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A Direita já pode dormir descansada, o 25 de Abril é nosso e só nosso!

Para o líder do PSD é “inaceitável” que um chefe de Estado estrangeiro discurse, na Assembleia da República, na sessão solene do 25 de Abril. Parece que é uma coisa só nossa, estrangeiro não entra. Pois, devia ser ao contrário. Todos os anos, devia ser convidado um chefe de Estado estrangeiro para discursar nas comemorações do 25 de Abril. Qual é o problema de se juntarem à nossa celebração os representantes de outros povos? Povos esses que inspiraram os que tanto lutaram pela nossa Liberdade. Ou foi o nosso Povo sozinho que inventou a Democracia?

Tratando-se do Presidente brasileiro, a recusa da Direita é ainda mais absurda. Só em dois anos, 2020 e 2021, mais de 100 mil brasileiros adquiriram a nacionalidade portuguesa. Aquilo a que o Montenegro chama povo também os inclui. Muito provavelmente, muitos desses brasileiros votaram e ajudaram a eleger os deputados que nos representam, incluindo os dos partidos de Direita. Será que são bons para votar mas para celebrar o 25 de Abril têm de ficar à porta? É que Lula da Silva também os representa.

O impacto ambiental da construção civil não é para aqui chamado?!

Se as casas desabitadas, em Portugal, estivessem todas juntas, estaríamos perante uma cidade enorme, com capacidade para alojar um quarto da população portuguesa. A questão que me ocorre é a seguinte: mesmo que não estivéssemos a viver uma crise habitacional, seria ambientalmente sustentável a manutenção desta autêntica cidade fantasma? A direita acha que os proprietários não só têm o direito de a manter tal como está, como pedem mais construção nova. Ou seja, os proprietários têm o direito de a ampliar se assim o desejarem.

Vivo numa zona, como tantas outras, cheia de crateras gigantes devido à extracção de areia e pedra. E estes recursos são só uma pequeníssima parte da matéria-prima necessária para construção da tal cidade fantasma. Basta pensar na quantidade de metais, de betão, de madeira, de plástico, de tintas, e de mais um sem fim de materiais. Mais toda a maquinaria usada para a extracção, transformação e transporte de todos estes materiais. Quantas pedreiras, minas, florestas, indústrias altamente poluentes, alimentam a construção civil? Qual é o impacto ambiental de tudo isto? Para a Direita, deve ser zero.

Já é penoso ver a minha serra, e tantas outras, a desaparecer, mesmo que a finalidade seja construir cidades para as pessoas habitarem. Mas saber que também é para construir edifícios que não passam de mais um investimento, dos respectivos proprietários, é revoltante!

Em resumo, o lucro do investimento em imobiliário é dos proprietários, o prejuízo ambiental associado fica por nossa conta. E, para a Direita, assim é que está bem.

Sua Excelência manda e a matilha obedece

Muito provavelmente por pensarem que Sua Excelência ainda não estava satisfeito com a demissão de mais uma governante, em directo nas televisões, ontem, os jornalistas decidiram fazer marcação cerrada à ministra da Agricultura, ao ponto de não saírem da porta do seu ministério. Na sua ignorância, e porque não leem o que ensina a Ângela Silva, no Expresso, pensaram que Sua Excelência iria querer a cabeça de mais esta governante. Pensaram mal. Sua Excelência decidiu usar o travão. À noite, reuniu a matilha à sua volta e mandou desmobilizar. Hoje já ninguém quer saber do paradeiro da ministra. É que sua Excelência sabe que se esticar demasiado a corda, a mesma pode partir. Até a desmesurada paciência de António Costa deve ter um limite. Que aconteceria se o primeiro-ministro concluísse que não tem condições para continuar a exercer o cargo?

Ora, Sua Excelência ficaria com uma batata escaldante nas mãos. E sabe que podem continuar a despachar atestados de estupidez aos portugueses pela escolha que fizeram nas últimas eleições, porque basta ver, por exemplo, o debate da moção de censura para não se ter dúvidas acerca de quem ganharia as próximas, fosse quem fosse o líder do PS. E sabe também que contra isto a sua matilha nada pode fazer.

Incompetência absoluta

O presidente de uma empresa privada de fornecimento de energia decidiu dar uma entrevista. E porquê? Porque tinha notícias bombásticas para dar aos contribuintes. Não apenas aos clientes da sua empresa, mas a todos os contribuintes. Naturalmente, o Governo decide intervir, desmentindo o presidente da tal empresa. Empresas concorrentes desta fazem exactamente o mesmo e desmentem publicamente as tais notícias bombásticas. Até a empresa que o senhor lidera decide enviar uma carta aos clientes a desmenti-lo.

