Os açambarcadores de prémios

Num mundo já não digo ideal, mas pelo menos mais justo, os prémios pecuniários deveriam ser um reconhecimento pelo trabalho realizado e um incentivo ao trabalho futuro, sobretudo para aqueles que precisam mesmo do dinheiro. Para quê dar uma batelada de massa a quem não necessita dela e já só aspira a sossego para escrever as memórias e tempo para gozar a companhia dos netos? Há muitos jovens de vinte e tal, trinta e tal, quarenta e tal, cinquenta e tal e até de sessenta e poucos anos que realizaram já coisas notáveis, fizeram avançar a ciência e/ou a cultura, prestigiaram o país cá dentro e/ou lá fora e não estão a pensar pendurar as botas tão cedo. Calhava-lhes bem um prémio pecuniário, porque muitos deles são uns tesos e lutam no seu labor pioneiro com toda a espécie de dificuldades, mais as criadas pelo actual governo.

O Prémio Universidade de Lisboa, no valor de 25.000 euros, foi instituído em 2006 para alegadamente distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa ou estrangeira a trabalhar em Portugal há pelo menos cinco anos, cujos trabalhos de reconhecido mérito científico e/ou cultural, tenham contribuído de forma notável para o progresso e o engrandecimento da ciência e/ou da cultura e para a projecção internacional do país”.

O prémio teve até agora sete galardoados, todos portugueses, o mais novo dos quais com 65 anos e alguns com idades bem bonitas. Há dias foi a vez do conselheiro de Estado João Lobo Antunes, de 68 anos. Ele e outro dos já premiados tinham sido distinguidos anteriormente com o prémio Pessoa. Os sete tinham todos sido já agraciados com ordens e/ou grãs-cruzes e/ou comendas, sem falar de diversos outros prémios nacionais e estrangeiros, títulos de doutor honoris causa, lugares honoríficos em variados organismos e mais miudezas. As deliberações do júri do Prémio Universidade de Lisboa têm sempre mencionado a “longa carreira” dos galardoados. Pudera! Mas se olharmos o regulamento, lá só fala de trabalho realizado em Portugal “há pelo menos cinco anos”.

Sendo assim, só resta à Universidade de Lisboa mudar o regulamento do prémio, que será rebaptizado Prémio da Terceira Idade e passará sinceramente a distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa com mais de 65 anos, que tenha cumprido uma longa carreira académica e completado a sua colecção pessoal de condecorações, prémios e medalhas, sendo dada preferência a titulares e ex-titulares de altos cargos e a conselheiros de Estado”.

A “arte” de governar

A esta data já caiu por terra a oportunidade desta direita se defender num passado inventado, mas, infantil que fosse, de tanto repetido, havia uma narrativa da crise que desembocava na frase “não fomos nós que deixamos o país chegar a este ponto”.

Já não vale a pena misturar alhos com bugalhos e omitir uma história importante para a caraterização do país que nos levaria a dez anos de Cavaco, ao desenho da União Europeia e aos efeitos diferenciados do euro.

Já não vale a pena fingir que não havia crise internacional e que esta surgiu de repente apenas neste Governo.

Valeria a pena assumir estes anos de Governo, o que prometia resolver tudo, sem todos os cortes muito para além do memorando que a direita avessa a subida de impostos acabou por fazer.

Mais valeria a pena perceber de onde vem uma obsessão pelo caminho que nos trouxe até aqui e que nos dizem, sempre que erram nas previsões pela boca de Gaspar, ser o caminho “certo”.

Temos um MF que desde que tomou posse falhou sempre: no défice; no desemprego; na dívida pública; em tudo.

Dois OE no ano passado e este ano, naturalmente, já vamos no segundo, perante um quadro macroeconómico totalmente desfasado dos pressupostos falhados de Gaspar.

É injusto concentrar o erro todo em Gaspar. Temos um PM que não demite, antes que tenha de ser demitido, nem muda de política.

Pior, temos um discurso político sem substância, e que mente e que insulta.

A cada conferência de imprensa de Gaspar ou a cada intervenção do PM (vou esquecer os consultores que gostam de baixar o salário mínimo) pior do que os números – como o da contração da economia portuguesa que passa de uma previsão inicial de – 0, 3% para – 6, 4 % ou o do défice que passa de 4, 5% para 6,6% ou o do desemprego que passa de 12,4% para 18,4% – é a forma como os mesmos são apresentados.

