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Dos mansos não reza a História

Relvas, na cara de Seguro, disse que o PSD não considera legítima a actual liderança do PS – caracterizando-a como não tendo palavra nem seriedade – e que gostaria de a ver mudada. Traduzindo: não se conseguiu assustar nem enganar Sócrates com as sucessivas pulhices lançadas logo desde 2004, o que causa sérios problemas aos sociais-democratas.

E disse mais. Que, para além do voto dos militantes socialistas passar a ser irrelevante, o PSD pretende igualmente escolher o Secretário-geral, tendo já elaborado a lista dos nomes admissíveis: António Costa, Francisco Assis e José Seguro.

Miguel Relvas é secretário-geral do PSD e vai para a comunicação social, a 14 de Abril de 2011, dizer que os responsáveis governativos – que negoceiam com o FMI a saída do buraco para onde fomos todos empurrados por Passos Coelho e Cavaco – não são pessoas de bem. Inacreditável? Vindo de quem vem, não, nada. Inacreditável é a resposta e atitude de Seguro, que foi literalmente toureado e se deixou ficar.

Haja alguém que faça o favor de explicar ao Seguro que o PS não é um partido de mansos. E que as ofensas feitas aos nossos são feitas a nós. Quem pactua com a cobardia do assassinato de carácter como ataque político, sendo incapaz de um gesto na defesa da honra dos atingidos, talvez tenha falhado a vocação.

Já começa a estar cansado, diz ele

Como aqui se pode ouvir pela boca do próprio, Passos encontrou-se com Sócrates para ouvir as principais medidas do PEC, mas sem documento formal e sem pormenores – isto é, para falarem acerca de objectivos gerais e grandes metas. E ainda acrescentou uma outra informação, naquele que é um deslize que revela involuntariamente o que aconteceu:

[…] no mesmo dia em que o Primeiro-ministro declarava em público, na Assembleia da República, que o País não precisava de mais medidas de austeridade, na votação de uma moção de censura, nesse mesmo dia estava a ultimar uma negociação com medidas de austeridade novas para apresentar ao País passados dois dias […]

Portanto, conta-nos Passos, Sócrates estava a ultimar uma negociação no próprio dia em que se encontraram, o dia da votação da moção de censura. Seja qual for o sentido que se dê ao termo negociação, aquele relativo ao documento que se iria apresentar na cimeira europeia ou aquele que justificaria o encontro com o líder da oposição, fica a certeza absoluta – garantida por uma testemunha presencial de credibilidade a toda a prova – que o PEC não estava fechado a 10 de Março, quinta-feira. Na sexta-feira de manhã tínhamos a conferência de imprensa de Teixeira dos Santos, a declaração de que o PSD ia esperar pelos resultados da cimeira para se pronunciar acerca das medidas e a notícia de que Cavaco não tinha sido informado. À noite, Passos Coelho declarava não aceitar mais medidas de austeridade e acusava o Governo de ter agido unilateralmente.

Isto leva-nos para a duração do encontro, quatro horas. Admitindo que Passos terá chegado depois de jantar, por volta das dez, terá saído às duas da matina. Que grande seca levou, coitadinho, tendo de estar ali calado o tempo todo a ouvir a descrição das linhas gerais do PEC, apenas acenando que sim ou que não e levando ocasionalmente as mãos à cabeça em desespero e dor, mas nem sequer tendo direito aos pormenores. Não admira que ainda não tenha recuperado dessa noitada e ande cansado, como desabafou com os jornalistas.

Um partido de tarados

Quando ficou claro que o PSD estava irredutível na intenção de chumbar o PEC, com isso derrubando o Governo e fazendo explodir as últimas protecções contra a especulação dos mercados, Durão Barroso e Triché já tinham feito declarações de apoio ao plano e alertado da loucura que seria a sua recusa. Continuaram a fazer avisos até às últimas. Quando Passos Coelho derrubou o Governo e se congratulou por ir a eleições, foi pública e violentamente censurado por Merkel. A senhora chegou a dizer que pouco lhe importava pertencerem à mesma família política. Quando Cavaco pediu imaginação à Europa para aturar a irresponsabilidade lusitana que ele próprio tinha promovido com especial protagonismo, recebeu de Olli Rehn aquela que terá de ser a mais vexante desanda diplomática alguma vez dada a um Presidente da República Portuguesa em democracia.

