Todos os artigos de Valupi

Do camandro

Volunteering Can Benefit Those With Functional Limitations, Study Finds

Neste artigo descreve-se um estudo onde se mediu o efeito do trabalho voluntário em idosos com problemas de saúde incapacitantes. Resultado: trabalhar dá saúde, e os doentes que o digam.

Mas se a proverbial evidência se aplica neste caso extremo, igualmente terá aplicação no enorme, crescente, grupo de adultos reformados que estão cognitiva e fisicamente em condições de trabalhar com níveis de eficácia próximos ou iguais, nalguns casos melhores, aos dos trabalhadores não reformados. Por maioria de razão, uma crise económica que leva a cortes drásticos em vários serviços sociais oferece a oportunidade perfeita para ir buscar o contributo voluntário de milhares de cidadãos que encontrarão no trabalho voluntário uma fonte de saúde e alegria – de sentimento de utilidade, importância, pertença.

Quanto vale essa massa laboral para a economia e para a qualidade de vida da comunidade (a qual volta a ter implicações económicas positivas)? Se alguém fizer as contas, vai aparecer um valor do camandro.

Chuva de dardos

O nosso amigo Eduardo Pitta aproveitou o pretexto do Prémio Dardos para fazer uma cúmplice e amistosa provocação à blogosfera política, reunindo 10 bad boys (sim, estou a incluir as duas meninas na categoria) irredutíveis e irrecuperáveis. Claro que poderia ter posto 20, ou 200, mas os mandamentos sagrados do Prémio não o permitiam [not]. O que não poderia ter feito era deixar de fora o nosso amado maradona, o qual se vingou fazendo cair fogo nominalista sobre a vexata quaestio da liberdade. Creio que o Prémio Dardos (e quem foi o bacano que inventou a coisa, já agora?), levando a polémicas deste calibre académico, está a caminho de se tornar numa instituição com direito a cerimónia no espaço encantador que descobri ontem à noite, na divertidíssima entrega dos Prémios Neurónio: Teatro da Luz. Uma pérola com as dimensões exactas para bloggers ufanos e seus dardos marotos.

O nosso amigo Luís Novaes Tito também aproveitou o Prémio para elencar um conjunto de escribas sem denominador comum para além de um qualquer je ne sais quoi que lhe cai no goto. A lista é surpreendente e ecléctica, sendo antecedida de uma contextualizadora explicação: o Luís não precisa de concordar para apreciar. Durante muitos séculos, esta virtude teve nome – grandeza de alma. Hoje em dia, não sei bem como se nomeia.

O nosso amigo T. Mike meteu o Aspirina B em excelente companhia. Assim se vê o que é a misericórdia.

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Estas escolhas não interessam tanto pelos blogues escolhidos, interessam mais é pelo que dão a conhecer de quem os escolheu. É esse o alvo onde os dardos acertam em cheio.

Na quadra dos bacanais

Este homem, para além de se chamar Jofre de Lima Monteiro Alves, o que chega para nos levar a puxar uma cadeira e ficar à espera que faça revelações de arrebimbomalho, tem um facies telúrico e arcano. É o rosto do português de antanho, novecentista, como já não há por ter morrido o fabricante.

Hoje é o dia ideal para conhecermos a sua republicana prosa e mergulharmos nesta alegria de estarmos uns com os outros, celebrando a generosidade à castanhada.

A casa de férias do Homo neanderthalensis

Candidataram-se 2400 projectos, só 65 é que receberam as bolsas de cem mil dólares (72 mil euros). E dois eram portugueses, de portugueses: Miguel Prudêncio e Miguel Soares conquistaram os júris da Fundação Bill & Melinda Gates com a perspectiva do desenvolvimento de uma vacina e um estimulante imunitário que podem evitar a morte de crianças. Se resultar, a fundação pode injectar fundos no valor de um milhão de dólares. Se resultar, vidas de crianças serão salvas, aos milhares e aos milhões. Tem o seu interesse, por pouco que seja, portanto.

Pois, e à hora em que escrevo, esta notícia recolheu três (3) comentários no Público digital. Cada um deles é maravilhoso por mérito próprio e idiossincrático, mas o do meio, acima, é tudo isso e ainda acrescenta a genialidade mais pura. A propósito da malária, o autor consegue ligar o caso Maddy com a problemática Neanderthal, tendo o Algarve como pano de fundo e a genética como papel de embrulho. Isto não é para todos, nem devia ser para alguém, mas lá está a servir de charneira a um lamento feminista e a um espasmo numerológico. A audiência digital deste jornal, que há muito teria enforcado Sócrates numa varanda manhosa em Valhelhas, não encontrou mais ou melhor para expressar perante feito tão raro e relevante. As duas reacções são conexas.

A nossa amiga L* sugeriu dar destaque ao sucesso destes dois investigadores, imagem de um Portugal que deu saltos inimagináveis há 20 anos no investimento em ciência, e tem mais para nos dizer.

Good food for good thought

Fear-mongering

This kind of attack strategy is aimed at raising anxieties so that a thoughtful examination of a proposal is very difficult if not impossible. People begin to worry that implementing a genuinely good plan, pursuing a great idea, or making a needed vision a reality might be filled with frightening risks—even though that is not really the case.

There are all sorts of ways to create fear. You have seen a half dozen in the library story. The trick is to start with an undeniable fact and then to spin a tale that ends with consequences that are genuinely frightening or that just push the anxiety buttons we all have. The logic that goes from the fact to the dreadful consequence will be wrong, maybe even silly. A story that reminds us of scary events in the past may not be a fair analog, but it can be effective in bringing up unpleasant memories. Pushing anxiety buttons is manipulative in the worse sense of the word. But it can be an effective tactic.