Num país sem esperança, sem emprego, com fome, com emigração forçada, com empresas a fecharem todos os dias, aqueles atores de filme mudo não incorporam as pessoas reais que estão por detrás dos números na sua mensagem.

É com se o país real – que não conhecem – não existisse com sangue vivo e por isso temos o horror de assistir a um guião de cinema com pretensões a ser por capítulos que se esqueçam.

É assim ultrajante que o Governo tenha tomado posse pedindo sacrifícios aos portugueses prometendo um retorno no ano seguinte, sacrifício esse que foi feito e deu em nada e que o Governo volte a falar aos sacrificados uma e outra vez como se nunca tivessem sido criadas expetativas, essas que dão um sentido.

É ultrajante que havendo uma troika à qual pode ser mostrada a desgraça do país, Gaspar se veja aflito, porque ele e a troika são um só pensamento e o que ele quer é falar da sua credibilidade externa pisando, para isso, deveres em que está investido, que têm a ver connosco.

É ultrajante que se pressione o TC, que se diga haver uma “espera” pela decisão do empata, que se diga que a troika “não se deixa pressionar pelo TC”. A indignidade desta frase é toda a postura de bom aluno do Governo que incentiva a inversão da lógica de um país civilizado: é o TC que não se deixa pressionar pela troika e os 4 mil milhões de cortes adiados.

É ultrajante não admitir erros atrás de erros que custaram reformas, cuidados de saúde, escola pública, empobrecimento, emigração, destruição do tecido empresarial.

É cobarde não negociar com força, não exigir juros privados ao nível dos outros, pelo menos isso.

É desespero desculparem-se com o memorando, o tal com o qual o PSD ou pessoas como Catroga nada tiveram a ver, o tal que foi afirmado como “um programa de governo”.

Tem de se desligar a televisão quando o PM vem dizer que “isto são só previsões”, esses falhanços que na oposição a direita queria criminalizar.

Isto não é um Governo.

É um clube secreto.  

 

 

 

Duas pessoas que adoram pessoas

António José Seguro disse que, por vezes, quando ouve o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, a falar, fica “com a ideia de que tudo isto era mais fácil se não houvesse pessoas”.

“Isso é lá com ele. Nós gostamos muito das pessoas e a política só tem sentido se pensarmos e agirmos sempre em função das pessoas”, sobretudo aquelas “que menos têm, as que estão desempregadas, as que têm pensões de miséria, as que não têm qualquer tipo de apoio”, afirmou.

Fonte

Para quem é que Seguro fala com este discurso infantilóide? Que boçalidade é esta de dizer que se gosta muito de pessoas? Triste destino o nosso de termos a liderança da oposição entregue a alguém que não encontrou nada melhor para introduzir no espaço público do que um análogo do demagógico lema da “política de verdade”: “As pessoas estão primeiro”.

É por isso relevante encontrar o paralelo político mais próximo desta formulação; e ele está neste discurso, o qual foi aplaudido pelo actual secretário-geral do Partido Socialista:

Necessitamos de recentrar a nossa agenda de prioridades, colocando de novo as pessoas no fulcro das preocupações colectivas. Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático. Precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo. Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.

A pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz.

No momento que atravessamos, em que à crise económica e social se associa uma profunda crise de valores, há que salientar o papel absolutamente nuclear da família. A família é um espaço essencial de realização da pessoa humana e, em tempos difíceis, constitui o último refúgio e amparo com que muitos cidadãos podem contar.

Discurso de Tomada de Posse do Presidente da República

Há vários pontos de plena coincidência entre a prática e o discurso de Cavaco e Seguro. E, para além de gostarem muito de pessoas, ao ponto de quererem fazer dessa categoria filosófica e/ou religiosa um projecto de construção social, colhe ainda recordar que Seguro já se assumiu como um “chefe de família”. Eis mais uma faceta deste socialista valente que deve deixar encantado o reformado de Belém.

