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Ainda sobre a inventona de Belém

Algumas observações colaterais ao post abaixo do Val, que subscrevo inteiramente.

1) Não foi até hoje revelada a identidade do herói que, arriscando um processo criminal, passou à comunicação social os emails trocados entre Luciano Alvarez e Tolentino Nóbrega e, desse modo, desmascarou a sórdida moscambilha armada em Belém e no jornal Público, com alegado conhecimento do PR, contra o governo de José Sócrates e o partido que ele liderou nas eleições legislativas de 2009. Por contraste, tomámos há dias conhecimento da vil e vergonhosa declaração de Henrique Monteiro, que, como director à época do Expresso, recusou cobardemente a publicação daqueles emails e, agora, pretende tomar-nos a todos por estúpidos, alegando desconhecimento da inventona.

2) A história da espionagem do governo a Belém, de que o sr. Cavaco e os seus colaboradores nunca apresentaram a mais mínima prova, configura realmente, em minha opinião, dado o alegado envolvimento do PR (como consta do email de Alvarez) e do seu próximo colaborador Lima na operação marada do Público, um gravíssimo atentado ao Estado de Direito democrático que esse mesmo sr. Cavaco jurou defender até ao limite das suas competências, se não mesmo das suas forças.

3) Como acto revelador de um atentado dessa magnitude e gravidade, a suposta ilegalidade cometida pelo herói que revelou os emails ao DN adquire plena legitimidade e alto valor cívico e patriótico. É sintomático que nem o PR nem o Público tenham jamais processado o presumível autor desse “crime” ou o DN, que o acolheu. Era tanta e tão mal-cheirosa a porcaria que o eventual julgamento desse processo traria à tona em tribunal, que os cobardes meteram o rabo entre as pernas e a viola no saco.

4) Para a história da miséria intelectual e cívica de um ex-jornalista por quem já tive admiração e respeito, deixo adiante a transcrição da entrevista que ele deu ao Correio da Manhã de 19 de Setembro de 2009:

Correio da Manhã – Como comenta a divulgação da troca de e-mails entre dois jornalistas do ‘Público’?
Vicente Jorge Silva – Primeiro devo dizer que quando o ‘Público’ escreveu sobre o caso das escutas, achei aquilo inconcebível e disse-o. Não se faz uma coisa daquelas baseada em fontes anónimas e sem contraditório. Mas nunca pensei que um jornal em Portugal publicasse e-mails internos de outro. Fere os princípios mais básicos da relação entre órgãos de comunicação social. Acho um crime o que o ‘DN’ fez.
– Se fosse director do ‘Público’ o que faria ?
– Eu processava o ‘DN’. Estamos perante um comportamento pidesco. Espero que, por uma questão de seriedade pública, o jornal seja processado.
– A nota de direcção do jornal alega interesse nacional para a divulgação do assunto. Então, não concorda?
– Gostava de perguntar ao director do ‘DN’ qual é o seu conceito de deontologia e ética profissional. Vale tudo? É assim que se resolve as fracas tiragens?
– Chegou-se a falar na possibilidade de o SIS estar envolvido na divulgação dos e-mails. Como comenta?
– Já vi de tudo. Tudo é possível. Mas seria ridículo os Serviços Secretos servirem para isto.

Clips

Sócrates foi “brilhante”, comentou Mário Soares (aquela proverbial capacidade soarina para reconhecer as evidências).

Alegre, com sentimentos mistos inconfessáveis, confessou que Sócrates está em grande forma (só nunca estava em forma quando estava no governo).

Catroga, do alto dos seus 60 mil euros mensais que os clientes da EDP pagam, lamentou que o incorrigível Sócrates não tivesse pedido perdão aos portugueses (por não o ter nomeado em 2005-2011 para nenhum tacho milionário?).

Paulo Ferreira, que conduziu a entrevista juntamente com o jornalista Vítor Gonçalves, gabou-se no dia seguinte no Twitter de que a entrevista a Sócrates foi o programa televisivo mais visto de quarta-feira, com uma média de 1,6 milhões de espectadores (antes que leve com um processo disciplinar por ter tido a infeliz ideia de ter contratado um adversário).

Na noite da entrevista, a hashtag #socratesrtp chegou ao top das trends (assuntos do momento) mundiais no Twitter: pouco depois de terminar, era a quinta hashtag mais usada em todo o mundo (depois ainda duvidam de que Sócrates é capaz de pôr o sistema financeiro internacional de patas para o ar).

