Toda a gente exultou com a morte e abate dos assaltantes à dependência bancária do BES, incluindo aqueles que fingiram estar preocupados com a sua morte e abate. Fizeram-se alarves piadas e piadinhas nos blogues; assinadas, ainda por cima. Declarações dementes e alucinadas — com origem nos computadores de dois reformados em Abrantes e de um alcoólico filiado no PNR — encheram as caixas de comentários do Público. Enfim, houve uma descompressão geral por contraponto aos pavores securitários quotidianos, o que revela o quanto gostámos da limpeza da acção policial: desde a rapidez do desenlace até aos felizes resultados (só se partiu um vidro), passando pelo filmezinho bacana dos bacanos. O facto de os bandidos serem brasileiros é secundário, pois também iríamos curtir se fossem facínoras portugueses a pagar um juro demasiado alto pelo empréstimo de reféns — embora nesta versão curtíssemos menos, claro, até porque haveria família a chorar nos telejornais, vindo logo o PCP e o BE acusar Sócrates de violência policial salazarista sobre duas vítimas do imperialismo americano e do novo Código Laboral, e as coisas acabariam por ser um bocadinho chatas derivado da portugalidade inibir as chalaças mais espontâneas do povoléu. O ideal era que os meliantes fossem pretos de segunda ou terceira geração, à volta dos 20 anos. Isso teria um gostinho especial. Só que pretos de segunda ou terceira geração, à volta dos 20 anos, é muito provável que não sejam tão imbecis como estes sambistas. Aliás, o ideal absoluto consistiria num duo constituído por um preto e um cigano, ambos da Quinta da Fonte. Par mais lindo e sociologicamente consensual não é possível imaginar. Terem saído na rifa brasileiros desperados é muito bom, impecável mesmo, sendo até melhores do que os robustos ucranianos ou manhosos romenos. Isto não se resumiu a ter as armas apontadas e já está, não não, também tivemos sorte com a raça dos alvos.
Só o CDS é que acaba por ter azar, pois desta vez não pode meter requerimento para que o ministro da Administração Interna vá ao Parlamento passar uma tarde na brincadeira. Pode é queixar-se informalmente de dano económico para o Estado, relativo às despesas hospitalares causadas pela sobrevivência do pistoleiro. E Portas terá ocasião para fazer mais um dos seus brilhantes brilharetes, vindo airoso falar-nos da pontariajacking.
val,
análise certeira, o brilhantismo do costume na arrumação de ideias em letras. Mas diz-me: haveria outra maneira ou não? e se houvesse, seria desejável optar por ela ou esta é a que garante não só a solução imediata daquele problema como também a mensagem que é na prática o princípio da solução de problemas futuros do mesmo calibre (passe o termo)? E a terminar, (que isto não é propriamente um interrogatório do Gonçalo Amaral, ou já estavas a levar umas lambadas): será que o país tem noção que está aberto o caminho para a aprovação, há tanto tempo exigida pelas fardas nacionais, de normas mais ‘americanizadas’ de ‘combate ao crime’, que incluem procedimentos operacionais e posturas policiais que Portugal só viu nos filmes e que, se aprovados (como esta ‘grande vitória’ parece anunciar), vão mudar radicalmente a vidas de todos nós?
val, estou confuso nesta. Não gosto de tiros, não gosto de mortes, mas a ter que morrer alguém que seja um dos maus. Só queria ter certeza absoluta de quem são os maus, hoje e amanhã e depois..
aceita um abraço, meu amigo.
É impressão minha ou este post é um bocadinho parvo?
Morreram calçados. Que mais poderiam querer?
Os pretos não assaltam bancos Valupi, aliáas os negros nunca me roubaram e tiveram muitas oportunidades, chamavam-me amigu, ou então pai.
Tenho aqui um problema: o Norberg-Schulz diz-me que o Ludwig Curtius em tradução afirma que a paisagem grega se apresenta como uma unidade delimitada com amor.
Ora isto saltou-me que nem ginjas, pois foi o amor que que tenho ali por um pinhal que ia à vida que me incendiou como uma tocha e foi tudo pró caralho e eu também. Mas foi salvo.
Mas entretanto um amigo meu diz-me que isto pode ser tradução abusiva porque os gregos concebiam a paisagem como unidade orgânica.
Provavelmente é unidade orgânica impregnada com amor, mas ainda não encontrei sustentação para esta afirmação.
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amigo: esta porra já está na moda outra vez, já posso ficar descansado, agora é com todos:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1338268&idCanal=14
para alguém que eu cá sei:
http://www.sciencedaily.com/releases/2008/08/080805153830.htm
bazar,
walking down the street,
Rui, concordo contigo: a acção policial é tecnicamente irrepreensível. Naquela situação de risco de vida para os reféns, e iminência de violência, atira-se a matar, isso nem se discute. O meu textozinho, coitadinho, apenas se passeia pelo circo depois do leão ter comido o palhaço.
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Grunho, confirmo que é impressão tua. Aliás, se pensares no assunto vais descobrir que tudo acaba por ser impressão tua (conferir “Esse est percipi”). O que disputo é a modéstia na avaliação: “um bocadinho”?… Ó Grunho, um bocadão, por quem sóis!
