Arquivo da Categoria: José do Carmo Francisco

Vinte Linhas 786

Dissertação para «Memórias» de Miguel López Herrera

No fundo, bem no fundo, todos nós somos memória, memória frágil que não cabe nas caixas de madeira de nenhum sótão. Nos três relógios aqui presentes, todas as horas nos ferem, um no bolso e dois na mesa-de- cabeceira. O tempo parou porque ninguém dá corda às máquinas antigas, ainda mecânicas num tempo de electrónicos artefactos. Há um pião que convoca uma tarde de infância ao lado de um livro de Tintin na Lua com o inseparável capitão Haddock e o cão Milú a servir de batedor.

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Um livro por semana 286

«Antes que o sol acabasse» de Mário Machado Fraião

Este nono trabalho literário individual de Mário Machado Fraião (1952-2010) é o primeiro livro póstumo e foi escrito no tempo em que o autor trabalhou no volume colectivo «Manuel Teixeira Gomes, ofício de viver» (Tinta da China, 2010). No poema que dá título ao conjunto se recorda Portimão: «Aqui as igrejas estão caiadas / com suas barras azuis / e amarelas / outras envelhecem / para sempre esquecidas frente ao sol».

Nascido à beira do porto da Horta, o autor foi um infatigável viajante que passou por Évora: «eterno aprendiz / de feiticeiro / subindo a Rua de Machede / Ocultava / seguramente uma grave acusação / além de um ser estranho / pessoa / de fora / o frio de Janeiro percorrendo os ossos todos do meu corpo». Mas as melhores viagens são as dos barcos: «Os nomes oscilam sobre o cais / o Martim Moniz o Pedro Nunes / o Seixalense / Pequenos grupos / ou pequenas multidões / incessantemente / atravessam os longos corredores metálicos / sobre as águas / ínfimas parcelas no largo firmamento que nos cobre».

Entre a terra e o mar, o barco escreve o amor: «E enquanto as madeiras rangem / pode haver / nas tábuas do casco / uma flor / o nome da mulher amada / uma estrela na proa». E a paz pode ser o outro nome do amor: «Mas se finalmente / nos decidimos a descer / procurando o vento / uma brisa aqui tão quente / com sabor a pêssegos / amêijoas / amêndoas / logo encontraremos as ondas / verdes / a espuma bravia / e uma paz imorredoira percorrerá os nosso corpos / nessa imensa água grande / onde os dois mares se confundem / e assim atravessando o Verão eternamente».

(Edição: O Telégrapho – Horta, Prefácio: Victor Rui Dores, Fotografias: Renato Monteiro)

Moda campaniça

Nas terras do Alentejo / É tudo tão asseado
As casa e os corações / Sempre tudo anda lavado
(Popular – Baixo Alentejo)

Nesta tarde de nevoeiro
Onde o olhar se espreguiça
Vem do lado do Barreiro
O som de uma campaniça
Vem do lado do Barreiro
Passa por cima do Tejo
Mas o som chega inteiro
Como no Baixo Alentejo
Oiço o coro já se arrasta
No fundo da minha rua
Mas o coro não me basta
Quero ouvir a voz que é tua
Eu faço de cada poema
As cordas de uma viola
E escondo-me no cinema
Sempre que falto à escola
Julgo ver o teu olhar
Na linha do horizonte
Silhueta a atravessar
A estrada para o monte
São casa, são corações
Onde quero ser habitante
Procuro nestas canções
Chegar ainda mais adiante
Quero ouvir-te em directo
Sem recurso ao diferido
Quero um poema concreto
O título está estabelecido
O título está no teu nome
Os versos são os teus dedos
Os meus olhos têm fome
Do doce dos teus segredos

Vinte Linhas 783

Júlio César Machado – «não há neste Mundo senão um perigo»

O livro que estou a ler hoje é «Aquele tempo» de Júlio César Machado (1835-1890), uma edição «Perspectivas & Realidades» com capa de Rui Perdigão e organização do meu amigo Vítor Wladimiro Ferreira. Custava 1.5.25$00 em 1989 quando foi publicado, hoje cumpre o seu fadário nos alfarrabistas mas isso não lhe retira interesse ou valor. Vejamos um excerto: «Lisboa hoje está sendo, para o que então era, como que outra terra. Então ainda respirava em tudo singeleza; respirava entusiasmo em tudo. Era qualquer coisa um acontecimento. Uma extravagância pequena era um escândalo; chá e torradas depois da uma hora da noite, era uma orgia. Havia três, quatro heróis, cinco doidos (…)

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Vinte Linhas 82

Dissertação sobre um nome (foto Revista VIVER)

O teu primeiro nome tem, dentro de si, a força da Terra e a graça de Deus.

