70 grandes anos

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Fernando Assis Pacheco faria amanhã, 1 de Fevereiro, 70 anos. Para recordá-lo em adequada forma, José Luiz Tavares escreveu (e ofereceu-nos) este soneto muito assis-pachequiano.

Posso mesmo dizer-te que gramei esta
foda? Repetir em linguado (ou filete)
os viris uivos que mais que ardor deleite
foram? Caberia em dicionário a lesta

batida em que jamais a seta erra a fresta?
Mas um torpor me vara a língua em que me
alonguei até ao fosso. Fora outra a fome,
serias só cândida fruta na nascente floresta

de espinhaços. Cem foles, porém, não são
metáfora digna pró árduo sugar do piço
descrever. Se acontecia faltar-lhe o viço

arengava-o num trejeito meretriz — lição
de bem foder me deu esta pura niña
pelos couvais onde a poterna se aninha.

JOSÉ LUIZ TAVARES

P.S. Recomendamos à niña em apreço uma proveitosa leitura de Respiração Assistida (edição de Assírio & Alvim).
fv

6 thoughts on “70 grandes anos”

  1. Ok. Não é Bocage quem quer, nem aliás, precisa de o ser.
    Não é também Natália, quem corre atrás do verbo ou transmite ideias já feitas.
    De Bukovski, não consigo ver, também, o fundo ao copo.
    Que lobrigo então, neste pequeno exercício lúbrico, um pouco esforçado e sem margem de desejo?

    Uma futilidade.
    Aliás, não se deveria foder assim uma poesia.
    Ou o tempo que no caso parece escasso.

  2. Recordo uma conversa longa e divertida em que o Assis me disse nos jardins do Palácio Galveias que, apesar do «Escrever é lutar» e da «Cornélia» toda a gente no Hospital o tratava por «sô Fernando». Era mais um doente, nada mais.

  3. O José escreveu umas palavras leves, mas sábias. De Boche não é Du Bocage, nem sequer se achega, porque o mais famoso tinha de arrostar com o anátema e os condicionalismos de então. Era preciso ser-se mais valente nessa altura. Agora é à balda, directamente do produtor e por atacado, mas não se prova nada, ou muito pouco.

    Se o Fernando andar por lá na tal dimensão, a fazer emendas aos sonetos que escreveu, não vai decerto gostar do honraria nem de ser interrompido; talvez sorria, ou deixe escapar um suspiro pela poterna…

    TT

  4. Decerto,sorrirá, ó meu bom tt, com o desplante deste pobre vate, que, apesar de viver em tempos não tão ominosos,mesmo assim viu estes fracos versos serem censurados por uma revista, no caso a mealibra, que lhe tinha solicitado colaboração. Porfiai,pela poterna,ou lá onde der mais jeito, até nova rodada

  5. Ah, TT. Se tivesses estado caladinho, tínhamo-nos privado deste recanto alto-minhoto da História Literária.

    Com que então, a MeaLibra! E eu que tinha em alto conceito o arrojo da sua redacção.

    Fica a malta então à espera da rodada, Zé Luís. O Aspirina não deixa o talento à porta.

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