Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Dissertação sobre um nome

O teu primeiro nome tem, dentro de si, a força da Terra e a graça de Deus. Ele é, sem dúvida, o nome feminino mais divulgado em todo o Ocidente. Tem a sua origem nas profundezas da língua hebraica, mas não se ficou pela Bíblia e pelos Quatro Evangelhos. Está presente na Eneida de Virgílio, no teatro de Luigi Pirandello, nos romances de Tolstoi, nos contos de Pushkin e nas óperas de Mozart. Está junto à Terra e o seu som pronunciado resolve as hesitações nas encruzilhadas sombrias dos caminhos quotidianos. Digo o teu nome e tenho, no momento de o dizer, uma direcção e um sentido. Porque sinto, dentro do seu som, a força da Terra e a graça de Deus.

O teu segundo nome tem, dentro de si, a força da Água e da Natureza. Vem de uma origem duvidosa, envolta na neblina da lenda. Terá sido a primeira mulher, a que saiu do mar e deixou os homens da praia, entre atónitos e cheios de júbilo, aquela a quem chamaram mar yam – gota do mar. Como se essa mulher quisesse mostrar que só há vida na água, porque vivemos com a água e morremos quando estamos dezassete dias longe da água. O mistério da vida e os milagres da existência têm uma raiz nessa mulher que saiu do mar e a quem os homens chamaram mar yam – gota do mar.

O teu nome, feito de dois nomes, é uma bandeira feliz, um estandarte de alegria, uma luz que não se apaga. O teu nome, feito de dois nomes, é o lugar ideal para ouvir o som da voz da terra e o murmúrio do mar, o apelo a ficar e o convite a todas as viagens.

O teu nome, feito de dois nomes, tem a dimensão sem medida dos sonhos e a música sem fim de todas as orquestras. O teu nome, feito de dois nomes, Ana Maria.

José do Carmo Francisco

Ou muito nos enganamos ou um babado avô se desfaz aqui em lirismo.
fv

Habemus Conan!

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A SIC Radical atendeu às preces de todos os fiéis da SIC Comédia actualmente espoliados pela TV Cabo: foi reposto o consumo diário desse anti-depressivo chamado Conan O’Brien. Agora, resta-nos continuar a rezar para que a farmacopeia se complete com o Jay Leno, o que faria da SIC Radical o canal mais desopilante do universo mediático: Conan, Jay e Jon Stewart, uma diabólica trindade da comédia e da cultura americana, à americana.

Entretanto, alguém tem de ter uma conversa com o Rui Unas. Vem de um fracasso rotundo, O Novo Programa do Unas, e meteu-se numa rotunda destinada ao fracasso, O Show do Unas. A unir os dois programas, o mesmo equívoco: o Unas. Neste novo projecto há uma tentativa de renovar a stand-up através de acrescentos e manipulações. O resultado é um híbrido que depende do texto, pois os limites histriónicos do Rui são já usados no limite da capacidade; e, naturalmente, não chegam. Então, acontece a infelicidade: o texto é fraco, e muito fraco. Em harmonia com essa lacuna, assistimos à maior e mais usual pecha nas tentativas de comédia: a condescendência, a displicência. Os autores e actores, quando nesse registo, apresentam-se ofuscados por si próprios, ignorando a técnica e o conteúdo, permitindo-se a constante auto-referência. É o que se vê em todos os episódios, o ponto donde se parte, o objectivo redundante a que se chega. Para salvar uma ideia que pode ainda funcionar, é preciso encontrar um ponto de vista, um território, uma mensagem que estabeleça ligações com o público. Enquanto o Rui nada tiver para dizer, o Unas não justifica um show.

