Todos os artigos de Valupi

Efeito Zeigarnik

Nesta terça-feira de manhã, no período imediatamente a seguir às clarividências criativas do despertar, cheguei às mesmas conclusões que podem ser consumidas neste artigo com autoridade científica.

Uma coincidência, uma recorrência e uma sabedoria ancestral, já por Hesíodo grafada:

ρλέον ἥμίσυ ρανṯός

Liedson: resolvido

28 de Janeiro de 2006. Vaga de frio que estava a poucas horas de trazer neve a Lisboa com 52 anos de fantasiada espera. Vou assistir ao Benfica-Sporting no sector onde está a Juve Leo. A primeira parte acaba com a lampionagem a gozar o prato, 1-0. Reina uma bonomia confiante nas hostes selvagens, porém. O Leão perde mas é a Águia que está assustada. E o caso não era para menos, era para mais – mais três: um de Sá Pinto, dois do Liedson. Nessa noite, este casal abraçou-se e beijou-se no balneário, as agressões e o divórcio estavam a exactos quatro anos (menos uma semana) de distância.

Jogo acabado, mais uma hora nas bancadas sem poder sair. Frio a duplicar, parados ao relento e ao vento. Mas fervíamos a triplicar, a festa era vulcânica. Quando nos libertaram estavam as redondezas quase desertas, escaramuças só de boca. Fomos para o estádio de Alvalade a pé, escoltados pela polícia e em cantoria incessante nos dois quilómetros e meio de caminho. Por todas e mais algumas razões, esta é a maior alegria que devo ao ex-caixa de supermercado nas suas inesquecíveis sete épocas e meia de verde e branco.

Mas Liedson também me deu fundos desgostos. Vê-lo a barafustar com os árbitros sem qualquer controlo emocional, a tentar enganá-los nas faltas assim pervertendo o jogo, a agredir adversários nas picardias arriscando cartões, sempre foi para mim tão mais degradante quanto dele se esperaria um exemplo de perfeição desportiva. Claro, a culpa não era sua, mas de quem o treinava. A culpa é sempre dos pais.

Seja lá qual for a causa que tenha levado à sua saída do Sporting, foi mais um desafio que ele resolveu. Esta época estava a ser completamente desastrosa, a sua presença não ajudava a equipa. Agora, falta resolver o resto.

Espero que estejam à altura do momento

Grandes líderes políticos do estofo de um Jerónimo, Louçã, Passos e Portas já esgotaram o vocabulário na descrição deste e do anterior Executivo. De acordo com as suas palavras, pior governação é impossível. Felizmente, estamos numa situação em que algo pode ser feito, onde estas perspectivas convergentes podem levar a um acto verdadeiramente patriótico e urgente: o derrube de Sócrates e o seu afastamento da política nacional.

É por isso que quero saudar as oportunas e libertárias palavras de Jerónimo de Sousa:

Não temos medo que o povo se pronuncie, não branquearemos a política de direita.

Para Jerónimo é indiferente que o Povo ande a pronunciar-se há mais de 30 anos, como ainda agora o fez quando o PCP concorreu para Presidente da República, confirmando em todos os actos eleitorais a sua repulsa pelas propostas dos comunistas portugueses. Esse fanatismo deve ser aproveitado pelo PSD e CDS sem rebuço, caso sejam coerentes com as suas pungentes lamentações. Chega de ladrar e mostrar os dentes para Telejornal ver.

É a hora, seus bravos.

Good food for good thought

The authors conclude consumers who do not exit the luxury goods market remain interested in logo-laden products and are willing to pay premium prices for them. Before the recession, consumers used luxury brand logos to signal that they are one of the fiscal elites. During a recession, Nunes said, consumers may want to signal that “they are still prospering, and that they’re doing just fine despite the recession.”

Utilizing data collected before and in the midst of the 2008-9 recession from the world’s top luxury goods manufacturers Louis Vuitton and Gucci, the researchers found “products introduced during the recession actually display the brand far more prominently than those products which were withdrawn.” This resulted in designer handbags that were more conspicuously branded than before the recession.

Do Consumers Tone It Down Even in a Recession? Think Again!

A puta da verdade

Cavaco Silva é o tal cidadão que considera assunto de Estado a vida particular do cidadão Cavaco Silva tanto no presente como no passado em que o cidadão Cavaco Silva ainda não tinha poder para considerar assunto de Estado os negócios do cidadão Cavaco Silva. Vai daí, toma lá um Comunicado da Presidência da República como nunca se tinha visto.