Na mesma rede social, Edite Estrela deixou uma piada: “Com a quantidade de publicidade, Sócrates já deve ter resolvido o défice da RTP” (podes crer, ó minha).

Anti-socráticos biliosos deixaram no Twitter mensagens imbecis como “Não quero que o dinheiro dos meus impostos sirva para pagar a Sócrates” (espero que o gajo fique satisfeito, porque Sócrates não cobra nada e aumenta as audiências) ou impotentes como “Faço questão de mudar de canal quando ele estiver a falar” (se o pessoal lá de casa deixar).

Nuno Melo, negando as evidências, sustentou que “A intervenção [de Sócrates] foi de uma enorme infelicidade porque já não interessa nada” (apesar de achar isso, lá esteve colado ao écran).

A genial Ana Drago puxou de toda a sua abundante inteligência para acusar o ex-primeiro ministro de, ao “centrar o debate no passado”, estar a “tentar fugir às suas responsabilidades actuais” (sem comentários).

Já valeu a pena!

A horas de José Sócrates regressar à ribalta e dizer qualquer coisa ao entrevistador de serviço da RTP, já se dissiparam boa parte das dúvidas que me assaltaram sobre a utilidade e a oportunidade de ele o fazer neste momento e nesses moldes. Com efeito, perante as reacções de histeria censória que se desencadearam na última semana, valeu bem a pena que Sócrates tivesse arriscado o lance. O véu levantou-se e apareceu à vista de todos o Portugalete rasca, mesquinho, faccioso e inquisitório que sempre vive dissimulado, à espera de uma oportunidade, ao lado do Portugal de que gostaríamos de nos orgulhar.

A petição para calar Sócrates foi assinada por mais de cem mil pessoas, que deste modo ligaram indelevelmente e de forma pública o seu nome a essa manifestação visceral de intolerância e sectarismo. Ficaram assim perenemente listados, por sua própria iniciativa, muitos secretos apoiantes da rolha e da mordaça que, de outro modo, dificilmente confessariam o seu ódio à liberdade, ao pluralismo e à democracia. A lista negra dos censores pode consultar-se 24 horas por dia em peticaopublica.com. Para sua perpétua vergonha.

Ficámos a saber do que é capaz uma socióloga e dirigente da comunidade israelita lisboeta, que nunca mais poderá abrir a boca à nossa frente sem que nos recordemos da falta de seriedade, do facciosismo e da sanha persecutória que patenteou num momento de verdade. Ficámos a saber, com alguma surpresa, que ela não desdenha de umas depuraçõezinhas políticas na comunicação social.

Só é pena que muitos pseudo-liberais hipócritas e comentadores encartados não tenham julgado oportuno pronunciar-se sobre o caso em apreço. O narizinho deles, sempre alerta, recomendou-lhes silêncio. Conhecem-se bem, são especialistas em mau-cheiro e retraem-se no momento certo.

Foi também instrutivo assistir uma vez mais, sem surpresa porém, à coligação do Bloco de Esquerda e do PCP com a direita, desta vez o CDS, na tentativa de requerer a presença do director de informação da RTP na comissão parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação. Queriam chamar o homem à pedra, para assim mostrarem quão pouco para eles vale a “independência da comunicação social perante o Estado e o poder político” com que costumam encher a boca – exclusivamente quando lhes convém.

Pato sem laranja

Hoje às 17h 30, parado num semáforo, estive a observar um pato de pescoço verde, vindo provavelmente da Gulbenkian, a atravessar paulatinamente as faixas de rodagem da Praça de Espanha. Pelo seu pé, sem pressa, com aquela bonomia olímpica dos patos andantes. Escolheu o momento e o local certo para não ser esmagado pelos muitos carros que ali passam a acelerar àquela hora. Não foi pela faixa dos peões, porque os primatas não lhe inspiram confiança. Tinha em alternativa a locomoção aérea, sem gasto de pitrol, mas optou pela travessia à pata. Ou à pato, que não lhe lobriguei o sexo. Estaria ferido? Não parecia nada. Quando chegou a meio do percurso perigoso, subiu para o lancil do separador e estacou, como quem diz: “Metade já está!” Bateu as asas, lançando um nuvem de gotinhas à sua volta, porque estava a cair uma chuva miudinha. O equipamento de voo também estava operacional, por consequência. Depois olhou calmamente em volta, talvez para verificar as luzes dos semáforos, mas é hipótese que não posso confirmar. Uma buzinadela atrás de mim impediu-me de continuar ali a admirar o génio tranquilo de um pato sem laranja, mas com tomates.