Entretanto, ficámos a saber que o líder do maior partido da oposição tem muitas dúvidas quanto à solução que Portugal e Espanha encontraram para limitar os preços da energia na Península Ibérica. E está no seu direito. Mas se é assim, porque esperou até agora? Porque não apresentou na altura em que o acordo estava a ser negociado uma solução alternativa, uma que não penalizasse os contribuintes, no futuro? Só reparou no problema depois de ter visto a tal entrevista bombástica?

Se calhar, é porque está muito ocupado a magicar frases como: “Costa confunde maioria absoluta com poder absoluto”. Como se vê é uma frase muito original, daquelas que ninguém estava à espera. Realmente, o PSD parece outro. Só com esta frase deve ter mudado o sentido de voto de milhares de eleitores. O PS que se cuide.

As crises já não são o que eram

O líder do PSD não se cansa de repetir que temos um Governo cansado, desnorteado, sem ideias, que não apoia as empresas nem as famílias. Garante que vamos a caminho de mais uma gravíssima crise económica e social, que é, segundo ele, a especialidade dos governos socialistas. E sabe do que fala porque está muito próximo das pessoas.

Não sei o que lhe têm dito os empresários, mas, entretanto, meio país ficou escandalizado com os lucros de algumas empresas.

Se com um Governo tão incompetente apresentam estes resultados, quanto lucrariam estas empresas se o país fosse governado pelo competentíssimo Montenegro? O dobro, o triplo? É uma pena se não aproveitar a oportunidade para nos esclarecer.

Vingegaard e Pogacar, sois grandes, gigantes!

Para quem não sabe, estas pessoas são dois dos melhores ciclistas que este Planeta já viu e estiveram ambos no Tour de France, que terminou ontem em Paris. Oficialmente, um ficou em primeiro e o outro em segundo, repetindo, aliás, o que já se tinha verificado no Tour de 2021. Mas, na verdade, a ordem é indiferente. Ganharam ambos! Os fãs, para além do espectáculo que é vê-los subir e descer os Alpes e os Pirinéus, puderam assistir a uma maravilhosa lição de desportivismo, respeito mútuo e decência. Para quem acha que o dinheiro tudo e todos corrompe, estes miúdos provam que não tem de ser assim. Os prémios para quem vence etapas, e a prova, são avultados, contudo isso não os impede de esperar um pelo outro em caso de queda, apesar de liderarem equipas diferentes. Tão bom!

Fazem-nos sonhar. Como seria a nossa vida se os outros líderes, das mais variadas áreas, lhes seguissem o exemplo?

Mais putinistas que o Putin

A guerra dura há mais de dois meses. Indiferentes às suas consequências devastadoras, aparentemente, nada comove os putinistas, que para todas as atrocidades encontram desculpa. As imagens da destruição das cidades são manipuladas e pura propaganda dos ucranianos. Como se os mísseis russos carregassem flores e borboletas e as imagens que a comunicação social deveria estar a passar era a de uma Ucrânia mais bonita a cada dia de guerra que passa. Depois vem o Putin gabar-se dos seus feitos e confirmar a destruição de alvos no país invadido. Nada que atrapalhe os nossos putinistas. Se há baixas entre os civis, a culpa é dos ucranianos que têm armamento nas cidades e usam a população como escudo. Ora, a guerra trava-se onde os civis vivem, queriam que os ucranianos se defendessem estendendo passadeiras vermelhas para os russos entrarem? 

Os putinistas até podem admitir a existência de baixas entre os civis, mas nem um é uma vítima inocente. Os putinistas olham para os ucranianos e só vêem nazis. Assim como o Ventura só vê bandidos quando olha para negros, ciganos ou imigrantes. Para os putinistas, os ucranianos são o povo mais politizado do mundo. Todos, incluindo as crianças, são especialistas em geopolítica, estando mais do que a par das tramóias dos americanos, das intenções da NATO e de outras trafulhices levadas a cabo pelos países ocidentais. Portanto, todos se puseram a jeito, conscientes do risco que corriam. Só se perdem as que caem ao lado. Não sei como não acusam o Governo de estar a colocar-nos a todos em perigo ao permitir a vinda de milhares desses nazis para o nosso país. 