Em contraste absoluto, podemos finalmente desfrutar do único programa verdadeiramente radical da SIC Radical: Vai Tudo Abaixo. Nuno Duarte/Jel revela-se exímio na performance de rua, na temática caricatural, na panóplia de figuras, nos detalhes da caracterização, no timing da comédia, na equipa de secundários protagonistas e na eficácia da realização. É tudo do bom e do melhor, como ainda não se tinha visto em Portugal, de facto. Só para dar um exemplo, é provável que a personagem Ruce faça mais pela prevenção do consumo de drogas do que todas as campanhas oficiais juntas até agora. E fica também o marco histórico de, pela primeira vez, se fazer humor com o folclore esquerdista. Estamos a ficar crescidinhos.

As guerras de Py

Em 2003, o «nosso» Py escreveu isto no Público. Depois, diz ele, calou-se. Uma pena, tem que assentir-se. Mais nos diz ele que, passado um ano, foi despedido. Uma pena maior ainda.

Desconhecemos a identidade de Py. Mas conhecemos o Público como um excelente jornal. Qualquer coisa aqui não bateu certo. Achamos nós.

A sombra do abismo

Se há coisa que me parece que normalmente as pessoas esquecem é que vivemos todos alimentados pela energia do sol – que faz o clima e a fotossíntese e a vida – e é gratuita. Este postulado deveria fazer-nos desconfiar da legitimidade ética das formas de apropriação da energia. Porque é de apropriação de energia que se trata na guerra do Iraque.

Na interpretação do professor Said Barbosa Dib a guerra é antes do mais uma guerra do dólar contra o euro, a partir do momento em que em Novembro de 2000 o ditador Saddam tomou a decisão de indexar as exportações petrolíferas do Iraque ao euro, abandonando o padrão-dólar e assim criando um facto e abrindo um precedente. Se a OPEP adoptasse essa política a desvalorização (já nítida) do dólar criaria um buraco enorme na economia dos EUA a que se seguiria um período de caos e depressão. Esse é o pânico da administração e da Reserva Federal e o sr. Bush faz o que pode para alimentar um sistema viciado em adrenalina e serotoninas: promete um grandioso espectáculo de guerra onde os EUA serão os maiores. E além disso promete substituir Saddam por outro que revogue aquela decisão, restituindo a soberania do dólar nas transações petrolíferas e na economia do mundo.

Triste civilização esta que afinal não ultrapassou a barbárie. A tecno-barbárie, variando entre o cirúrgico e a mãe de todas as bombas, aí está. Quantos milhares de civis serão vítimas da guerra?

Já faz mais de 20 anos que li a trilogia da Fundação de Isaac Asimov. Relata o livro que, no auge do esplendor do Império, o psico-historiador Hari Seldom descobre que se está à beira do abismo; com as suas projecções matemáticas calcula nuvens de probabilidades que indiciem as sequências prováveis de acontecimentos. E assim conclui que é necessário construir duas fundações secretas que reunam o conhecimento da humanidade, para que pelo menos uma sobreviva ao longo período de trevas que adviria da guerra.

Na decada de sessenta, o professor René Thom lança as bases para um novo paradigma que veio a chamar-se a Teoria das Catástrofes. Nessa teoria, as catástrofes acontecem de súbito, quando ocorre uma dobra no campo potencial. Só na estrita vizinhança do abismo é que se pode vê-lo, para quem esteja dentro do campo. Fora dele, sim, sempre se poderá ver à distância a sombra do abismo.

E é assim que não desculpo a Durão Barroso a miopia política. A partir do momento que é anfitrião dos senhores da guerra tornou-se seu cúmplice e comprometeu-nos a nós, os portugueses que estamos contra a guerra, com a própria guerra.