Populismo, o ópio dos impotentes

A tragédia social, económica e financeira a que vários governos conduziram Portugal interpela a consciência dos portugueses no sentido de porem em causa os partidos políticos que, nos últimos vinte anos, criaram uma classe que governa o País sem grandeza, sem ética e sem sentido de Estado, dificultando a participação democrática dos cidadãos e impedindo que o sistema político permita o aparecimento de verdadeiras alternativas.

Neste quadro, a rotação no poder não tem servido os interesses do Povo. Ela serve sobretudo para esconder a realidade, desperdiçando a força anímica e a capacidade de trabalho dos portugueses, bem como as diversas oportunidades de desenvolvimento que o País tem tido, como aconteceu com muitos dos apoios recebidos da União Europeia.

A Assembleia da República, sede da democracia, desacreditou-se, com os deputados a serem escolhidos, não pelos eleitores, mas pelas direcções partidárias, que colocam muitas vezes os seus próprios interesses acima dos interesses da Nação. A Assembleia da República representa hoje sobretudo – com honrosas excepções – um emprego garantido, conseguido por anos de subserviência às direcções partidárias e de onde desapareceu a vontade de ajuizar e de controlar os actos dos governos.

Manifesto pela Democratização do Regime

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A seguir ao discurso da tomada de posse de Cavaco, este documento é o sintoma mais grave da deriva populista da sociedade portuguesa em contexto de crise económica. A gravidade não resulta dos conteúdos apresentados, pois todo o argumentário populista é por regra inane e alucinado, mas dos signatários. Ver Vasco Lourenço, Manuel Maria Carrilho, Eurico de Figueiredo, José Adelino Maltez, Henrique Neto, João Gil, Rui Tavares, Ventura Leite, Elísio Estanque e Veiga Simão juntos a maldizerem os partidos é espectáculo que pode chocar o melhor cristão.

Atente-se ao modo cobarde como o texto abre as hostilidades: lança-se alcatrão e penas para cima dos Governos por grosso, nada explicando e por isso a todos equivalendo em responsabilidades, depois ataca-se os partidos pelo que fizerem nos últimos 20 anos (??) e por terem criado uma classe sem grandeza e sem ética (???), a qual andará por aí a impedir o aparecimento das “verdadeiras alternativas” (????).

Este manifesto tresanda a ressabiamento e almoços bem regados de uma ranchada de tiranetes caducos. Como já não têm forças para criarem um projecto político original, entretêm-se tentando demolir a cidade.

Revolution through evolution

Men who like big breasts are more sexist, says study
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Babies Prefer Individuals Who Harm Those That Aren’t Like Them
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Plants give bees a caffeine buzz
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How Your Moral Decisions are Shaped by a Bad Mood
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Fungi May Be Able to Replace Plastics One Day
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Job Burnout Can Severely Compromise Heart Health
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Dwelling On Stressful Events Can Increase Inflammation in the Body, Study Finds
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Life in the Universe: Foundations of Carbon-Based Life Leave Little Room for Error
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Playing Action Videogames Improves Visual Search
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Soldiers More Likely Than Peers to Be Convicted of Violent Offenses
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Denied the Chance to Cheat or Steal, People Turn to Violent Video Games

Um político às direitas

Nos intervalos da escrita de roteiros e respetivos prefácios, Cavaco Silva tem dado contributos preciosos para a saúde da nossa democracia, a estabilidade política e o progresso. Tem sobretudo colocado o interesse do país, ou seja, da generalidade dos seus cidadãos, acima de qualquer outro interesse. Para além da genial ideia de dar o tiro de partida para a tomada do poder por via da mentira e do insulto por uns imbecis e incompetentes numa conjuntura extremamente delicada, que exigiria gente com extrema habilidade, conhecimento profundo da economia do país, interesse em defendê-la e experiência de negociação, veja-se como foi bem pensada a decisão de não vetar e depois de não suscitar a fiscalização preventiva de algumas normas do orçamento de 2013, mas sim a fiscalização sucessiva. Agora a incerteza paira e ameaça. Foi uma decisão a todos os títulos errada. Ou será que a ideia era mesmo deixar que a pressão da situação calamitosa das contas no início do ano (que provavelmente conheceria) atuasse sobre os juízes do Constitucional de modo a levá-los a desencantar argumentos para compatibilizar o orçamento com a Constituição, como quererá o Governo? Tudo é possível. De uma maneira ou de outra, não se recomenda uma pessoa assim tão desastrada e/ou cobarde (no primeiro caso) ou tão cínica (no segundo) para árbitro do jogo político e fator de equilíbrio. O homem é um calculista pouco inteligente, apenas centrado no seu umbigo e em proteger o seu passado. Vai pactuar com estes farsantes até ao fim.