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Os delirantes ideólogos de Passos

Também aqui, o direito tem-se amigado com a política e procriado a lógica de estroinice que tem presidido à gestão do erário público. Em boa verdade, o que Passos Coelho sugeriu foi uma revolução coperniciana no modo indígena de fazer política. Entre nós, as decisões políticas situam-se num contexto de impunidade sem retorno. A tal ponto que o político que asneou sente-se habilitado, até encorajado, para repetir a estultícia gastadora ainda com maior convicção.

Carlos Abreu Amorim

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Vamos repetir para nos convencermos de que lemos correctamente: Em boa verdade, o que Passos Coelho sugeriu foi uma revolução coperniciana no modo indígena de fazer política.

Revolução coperniciana no modo indígena de fazer política. Revolução coperniciana. Coperniciana.

Muito bem. E muito obrigado.

O que não tem remédio, remediado está

A subida das taxas de juro da dívida portuguesa para 6,902 nesta segunda-feira, ao arrepio de toda a racionalidade contrária inerente aos acontecimentos políticos e económicos nacionais mais recentes e às variadas declarações positivas para Portugal vindas de entidades com peso internacional, gera um efeito calmante. É a prova que faltava, se é que alguma faltava, da autonomia do mercado para seguir as suas estratégias de ganhos.

Podemos agora descansar e ocupar os neurónios com outro assunto qualquer. Deixemos o mercado asfixiar todas as economias do Mundo até só restar a China rodeada de países em bancarrota. Foi mais ou menos isto que Nostradamus profetizou, certo?

Os dardos e as flechas

Os nossos amigos José Albergaria e Sofia Loureiro dos Santos, transbordando generosidade, incluíram o Aspirina B nos seus Prémio Dardos, essas simpáticas manifestações anuais de apreço que celebram afinidades e gostos.

Eu, para eterna vergonha deste blogue, não dou continuidade às correntes. Mas agradeço penhorado as flechas que tantos concidadãos, amigos de partilha nestas novas tertúlias, disparam contra os inimigos da inteligência, da coragem e da liberdade. A vitalidade da comunidade tem na blogosfera uma das suas mais genuínas e recompensadoras expressões.

Mão segura, precisa-se

“Nunca votarei de olhos fechados, serei implacável contra a corrupção”, aviso de Seguro à direção da bancada do PS

Fonte

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A declaração pressupõe que Seguro é testemunha de situações de cumplicidade ou complacência com a corrupção no seio do grupo parlamentar do PS. É a lógica do acto discursivo a ditá-lo, embora não se saiba exactamente de que tipologia de corrupção está a falar. Ora, fazer votos de implacabilidade na matéria é fácil, o difícil é combatê-la com algum mínimo de eficácia.

Se Seguro quer fazer desta bizantina causa uma das suas bandeiras para chegar a Secretário-Geral do PS, o que só o dignificaria, tem de recolher a lição evangélica: abandonar a porta larga das declarações ambíguas, retóricas ou disfuncionais e entrar pela porta estreita da definição pública do que seja a corrupção, para início de conversa, e do que é preciso fazer para a reduzir ou impedir.

É que combater a corrupção é combater um bocado entranhado em todos nós, sem excepção, pede-se o saber e o rigor de um cirurgião.

Mistérios da São Caetano

As sucessivas desgraças políticas que chegam à liderança do PSD, desde que Barroso traiu o seu compromisso ético com Portugal, são uma penosa ilustração da decadência da direita nacional. As raízes estão na longa duração do Cavaquismo, no envelhecimento da geração dos fundadores do PSD e CDS sem renovação capaz e nos aparelhos de poder financeiro que substituíram a necessidade de lutar intelectual, ideológica e civicamente. A riqueza estava à distância de uma rede social, mas nada democrata, nessa enorme sociedade lusa de negócios do Cavaquistão, alimentada a fardos de dinheiro vindos da Europa para esta secção avançada do continente africano. Os filhos da direita abastada, de fortuna antiga ou recente, desistiram da luta política antes mesmo de a começarem. Havia muito mais e melhor para fazer com tantos privilégios e benesses: desportos, estudos, viagens, paixões, vida de corte. Não queriam misturas com os viciados da intriga, os arrivistas acabados de chegar e o povinho que cheira mal, inevitabilidades da actividade partidária.

Mesmo assim, não deixa de causar alguma surpresa ver Passos Coelho, que tinha juventude para ter outro juízo, a ultrapassar os máximos de estupidez registados pelos seus imediatos antecessores. Para além de não perceber nada do que se passa sociologicamente à sua volta, em particular as sondagens que o premeiam sempre que ajuda à governabilidade, de se ter metido num desmiolado beco sem saída com a revisão da Constituição e de ter levado o País para um escabroso e irresponsável processo de viabilização do Orçamento, agora saí-se com a repetição em voz alta do que Pacheco e Manela anda a vociferar entre dentes desde que lhes passou pelos olhinhos o episódio islandês: meter políticos em tribunal por causa das contas públicas. Ou seja, meter Sócrates no chilindró seja lá pelo que for, que é só do que se trata com estas alimárias. As implicações dessa aberração, caso fosse para levar a sério, teriam como consequência que só as Testemunhas de Jeová e os anarquistas ficassem interessados em ir para o Governo.

Passos faz tudo, tudinho, para oferecer ao PS ocasiões de tiro ao boneco. Mentes dadas à paranóia já devem estar em acelerado cálculo conspirativo.