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Vasco Pardal, provavelmente fizeste o melhor comentário possível a este caso.
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z, a paisagem grega não diz respeito à ecologia, muito menos ao turismo (óbvio), mas às cidades. O que se contempla e admira na Grécia antiga é a obra dos homens, não a dos deuses.
Valupi, tudo bem quanto à polis, mas mesmo essa era feita segundo códigos de elevação inspirados no olimpo – mas com cuidado por causa dos avisos de Prometeu, Sísifo, Belerofonte, e outros.
mas eles também achavam a oliveira árvore sagrada
de facto falta-me a paisagem como unidade, não lhe conheço referências gregas, mas aquela do amor era bem boa. Será philia?
O Ludwig Curtius no final do século XIX terá dito isso sobre os gregos, paisagem como uma unidade delimitada com amor, a não ser que a tradução esteja mal feita, mas tenho tempo farto para descobrir,
ainda nem tinha reparado que estes andavam assim,
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=344292
oleoduto
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/387907
xonex
Trabalho e pago impostos desde os 15 anos. Não estou nesse lado, não sou sociólogo de café e não tenho pachorra para discursos de rabo escondido com gato de fora. Para esse peditório já dei. Conversas da treta só as verdadeiras – José Pedro Gomes e António Feio.
De que falas, jcfrancisco?
tambem tinha algo a escrever sobre o assunto, mas vindo tao a proposito fica aqui em comentario.
claro que a intervencao policial nao poderia ter decorrido de outra forma, mas lamentavel e’ a substituicao do lamento pela perda de uma vida humana pelo regozijo da turba na chacina aos meliantes.
sempre que ouco o discurso, e por vezes tao perto de mim, que se queixa de haver uma subversao sobre a incidencia da designacao “vitima”, que vitimas somos nos, os “bons”, e eles os algozes, penso que se amanha levasse um balazio nos cornos por andar ‘as compras mesmo assim a minha vida tinha sido uma boa vida, e humana, muito mais humana do que a de quem cresce sem perceber o valor de uma vida, e do outro. e’ por isso que “eles” sao mais vitimas do que as suas proprias vitimas. toda a gente deveria ter o direito de nascer para uma vida com amor e descobrir a graca do respeito pela existencia do proximo.
zé,
muita giro, esse trocadilho do rabo e do gato.
fizeste sozinho?
Susana, já que andas por aqui não me queres dizer nada sobre a paisagem e os gregos?
só agora reparei num comentariozinho algures, dum engraçado
eh pá é assim: enfias a garrafa de whisky no pandeiro e vais chatear outro ouviste?
Valupi, a vida é uma coisa divertida. Porém, arriscada. Por exemplo, vamos imaginar que eu sou um praticante exímio e absolutamente extraordinário de mergulho. Sei que o risco de morrer a praticar mergulho é superior ao risco de jogar xadrez (e podemos também imaginar que sou um fantástico jogador de xadrez).
Aqueles rapazes ( bons rapazes, só queriam o dinheiro para não sei quê, aquilo foram as companhias, e tal) deveriam saber que o risco de assaltar um banco é relativamente alto. Deviam ter visto as estatísticas, assaltar um banco é lixado, ainda para mais eles escolheram um banco especial, dos que é uma maçada, sem dinheiro à disposição, bastava terem ligado para mim e eu dizia-les logo, eh pá, esse banco é lixado, escolham outro, assaltem uns velhotes ou vão à caixa da Valenciana à hora do almoço, os tipos nem têm botões escondidos para ligar à polícia. Os tipos pensaram que podiam fazer tudo sem me consultar e lixaram-se. Acontece, que sirva de exemplo para quem quer fazer as coisas sem me perguntar antes.
Dizia eu, isto de assaltar um banco tem o seu risco. E apontar uma fusca à cabeça das pessoas aumenta o risco. Às vezes quem se lixa é o refém (há menos de um ano quem teve azar foi a empregada aqui do posto de gasolina, aliás de gasóleo, agora é mais gasóleo). A semana passada foram os assaltantes.
Maneiras que é isto. Risco. Às vezes corre mal. E é chato.
(ah, e esqui? Bem, é um risco que nem vos passa pela cabeça. Já lá ficaram dois meniscos…)
(Em pistas pretas, note-se)
Comendador, acontece que sou um fantástico jogador de xadrez, o que talvez explique a falta de tempo para o mergulho. Este começo só para dizer que concordo contigo, no todo e, em especial, na soma das partes.
Quanto aos assaltantes, ouvi dizer que a coisa correu mal, como dizes. Muito chato.
Valupi – falo não do teu texto mas dos sociólogos de café que tentam branquear a questão dizendo que eles só queriam aparecer na TV ou coisas do estilo. Quando disse que pago impostos desde os 15 anos é verdade comecei a trabalhar em 9-9-66 a ganhar 900 escudos. Num certo sentido aquele dinheiro é o meu dinheiro também.
Rui – o trocadilho nasceu-me aqui no Blog a propósito dum «pobre» que se escondia no pseudónimo «segredos sebes aluviões» Tenho outro quando chega a mostrada ao nariz Digo «felizmente o mundo não é a representação da sua vontade!» e assim despacho os «pobres»