Ele é, sem dúvida, o nome feminino mais divulgado em todo o Ocidente. Tem a sua origem nas profundezas da língua hebraica mas não se ficou pela Bíblia e pelos Quatro Evangelhos. Está presente na Eneida de Virgílio, no teatro de Luigi Pirandello, nos romances de Tolstoi, nos contos de Pushkin e nas óperas de Mozart. Está junto à Terra e o seu som pronunciado resolve as hesitações nas encruzilhadas sombrias dos caminhos quotidianos. Digo o teu nome e tenho, no momento de o dizer, uma direcção e um sentido. Porque sinto, dentro do seu som, a força da Terra e a graça de Deus.

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Vinte Linhas 81

A última aguardente do Tio Nascimento (foto Revista VIVER)

Bebo devagar um cálice de aguardente branca e muito leve, puríssima e macia, tal como saiu do alambique no passado mês de Setembro. É uma aguardente que não pesa no estômago e que torna as digestões mais suaves. Mas não a posso gastar muito depressa porque esta aguardente é uma memória viva do meu Tio Nascimento e da sua Atalaia do Ruivo, paisagem perfeita entre sol e pó, entre pedras e pinheiros, entre água e vento. Lugar mágico onde a terra quase se junta ao céu numa espécie de oração sem palavras. Dois dias antes de morrer com o coração cansado e incapaz de trabalhar mais, este homem que foi, em novo, ceifar todas as searas do Alentejo e das regiões espanholas fronteiriças, estava possuído de um vigor inesperado e obrigou os filhos e as noras a trabalharem ainda mais para irem entregar o bagaço e o folhelho da uva a um certo alambique para os lados da Serra das Corgas. Depois foi fazer uma festa ao burro e enxotar as galinhas antes de olhar as cabras. Entretanto morreu na grande cidade um dia antes de fazer a grande intervenção cirúrgica que lhe poderia ter prolongado a vida caso corresse bem. Mas não correu. Hoje este gesto de beber um cálice de aguardente tem para mim o valor de um regresso. Esta bebida guardou a paisagem povoada pelo Tio Nascimento entre o seu lugar de sempre, a sua casa dos ventos onde se vê ao longe um bocado de Espanha e, mais perto, a terra das cerejeiras em flor. Essa paisagem povoada onde o corpo do Tio Nascimento descansa no cemitério da Sobreira Formosa mas onde o espírito circula no sabor macio e puro, leve e branco desta aguardente que não pesa no estômago. Porque incorpora a memória destilada de um homem cheio de humanidade.

Vinte Linhas 782

Uma certa memória de um jogo com o Sporting da Covilhã na Lourinhã

Quando agora fui convidado para participar num evento (lançamento de um livro) na Lourinhã lembrei-me dos velhos tempos quando acompanhava como enviado-especial a equipa do Sporting Clube Lourinhanense ao tempo clube-satélite do Sporting Clube de Portugal. Um dos jogos que me ficou na memória foi um Lourinhanense-Sporting da Covilhã disputado no dia 12 de Abril de 1998. Resultado 2-0 para os da casa. Guardo a memória de muitas camionetas com adeptos dos «leões da Serra» e de uma pequena multidão que entrou ordeiramente no campo do Lourinhanense atrás de uma banda de música e de uma gigantesca bandeira do seu clube. Passaram por detrás da baliza e foram colocar-se no lado oposto à tribuna de honra onde eu (e os outros jornalistas) esperava a constituição das equipas fornecida sempre pelo senhor Luciano, o secretário técnico do Clube.

