Alerta cinzento

De todos os avisos emitidos pelo Instituto de Meteorologia, aquele a que menos se presta atenção, aquele que mais se despreza, é o de risco de nevoeiro. Tão maltratado anda este fenómeno atmosférico que os próprios técnicos já nem se preocupam sequer em informar a população da sua ocorrência – como foi o caso para Lisboa, mergulhada num magnífico nevoeiro logo que caiu a noite, o qual se prolongou denso pela madrugada, mas sem tal ter sido antecipado na previsão para 6ª feira.

Como são néscios estes meteorologistas. Ignoram que as noites de nevoeiro podem levar dois amantes para o risco extremo de incendiarem as ruas e as horas.

24 thoughts on “Alerta cinzento”

  1. Como é bom flanar, em noite de nevoeiro, pela margem do Tejo entre o cais de Alcântara e Belém. O pensamento voa entre os sótãos da memória e as amplas salas do futuro. Realmente os meteorolgistas realmente são distraídos, ou néscios como se lhes queira chamar, as noites de denso nevoeiro, como acontecem agora na minha amada cidade, podem incendiar as saudades do passado e a apetência pelo futuro.

  2. há que tempos não ouvia a palavra flanar, jafonso, tão gira. mas, olha, pensa lá se flainar, pela fonética, não fica melhor no teu discorrer. assim: fl!ai!nar. :-)

  3. Se os meteorologistas tivessem que informar sobre a ocorrência de nevoeiro, não tinham mãos a medir só com o interior norte do país…

    Mas, claro, não se espera dos alfacinhas outra coisa que não a preocupação com o seu próprio umbigo. :p

  4. Aqui no Porto, o aparecimento do nevoeiro é das coisas mais belas que se pode ver na cidade. Apesar da hora variar, há uma tendência para cair no final do dia e ir desaparecendo pela manhã. Vem quase sempre de poente e entra feito felino pelo Rio Douro adentro submergindo as margens e as pontes. Já tive a sorte de apanhar este fenómeno nas minhas corridas pela marginal e um gajo até fica sem fôlego com a beleza daquela invasão de sal e algodão.

  5. Valupi,
    Não admira que os nefelibatas (como tu) gostem de nevoeiro, o céu empurrado para a terra por nuvens mais curiosas, que se aventuram em novas geometrias, desistindo das suas formas mais ou menos terrenas. Tal como não é de espantar que os amantes (como eles) encontrem no nevoeiro a matéria incandescente para se sentirem a sós no meio da cidade e incendiarem ruas e horas sem obscenidade, uma vez que desaparecidos de cena, envoltos neste véu que os transforma num segredo abandonado. Esta foi uma das mais belas e longas noites de nevoeiro que vi na vida. Apenas faltou a janela embaciada de um carro cor de noite azul escura junto aos bombeiros de bairro, de onde espreitar por cima de outro corpo as sombras que passavam, com uma labareda na ponta dos dedos e os nervos à flor da pele.

  6. E quando o pensamento do alfacinha se refugia nos sótãos da memória em noites de nevoeiro como a de ontem, neles encontra as dias alegres da infância passados nas margens do rio Minho, os anos sessenta em Albufeira e no Zavial, os longos dias de exílio num tempo em que que Paris não rimava com o seu país. Enfim…este complexo do umbigo é que nos vai matar a todos. Eh pá, como é bom flanar/flainar por esta minha cidade.

  7. Tenho tantas saudades da chuva. Procurei o Sul para fugir dela mas isto assim já é secura a mais. Ontem caíram uns pingos mal-paridos que mal deram para molhar a cara e satisfazer o gosto.

  8. Porque quero mergulhar no mar com chuva e quero o cheiro da terra molhada. Viver no campo e não ter cheiro de terra molhada é pior que viver na cidade e não ter cinemas.

  9. ela vai chegar aí, que eu sei. agora pensei numa coisa: imaginei-te a mergulhares no mar e depois a rebolares na terra e mergulho de novo. só para a espera ser mais tranquila – mas só conta, este mini-placebo de chuva, por ser entre ti e ti.:-)

  10. Olinda, a terra por aqui cheira a laranja e a alecrim e a tomilho e a areia só cheira a sal. nops, mesmo entre mim e mim não me convence.

  11. hummm, bem me pareceu que havia algo de diferente no ar, quando na sexta cheguei a Lisboa. Estavam lindos a cidade, o rio e o mar (viajei de comboio na linha de Cascais) embrulhados num manto de nevoeiro.

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