Os factos são melhor saboreados à luz destas palavras:

Manuela Ferreira Leite recusa-se a comentar propostas concretas apresentas pelo Governo no programa de estabilidade e crescimento (PEC IV), e diz que o principal problema do documento não são as medidas, mas a falta de credibilidade do executivo.

No dia em que o PSD lançou o País na bancarrota sem ter apresentado uma alternativa nem defendido os interesses nacionais

Então, como é que chegaram aqui?

Aqui, a esta estrambólica cena em que o maior partido da oposição, antecipado vencedor de qualquer eleição que lhe apareça pela frente e excêntrico inventor de estrambólicos presidentes da Assembleia da República, subitamente se vê isolado, desorientado e em implosão? A resposta tem um singelo nome: Sócrates.

Sócrates é o tipo de líder que o PSD daria tudo para ter. Encaixa na mitologia guerreira do baronato social-democrata como Aquiles na Ilíada. Como não o tem, o desejo transmuta-se fatalmente em ódio. À sempiterna conflitualidade do jogo político, junta-se um fenómeno que extravasa o campo ideológico ou programático e se consome em incontrolada pulsão destrutiva. Para a medíocre elite social-democrata, o confronto com Sócrates é por algo mais do que a ocupação do Poder – trata-se de uma luta desesperada pela auto-estima individual e a dignidade do clã. A simples existência daquele ser que os derrota sem piedade é insuportável, pesadelo agravado por eles não terem ninguém que lhe faça frente. Vai daí, se não o podem vencer, nem a ele se podem juntar, resta só a fuga para o exorcismo. Veja-se este magnífico exemplo, onde o esforço do gozo acaba por caricaturar e expor os opressivos limites racionais do gozador, mas uma peça que poderia ocupar com vantagem o espaço onde foram e são despejadas milhões de palavras, todas reduzíveis a uma infantilóide oração: Sócrates é mentiroso. A monomania, já com quatro ininterruptos anos de bacanal, vai aos poucos liquefazendo o cérebro a estas infelizes vítimas da sua própria impotência.

Pois bem, comecem já a armazenar conservas na despensa para o longo cerco. É que Sócrates, mesmo que saia do palco em 2011 seja lá por que razão, tem pelo menos mais 10 anos garantidos à sua espera na vida política (caso não se mude a Constituição para o evitar): quando quiser, chegará a Presidente da República. Nessa altura, alguns portugueses ainda estarão aqui. Exactamente os mesmos que daqui não conseguem sair.

Os loucos tomaram conta do asilo

Questionado se as críticas que têm sido feitas não poderão vir a ser prejudiciais ao PSD, o empresário refutou qualquer efeito negativo, classificando-as mesmo como “excelentes”.

“As críticas vêm sobretudo de pessoas que ficaram preocupadas, aborrecidas, tristes, pelo facto do doutor Fernando Nobre aparecer nas listas do PSD, o que significa que teve um efeito político imediato em todas as áreas da esquerda”, afirmou o antigo ministro, que é bastante próximo do líder social-democrata, Pedro Passos Coelho.

Desta forma, acrescentou, “as críticas feitas são proporcionais à importância” da presença de Fernando Nobre nas listas do PSD, ou seja, “são positivas”.

Ângelo Correia

Do que falamos quando falamos da decadência do PSD?

Disto, a bancarrota do intelecto:

O líder da bancada social-democrata, Miguel Macedo, considerou, esta segunda-feira, que as reações à escolha de Fernando Nobre para candidato a deputado e a presidente da Assembleia da República pelo PSD mostram que esta foi «acertada».

«Acho que foi uma escolha acertada, porque, se não tivesse sido tão acertada como foi, porventura não teríamos tido as reações que tivemos até agora», declarou Miguel Macedo, em resposta aos jornalistas, no Parlamento.

