comentador político desinteressado Marques Mendes não quer candidatar-se a Belém nem dentro de dois anos nem nunca, como também jamais quis ser primeiro-ministro, conselheiro de Estado ou sequer presidente do PSD, cargo este que só aceitou em 2005-2007 para ajudar patrioticamente o governo de Sócrates na sua política de consolidação orçamental.

Diga-se que enquanto Marques Mendes assumiu a espinhosa missão de chefiar a oposição a Sócrates, a contenção do défice das contas públicas foi uma realidade, pelo que só a conhecida ingratidão dos socialistas explica que nunca tenha sido feita justiça à decisiva acção do notável político laranja.

Há por aí quem fale de uma pseudo-crise financeira internacional, mas a prosaica verdade é que assim que Marques Mendes deixou o leme da oposição, as contas públicas portuguesas entraram em descalabro. Nada acontece por acaso.

Para enfraquecer a liderança de Seguro, Sócrates já vem tarde

Lendo muito do que se tem escrito acerca do regresso de Sócrates e das consequências que trará para a liderança de Seguro e para o PS, até parece que está a correr tudo bem ao actual líder socialista, que o partido está unido à sua volta, que o eleitorado o vê como alternativa ao Governo, que o PS vive num paraíso que o malvado do Sócrates vem destruir. Ora, mesmo com Sócrates caladinho durante os últimos dois anos, Seguro nunca convenceu ninguém e o simples facto de se pensar que o regresso de Sócrates vem abalar a sua liderança é a prova provada da sua mediocridade. Além disso, (e cá vai palpite) não estou a ver Sócrates a tentar prejudicar deliberadamente a actual liderança do seu partido com os seus comentários semanais. É socialista, se tiver ambições políticas precisará do partido e nunca mostrou ser vingativo, nem mesmo quando foi alvo da maior filha da putice de Cavaco. Estou a vê-lo, sim, a defender os seus Governos, ou seja, a defender o PS. Se correr mal, sai ele prejudicado, se correr bem, até o Seguro pode ganhar com isso. E é óbvio que o vamos ver a criticar ferozmente o actual Governo e a fazê-lo muito melhor do que o Seguro. Mas isso não é nada difícil e nada que muitos socialistas não façam já muito melhor do que o seu líder.

Por fim, acho piada que o António Costa diga que este regresso é “uma má ideia”. Logo ele que achou boa ideia encostar o Seguro à parede, publicamente, tratando-o como um miúdo e ameaçando-o com uma candidatura sua à liderança. Sócrates vai ter de se esforçar para conseguir suplantar esta humilhação a Seguro, e para deixar o partido mais dividido do que ficou com este episódio do seu amigo Costa.

Considerações de sábado, antes de quarta*

Sócrates, contra a vontade de alguns, não morreu. Assim sendo, não deixou de falar com os amigos nem de consultar a internet, ler jornais e ver televisão, onde todos os dias é atacado, caluniado, responsabilizado por todas as desgraças acontecidas ao país. E isto num contínuo que não fez qualquer intervalo sanitário entre as campanhas de caráter, invenções de escutas e acusações de corrupção e de crimes contra o Estado de direito e o momento, em 2010, em que a inépcia da União Europeia se revelou em todo o seu esplendor e os países da moeda única ficaram entregues a si próprios, sem qualquer meio monetário de defesa contra especuladores. E quanto mais a situação económica e social se deteriora por cá e o plano dos estarolas, ainda mais radical do que o da aclamada Troika, prova as suas falsas premissas e a incompetência e impreparação de quem o gizou, mais o atacam. Sem resposta do próprio, os mentirosos sentem-se perfeitamente à vontade para o caluniarem e aviltarem, indo tão longe quanto a sua vilania e/ou delírio, e a falta de contraditório, o permitem. A atual direção do PS parece sentir-se bem com a situação, o que não deixa de indignar, além de aproveitar e muito à coligação – ao ponto de a afirmação de que Seguro, o líder da oposição, é o seguro do Governo estar perfeitamente correta. Quem tem discernimento suficiente para ir repondo a verdade sempre que tem para isso oportunidade está em desvantagem nítida face a quem calunia e mente dia após dia e abusa da técnica de puxar pelo que de mais canino e primário ainda existe na natureza humana (vide petição).

Perante isto, é de concluir que Sócrates regressa aos ecrãs porque entendeu ser o momento de dizer «basta»? Porque entendeu dever ser ele próprio e não outros a assumir a sua defesa? Porque está de tal maneira convicto da sua luta para impedir que o país caísse nas garras de troicas tradicionalmente impiedosas que sente que os portugueses lhe darão razão se devidamente esclarecidos e confrontados com o desastre que se seguiu às eleições de 2011? Pode ser tudo isto e, ciente de que o denegrimento mais acentuado da sua imagem seria num primeiro tempo inevitável, pode também ser uma estratégia pessoal de reentrada na vida política por gosto genuino pelo combate e ao mesmo tempo a oferta colateral aos portugueses, a cujas melhores qualidades gosta de apelar, de uma possibilidade de elevação do debate político, enriquecido agora com mais filosofia e mais mundo, acima do nível rasteiro onde a direita inculta e incompetente o coloca permanentemente. A estratégia é totalmente legítima, diga-se, e sobretudo muito “disruptive“. Nada que não lhe vá bem. Estonteados já ficaram muitos. Um ato de coragem e um enorme desafio, que coloca a barra para o próprio muito alta.