Que pensam desta novidade institucional os ilustres apoiantes da candidatura do cidadão Cavaco Silva? Como não existe imprensa em Portugal, nunca o saberemos. Podemos é gastar uns minutos a pensar no que possa estar na origem do vanguardismo presidencial. Será este apenas o primeiro de uma série de comunicados autobiográficos? Os recursos e selo da República ainda virão a ser usados para o cidadão Cavaco Silva divulgar poemas da adolescência e um filme em Super-8 que fez na praia Dona Ana no Verão de 1982, por sinal muito giro e onde se vêem umas inglesas atrevidotas a rebolar à beira-mar como se tivessem acabado de deitar abaixo uma caixa de Mateus Rosé? Será apenas o resultado de uma interpretação mais imaginativa do conceito de soberania unipessoal? Ou, como dizem alguns veterinários experientes, este tipo de comunicados só é possível quando os loucos tomam conta do manicómio?

A chave, para mim, está na última frase do documento:

Com a serenidade que o fim do ruído da disputa eleitoral agora propicia, não pode o Presidente da República deixar de desmentir categoricamente as afirmações feitas, com propósitos que são para todos evidentes, e repor, em definitivo, a verdade factual perante os Portugueses.

Cá temos: serenidade para repor a verdade. É essa a superior missão do Presidente Cavaco Silva. E este paladino não se cansa de repetir que a verdade está a salvo de todas as baixezas e vilezas no website da Presidência da República. Logo, se as contas acerca da sua esquisita contabilidade patrimonial não estivessem lá, não seriam verdadeiras. Seriam apenas explicações iguais às dos outros que não conseguem colocar os seus textos no website da Presidência – o que faz deles os safados mentirosos que eles sabem que são.

Por agora, ainda estamos no domínio da fiscalidade do cidadão Cavaco Silva. Lá mais para 2012, ou 2013, poderemos aceder no website da Presidência da República a um conjunto bem mais alargado de verdades – desde a verdadeira explicação para o desaparecimento dos dinossauros, passando pela possibilidade de vida inteligente no planeta Terra até à exposição de toda a verdade acerca das verdadeiras relações entre a Heidi, o seu avô, o Pedro e uma cabra montanhesa de alcunha A Marota, entre muitas outras inacreditáveis verdades.

McDonald’s Report

A tosta mista, novidade, é uma vigarice. Mais um caso de publicidade enganosa. A única razão que poderá justificar a sua troca pelo nosso dinheirinho é a utilização do papel de embrulho como suporte às batatas fritas espalhadas em cima da mesa. Ruim, ruim, ruim.

Entretanto, médicos e dietistas zelosos farão bem em recomendar aos seus pacientes a ida diária ao McDonald’s. Aquelas fresquíssimas tiras de maçã, ou cenoura, mais as saladas, sopas, iogurte e gelatina, são poderosíssimas armas contra a obesidade. Só falta um maluco qualquer para fazer um documentário a provar a coisa.

O fantasma do Marquês de Pombal

Antes do Expresso, tinha sido o Público a largar a bombinha de mau cheiro:

As condições políticas, assinalam colaboradores de Cavaco, mudaram e muito. O Presidente está relegitimado, perante um governo minoritário, de Sócrates, antevendo-se um “papel mais actuante”. Numa versão benévola, na procura de consensos. Noutra, mais realpolitik, há outras fontes que antevêem momentos de tensão. Até pela degradação das relações entre Cavaco e Sócrates, que já existia, agravada pelas sequelas de campanha.

[…]

A campanha, com o caso BPN e da casa de férias, mas também as intervenções de ministros como Augusto Santos Silva, da Defesa, deixou sequelas no candidato. No discurso de vitória, na noite de domingo, Cavaco fez um discurso crítico, zangado mesmo, contra a “campanha suja” em que implicou os seus adversários na corrida a Belém. Colaboradores de Cavaco admitem que a relação de Santos Silva com Cavaco estará prejudicada com frases mais ácidas do ministro, ao dizer que o Presidente não se deve meter onde não é chamado.

.

Como bem lembrou Santos Silva em resposta, citando o discurso mais taralhouco que já se fez em Belém desde que naquele poiso foram levantadas paredes, a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente da República fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar. Não podemos, portanto, visto ele ser uma pessoa que só diz verdades, estar agora a pôr em causa a sua palavra; até porque isso implicaria ter de voltar a nascer, e essa cena do renascimento, para sair em condições, à italiana, tem um custo que a malta que trabalha não tem hipótese de pagar. Quer isso dizer que os super-íntegros jornalistas do Público e do Expresso inventaram as notícias? Tal também não é crível, seria manter a fina-flor da imprensa pátria sob uma caluniosa suspeita que estes jornais desmentem pela constante probidade e deontologia exibidas em todas as suas edições, secções e aflições. Pelo que algo se terá mesmo passado, as referências ao núcleo duro, colaboradores e fontes de Cavaco têm de corresponder a uma realidade à prova de alto cepticismo ou baixa política.

A minha tese é a da assombração. Existe um espectro que habita nas instalações do Palácio desde finais do século XVIII. O seu ectoplasma é tão poderoso que até consegue convocar alguns jornalistas, seleccionados pelos seus dons mediúnicos, para longas conversas enquanto passeiam nos jardins. Só impõe duas condições: que os encontros sejam à meia-noite e que se tenha cuidado para não perturbar o sono do Presidente da República.

