Toda a gente conhece “Take Five” do quarteto de Dave Brubeck. O homem do saxofone, Paul Desmond, foi o autor dessa faixa do álbum Time Out, de 1959, que muitos garantem ser o disco de jazz mais vendido de todos os tempos.
Anos antes, no verão de 1954, o quarteto de Brubeck tocava no club de jazz Basin Street, em Manhattan. Todas as noites, a certa hora, Desmond olhava o relógio e pedia um intervalo. Saía e corria três quarteirões até à porta do teatro onde se representava uma peça com Audrey Hepburn. O saxofonista ficava ali a fumar o seu cigarro até a estrela sair e entrar numa limusine. Contentava-se com aqueles segundos em que a via de perto, mas nunca ousaria dirigir-lhe a palavra. Nesse ano, em que a actriz ganhou um Oscar, Desmond compôs uma música dedicada à sua secreta paixão, pouco secretamente intitulada “Audrey”, incluída no álbum Brubeck Time.
O vício de fumar matou o divorciado Desmond aos 53 anos, em 1977, sem nunca ter falado a Audrey Hepburn e ignorando se ela alguma vez ouvira a sua música.
Quando a actriz morreu, em 1993, um ex-marido pediu a Brubeck que o seu quarteto tocasse “Audrey” numa cerimónia realizada na sede da ONU em homenagem à actriz, que fora embaixadora da boa vontade da UNICEF. Brubeck sabia da antiga paixão de Desmond por Audrey, mas admirou-se com o pedido, pois não fazia ideia que o casal conhecia a composição. O ex-marido explicou-lhe que todas as noites antes de se deitar Audrey ouvia aquela música e que também costumava ouvi-la com auscultadores quando passeava no jardim. Chamava-lhe “my song”.
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Esta história foi revelada por Doug Ramsay em Take Five: The Public and Private Lives de Paul Desmond (2005), contada pelo mesmo aqui (2015) e posta em banda desenhada por Paul Rogers na revista The New Yorker de 8 de fevereiro de 2021.