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Vinte Linhas 781

BIBLARTE – Uma livraria com mais de cem anos e muita história

A Biblarte começou por ser uma empresa individual dedicada a livros e antiguidades. Pouco tempo depois nasceu a Leiria & Nascimento e, mais tarde, a loja foi para Eliezer Kamenesky, um russo que entrou em filmes como «O pátio das cantigas» e «O pai tirano». Amigo de Fernando Pessoa, publicou em 1932 o livro «Alma errante» com prefácio do mesmo Fernando Pessoa que aqui vinha pelas tardes dormir a sesta, ler jornais, ver livros e conversar. Há nas paredes da Biblarte restos de anotações e desenhos de Pessoa, ele próprio. Em 1985 o ministro da Justiça (Mário Raposo) assina em 15-7 o decreto que expropria por utilidade pública a Biblarte. Publicado em 2-8 no jornal oficial, o decreto exige a saída imediata mas pelos vistos ninguém tinha percebido que a livraria tinha mais de cem mil volumes, fornecia e fornece importantes bibliotecas de Universidades e tinha clientes como Mário Soares, Raúl Rego, Pina Martins e Oliveira Marques. Depois de uma campanha nos jornais em 8-10 o ministro da justiça dá o dito por não dito e o decreto é revogado. Ernesto Martins resolve ser grato à sua maneira: faz em 1986 no Porto (Litografia Nacional) uma edição anastática da sua edição de «Os Lusíadas» de 1584, dita dos Piscos, que ofereceu a todos os participantes do abaixo-assinado. Foram oito mil contos muito bem empregues.

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Vinte Linhas 780

Dissertação sobre uma fotografia de Valter Vinagre

A minha terra. Foi preciso chegar a esta idade para me surgir «on line» uma cavalgadura a querer mudar o nome da minha terra. Uma besta quadrada a querer dizer que eu não nasci na terra onde vim ao Mundo. Um badalhoco a querer mudar as minhas referências de origem. Foi neste largo (ao tempo mais pequeno) que dei os primeiros passos em 1952 ainda havia a casa do Zé Rebelo no meio do espaço público e o pelourinho estava em frente à oficina do Zé Latoeiro. Foi neste largo que vi as primeiras festas de Santa Catarina e as primeiras procissões ao som da Filarmónica da minha terra com as suas marchas graves.

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Vinte Linhas 779

Ana Teresa Pereira – tudo começou em «Matar a imagem»

Ana Teresa Pereira (n. 1958 – Funchal) é uma escritora de méritos reconhecidos que não tem parado de receber prémios literários desde 1989 até hoje. Por exemplo recebeu o Prémio Pen Club em 2005, o Prémio Máxima em 2007 e o Prémio Edmundo de Bettencourt em 2006 e 2010. Mas tudo isto começou muito antes em 1989 quando um júri constituído por José Guardado Moreira, José Jorge Letria, Manuel João Gomes, Belmiro Guimarães e por mim próprio, decidiu atribuir ao seu primeiro livro ainda em manuscrito o Prémio Caminho de Literatura Policial.

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Vinte Linhas 778

Dia 05-05-05 ou Sete anos passaram num instante

Faz hoje (5-5-2012) sete anos que uma noite mágica marcou um número mágico (05-05-05) e, em Alkmar para a Taça UEFA, Miguel Garcia marcou um golo no minuto 120 do jogo AZ-SCP. Cada ingresso custava 27 euros, o jogo foi às 21 horas e eu mandei dois bilhetes para o Fernando Venâncio que lá esteve num espaço definido como «visitors area» rodeado de Portugueses a festejar no fim dos 120 minutos, aquela que foi uma das derrotas mais felizes da vida da equipa «A» do Sporting Clube de Portugal. Sete anos passaram num instante. O Miguel Garcia da fotografia tirada em 1998 no campo nº 2 de Alvalade, o Miguel Garcia do jogo contra o CADE no Entroncamento em 1999, o Miguel Garcia de Alkmar em 2005, está hoje na Turquia. A família de Miguel Garcia transferiu-se de Moura para Lisboa : seu pai foi trabalhar num café, sua mãe num colégio de crianças. Eles sentiam que só estando perto do filho o poderiam apoiar em termos efectivos e também afectivos. Muitos anos mais tarde a família mudou-se de nova mas agora de Moura para Alcochete onde fundaram um restaurante de comida típica alentejana. Poucos meses depois dessa mudança Miguel Garcia foi afastado da equipa «A» do Sporting e foi jogar para Itália. Onde não foi feliz porque se lesionou logo.

