Num mundo já não digo ideal, mas pelo menos mais justo, os prémios pecuniários deveriam ser um reconhecimento pelo trabalho realizado e um incentivo ao trabalho futuro, sobretudo para aqueles que precisam mesmo do dinheiro. Para quê dar uma batelada de massa a quem não necessita dela e já só aspira a sossego para escrever as memórias e tempo para gozar a companhia dos netos? Há muitos jovens de vinte e tal, trinta e tal, quarenta e tal, cinquenta e tal e até de sessenta e poucos anos que realizaram já coisas notáveis, fizeram avançar a ciência e/ou a cultura, prestigiaram o país cá dentro e/ou lá fora e não estão a pensar pendurar as botas tão cedo. Calhava-lhes bem um prémio pecuniário, porque muitos deles são uns tesos e lutam no seu labor pioneiro com toda a espécie de dificuldades, mais as criadas pelo actual governo.
O Prémio Universidade de Lisboa, no valor de 25.000 euros, foi instituído em 2006 para alegadamente distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa ou estrangeira a trabalhar em Portugal há pelo menos cinco anos, cujos trabalhos de reconhecido mérito científico e/ou cultural, tenham contribuído de forma notável para o progresso e o engrandecimento da ciência e/ou da cultura e para a projecção internacional do país”.
O prémio teve até agora sete galardoados, todos portugueses, o mais novo dos quais com 65 anos e alguns com idades bem bonitas. Há dias foi a vez do conselheiro de Estado João Lobo Antunes, de 68 anos. Ele e outro dos já premiados tinham sido distinguidos anteriormente com o prémio Pessoa. Os sete tinham todos sido já agraciados com ordens e/ou grãs-cruzes e/ou comendas, sem falar de diversos outros prémios nacionais e estrangeiros, títulos de doutor honoris causa, lugares honoríficos em variados organismos e mais miudezas. As deliberações do júri do Prémio Universidade de Lisboa têm sempre mencionado a “longa carreira” dos galardoados. Pudera! Mas se olharmos o regulamento, lá só fala de trabalho realizado em Portugal “há pelo menos cinco anos”.
Sendo assim, só resta à Universidade de Lisboa mudar o regulamento do prémio, que será rebaptizado Prémio da Terceira Idade e passará sinceramente a distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa com mais de 65 anos, que tenha cumprido uma longa carreira académica e completado a sua colecção pessoal de condecorações, prémios e medalhas, sendo dada preferência a titulares e ex-titulares de altos cargos e a conselheiros de Estado”.