Fernanda e a árvore dos livros

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Numa segunda-feira à tarde, de modo totalmente inesperado e insólito, descubro os olhos luminosos de Fernanda entre uma árvore gigante do Jardim do Príncipe Real e um tabuleiro de madeira com dezenas e dezenas de livros. Entre a Natureza e a Cultura, entre o mundo vegetal e o mundo das palavras, entre a Terra e o Firmamento, este sorriso aberto de Fernanda é uma ponte a ligar duas realidades diferentes e opostas. Ela trouxe, da sua livraria simpática e acolhedora, uma amostra dos seus diferentes livros. Uns raros, outros antigos, outros apenas usados e em segunda mão. Atrás do olhar luminoso de Fernanda e do seu sorriso aberto, esta árvore surge como algo mais que uma árvore. A sua sombra dá, nesta segunda-feira à tarde no Jardim do Príncipe Real, a ilusão de que estamos numa casa. Mesmo sem paredes nem janelas, há uma casa nesta sombra projectada contra o sol inclemente de Junho. Fernanda sorri de novo neste breve e inesperado encontro. Compro-lhe então um livro, como não podia deixar de ser. Levo nele a memória deste lugar que já se chamou em tempos sítio da Patriarcal Queimada. Porque um incêndio criminoso fez arder uma Sé Patriarcal toda construída em madeira no tempo do rei D. João V. Levo nele a voz de Fernanda, um ponto de encontro entre o olhar e o sorriso, entre a serenidade e o alvoroço. Uma voz onde se misturam todo o frio das manhãs e todo o calor das tardes, a força das grandes pedras da serra e a carícia das ondas da praia mais ocidental. A mesma praia de onde partiram todas as caravelas e aonde regressaram, muitos séculos depois, os destroços de todos os sonhos. E tudo isso está guardado nas páginas dos livros que Fernanda arruma nos caixotes de papelão.

José do Carmo Francisco

Começou

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Em Dezembro:

Tehran also began a new “campaign” in June to produce uranium hexafluoride from lightly processed uranium ore. According to the report, Iran converted a portion of 160 metric tons of lightly processed uranium ore to uranium hexafluoride, yielding 55 metric tons as of Nov. 7. According to the report, Iran told the agency that it anticipates converting all of the ore by January 2007.

16 de Janeiro de 2007: O porta-aviões USS John C. Stennis partiu de Bremerton. Ruma ao Golfo Pérsico, onde se reunirá ao USS Dwight D. Eisenhower e a um batalhão “Patriot” de defesa anti-balística.

On Course for Iran

Wikiporrada

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Estou muito preocupado com este senhor. Há uma tragédia em preparação. É um daqueles casos em que toda a gente está a ver e ninguém descruza os braços para ajudar, ninguém lança um aviso. Deve estar por dias, ou horas, o desenlace fatal.

E o que vai acontecer é isto: as jornalistas do PÚBLICO vão imprimir todos os seus artigos sacados à má fila da Wikipedia, vão enrolá-los com cuidado em forma de bastão até sentirem a consistência do mogno, e irão fazer uma espera ao Rui Araújo nas traseiras das instalações. Já foi tudo tratado com um paquete do jornal, o qual vai entrar no gabinete do Rui e dizer com o máximo de convicção (e até simulando uma certa mágoa, um choro na voz): “Senhor Araújo, elas estão outra vez a copiar!”, apontando para o local combinado. O Provedor saltará fogoso da cadeira, dirigindo-se quase correndo para as traseiras. Depois, será aquilo que uma das jornalistas antecipou enquanto imprimia um artigo tirado da Wikipedia sobre o José Manuel Fernandes: “Está na altura de lhe fazermos a folha…”.

Episteme

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Passaram quase 4 meses desde que o nosso amigo PY tentou arrastar-me para discussão que era descarada armadilha fáustica. Exemplo de prudência, fingi que não era comigo e saí à francesa. O bravo que sabe fugir vive para lutar outra vez, escreveu com utilidade um cobardola. Reconheça-se que discutir epistemologia e metamatemática em campo aberto, num blogue, tem algo de heróico — ou de vexante, sendo Portugal um território de endémico, e epidémico, anti-intelectualismo. Mas aos cobardes é sempre munida redenção (usualmente sob a forma de suicídio, tal como se ensina em Hollywood).