Pegar fogo ao rastilho

Mr. Dijsselbloem declined to rule out taxes on depositors in other countries besides Cyprus in the future, but insisted that such a measure was not being considered. He said the tax would generate 5.8 billion euros.”

A Europa já precisa de muito pouco para se incendiar. Estas declarações do atual presidente do Eurogrupo, proferidas na sexta-feira, após a decisão de resgatar Chipre, eram, portanto, totalmente dispensáveis. O senhor Dijsselbloem junta-se assim aos elefantes nórdicos que insistem em ir passear para lojas de porcelanas, fingindo desconhecer o que são expectativas. São claramente um incentivo a que se retirem os depósitos dos bancos de certos países, e nós sabemos quais são, e se transfiram para outros. Uma corrida aos bancos noutros países que não apenas Chipre será mesmo a centelha que falta para mandar a Europa pelos ares. E não vai ser bonito para ninguém.

Sabemos, como lembra o Vega9000, que para tal acontecer faltará apenas um agravamento dos cenários macroeconómicos e a saturação dos alemães. Graças ao Gaspar, Portugal acabou de se tornar “elegível” para tal medida. E agora? Corremos já? Não precisamos sequer de ir para uma fila. É só utilizar a Internet. Decididamente, assistir à gestação de (mais) um conflito europeu não estava nas perspetivas de muito boa gente. Talvez só à terceira tragédia aprendamos: entrar para um clube de que sejam sócios os alemães não é definitivamente boa ideia. Não estou com isto a dizer que são maus, castigadores, nazis. Estou simplesmente a dizer que não é boa ideia. Tem tendência para acabar mal.

O feitiço do pensamento mágico

“Devemos persistir, ser exigentes, não sermos piegas e ter pena dos alunos, coitadinhos, que sofrem tanto para aprender”, ilustrou, considerando que só com “persistência”, “exigência” e “intransigência” o país terá “credibilidade”.

O primeiro-ministro considerou ainda que esta atitude de exigência deve começar na escola mas estender-se a todos os níveis da sociedade e deu como exemplo as empresas.

O primeiro-ministro pegou ainda no exemplo da escola e do ensino para defender que “se criou a falácia” de que as grandes reformas levam anos a produzir efeitos.

“Não é verdade. Em cada aula que se dá, tudo pode mudar. As pessoas ajustam-se rapidamente à mudança. Mas tem de haver uma mudança. Agora se se arranjam sempre desculpas e explicações para os maus resultados…”, afirmou.

“Os agentes ajustam-se muito rapidamente e antecipam os resultados quando há credibilidade”, acrescentou.

Passos pede aos portugueses para serem “menos piegas”

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Bastaria organizar um florilégio ao calhas das afirmações de Passos Coelho ao longo da sua carreira política para constatarmos que estamos perante uma cabeça invulgar, tal como a sua biógrafa Felícia Cabrita cinzelou em título. Mas a invulgaridade em causa consiste no facto de, comparada com a sua, a cabeça de Santana Lopes nos parecer brilhante e mesmo, com mais 10 ou 15 segundos a manter a comparação, verdadeiramente genial.

Alguém diz coisas a Passos e Passos tenta repetir o que ouviu. Têm de ser coisas simples, e quão mais simples mais alta a probabilidade de ele as conseguir repetir com alguma fidelidade. Neste famigerado episódio, ocorrido num tempo em que o sonho começava já a dar crescentes sinais de vir a ser um pesadelo no curto prazo, Passos lança-se num discurso acusatório contra o próprio povo que o elegeu e a quem ele tinha prometido um analgésico para as dores da austeridade. Íamos cortar gorduras, ficar mais bonitos. Íamos acabar com o regabofe socialista, cheio de opulência, desvario e corrupção. Íamos, mas só até ao dia 5 de Junho de 2011. Semanas depois, a “política de verdade” chegava finalmente aos nativos para lhes ensinar maneiras e respeitinho. Para começar, iam ficar sem dinheiro, a fonte de todos os vícios.