Marques Mentes

“Ele [Sócrates] não vai ser comentador, isso é meramente um instrumento para um objectivo”, considerou o antigo presidente do PSD Marques Mendes no seu espaço de comentário político da SIC.

Luís Marques Mendes – que é um autêntico comentador político desinteressado, isento e objectivo, daqueles que não deixam dúvidas, a quem nunca passou pela cabeça vir a candidatar-se a porra nenhuma, nem no passado, nem no presente, nem no futuro – não duvida que este regresso do anterior primeiro-ministro esteja ligado a uma candidatura a Belém dentro de dois anos. De resto, quem de boa-fé poderia duvidar disso?

Que fique bem claro que o puro comentador político desinteressado Marques Mendes não quer candidatar-se a Belém nem dentro de dois anos nem nunca, como também jamais quis ser primeiro-ministro, conselheiro de Estado ou sequer presidente do PSD, cargo este que só aceitou em 2005-2007 para ajudar patrioticamente o governo de Sócrates na sua política de consolidação orçamental.

Diga-se que enquanto Marques Mendes assumiu a espinhosa missão de chefiar a oposição a Sócrates, a contenção do défice das contas públicas foi uma realidade, pelo que só a conhecida ingratidão dos socialistas explica que nunca tenha sido feita justiça à decisiva acção do notável político laranja.

Há por aí quem fale de uma pseudo-crise financeira internacional, mas a prosaica verdade é que assim que Marques Mendes deixou o leme da oposição, as contas públicas portuguesas entraram em descalabro. Nada acontece por acaso.

Pérolas do dono do Público

“Temos sido engenhosos para fazer essas manifestações, que é quase um Carnaval mais ou menos permanente e não tem havido grandes desastres.”

“Enquanto o povo se manifesta, a gente pode dormir mais descansada. O pior é quando não se manifesta. Para os trabalhadores – neste momento, sobretudo, infelizmente, para os muitos desempregados – aquilo é um divertimento.”

“Como sabem, aquilo não é inocente, alguém paga os autocarros. É preciso ver o que é que está por trás das manifestações.”

“Diz-se que não se devem ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Não sei por que não. Porque se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém.”

“A época de hoje está muito longe de ser uma época de grande desastre do ponto de vista de vivência actual.”

“Numa sociedade democrática o Estado não devia ter o direito de confiscar”.

Nota do compilador: O Público, para quem não saiba, é um diário que há 23 anos perde dinheiro. Numa entrevista publicada a 10 de Março último na revista dominical do seu jornal, Belmiro de Azevedo diz acreditar que, até 2014, as receitas de edição online do Público vão superar as do papel, aumentando a circulação paga e permitindo chegar a uma situação de equilíbrio. Caso esse equilíbrio não aconteça, o patrão da Sonae desvincula-se do “compromisso pessoal” que tem com o jornal, até porque “a Sonae não pode manter uma empresa a perder dois, três milhões por ano”.

Registe-se e arquive-se.

Os açambarcadores de prémios

Num mundo já não digo ideal, mas pelo menos mais justo, os prémios pecuniários deveriam ser um reconhecimento pelo trabalho realizado e um incentivo ao trabalho futuro, sobretudo para aqueles que precisam mesmo do dinheiro. Para quê dar uma batelada de massa a quem não necessita dela e já só aspira a sossego para escrever as memórias e tempo para gozar a companhia dos netos? Há muitos jovens de vinte e tal, trinta e tal, quarenta e tal, cinquenta e tal e até de sessenta e poucos anos que realizaram já coisas notáveis, fizeram avançar a ciência e/ou a cultura, prestigiaram o país cá dentro e/ou lá fora e não estão a pensar pendurar as botas tão cedo. Calhava-lhes bem um prémio pecuniário, porque muitos deles são uns tesos e lutam no seu labor pioneiro com toda a espécie de dificuldades, mais as criadas pelo actual governo.

O Prémio Universidade de Lisboa, no valor de 25.000 euros, foi instituído em 2006 para alegadamente distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa ou estrangeira a trabalhar em Portugal há pelo menos cinco anos, cujos trabalhos de reconhecido mérito científico e/ou cultural, tenham contribuído de forma notável para o progresso e o engrandecimento da ciência e/ou da cultura e para a projecção internacional do país”.