Descarrilhado

Manuel Maria Carrilho escreveu um texto para responder ao desafio que Sócrates lhe fez: sobe ao ringue. São 7.185 caracteres (sem espaços) em 22 parágrafos que se resumem a isto:

i) Em 2004, em 2007, em 2008 e em 2009 escreveu coisas abundantes, maravilhosas e proféticas que podem ser agora consultadas com toda a facilidade num livro lançado em 2010 pela Editora Sextante.

ii) Sócrates não presta para nada e está cercado de imprestáveis, a crise foi causada pelo Governo, os tipos que dirigem o PS conseguiram escravizar o partido e o País e Sócrates é um entusiasmado apoiante, e cúmplice, da tirania egípcia.

iii) Ainda existem alguns militantes livres no PS, embora sejam raros e estejam impedidos de exercer as suas liberdades, os quais devem neste momento acordar da sua letargia ou hipnose e começar a pensar no que Carrilho lhes acabou de dizer que devia ser pensado.

O Manuel Maria é uma placa de Petri onde podemos observar a cultura da impotência a crescer. A facilidade com que se passeia na comunicação social expõe o seu drama em gente com omnipresente densidade. Mas só para acabarmos a ver um figurão da academia e da política a responder de forma primária e ressabiada à frontalidade de um desafio para o debate de ideias. Onde estão elas? Temos de ir a correr comprar o livro para as descobrir ou bastam as vulgaridades deste embrulho cheio de nódoas de gorduroso narcisismo? E que está ele a fazer no PS, um partido onde apenas encontra lobos e carneiros?

O que se passa com a desasada personagem é em tudo igual ao que acontece com os Crespos, Cintras Torres e Pachecos que utilizam o poder mediático – onde são pagos, nalguns casos sumptuosamente pagos, pelo que a culpa maior nem é deles – para nos imporem o espectáculo da sua decadência. A soberba da mediocridade há muito que defenestrou a inteligência nestes castelos de vaidades arruinadas. E o prejuízo maior é algo que está completamente fora da sua capacidade de entendimento: eles prejudicam a oposição.

Bicho-homem

Aquela cena dos egípcios montados em cavalos e camelos, que investiam contra a multidão só para serem de imediato apeados e sovados sem se perceber o que lhes passou pela mona ao irem para ali galopar, foi de uma irracionalidade tamanha que nenhum animal conseguiria imitar.

Cineterapia

mwl-groundhog2
Groundhog Day_Harold Ramis

Repito com frequência a Deus que este era o filme que gostaria de ter feito se só pudesse fazer um filme. E que, se o fizesse, ele sairia tal qual como este: do guião aos actores, passando pela equipa técnica, produtores, realizador. Mas com uma diferença, era o meu filme. Deus, com aquele rosto maior do que o Universo, fica a olhar para mim, meio pensativo e meio sonhador, talvez sonolento ou embriagado, e nada diz. Quem cala consente, pelo que é possível que já me tenha concedido o desejo e ainda não tenha aterrado o anjo a avisar.

Segundo diz quem sabe, passaram 10 anos entre a primeira e a última vez que o Phil acordou no mesmo dia, no mesmo quarto, com a mesma canção. 10 anos, então, é quanto demora até que um filha-da-puta cínico se transforme num gajo porreiro de quem apetece ser amigo. Se querem exemplo de optimismo, maior do que este ainda não se fabricou. Acontece que o filme enfia os 10 anos em 101 minutos de película, genérico incluído. Isso dá muita vontade de rir e alguma vontade de chorar – como sempre acontece quando se tentar meter o tempo na gaiola do espaço, seja através do cinema ou do BOTOX®. Rir e chorar, caso não te lembres, é a finalidade suprema da invenção dos irmãos Lumière.

Continuar a lerCineterapia

Apocalypse Now

Informam-se todos os profetas da desgraça, e os demais videntes do abismo, que o mês de Janeiro de 2011 terminou sem qualquer altercação social – apesar dos cortes nos salários, aumentos nos combustíveis, ataques sujos contra o impoluto candidato Cavaco e a transferência de um famoso atacante da Selecção para um clube estrangeiro. A Gerência pede a vossa compreensão e paciência, fazendo notar que ainda temos mais 11 meses pela frente, período durante o qual poderemos encher as ruas com urros e flores festejando a chegada do FMI, voltar a bloquear as estradas com camionetas de mercadorias ou incendiar o Parlamento e edifícios contíguos.

Se cada um destruir a sua parte, se não vacilarmos no boicote de tudo por causa de todos e no ataque a todos por causa de tudo, se os comunas e os reaças conseguirem unir esforços e caminhar na mesma direcção qual feixe de varas de bétula branca, vamos bem a tempo de dar uma grande alegria aos apóstolos da situação explosiva.