Fernando Assis Pacheco escreveu (veja-se um soneto de 1981, «Por uma cona assim eu perco o tino», ou um poema às «segóvias» da guerra de África) algumas peças de mimosa pornografia. Um poeta assim inspira. Tal como ele próprio se inspirara em Bocage. Tal como, a este, o inspirara Camões.
O sagazmente camoniano José Luiz Tavares tinha coisas assim na aljava, pois tinha. Publicada uma ali abaixo, encheu-se ele de brios e fez-nos chegar as abas do tríptico. Aqui vão. O pretexto é o aniversário, amanhã, de Assis Pacheco? O difícil era arranjar-se algum melhor.
2.
Minha senhora quero enfiar minha maça
em sua nassa assim acavalitados té sana
iríamos com licença da senhora sua mana
hosanas cantaríamos alegria del’ e nossa
nosso feito seria invejado até na nasa
(poisar assim suave sem nenhuma mossa)
em televisão daria audiência grossa
mesmo se à luz desta pobre chama rasa
noite lassa não haveria que minha
maça é bom vigia té grota escura palmilha
ó cadelinha que em lume fazes este molosso
outros te dirão que no coração fosso
lhes fazes eu dou-te só o ardor que posso
como forçado condenado ao poço
3.
amor é foda? eu fui deste celeste
quimbo soba de porrete e cassetete
intendente deste escuro palacete
por isso não me chameis de cafajeste
esgaçar cricas é arte nobre
é fogo que arde e se vê
mesmo se em porno canal de tevê
ou nesta pobre rima pobre
eu não diria suave milagre
esse deslizar da piça até à cona
mas louvo seu acre odor vinagre
néctar para a língua sabichona
ó minha escarranchada puta bela dona
conta-me essa da ovelha e do padre
JOSÉ LUIZ TAVARES
Para o dossier e vossa ilustração:
Pus-vos a mão um dia sem saber
que tão robusta e certa artilharia
iria pelos anos fora ser
sinal também de lêveda alegria.
Amigos meus colhões quanto prazer
veio até mim em vossa companhia
a hora em que tiver já de morrer
morra feliz por tanta cortesia.
Fernando Assis Pacheco
Que delícia!