Pessoa amiga perguntou-me pelo feriado de 15 de Agosto. Apesar dos meus 10 anos de escolaridade em instituições sob responsabilidade da Igreja Católica, mais a 1ª Comunhão, não sabia o que se celebrava para merecer feriado. Tinha de ser algo religioso, mas o quê? E porquê tal informação não estar gravada na minha memória?
A Igreja Católica comunga com o PCP de certas características que me despertam o desejo de lhes pensar a comunicação. Estas vetustas agremiações nunca saberão (e para sua sorte) o que perdem por não me contratarem. Até trabalharia para as duas ao mesmo tempo (e por remuneração irrisória), tamanho o meu entusiasmo. Porque elas estão cheias de boas e excelentes ideias, apenas não sabem como as transmitir, nuns casos, e identificar, noutros. O modo como falam aos fiéis é desastroso, as liturgias são anacronismos, as doutrinas estão estéreis. Desperdiçam tesouros intelectuais e antropológicos como se o mundo não fosse acabar amanhã. E dão origem a perversões escabrosas, como sempre acontece quando não se sabe lidar com os remédios: transformam-se em venenos. Igreja e PCP são duas entidades que odeiam a democracia porque não se querem conhecer a si próprias, não querem filosofar. Filosofar é só para os corajosos, e estes pastores católicos e controleiros comunistas estão esmagados pelo medo.
Portugal não é um país católico, nem sequer cristão, no sentido em que a opinião religiosa já não inspira nem influencia. A espiritualidade nacional está reduzida a raras figuras que não têm voz pública. Mas os ateus, os agnósticos, os seculares e os fiéis de outros credos não se importam com os feriados religiosos. Ninguém se importa, e quase ninguém os celebra. Mantêm-se por inércia e hipocrisia. A esquerda não ousa atacá-los, preferindo a contradição ideológica ao sarilho de ser coerente. E a direita aproveita-os para os gastar em futilidades, tenha deixado há muito de os respeitar. É que a direita, lá está, também não é católica nem cristã.
O povo porta-se mal ou atrofia nas assembleias, abomina as cooperativas, é individualista e tacanho. O povo não quer ser comunista. A alma de Portugal é pagã, mágica, celta, romana e moura. Jesus é apenas um dos deuses, ao lado do Benfica, Sporting e Porto. Maria está acima de Jesus pela melhor e mais teológica das razões: é mesmo a sua mãe, como sabem todos os que se reúnem em Fátima. Para o português, Deus santifica — mas, para o bom português, há santos e santinhos que despacham os requerimentos com mais celeridade do que a autoridade máxima. Por isso, pelo País fora, incluindo nas cidades, incluindo entre os doutos, corre solta a superstição e a irracionalidade taumatúrgica.
Todos dizem que os feriados são para descansar. Todos são tristes, pois. O trabalho de cada dia é que poderia ser um descanso, sinal de que tinha ficado bem feito. E devíamos passar os feriados em festa, chegando ao fim mais do que cansados: esgotados de tanto celebrar. Precisamos de um novo Céu, pois.