Lanço peito contra o fogo inimigo postulando que a ciência é a suprema realização da cultura, superior à arte, à política e à religião. Só perde para a filosofia, por razões com que encerrarei a nano-diatribe. Este assomo de valentia vem da (ainda) recente notícia que Paul Davies protagoniza. Tendo sido um dos primeiros, pós-Einstein, a defender a existência da “energia negra”, este ecléctico físico procura agora alumiar questões que se devem tomar, em exacta deferência etimológica, como metafísicas: porquê estar na matemática a essência da natureza?; porquê serem as leis cósmicas tão propícias ao aparecimento, evolução e crescente complexidade da vida?; porquê a existência de seres humanos, possuindo consciência, corpo material e livre-arbítrio?

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«O louco global» de Paulo Moura

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Não sei se repararam em Paulo Moura, se repararam já. É um jornalista do Público, e de há uns meses que não o dispenso. Já lia reportagens suas na «Pública», mas convenceu-me definitivamente o seu contributo na Antologia Grande Reportagem (Oficina do Livro), organizada por José Manuel Barata-Feyo.

Paulo Moura, se é um repórter vigoroso, não é menos um interessantíssimo cronista. Aqui abaixo, a sua crónica no Público de hoje (vai assim mesmo, não permite link).

Além disso, publicou há pouco um romance, 1147, O Tesouro de Lisboa (A Esfera dos Livros), que ando a ler, que não é de deitar fora (há muito e muito pior), mas ainda não me entusiasmou. Possivelmente, a narrativa longa e ficcionada não é a exacta ‘medida’ deste, de resto, grande escritor.

Divirtam-se, e reflictam, com

O LOUCO GLOBAL

O homem entrou no metro mas não começou logo. Esperou que pensassem que era um utente normal. Então lançou, aos gritos: “Mais 20 mil soldados para o Iraque? Vão regressar todos em sacos de plástico. Todos!” Estava a falar com alguém? Não. Gritava para quem quisesse ouvir. “Acabaremos também por ir lá parar!” E continuou, sem baixar o volume, num discurso ininterrupto, como se se dirigisse a uma plateia interessada. E talvez fosse o caso.

O homem tinha a barba por fazer e vestia roupas sujas e rotas. Levou escassos segundos a que os passageiros o classificassem mentalmente como um “louco do metro”. Como tantos outros do género, no metro de Lisboa. Entram numa estação, fazem um discurso e saem na seguinte. Ninguém reage, obviamente. Ninguém o interrompe para dizer “desculpe, não concordo inteiramente com esse ponto…”. Também ninguém diz: “Cale-se, que me está a incomodar”. As pessoas evitam até cruzar o olhar com o dele. Se identificasse um interlocutor, o homem poderia desatar a falar para ele, a fazer-lhe perguntas, ou a insultá-lo, o que seria muito embaraçoso. Ou poderia mesmo desferir-lhe um murro certeiro no nariz, caso lhe ocorresse interpretar o silêncio aflito do transeúnte como prova irrefutável da sua conivência com a política de Bush para o Iraque.

Era um louco do metro e portanto o melhor era não ligar. Falou mais um pouco sobre o Iraque e depois passou para a reforma da administração pública em Portugal, não sem antes se deter brevemente no problema do nuclear do Irão. Podia ser maluco, mas não havia dúvidas de que estava muito bem informado. Mais do que as pessoas normais.

Lembrei-me de entrevistas que ouvi do Gato Fedorento ou dos redactores do Contra-Informação, em que descrevem o seu método de trabalho: sentam-se todas as manhãs a uma mesa, com a imprensa do dia, e estudam as notícias e os temas sobre os quais vão depois construir o discurso humorístico. Será que o maluco do metro faz o mesmo? Começa a manhã com uma pesquisa exaustiva em jornais e revistas, na internet, em livros especializados, sublinhando, tirando notas, para depois elaborar o seu discurso louco do dia?

Tenho pensado muito nesta questão. Porque andam os loucos hoje tão bem informados? Por serem loucos? Ou foi a informação que os enlouqueceu? Uma coisa é certa: a demência não impede um discurso articulado e crítico sobre o mundo. Impedi-lo-á a sanidade?