Acredito que Passos acreditou que “as pessoas ajustam-se rapidamente à mudança”. É uma ideia que pode ser defendida com argumentos racionais, verosímeis, eloquentes. Veja-se, por exemplo, o que acontece numa catástrofe, numa guerra. E acredito que Passos acreditou que lhe bastaria impor uma qualquer mudança para obter os ajustamentos que melhor favorecessem os seus interesses. Afinal, se o casal Passos-Relvas tinha derrotado cavaquistas e baronato laranja, que dificuldade especial oferecia tratar de um país que se tinha ido entregar voluntariamente nas suas mãos?

Passos Coelho é um dos políticos mais violentos que já exerceram o poder em Portugal em democracia. Violência acrescida pelo seu estilo dúplice que oscila entre a fanfarronice de telenovela e a postura obnóxia. Só que a culpa não é dele, coitado. A culpa é de quem lhe faz a cabeça.

Precedentes rumo à confiança.

Vamos admitir o seguinte cenário:
Após mais um descambar das contas públicas no final de 2013, todos os objectivos acordados com a Troika para este ano estão em risco de falhar. Nem o “défice estrutural primário”, esse baluarte de credibilidade, escapa à degradação da situação económica. Furiosa, a Troika exige que os objectivos para o défice sejam cumpridos, e que já deu mais tempo. Temos de cumprir custe o que custar, dizem.
É preciso dinheiro para tapar o buraco, rápido, ou a próxima avaliação vai dizer negativa, com “consequências dramáticas” para o “futuro do País”. Em desespero, o Ministro das Finanças decide-se por uma medida extraordinária como foi feita agora no Chipre: um confisco de uma parte dos depósitos bancários.

Não podia acontecer aqui, porque o Chipre é um “caso especial”. Têm a certeza?

Lembrando, recordando e memorando

Quem diz que estamos a pagar pelos erros cometidos desde 2008, ou 2005, ou 2002, ou 1995, não diz que teria feito diferentemente caso tivesse exercido o poder nesses períodos. E não o diz ou porque não faz a menor ideia do que deve dizer ou porque não quer ser confrontado com o facto de não ter dito nesse tempo o que agora lhe apetece dizer.

Consta que Sócrates, e afinal, não terá sido o causador da maior crise económica mundial dos últimos 80 anos. Consta. E há quem sugira que Sócrates não foi assim tão decisivo no eclodir da crise das dívidas soberanas na Zona Euro como se pensa. Uns malucos, óbvio. Mas a respeito dos seguintes factos já só há certezas:

– Ir para as eleições de 2009 e 2011 escondendo o contexto internacional de modo a poder diabolizar um primeiro-ministro e o seu Governo é desonestidade intelectual e política que exibe uma pulsão desenfreada para a manipulação, difamação e calúnia.

– Boicotar o acordo que o Governo minoritário socialista alcançou com os parceiros europeus, Comissão Europeia e BCE para evitar o resgate e a inerente perda da soberania foi um acto de traição ao supremo interesse de todos os portugueses.

– Fazer uma campanha eleitoral vil e mentirosa do princípio ao fim e de alto a baixo, onde se prometeu o fim da austeridade e dos sacrifícios por via das soluções que juravam estar estudadas e prontas a aplicar, expõe o estado de putrefacta decadência moral da direita portuguesa.

– Aproveitar o escudo da tutela estrangeira para instaurar um regime de saque fiscal e de ataque ao Estado Social, e nessa desmiolada política arrastar o País para uma depressão económica de consequências destrutivas incalculáveis, é o mais grave escândalo na História de Portugal depois do 25 de Abril.

Em 2011, por causa de uma crise aberta exclusivamente para derrubar um Governo minoritário à custa da qualidade de vida e do futuro de milhões de portugueses, foi acordado nas piores condições possíveis um empréstimo de emergência que garantia aos credores a realização de certas medidas. Lembremos quais foram e recordemos quem pegou nesse desenho e de imediato o desfigurou na sua sanha contra o povo.