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Vinte Linhas 777

Dulce Maria Cardoso – da Figueira da Foz para Paraty

Leio na página 21 da Revista Ler nº 113, de Maio de 2012 o seguinte: «Dulce Maria Cardoso em Paraty – Já foi confirmada a presença da romancista Dulce Maria Cardoso na Festa Literária Internacional de Paraty (de 4 a 8 de Julho). Até ao momento é a única confirmação de autor português a fazer parte de uma das mesas principais. (www.flip.prg.br)

Ora «no dia 24 de Março de 1992 reuniu na Figueira da Foz o júri do Prémio Literário Joaquim Namorado na sua IX edição». Fiz parte desse júri com «Luís de Melo Biscaia, João da Silva Soares e Armando Garrido Gomes de Carvalho. Depois de prolongada troca de impressões o júri deliberou por unanimidade atribuir o Prémio ex-aqueo aos seguintes contos. «O herói pintado à mão» e «A ver navios». Abertos os respectivos envelopes dos pseudónimos verificou-se que «O Herói pintado à mão» é de autoria de Dulce Maria Cardoso residente em Cascais. «A ver navios» é de autoria de António Breda Carvalho residente na Mealhada». (citação parcial da acta)

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Vinte Linhas 776

Uma memória de Dinis Machado sobre a Barateira

No dia 13-2-1994 Dinis Machado celebrou os meus 43 anos com o poema manuscrito que me ofereceu. Escreveu o prefácio para o meu livro «Os guarda-redes morrem ao Domingo» edição da Padrões Culturais (11 contos, 11 crónicas, 11 poemas) e recordou os 80 anos da Livraria Barateira – fundada em 1914. Assim: «Como trazia os livros por atacado, tive aprendizagens simultâneas, resplandecentes e confusas. Já mais velhinho, cheio dos fumos da adolescência, trocava com os parceiros da minha confraria os livros alugados em grupo, numa espécie de cultura de cooperativa, regras de mercado que convinham às nossas bolsas e permitiam leitura desregrada. Na escola, dormindo muitas vezes pelo tédio, pela distracção e pelo invisível sono matinal, esperava o toque da campainha para me ver cá fora e partir à descoberta do continente barateiro e outras maneiras lúdicas de celebrar a existência como ir ao cinema ou jogar à bola. Posso dizer que tive na Barateira a escola paralela com a vantagem de não ser obrigado a aprender o que não conseguia aprender e não ter que responder, no coração da asneira, a perguntas doutorais. Eram só vantagens a começar pela coexistência pacífica entre as letras vetustas e as modernistas, se é que assim se pode chamar a esse caldeirão de letras. Império empírico de um rapaz destinado a pôr Shakespeare na sombra, a Barateira faz parte da minha formação, esse curriculozito tão exíguo e obstinado. E pergunto-me: – Serias capaz de te reconhecer sem todos aqueles anos de prateleiras que levavas para casa, essa feira inconcebível de trocas e baldrocas? Acho que não, confesso.»

Para quem começou na Barateira com «O Mosquito», as anedotas do Bocage e alguns calhamaços cujos títulos tinham sugestões aventurosas – não está nada mal.

Vinte Linhas 775

A Barateira e a mais velha estação de comboios do Mundo

Depois do fecho das livrarias «Poesia Incompleta» e da «Portugal» mais uma tristeza – está fechada a «Barateira» e talvez não reabra tal como era. Alguns recados na montra indicam outras livrarias onde os interessados podem levantar as suas encomendas. Lembrei-me logo de Dinis Machado que no seu grupo de amigos na juventude usava esta livraria como placa giratória. Um dos protagonistas do «Molero» pergunta «O livro do Malraux é da Barateira?» e logo um deles responde a sorrir: «Donde é que queria que fosse? Da Universidade de Coimbra?». Mais tarde, no café, há-de rematar um desejo dum companheiro («Gostava de ler um livro leve!») com uma frase sábia: «Não há livros leves, todos pesam toneladas!».

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Vinte Linhas 774

O postal do professor Bonacho e os conceitos do Tomás

O postal da Delegação Escolar de Caldas da Rainha, assinado pelo professor Bonacho, não tem data mas é de Abril de 1961 e marca o exame da 3ª classe para o dia 10 às 9 horas. Foi este postal que me resolveu o problema que se arrastava desde Outubro de 1958 pois, tendo nascido em Fevereiro de 1951, fui obrigado e entrar para a Escola no Montijo com sete anos feitos em vez de com seis anos e prestes a fazer sete. Fui acabar a 2ª classe já a Santa Catarina com 19 valores em Junho de 1960. Com o exame da 3ª em 10-4-1961 e da 4ª em 4-7-1961 cheguei à admissão ao Liceu e Escolas Técnicas em Agosto de 1961 em Leiria. Tudo se resolveu a bem (para mim) e a bem da Nação (para eles) e lá entrei para a Escola Técnica de V.F. Xira em Outubro de 1961. O postal, simples postal com o emblema da República, veio pelos CTT, não tem selo nem código postal mas foi parar ao seu destino e produziu os seus efeitos.