A comunicação social perguntou-lhe ainda se, no seu entender, Fernando Nobre tem perfil para ser presidente da Assembleia da República, mas Miguel Macedo escusou-se a prestar mais declarações sobre este assunto.

Fonte

Perguntas simples

Fará sentido para algum social-democrata adepto da Política de Verdade dar o seu voto a um partido dirigido por aqueles que a profetisa Ferreira Leite, do alto da sua sapiência moral e autoridade doutrinária, não considerou sequer dignos de terem lugar no Parlamento, e que agora se recusa a com eles trabalhar como deputada?

Assistência médica, precisa-se

O linchamento de Nobre no Facebook tem um lado de pura justiça poética ou deliciosa ironia do destino, onde o feitiço populista se vira contra o feiticeiro, mas tem outro que nos fala do amadorismo, ou mesmo retinta incompetência, do PSD. Embora não saiba nada do que se passa nos bastidores desse partido (ou de qualquer outro, já agora), sei pela lógica que o anúncio da sua cooptação foi combinado na data e no meio. Algures, Passos Coelho terá aceitado que assim fosse, e ninguém da sua equipa impediu a tonteira: ia-se para o Facebook provocar e ofender o eleitorado que tinha votado Nobre há dois meses. O efeito foi devastador. A turbamulta da cidadania digital reuniu-se para a decapitação e desmembramento ritual de um Nobre de ego tão anafado que há muito deixou de ver onde põe os pés. E o Facebook oferece todos os meios para uma crise deste género se intensificar e prolongar no tempo – sendo que não se vislumbra uma estratégia de contenção de danos, pois qualquer tentativa de entrar em diálogo será combustível deitado na fogueira, por um lado, e ficar remetido ao silêncio irá aumentar o despeito e validar todas as críticas, incluindo as mais violentas, pelo outro.

Num primeiro momento, causa espanto ver o PSD, com tantos quadros e recursos humanos nas áreas da comunicação, a tratar uma jogada eleitoralista de alto risco de forma tão displicente e disciplinarmente errada. Mas depois, lá está, abate-se sobre a nossa consciência a crua realidade: este é o partido cujo braço-direito do líder é o Miguel Relvas, uma picareta falante à beira do esgotamento nervoso que até na SIC começa a ser gozada pelos jornalistas da casa. E quanto ao Passos Coelho, então, o problema ainda é maior: quando fala, desaparece. Assim, talvez tenha razão Nobre e aquela que pode ser uma táctica com secretos méritos – é que para se poder cascar no homem, tem primeiro de se carregar no botão “Gosto”. Nos últimos dias de campanha, apresentam-se os números e respectivo gráfico de crescimento dos fãs. Nobre voltará a poder reclamar um resultado histórico para a democracia, pedir que lhe dêem um tiro na cabeça ou perguntar a Manuel Alegre se é desta que desiste a seu favor; o que calhar atravessar-lhe o bestunto.

Impressionar no emprego, seduzir em festas, brilhar nos jantares

Students Around the World are Addicted to Media
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Social Security More Essential than Ever, Expert Says
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Male Victims of ‘Intimate Terrorism’ Can Experience Damaging Psychological Effects
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Brain-to-Computer Bridges Can Now Tune in Speech
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Virtual Reality Lab Focuses on Conservation
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Increased Life Expectancy Discourages Religious Participation, Research Finds
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Frequent Shopping Prolongs Life, Study Suggests

Nobre populismo

O aliciamento do populista Nobre com a promessa de conseguir ser chefe dos deputados que abomina, oferecendo-lhe a euforia da permanente exposição mediática e do que o protocolo concede à 2.ª figura do Estado, traz dois problemas, à direita e à esquerda:

– Problema para o CDS, que talvez não tenha impressos de inscrição suficientes para o êxodo de sociais-democratas em busca de asilo político.

– Problema para o PS e quem mais na esquerda quiser molhar a sopa, porque nem se sabe por onde começar a disparar tantos os alvos que Nobre exibe dos pés à cabeça.