O prémio teve até agora sete galardoados, todos portugueses, o mais novo dos quais com 65 anos e alguns com idades bem bonitas. Há dias foi a vez do conselheiro de Estado João Lobo Antunes, de 68 anos. Ele e outro dos já premiados tinham sido distinguidos anteriormente com o prémio Pessoa. Os sete tinham todos sido já agraciados com ordens e/ou grãs-cruzes e/ou comendas, sem falar de diversos outros prémios nacionais e estrangeiros, títulos de doutor honoris causa, lugares honoríficos em variados organismos e mais miudezas. As deliberações do júri do Prémio Universidade de Lisboa têm sempre mencionado a “longa carreira” dos galardoados. Pudera! Mas se olharmos o regulamento, lá só fala de trabalho realizado em Portugal “há pelo menos cinco anos”.

Sendo assim, só resta à Universidade de Lisboa mudar o regulamento do prémio, que será rebaptizado Prémio da Terceira Idade e passará sinceramente a distinguir “uma individualidade de nacionalidade portuguesa com mais de 65 anos, que tenha cumprido uma longa carreira académica e completado a sua colecção pessoal de condecorações, prémios e medalhas, sendo dada preferência a titulares e ex-titulares de altos cargos e a conselheiros de Estado”.

Bloco não presta, diz Jerónimo

Como o Bloco de Esquerda está à nora com cisões internas e dissidências, os comunistas começaram a rondá-lo como abutres.

Dizem os jornais de ontem que Jerónimo de Sousa desafiou os jovens a aderirem ao PCP, alegando que a inscrição no Bloco não incomoda nada os patrões. Segundo Jerónimo, os bloquistas escorregam que nem ginjas pela goela do patrões:

“O que é que lhes incomoda [um trabalhador] ser do BE? Isso papam eles ao pequeno-almoço. Não se preocupam nada”.

De facto, o PCP é que é a boa escolha. A sério.

Por quatro razões.

Primeira, porque o PCP incomoda. Não será coisa muito difícil, convenhamos. Todos nós temos gente que nos chateia, não é? Mas o PCP não chateia, o PCP incomoda. OK, tem um ponto. Adiante.

Segunda, porque o PCP incomoda os patrões. Bem, isso é francamente positivo. Tirar os patrões da zona de conforto é uma nobre missão que até o Coelho acharia digna de elogio. Se Marx e Lenine ressuscitassem, decerto exclamariam de bom grado, de mãos dadas com Jerónimo: “Proletários de todos os países, incomodai os patrões!”

Terceira, porque o PCP não só incomoda os patrões, como os deixa preocupados, talvez angustiados, se não mesmo deprimidos, o que é manifestamente excelente. A maltósia do Bloco não cria nem uma dúvida existencial aos patrões, não lhes provoca um engulho, uma hesitação. Nada, nadinha. Em contrapartida, o PCP é o partido que preocupa profundamente os patrões. Um patrão profundamente preocupado, angustiado e deprimido é o máximo a que um jovem pode aspirar. Se Marx e Lenine ressuscitassem, decerto exclamariam de bom grado, de mãos dadas com Jerónimo: “Patrões de todos os países, preocupai-vos!”

Quarta, porque o PCP estraga os pequenos-almoços dos patrões. Ora isso já é absolutamente fantástico, magistral e piramidal. Então os patrões queriam tomar o pequeno-almoço descansados, sem se engasgarem, sem angústias existenciais? Estão tramados, está aí o implacável PCP para lhes estragar o arranjinho e lhes provar quão contingente e precária é essa simples alegria matinal de quebrar o jejum. Em 92 anos de luta, o PCP já tornou milhares de pequenos-almoços patronais num autêntico martírio. Até patrões calejados, cínicos e com pelos no coração imploram de joelhos aos comunistas que se afastem da sua mesa enquanto tomam o pequeno-almoço. Se Marx e Lenine ressuscitassem, decerto exclamariam etc., etc.

A espiral depressiva

Cavaco tentou hoje alijar responsabilidades pessoais pela espiral recessiva:

“O governo tem a confiança da Assembleia da República. O governo não responde politicamente perante o Presidente da República”.

Parecia mesmo que ia a dizer que o Governo não tem a confiança do Presidente da República, mas era alarme falso:

“O governo não responde politicamente perante o Presidente”.

Apetece perguntar-lhe:

– E telefonicamente, já tentou?