Os putinistas travam ainda uma luta sem tréguas contra quem se indigna com esta barbaridade. Sempre munidos das citações dos seus ídolos, seres superiores detentores da verdade absoluta, acusam quem não os acompanha de serem uma cambada de hipócritas que nunca se indignaram contra outras barbaridades, passadas e presentes. Ainda que tivessem toda a razão, já houve no passado coisas que não indignavam quase ninguém, que eram a normalidade, e passaram a indignar a maioria. Prova de que a Civilização evolui. E não há putinista que a consiga travar!

O homem que fala claro

Rui Rio, não vá alguém ainda não ter percebido, tem passado os debates a garantir aos parceiros da Direita que o que está escrito no programa do PSD não é para levar a sério. Tem repetido em todos os debates que o programa só é válido “em determinadas condições”. E fica absolutamente claro que é ele quem determinará se há ou não condições para executar o que anda a prometer.

No debate com o líder da Iniciativa Liberal sacou do lápis e prometeu fazer aparecer milhares de milhões com uma clareza nunca antes vista. O que já não me pareceu tão claro foi o que disse a respeito do futuro de empresas como a RTP ou a CGD. Começou por elogiar a gestão e garantir que não serão privatizadas. Mas… se começarem a dar prejuízo lá terá de as privatizar. Claro que ninguém lhe perguntou como poderão essas empresas começar a dar prejuízo durante a sua governação e é pena.

Então, com os incompetentes dos socialistas a governar há seis anos, dois dos quais passados a gerir uma crise sem precedentes, essas empresas estão bem e recomendam-se, mas admite que com um governo de direita liderado por si, o economista mais sério e competente que este rectângulo já viu, apoiado pelos génios da finança do CDS, IL e Chega, poderão criar-se condições que levem essas empresas de novo à ruína?!

Isto não será clareza a mais?

Quem é que a Catarina Martins escolhe para liderar o PS?

De que se estaria a falar hoje em todos os órgãos de comunicação social se António Costa tivesse dito ontem que a Catarina Martins é o obstáculo que impede PS e Bloco de chegarem a um qualquer acordo? Quão horrorizados ficariam os bloquistas, e não só, com uma ingerência deste calibre? Quantas vezes repetiriam que tal frase era a prova provada de que Costa é um ditador que até nos partidos da oposição quer mandar, e que deve ser impedido por todos os meios de governar com maioria absoluta por ser um perigo para a democracia? Pois.

Antes das autárquicas vem a época de incêndios

Rui Rio, que seguramente não tem um espelho em casa, defendeu que com um governo fragilizado em funções quem perde é o país. A remodelação, diz, devia acontecer “o quanto antes”, logo, antes das autárquicas marcadas para 26 de setembro.

Ora, vamos imaginar que o primeiro-ministro faz a vontade ao líder da oposição e substitui o ministro da Administração Interna a poucas semanas da época crítica de incêndios. Que dirá o Rui Rio, e todos os que como ele estão cheios de pressa para ver o Governo remodelado, se nas próximas semanas forem os incêndios, em vez da pandemia, a abrir os telejornais? Será que continua a defender que o melhor para o País foi a substituição, nesta altura, do ministro da tutela? Ou, pelo contrário, virá lembrar que não é no meio das batalhas que se mudam os generais?

Só falta a direita defender o ensino à distância para sempre

A falta de atenção dos alunos nas salas de aula é talvez a queixa mais recorrente dos professores, desde sempre. Vamos imaginar que no ensino presencial os alunos podiam usar os telemóveis para fazerem o que quisessem, que diriam os mesmos professores e quão produtivas seriam essas aulas? É exactamente isto que se passa com o ensino à distância, caso a direita ainda não tenha reparado. E afecta tanto os alunos do privado como os do público, os mais e os menos desfavorecidos. E tem piada ser a mesma direita que há uns anos dizia que dar computadores aos alunos era um desperdício porque só iriam utilizá-los para jogos e outros entretenimentos.

Por este andar, ainda veremos o Rui Rio criticar a tal proibição do uso de telemóveis em sala de aula, impedindo assim os alunos de acompanharem e de se divertirem com a sua incansável luta contra as sondagens, no Twitter, por ser mais uma medida totalitária de perfil marxista.

Democracia celular

As eleições nos Estados Unidos estão a animar os que estão cansados da democracia. O director do Público, por exemplo, está tão cansado que não está para procurar outras causas para o que se passou e está a passar naquele país, para ele a culpa é da falta de saúde da democracia. Mas quando aponta como causas para a doença da democracia “a desigualdade extrema” e “o empobrecimento das classes trabalhadoras”, aposto que não está a pensar apenas na democracia americana. Parece-me que está a querer dizer que a democracia não serve para resolver os problemas da Humanidade.