E agora a fórmula escolhida: porquê entrevista e, a partir daí, comentário regular? Ora, está bem de ver que uma simples entrevista seguida de novo desaparecimento atrás do muro de silêncio não mudaria nada no rame rame habitual das calúnias lusas; pelo contrário, intensificá-las-ia, anulando rapidamente o efeito das explicações/demonstrações. Depois, entrevistas já poderia ter concedido muitas. Não tenho dúvidas quanto ao interesse das televisões e dos jornais em entrevistá-lo, nem que seja para lhe perguntarem se continua a correr e se prefere os croissants e as baguetes aos pãezinhos com chouriço em forno de lenha. Não deve haver um único órgão de comunicação social em Portugal (pelo menos) que não tenha tentado arrancar-lhe uma entrevista. Exceto o Correio da Manhã que, apesar de especializado em perseguição e fabrico por encomenda, ou por causa disso, deve ter a noção dos seus limites. Mas uma entrevista é arma fraca para combater um vespeiro. Não me admiro, pois, que, ao aceitar dar uma entrevista, o direito de resposta ao tiroteio que se seguiria tenha sido invocado e reclamado pelo próprio. Estou a especular, claro, pode até ter sido o diretor de informção da RTP a propor a fórmula para assegurar o nível de audiências, mas parecer-me-ia natural, lógico e inteligente vindo de quem vem. Ir à luta e não proteger a retaguarda não fará o seu género. Pelo caminho e com o dinamismo introduzido por esta espécie de bomba de fragmentação, há fortes hipóteses de o país sair do marasmo. Por mim, brindo.

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*Próxima entrevista de Sócrates à RTP

Sondemos

A explicação mais verosímil para a estupidez da Europa

Luís Amado não fica surpreendido: «conheço bem a forma como, a partir de certa hora da noite, os processos negociais se resolvem. E resolvem-se pelo cansaço, pela abstenção, pela saída de elementos que desistem de acompanhar uma negociação que não está no centro das suas preocupações. Não imagina a quantidade de erros que ao longo dos anos se têm cometido por causa de decisões tomadas num ambiente de cansaço. Às vezes está a fechar-se uma decisão crítica e está-se à espera que a bolsa de Tóquio abra, e às vezes é nessa hora, nesse limite que a decisão tem de ser precipitada. É essa a natureza de funcionamento do Conselho. É muita gente a mexer na panela e de vez em quando sai asneira»

Fonte

Figuras tristes – estamos e vamos ver muitos a fazerem muitas

Quanto à RTP, mostrou que continua a ser a RTP de sempre, capaz de corromper a lucidez e turvar o raciocínio mesmo dos mais experientes. A solução não é a esquecida privatização: é a extinção. Noutros tempos até se salgariam as terras que pisou…

(Como é público, tenho a pior opinião possível de José Sócrates como político, como governante e como pessoa. Mas não fiz qualquer consideração política nesta argumentação. É que, como jornalista, até como jornalista que não gostava da política do primeiro-ministro, sempre quis entrevistá-lo e dar-lhe a palavra, algo que ele sempre recusou, anos a fio. […]

Zé “Inventona de Belém” Manel

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O homem que fez de um jornal com um histórico de referência o instrumento de perseguição a um governante e a um partido que frustraram, ou não favoreceram, os interesses empresariais do seu patrão, nos quais também participava como accionista; o homem que fez do jornal que dirigia o instrumento das jogadas de bastidores de Cavaco Silva; o homem que fez de um jornal outrora digno o instrumento do mais escabroso escândalo da democracia portuguesa ao ser protagonizado pelos tenentes do Presidente da República com a intenção de perverter as eleições legislativas e autárquicas em 2009. Este homem exibe-se em carne viva, destituído do mínimo sentido do ridículo, quanto mais da vergonha.

Diz ele que tem a pior opinião possível de Sócrates como pessoa. Que será isso? Em que consistirá ter a pior opinião possível de uma pessoa enquanto pessoa? Desconfio que não será nada bonito de se ver, sequer de contar, sendo muito provável que o alvo dessa opinião tenha feito algo que entre na categoria dos crimes contra a humanidade. É por isso patético estar a justificar o seu fel ressabiado com a recusa de Sócrates em ser entrevistado por tão ruim criatura. Como todos os porcalhões que ganharam aversão ao banho, ele já não sente o pivete com que empesta os locais por onde passa.