Será a imposição de limites ao horizonte uma condição para a nossa saúde mental?
Ninguém sobreviveria se soubesse de tudo o que se passa no mundo. Hoje, as informações estão disponíveis em doses capazes de nos destruir. Não é possível compreender a sociedade global sem o recurso a teorias da conspiração, projectos terroristas, filosofias paranóicas. O nosso modelo axiológico apenas está preparado para o universo do indivíduo e do seu reduzido ângulo de visão. Não mais. Em todas as épocas há lendas sobre homens que subiram ao topo de uma montanha e enlouqueceram.

Talvez a ignorância seja, portanto, um recurso dos mais aptos. Fechamo-nos, por instinto de sobrevivência. A liberdade tornou-se um handicap evolutivo. Privilégio dos loucos, que só têm a perder uma audiência muda de curiosidade. “Cambada de estúpidos”, rosnou entre dentes o louco do metro antes de se apear na estação seguinte.

Mais informação sobre Paulo Moura aqui.

Falta de Chá no Deserto

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No que já é um dos episódios mais grotescos de sempre no desporto automóvel, o piloto Carlos Sousa teve um ataquinho de raiva e resolveu deixar o seu navegador em pleno deserto. Por mais explicações que surjam, continuo a gargalhar cada vez que penso no incidente.
A TMN, patrocinadora do cromo, é que já o conhecia de ginjeira. Vai daí, teve a prudência de pôr no ar uma promoção em que oferece a cada concorrente a hipótese de se tornar “co-piloto do Carlos Sousa”. O spot acabava de forma presciente: com um montão de malta, presumo que voluntários para a tarefa, empoleirada no tejadilho da morconeta do temperamental Sousa. E serão poucos para o resto da prova, a continuarem as ejecções para as dunas. Mas não sei se a perspectiva de serem deixados no meio de nenhures, entre a Mauritânia e o Fim do Mundo, não irá arrefecer o entusiasmo dos participantes nesta promoção…

A açoriana de Grândola e os fundamentalistas do Norte

Entre 1979 e 1989 organizei a antologia O Desporto na Poesia Portuguesa, editada pelos Sindicatos Bancários – Norte, Centro, Sul e Ilhas. Um dos poemas antologiados é de Ivone Chinita e está na página 101. Pois no livro História Natural do futebol de Álvaro Magalhães (Assírio & Alvim) aparece nas páginas 228 e 229 a citação parcial desse poema. Sem qualquer indicação de onde foi retirado e com um erro. O autor chama-lhe escritora açoriana, mas Ivone Chinita nasceu em Grândola, onde está sepultada desde 1983. Na página 235 surge uma nova citação do mesmo poema, mas desta vez nem sequer aparece o nome da autora.

Quando se cita um poema deve referir-se sempre qual o livro do qual esse poema foi retirado. O autor enche sete páginas de notas, mas aqui saltou como gato em telhado de zinco quente.

Noutro livro, com o ambicioso título de A paixão do Povo – História do futebol em Portugal, publicado pela Editora Afrontamento e da autoria de João Nuno Coelho e Francisco Pinheiro, acontece algo parecido. O meu nome foi rasurado na bibliografia, pois sou um dos três co-autores do livro Glória e vida de 3 gigantes, editado em 1995 por «A Bola». Mas na página 692 deste volume aparecem só os nomes de António Simões e Homero Serpa.

Sobre o S. L. e Benfica escrevem os autores: «Decidiu bem quem decidiu pela data oficial referindo-se a 1904 por oposição à de 1908 que essa sim é verdadeira. Só há história com documentos, e não há nenhum documento com data de 1904 a referir-se ao S. L. Benfica». Escrevi uma carta, mas não obtive resposta.

Mas nem tudo é mau. O meu exemplar está autografado pelo Toni e pelo Humberto Coelho. Um com amizade, outro com admiração. E isso tem muito valor.

José do Carmo Francisco

As lampreias danificadas

Que pena que o nosso blogue, ou o programa de edição do nosso blogue ou lá o que é, seja versão 3.2.