A atracção do Mal

Jewish women from the Mizocz Ghetto in the Ukraine, which held roughly 1,700 Jews. Some are holding infants as they are forced to wait in a line before their execution by Germans and Ukrainian collaborators.

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O Miguel republicou estas psicóticas palavras do Zé Manel. É sabido, ao ponto de ter dado origem a uma brincadeira cheia de seriedade, que na tentativa de assassinar o carácter do adversário não aparece maior superlativo do que o universo nazi. Mas há uma diferença entre ver esta desgraça ética acontecer entre adolescentes, analfabrutos e senis ou entre figuras que estão no topo da pirâmide social, chegando a grande parte da população ou tendo cargos de responsabilidade na imprensa, na academia e nas empresas. Essa diferença é a mesma que encontramos entre aqueles que não se esquecem dos crimes nazis, e do que eles dizem da natureza humana, e aqueles que mal escondem o fascínio pelo lado espectacular do horror.

Follow the money

Como é que chegámos aqui?

Primeiro, a Manela escondeu dos portugueses o que iria passar-se com a Grécia e a Irlanda em 2010. Nas campanhas eleitorais de 2009, que foram três – e para além de ter tido o acerto de escolher Aveiro para partilhar com os jornalistas as suas suspeitas de ter o telemóvel sob escuta – do que a senhora falava era de um peso insustentável dos investimentos presentes a fazer-se sentir nas gerações seguintes, não daí a um ano e meio. O debate, nessa altura, estava polarizado entre a aposta europeia de injecção de dinheiro nas economias, de modo a defender o emprego e promover a retoma, e a mera reacção a essa política. Tal como o de Passos, também o PSD de Ferreira Leite adiou até às últimas a apresentação do programa, só para se concluir que essas ideias mal enjorcadas não tinham qualquer interesse para o eleitorado.

Depois, o Presidente da República validou o boicote sistemático que a oposição jurou fazer ao Governo minoritário. Para Belém, a situação não punha em causa o regular funcionamento das instituições, pelo que não tinha de mexer uma palha para alterar fosse o que fosse de substantivo na situação criada. Veio a crise dos mercados e o Presidente continuou a confiar plenamente na capacidade do Governo para resolver os desvairados novos problemas que ninguém tinha previsto (a não ser a Manela, e talvez o Medina Carreira, mas nenhum deles o disse em tempo útil, quiçá por distracção). E o Presidente não se limitou a confiar, foi também um apoiante da sua manutenção, como o prova o empenho que teve em ver aprovado o Orçamento para 2011. Caso não estivesse o Governo a dar o seu melhor em situação tão difícil e perigosa, o Presidente teria logo agido de acordo com a sua responsabilidade constitucional e pessoal – como celebrada autoridade em Economia e Finanças, grande estadista e irrepreensível cultor da verdade que bem sabemos ser.

Por fim, a direita tinha de reeleger Cavaco, sem o qual nenhum plano podia ser posto em marcha. Atingido esse objectivo, havia de deitar abaixo o Governo na primeira oportunidade. O ambiente começou a ser criado na noite das eleições com um ataque de ódio a todos os candidatos derrotados, jornalistas e terceiros. Continuou nas semanas seguintes com notícias que as fontes de Belém plantavam acerca de uma insuperável ofensa sofrida pelo Presidente por palavras de Santos Silva ditas algures na campanha de Alegre. Teve no discurso da tomada de posse o seu apogeu golpista, antecipando e repudiando as medidas que o Governo estava a 48 horas de levar a uma cimeira europeia extraordinária. E completou-se a jogada com a dramatização da ausência de apresentação prévia a Cavaco das medidas anunciadas no dia 11 de Março. Restava só esperar sentado pelo chumbo do PEC, e consequente ida para eleições, já com a entrada do FMI garantida e a forte possibilidade de ter um Governo PSD-CDS.

Sim, basta recordarmos: quem é que andava a pedir a chegada do FMI? Esses são os mandantes deste plano, executado sem uma hesitação por Cavaco e o títere Passos – e contando com o inestimável apoio do BE e do PCP, também interessados em ver o FMI a aterrar na Portela para se animar a luta e poderem dar ordens ao povo.