O que ele talvez não saiba é que as suas próprias células se calhar discordam. Como toda a gente sabe, as células nascem, vivem e morrem. Provavelmente, se fôssemos nós a decidir o que fazer a uma célula que deixou de cumprir as suas funções, a sua eliminação seria automática. Contudo, no complexo e altamente sofisticado mundo das células a coisa nem sempre se passa assim. Em determinadas circunstâncias, a célula em causa emite sinais químicos à vizinhança a dar conta do seu estado, ainda assim a sua eliminação só ocorre quando a maioria das células vizinhas “vota” nesse sentido. A democracia em todo o seu esplendor! Mas também aqui o sistema não é perfeito. De vez em quando surgem células que se cansam das regras da comunidade. Comportam-se de forma totalmente egoísta, esquecem o bem comum e trabalham exclusivamente para si próprias. Chama-se tumor e todos sabemos como é que pode acabar. Há cientistas que dizem que são sistemas extremamente inteligentes. Não concordo. Quão mais eficientes mais depressa se aproximam do seu próprio fim, não me parece lá muito inteligente. E podemos questionar porque é que os organismos não adoptam outro sistema. Um que não permita o surgimento de agrupamentos celulares hostis? Porque o processo que permite que surjam – mutações que ocorrem aquando da divisão celular – é o mesmo que permite que as espécies evoluam e se adaptem a novos ambientes. É o que nos trouxe a todos até aqui.

Portanto, quem pensa que a democracia é chão que já deu uvas, um sistema passageiro e ineficaz inventado por quem não tinha mais o que fazer, talvez possa sugerir um sistema alternativo à velhinha Natureza. Força nisso!

Estranha forma de ajudar o País

Nunca os governantes tiveram de tomar tantas medidas em tão pouco tempo e nas condições em que têm de o fazer. Não há tempo para discussões prévias nem para os habituais e demorados estudos, e se em alguns casos se baseiam na opinião dos especialistas, noutros, os relacionados com a vertente económica, por exemplo, nem os especialistas lhes podem valer por também desconhecerem o que aí vem. Tudo depende da duração da epidemia, aqui e no resto do Mundo. Mesmo em tempos ditos normais, há sempre o risco dos governantes errarem, imagine-se nestas circunstâncias. Creio que todos eles estão cientes do risco e da incerteza quanto ao sucesso das medidas que têm de tomar em catadupa, mas não têm alternativa.

Mas este estado de incerteza não é geral, há quem tenha muitas certezas e parece que Rui Rio é um deles. Se, por um lado, avisa que este não é o tempo para fazer oposição ao Governo e admite a possibilidade de o Governo falhar. Por outro, tem a certeza de que no fim da pandemia e perante a mais do que esperada crise económica e social será o próprio País que cairá em cima do Governo  e lhe cobrará todas as falhas. Que é como quem diz, sobretudo aos seus, que no futuro o PSD nada perdoará a António Costa e aos seus ministros. E é isto que Rui Rio tem para oferecer nesta altura: mais pressão em cima dos ombros dos governantes.

Mas há algo na crise económica que se avizinha, independentemente da sua gravidade, que difere das anteriores: desta vez todos saberão explicar o que lhe esteve na origem. Na última, perceber as causas implicava o conhecimento de factores que, por iliteracia económica, a esmagadora maioria não domina. Quantos portugueses sabem o que é isso do subprime, explicar como se formam as famosas bolhas imobiliárias ou como se chegou à crise das dívidas soberanas? Não foi, portanto, por acaso que simplesmente se apontou o dedo aos políticos. Ainda assim, apesar da crise já instalada, e de todas as campanhas de perseguição a Sócrates, muitas explorando a tal iliteracia económica da população, foi o PS e não o PSD a ganhar as Legislativas de 2009. Fica o lembrete para quem só faz contas ao futuro.