Escuta, laranjal: nem só de imbecis se faz Portugal

Cometeu-se um erro de irresponsabilidade. Os partidos levantaram-se em conjunto para chumbar o PEC para agora ter um programa pior que o anterior. Isso é que eu não consigo compreender. O PSD actuou por cobiça de poder, achou que esse era o momento para ganhar eleições.

Se o PSD queria eleições, podia ter viabilizado o PEC e depois, mais à frente, quando já não causasse prejuízos, provocava uma crise política. Cometeu-se um erro de pura leviandade que ficará nos anais da história política portuguesa.

Sócrates, 2011

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O primeiro-ministro e presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, considerou na terça-feira à noite que os sociais-democratas têm um «grau de identificação importante» com o programa acordado com a ‘troika’ e querem cumpri-lo porque acreditam nele.

«É curioso que o programa eleitoral que nós apresentámos no ano passado e aquilo que é o nosso Programa do Governo não têm uma dissintonia muito grande com aquilo que veio a ser o memorando de entendimento celebrado entre Portugal, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional», declarou Passos Coelho, durante uma sessão com militantes do PSD sobre a revisão do programa do partido, num hotel de Lisboa.

Depois de acrescentar que o diagnóstico da situação do país feito pelo PSD «não estava muito desviado da observação atenta especializada que o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional tinham», Passos Coelho concluiu: «Quer dizer, há algum grau de identificação importante entre a opinião da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional e o que é a nossa convicção do que é preciso fazer».

Segundo o presidente do PSD, por esse motivo, «executar esse programa de entendimento não resulta assim de uma espécie de obrigação pesada que se cumpre apenas para se ter a noção de dever cumprido».

«Por isso, não fazemos a concretização daquele programa obrigados, como quem carrega uma cruz às costas.»

«Nós cumprimos aquele programa porque acreditamos que, no essencial, o que ele prescreve é necessário fazer em Portugal para vencermos a crise em que estamos mergulhados», reforçou.

Passos, 2012

Da lata e da anosmia

1. “Estas revisões deixam à vista de todos que o programa original apresentado em maio de 2011 tinha sido mal desenhado, mal concebido, com projeções e efeitos que, sabemos agora, tinham pouca ou nenhuma adesão à realidade”, afirmou Miguel Frasquilho.

É de facto preciso um descaramento desmesurado para proferir afirmações como esta depois de o Governo PSD ter feito do Memorando inicial o que muito bem lhe apeteceu para o transformar no seu programa neoliberal, não sufragado. Dirigindo-se à sua audiência de ignorantes, alegou bem cedo querer ver-se livre da Troika o mais depressa possível, corrigiu o programa acordado onde e como quis, sem dar cavaco a ninguém, através de decisões políticas suas e propostas à Troika, por considerá-lo pouco ousado, e cunhou até a expressão “ir além da Troika”. Foi efetivamente muito além daquilo que lá estava e isso apesar dos constantes avisos vindos de vários quadrantes da sociedade e da própria realidade, essa mesma a que Frasquilho diz agora que o programa não adere. Mas qual programa? E o que é que estava mal concebido e com projeções não sei quê? Quantas avaliações já não houve, realizadas com vários alertas ativos? Quantos milhões a mais retirou o Governo da economia e propositadamente? Que tal um duche gelado nessas cabeças?

2. De que está à espera Paulo Portas para ameaçar romper a coligação se o incompetente Gaspar não se demitir ou não for demitido? Parece que as sondagens do PP não andam famosas.

3. Estou distraída ou Seguro ainda não pediu a demissão, pelo menos, pelo menos, do Gaspar?

E se Portugal chumbasse na avaliação?

