Sobre uma foto de David de Abreu na Rua D. Antão de Almada
O ano de 1908 teve grandes convulsões políticas, sociais e económicas. Um golpe em Janeiro, um regicídio em Fevereiro, eleições municipais em Novembro e outro governo que cai em Dezembro. Mais de cem anos depois de 1908 a ideia original permanece, afirma-se e continua: transformar produtos em mercadorias e trazer ao balcão todo o Mundo resumido. Fazer do longe perto. Se o comércio ideal não existe, façamos o comércio possível. Não há lojas para vender a peso aos clientes o prazer, a felicidade e a esperança; é possível juntar a terra e o mar nos metros quadrados de uma loja. Do mar vem o bacalhau, o atum, as conservas, o sal e o peixe seco. Da terra vem o azeite, o vinho, o queijo, o presunto, os licores, as especiarias e os frutos da época. Cesário Verde passou por aqui a caminho da loja de ferragens do pai na Rua dos Fanqueiros. Fernando pessoa vinha da Rua dos Douradores a caminho do café Nicola, José Rodrigues Miguéis vinha visitar o passado aqui muito perto, num certo hotel de Galegos. Na poesia, seja ela em prosa ou em verso, existe, tal como no comércio, a mesma ideia central: juntar de novo o que a distância separou. A «Escola do Paraíso» sai da capa de um livro e existe, afinal, numa rua daqui, perto desta loja antiga e, ao mesmo tempo, moderna.
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