Disto não se pode culpar o vírus

Desde que tomou posse como presidente do PSD, do que Rui Rio mais se queixou foi da oposição interna, nomeadamente do grupo parlamentar que herdou. Ora, seria de esperar que as Legislativas de Outubro lhe tivessem resolvido o problema, mas tendo em conta o que se passou no último debate quinzenal, fica-se com a ideia de que talvez não haja no PSD militantes que sirvam para formar um grupo parlamentar que lhe agrade. Mas será que o que motivou o ralhete público, seguido do abandono do debate, é só culpa dos deputados? Rio, que é o líder da bancada parlamentar, estando o país a atravessar uma crise sem precedentes e em estado de emergência, achou que a prioridade para os seus eleitores, o que mais os está a inquietar, o que mais queriam ver debatido é se os debates parlamentares se devem ou não realizar, ou seja, se os deputados deviam ou não lá estar. Ainda assim, o líder da oposição precisou que fosse Ferro Rodrigues a adverti-lo para o excesso de deputados, será que não sabe contar?

Este episódio passou mais ou menos despercebido, mas Rui Rio ambiciona ser primeiro-ministro e se o tivesse conseguido nas últimas eleições, muito provavelmente, algumas daquelas pessoas que agora tratou como se tivessem 5 anos teriam sido por ele convidadas para exercerem cargos governativos. Dá que pensar.

Temos o melhor SNS do Mundo

Creio não estar enganada se disser que o civismo que os portugueses têm demonstrado se deve em parte à confiança que têm no nosso Serviço Nacional de Saúde. Parece surpreendente, mas ao contrário dos diagnósticos catastrofistas feitos pelos partidos da oposição e pela comunicação social, ao longo dos últimos anos, o que se tem visto é um SNS que, perante o maior desafio que já enfrentou, se reorganizou e que consegue dar resposta aos problemas que vão surgindo. E consegue fazê-lo de um dia para o outro, literalmente. Não se parece nada com o tal SNS caótico descrito por tantos “especialistas” na matéria. Claro que não é nem nunca foi um serviço em que tudo funciona na perfeição, mas isso é válido para todos os outros serviços públicos e também para os privados, já agora. E uma coisa é criticar e chamar a atenção para o que funciona mal, outra, bem diferente, é fazer um tipo de exercício que se tornou banal: pega-se num caso que corre mal, ignoram-se os milhares que no mesmíssimo dia correram bem, e arrasa-se todo o SNS, o Governo e tudo o mais que se lhes atravesse no caminho. Há inúmeros exemplos, mas destaco este, em que um jornalista pega num episódio ridículo, a falta de uma bisnaga de pomada num Centro de Saúde, que ele não teve a menor curiosidade em saber por que razão aconteceu, mas que lhe serviu para concluir que temos um SNS do Terceiro Mundo. Calculo que, por esta altura, este jornalista já esteja em segurança, protegidíssimo do vírus, num qualquer país do Primeiro Mundo.

Dir-me-ão que a pandemia está no início e que o sistema ainda pode colapsar. Infelizmente, é verdade. Mas pelas contas de muitíssima gente, o SNS, de tão caótico, já devia ter colapsado há muito tempo, bem antes do pico da epidemia. Além disso, por estes dias, em que país os governantes podem garantir aos seus cidadãos que o sistema de saúde não corre o risco de colapsar?

Juntar o útil ao agradável

O PS, no seu programa eleitoral, propôs a dinamização da agricultura urbana utilizando as coberturas dos edifícios para a produção de produtos hortícolas. A ideia é tornar as cidades mais sustentáveis e reduzir a nossa pegada ecológica, o que segundo alguns estudos é uma ideia muito acertada.

Ora, tendo em conta a actual situação de recolhimento que está a levar muitos ao desespero, e que as varandas e terraços são os únicos sítios ao ar livre que não nos estão vedados, melhor altura para implementar esta proposta eleitoral, enchendo estes espaços de vida, não há. Para além de todas as vantagens ecológicas, é uma excelente forma de passar o tempo. E se juntarmos às hortícolas algumas plantas ornamentais também tornamos a vista uns dos outros, e a dos turistas quando regressarem, muito mais agradável. Nada contra a bandeira nacional, mas em vermelho e verde a ondular ao vento nas varandas prefiro de longe plantas floridas.

Atenção aos pormenores

Não sei ao certo quantos fumadores há em Portugal, mas somos muitos. É verdade que a recomendação das autoridades de Saúde para que se desinfectem as mãos com frequência e evitar levá-las à cara também se nos aplica.

Contudo, o acto de tirar um cigarro do maço e levá-lo à boca é tão automático e distraído que se calhar convinha chamar a atenção para este pormenor.