O Governo não acerta uma, falhou todos os objectivos a que se propôs. As previsões para a recessão e o desemprego são revistas em baixa a um ritmo alucinante. Acreditarmos que os valores previstos hoje pelo ministro das Finanças são reais é o mesmo que acreditarmos na existência de unicórnios. Contudo, o mesmo ministro tem a lata de dizer que o “desempenho do País tem sido exemplar”, agarrando-se à avaliação positiva da troika. Assim, não importa o facto de a economia estar de rastos, de o desempenho do Governo ser desastroso e de as previsões serem as piores possíveis. O que importa é ter avaliações positivas. Mas, no meio de tanta pergunta, ninguém perguntou ao genial ministro que margem tem a troika para chumbar o Governo e não desbloquear a próxima tranche do empréstimo? O que aconteceria aos juros, não só de Portugal, mas dos outros países resgatados? O anúncio de tal decisão cairia como uma bomba nos mercados e as consequências para a economia europeia seriam imprevisíveis. Portanto, dê as piruetas que quiser, mas não diga que é exemplar o desastre pelo qual é responsável.

Estranhamente não foi uma demissão em direto

Estamos a ouvir em direto, nesta manhã de sexta-feira, ao que seria, um país normal, a justificação da demissão do Ministro das finanças.

O discurso enrolado em pretensas tecnicidades tentando em desespero esconder a mentira da realidade inescapável é um insulto a todos os portugueses.

Pela segunda vez desde Janeiro – não falando, portanto, das flutuações erráticas do ano passado – Vítor Gaspar falha em tudo.

Não vale a pena repetir o comunicado do MF, que fez a figura mais triste de que há memória em frente a uma plateia de jornalistas.

O défice é este e este conforme o critério a, b ou c, numa loucura justificativa que fica então em 6% quando era para ser 4, 5% e depois de mais enganos era para ser de 5%.

Temos Ministro “confiável”, num dia em que não engana quem ouve o homem que tem de ser demitido imediatamente.

Porque chega.

Entre o último discurso de Vítor Gaspar e este de hoje, mudou tudo, tentando o Ministro que nos representa formalmente mostrar a “continuidade” com recurso ao palavreado do “estrutural”, da “curva previsível”, enfim, os palavrões disponíveis ao engano.

Défice com três valores possíveis (critérios), desvalorização do défice real de 2012 (prefere outras variáveis), o desemprego vai atingir os 19% (diz que é traumático), as exportações positivas que no debate de ontem pela boca do PM é coisa estrutural se deus quiser afinal vão cair “devido à paralisia dos mercados externos”.

A sério, Senhor Ministro?

É só esse o problema?

E não lhe perguntem pelas rescisões e não lhe perguntem pela substância do corte de 4 mil milhões de euros, e não lhe perguntem pela hipótese de uma decisão negativa do TC porque ele sabe que cumpriu os “critérios” desse tribunal, e não lhe perguntem por que é tão bom que os trabalhadores recebam 12 dias por ano em caso de despedimento “mas só para os contratos novos e sem termo”.

Sobretudo, depois de tudo falhado, não lhe perguntem sobre Política.

 

 

Que se lixe a oposição

O PSD é o único partido a subir na estimativa de resultados eleitorais, se neste momento se realizassem eleições legislativas, de acordo com os dados do barómetro de março de 2013, do CESOP/UCP, para o DN/JN/Antena 1/RTP.

Com mais quatro pontos percentuais que em setembro de 2012, o PSD regista agora 28% da intenção de voto dos inquiridos, depois de distribuídos os votos dos indecisos (ver ficha técnica).

O PS não capitaliza eventuais descontentamentos com o Governo, mas também não desce com a subida dos sociais-democratas: 31% (como também em setembro) – que se traduz numa diferença que estatisticamente já não é significativa entre os dois partidos.

Há um dado relevante neste barómetro: o trabalho de campo da sondagem foi realizado nos dias 9, 10 e 11 de março, uma semana depois da manifestação que reuniu centenas de milhares de portugueses nas ruas de 40 cidades.

Fonte

Debater o vazio

Ontem houve um debate no Parlamento com a presença do primeiro-ministro, mas é como se não tivesse existido. Não sobrou uma ideia, uma simples frase, do primeiro-ministro ou dos líderes da oposição, que hoje valha a pena destacar nos jornais, nos blogues ou onde quer que seja. Nem parece que o País está a atravessar a pior recessão das últimas décadas, é como se não se passasse nada. Que contributo deram, afinal, Governo e oposição, para o debate no Conselho Europeu?

Como é que podemos criticar os restantes líderes europeus pela falta de rumo da Europa e de ideias para ultrapassar a crise se dos nossos líderes políticos não se espera nada a não ser o vazio total?