É que adorava saber como é que estes nos iam “ajudar a minimizar o dano”.

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Imaginei o seguinte e-mail para o bom do Carlos Rodrigues:

“Caro Carlos,

Soube agora do vosso percalço com a cena dos posts perdidos. Sucede que, no período a que aludem, escrevi oito posts sobre a lampreia. Lamentavelmente, escrevi-os directamente no blogue, pelo que não tenho forma de os recuperar. Por isso, como podem imaginar, respirei de alívio quando li o vosso simpático memorando. Assim, e para que me possam reescrever os posts, única forma de o meu dano ser minimizado (a reparação integral implicaria uma sempre intrincada viagem no tempo), envio-vos, com a esperança que vos seja útil, a única coisa que conservei em lembrança: os títulos.

– Lampreia: peixe ou felino?;
– A língua raspadora da lampreia e o artigo 6º do Código Civil;
– Lampreia, quo vadis?;
– Petromyzontida ou Cephalaspidomorphi?;
– A minha lampreia é maior que a tua;
– A importância da lampreia no cinema polaco;
– De olho pineal em ti;
– A câmara branquial das lampreias: feitio ou defeito?;
– Lampreia e o domínio do mundo: do auge do Carbonífero ao declínio do Devoniano;

Antecipadamente grato, aproveito para lhe apresentar os meus cumprimentos que trago a uso (os meus melhores tenho-os guardados para os Domingos de sol, em que depois da missa vou de passeio com a senhora),”

Dizer “Sim!” (com ponto de exclamação)


Fotografia de Rui Coutinho

Paula Rego em entrevista ao Diário de Notícias:

Falava há pouco da abnegação das mulheres e do aborto. Portugal fará em breve outro referendo. O que lhe apetece agora dizer?

Sim! Apetece-me dizer que já não é sem tempo. Parece impossível que ainda exista uma lei assim num país da Europa. Acho inacreditável que ainda se debata uma questão dessas. Com franqueza! Vamos lá ver se vai desta!

Prazeres da língua – 3 (com a devida vénia ao canal, o Odisseia)

Hoje será às 17, repetindo às 22 horas. No sábado, às 11. No santo domingo, já não se toca nele. E depois voltará a ficar escondido. Falamos de um documentário científico acerca do clítoris. Ou do clitóris, como se grafa no livro A História Íntima do Orgasmo, de Jonathan Margolis, em tradução de Fernando Dias Antunes. Constata-se haver aqui uma questão de vulva, perdão, de vulto: onde fazer a acentuação?; onde e como pressionar? Há milénios que as mulheres se queixam do mesmo problema aos homens, sugerindo até uma falta de tónica na sílaba. Felizmente, sempre aparecem uns linguistas mais corajosos ou atrevidos, mais generosos ou requintados, no fundo, mais aplicados, os quais puxam pela língua natural e a levam a percorrer os meandros desses terrenos tão feericamente estruturados.

A história do clítoris é uma fonte inesgotável de prazer (creio que esta asserção é absolutamente incontestável; e se por mais nenhum feito na minha insignificante vida, gostaria de passar a ser conhecido como aquele que elaborou, no campo das ciências humanas, um raciocínio que rivaliza em perfeição com os cálculos matemáticos; mas adiante). Ninguém ignora que Colombo descobriu a América e inventou os índios. E que tal se vos dissesse que Colombo descobriu o clítoris? Diriam que estava a gozar?

O clítoris concorre para o título de entidade mais enigmática no universo conhecido. Biologicamente, aparenta não servir para nada de útil. Então, após 3500 milhões de anos de evolução, que raio está cá a fazer? Também não faço ideia, mas não me queixo. De uma coisinha, assim pequenina na aparência e muito sensível, tenho eu a certeza: quão melhor se conheça o clítoris, melhor se penetra no mistério de tudo.

Professores, explicadores e curiosos, mãos à obra.

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório