Na carruagem azul do Metropolitano de Lisboa, na Linha Verde, num fim de manhã cinzento, descubro um inesperado e doce sorriso. É Maria José que vem de um café com a sua irmã Hermínia na Baixa-Chiado e regressa a Arroios com o almoço em perspectiva. As mulheres são as mães dos milagres. Outra coisa não posso eu chamar a este encontro feliz que transformou a soturna carruagem do Metropolitano numa verde e alegre camioneta a caminho de Arganil mas com destino final em São Romão. De súbito era como se estivéssemos no meio de uma camioneta com cabazes de verga no tejadilho. Com pão e queijos, com fruta e vinho, com bolos de mel e azeite, com chouriços e morcelas de arroz. Da voz e do sorriso de Maria José vinha uma alegria do campo no meio de um transporte da cidade. Uma alegria pura e genuína tão pura e tão genuína como os sabores dos cabazes de verga no tejadilho da camioneta que eu imagino só de olhar para o sorriso de Maria José. Continua a ser a mulher-menina sempre pronta a desfazer o tempo, a ignorar a cronologia, a rejeitar as emboscadas do bilhete de identidade. No sorriso de Maria José o tempo não passa e é sempre lugar de alegria. As mulheres são as mães dos milagres. Por isso Maria José transforma o tempo e o espaço de quem a encontra no fim da manhã. Ao lado ninguém percebia, mas eu não me vou esquecer. O sorriso de Maria José veio obliterar – inesperado verbo para um encontro – o fim da minha manhã cinzenta no Metropolitano de Lisboa. O meu bilhete foi obliterado e muito bem obliterado pelo inesperado e doce sorriso de Maria José, na carruagem que lembra o velho autocarro verde com cabazes de verga no tejadilho.
José do Carmo Francisco
bonito
http://sbras.blogspot.com/2007/01/sbrasblog-nos-jornais-regionais.html
Obrigado, amigo, por partilhares connosco o sorriso de Maria José.
Obrigado Maria José pelos dias em que sorris assim para o José Francisco.