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Vinte Linhas 773

Miguel Garcia não estava em Bilbau; está na Turquia

Na recente derrota amarga do Sporting em Bilbau houve quem comentasse a hipótese de no último minuto surgir um golo como em Alkmar. Mas com uma diferença: em Alkmar estava o Miguel Garcia, o mesmo Miguel Garcia que no dia 24-10-1999 jogou no velho campo pelado do CADE (Entroncamento) e assistiu de longe à reviravolta no resultado que os dez restantes jogadores fizeram em seu nome. Expulso muito cedo num lance que deu grande penalidade contra o Sporting, Miguel Garcia sofreu por fora e viu os outros (todos foram leões) transformar um empate numa saborosa vitória por 5-2. O treinador José Lemos teve que inventar um jogador que não estava lá mas o Ricardo Quaresma e todos os restantes jogadores desdobraram-se nas tarefas defensivas e atacantes como se em vez de dez os leões fossem de facto onze. Como o CADE.

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Vinte Linhas 772

Manchester United – um outro olhar sobre a derrota

A propósito das duas derrotas recentes do Sporting e do Real Madrid ambas em Espanha contra o Atlético Bilbau e o Bayern Munique lembrei-me dum poema de Vítor Matos e Sá e deste livro. O poema que cito de cór diz que não há diferença entre derrota e vitória quando nenhuma vem presa à grande angústia. No caso do Sporting a derrota surgiria naquele ou noutro lance, o esquema estava montado, o lunático Platini estava por detrás e queria uma final assim. A arbitragem repugnante ficou à altura dos acontecimentos. Por sua vez a equipa do Real esticou-se para vencer poucos dias antes a equipa da UNICEF e o esforço não foi recuperado a tempo contra os alemães; faltou frescura mas mesmo assim Cristiano Ronaldo marcou dois golos o que em alta competição costuma ser suficiente para vencer.

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Vinte Linhas 771

Cristiano Ronaldo – o que eu gostaria de lhe dizer

Força Cristiano! A poucas horas do jogo com o Bayern pego numa velha fotografia que testemunha uma reportagem por mim assinada no jornal do Sporting Clube de Portugal. Algures em Alcântara durante uma vaga de frio em Lisboa o jovem jogador mostrou-se disponível para ajudar os sem-abrigo de Lisboa e eu estava lá. Se pudesse continuar a conversa gostaria de te lembrar que já com doze anos tu fazias aquele gesto de «calma!» depois de marcar um golo decisivo e que, como nada acontece por acaso, o mesmo senhor Aurélio Pereira que fez tudo para o Dr. Simões de Almeida assinar a tua vinda da Madeira para Lisboa foi o mesmo que ajudou a descobrir (entre outros) o Paulo Futre, o Ricardo Quaresma, o Simão Sabrosa, o Luis Figo e o Luís Carlos Cunha – Nani. Depois da tua vitória no sábado regalei-me com a derrota da equipa da UNICEF às mãos do Chelsea por causa das 4 grandes penalidades de 2009 em Stamford Bridge – tão óbvias que até o meu amigo Cruz dos Santos exigiu a irradiação do juiz desse jogo. Desta vez a expulsão de Terry (37m) lembrou-me a de Motta (28m) quando o Inter de Mourinho lá foi vencer e eles ligaram os sistemas de rega. E os do Chelsea perderam Cahill aos 12 m. adaptando então Bosingwa a central ao lado de Ivanovic e com Ramires em defesa direito. O árbitro ainda arranjou uma grande penalidade a lembrar as outras de Stamford Bridge mas nada feito. O tal jogador imortal não acertou na baliza.

Força Cristiano! Por todos os sonhos que se perderam nos corredores do velho «Lar do Jogador» onde vieste encontrar a D. Isabel, o teu patrício Leonel Pontes e o Paulo Cardoso. Pelo senhor Aurélio Pereira, pelo senhor Juca, pelo senhor Atanásio, pelo senhor Rui Vide, por todos os teus amigos, um pouco também por mim e por todos nós, Força Cristiano!