O estudo que falta

A Protecção Civil veio alertar, entre outros, para o risco do choque de aves com aeronaves no aeroporto do Montijo. O fenómeno, conhecido como Bird Strike (expressão com potencial para se tornar muito famosa entre nós), é relativamente frequente e embora as principais vítimas sejam quase sempre as aves, por vezes obriga a aterragens de emergência ou atrasos nos voos, incidentes que não passam despercebidos, o que me leva a pensar que a coisa pode ter consequências ainda por estudar. É um facto que o fenómeno pode acontecer, e acontece, seja lá qual for a localização do aeroporto, mas também é um facto a abundância de aves nas imediações do novo aeroporto no Montijo.

Ora, se juntarmos a estes factos um outro, o modo de actuação dos partidos de direita nos últimos anos, o qual consiste em cavalgar “casos” que independentemente da importância, e com a ajuda inestimável de jornalistas e comentadores espalhados por toda a comunicação social, se transformam em verdadeiros dramas nacionais (lembro o que aconteceu com as famosíssimas golas antifumo distribuídas pela Protecção Civil em que só faltou o Governo ser acusado de ter condenado à morte as pessoas que as receberam), fico com uma dúvida:

Quantos incidentes com aves, ainda que sem grande importância, serão necessários para que a Direita e a comunicação social acusem o Governo de total irresponsabilidade por ter optado pelo Montijo pondo assim em risco a segurança de todos os utilizadores do novo aeroporto? Aceitam-se apostas!

Cuidado com as correntes de ar!

O tema em debate no último Expresso da Meia-Noite foi o inevitável coronavírus. Mais precisamente o título catastrófico do Expresso desta semana. Não sei o que é mais absurdo, se termos uma Directora-geral da Saúde, que mais parece uma profeta da doença, que acha boa ideia lançar para o ar cenários apocalípticos, que depois vem afastar. Se o Expresso fazer desse cenário capa e depois fazer um programa para debater os malefícios de tal escolha. Se calhar, deviam ter organizado o debate antes.

Os convidados, dois médicos, a ministra da Saúde e uma economista, concluíram que se o título se referisse, por exemplo, à diabetes ou a doenças cardíacas não causaria tanto alarme na população, e isto porque as pessoas sentem que podem fazer algo para evitar estas doenças, ao contrário dos vírus em relação aos quais se sentem muito impotentes. E mais ainda face a este, uma vez que pouco ou nada se sabe sobre ele.

Ora, não é bem assim. Sabe-se que causa mais danos a quem está mais debilitado, é aliás uma característica comum a muitos vírus e outros agentes patogénicos. E é triste que estando presentes três especialistas em saúde nenhum tenha dito que, para além das famosas medidas de contenção, há algo que podemos fazer: reforçar o nosso sistema imunitário. Que nenhum tenha lembrado que as recomendações para que se faça uma alimentação saudável acompanhada de exercício físico não são teorias abstractas, mas que servem exactamente para nos proteger desta e de outras ameaças. E já que se falou nisso, podiam ter dito que as pessoas em vez de irem a correr para as prateleiras das máscaras e dos desinfectantes, talvez não fosse pior pararem nas secções de frutas e legumes. É que com o sistema imunitário em baixo podemos nem precisar de um vírus para nada, até uma corrente de ar nos pode mandar para o estaleiro.

À política o que é da justiça!

Não há nada como acusar socialistas para animar as hostes social-democratas. O Rui Rio, que estava a levar os apoiantes ao desespero, tão mortiça andava a sua campanha, parece outro desde que se agarrou ao caso Tancos para atacar o Governo. Se calhar, para alguns, foi um bocadinho longe de mais, mas nada que tenha atrapalhado outros que acham que o caso tem mesmo de ser discutido na campanha. E não vale a pena virem cá com o “à política o que é da política e à justiça o que é da justiça” que isso não passa de “conversa estafada”, como nos avisa o Pedro Marques Lopes.

Mas estou aqui com uma dúvida. Como é que se discute este caso na campanha? Decide-se primeiro quem são os culpados com voto de braço no ar nos comícios? E discute-se a coisa com base nos resultados obtidos? Ninguém poderia acusar o Rui Rio de incoerência, afinal os comícios não são tabacarias. Mas infelizmente isto só é válido para os outros partidos. O líder do PSD não perdeu tempo, anunciou logo de caras quem são os culpados neste caso. Mas pode aproveitar o resto da campanha para informar os eleitores acerca do que fará a estes clones do Sócrates caso ganhe as eleições. Aposto que vai anunciar a construção de prisões em número suficiente para os encarcerar todos, estimulando dessa forma a economia, criando um número espectacular de empregos directos e indirectos, ao mesmo tempo que cuida do ambiente.