No Jornal da Noite, ontem, Odete Santos conseguiu embaraçar Mário Crespo. Disse que Maria de Lurdes Rodrigues era muito feia, tão feia que tinha umas trombas assim… [e fez uns gestos chocarreiros]. Guilherme Silva, par do Frente-a-frente, foi paternalista, como se estivesse no jantar de Natal da empresa e fosse obrigado a assistir às figuras tristes da sua secretária, depois de três brindes com amêndoa amarga terem mergulhado de cabeça no Piriquita servido generosamente para empurrar a espetada mista. A Odete estava eufórica, histriónica. E o Crespo riu, mas em registo Oh Odete, pá, assim também não vale, olhós mínimos…
Só que não são os mínimos, é a média. Prova de que a recusa dos professores em serem avaliados – e, portanto, classificados – não tem um pingo de ideologia encontra-se no léxico das palavras de ordem. Desde o início que a preferência recaiu sobre dois termos: respeito e arrogância. São substantivos correlativos, duas faces da mesma moeda. A arrogância do Governo/Sócrates/Ministra/Ministério/Políticas causa a falta de respeito pelos professores/escola/educação/direitos/liberdade/democracia. Com estas balizas mentais, prontamente amplificadas e exploradas pelos sindicatos, PC e BE, instiga-se a irracionalidade e cortam-se as vias de diálogo. Ter uma massa de profissionais mantida emotivamente na crença de que faz sentido estarem indignados é a condição preferida para todo e qualquer tipo de manipulação.
O que Odete Santos fez na SIC Notícias, ainda com o balanço da faena dada aos delegados comunas dias antes, foi expressar o quadro mental de grande parte dos professores, activistas e demais simpatizantes deste puro salazarismo. Os cartazes, frases e gestos ofensivos para a pessoa de Maria de Lurdes Rodrigues espelham a condição a-política de quem se reduz a uma subjectividade que constrói um delírio de perseguição. A violência que salta desta juliana de pessoas de todas as idades e currículos partidários, ou cívicos, é uma esplendorosa celebração da democracia. Porque se a democracia não resistisse aos que ainda não a compreendem, ela nunca teria nascido e chegado até nós.