Já tínhamos a espiral recessiva. Agora, graças a Cavaco, temos a espiral depressiva. Quando fala, o país fica mais um bocadinho na fossa.

O partido consciente e insubstituível

Para “libertar Portugal do desastre”, o PCP, “consciente das suas responsabilidades e do seu papel insubstituível para uma alternativa política”, acaba de propor solenemente uns tantos pontos. Destacam-se os principais:

– a nacionalização dos “sectores básicos e estratégicos da economia, a começar pela banca”.

– a renegociação da dívida pública, envolvendo sobretudo a “rejeição da componente ilegítima da dívida pública” (sabendo-se que todas as dívidas são ilegítimas, excepto as da banca e as dos monopólios).

– aumento do SMN, dos salários em geral, das pensões e dos apoios sociais.

– agravamento de impostos para os bancos e monopólios (se restar algum depois das nacionalizações).

– alívio da carga fiscal sobre os trabalhadores.

– descida do IVA.

– realização de eleições antecipadas.

É isto o que o PCP oferece ao país e aos outros partidos da oposição, com vista a uma alternativa política ao governo Coelho-Portas. Não tinha lembrado a ninguém, mas é genial.

Zé Grilo

Um cómico italiano rasca e cabotino chamado Beppe Grillo teve 25% dos votos, não estou a brincar, para o parlamento do país dele nas eleições da semana passada.

Um país que é tido como um dos berços da civilização europeia deu um quarto dos votos a um imbecil chamado Zé Grilo, celebrizado por ter dito que a Sida é uma invenção das empresas farmacêuticas e por em 2001 ter chamado “vecchia puttana” (puta velha) a uma grande cientista italiana, Rita Levi-Montalcini (1909-2012), que em 1986 foi prémio Nobel da Medicina.

O tal país berço – com a Grécia – da nossa civilização também deu 30% de votos a um palhaço chamado Silvio Berlusconi, notório criminoso económico, cliente de putas menores e amigo íntimo da Mafia, que na semana passada acusou os magistrados italianos de serem “mafiosos” porque o condenaram a penas de prisão que ele não está disposto a cumprir.

Ou seja, mais de metade dos italianos deu o seu voto a dois palhaços criminosos e imbecis. A boa notícia é que eles se odeiam. A má notícia é que a Itália anda muito perturbada.

V. G. M., o incorrecto assumido

Vasco Graça Moura já tem lugar assegurado na história literário-política como autor de uma bosta por ele próprio intitulada “A porcaria”, depositada no DN de 2 de Dezembro de 2009, que termina assim:

“Vivemos num Estado cada vez mais policial que também é uma verdadeira porcaria e todos capricham em se alvoroçar muito com as porcarias de que vai havendo notícia… É bem feito. O país votou nessa cambada. O país prefere a porcaria. Já está formatado para viver nela e com ela. Sirvam-se. Ponham-se a jeito. Besuntem-se.”

Tudo o que ainda vier daquela pena dificilmente ultrapassará o mau cheiro de “A porcaria”.

A porcaria de hoje, “A fauna totalitária”, aqui abaixo citada por Penélope, é apenas mais uma porcariazinha.

O que eu mais reparei foi que V.G.M. nela investe uma vez mais contra o “politicamente correcto”, para denunciar a “fauna rasca” que organiza manifestações de intolerância. Tudo isso acontece, segundo V.G.M., por culpa do culto do “politicamente correcto”. Ou seja, o indivíduo denuncia aquilo que visivelmente considera uma forma incorrecta de fazer política culpando a filosofia do “politicamente correcto”, que segundo ele seria cúmplice e apoiante de tais manifestações. Quem entende?

Quando alguém em Portugal e alhures começa uma treta qualquer verberando o politicamente correcto ou anuncia que vai ser politicamente incorrecto, é quase certo que vai sair besteira, quando não sai porcaria. A expressão “politicamente correcto” é há 20 ou 30 anos usada e conotada pejorativamente por conservadores e outros jurássicos para com ela tentarem ridicularizar os críticos da discriminação racial, do discurso machista e, em geral, do discurso de ódio. Por extensão, tudo o que é de esquerda passou a levar o rótulo de politicamente correcto.

Qualquer rasca de direita se intitula hoje orgulhosamente “politicamente incorrecto”, a maior parte das vezes sem saber o que está a dizer, mas sentindo vagamente que isso lhe dá direito a dizer asneiras.

O autor orgulhosamente incorrecto de “A porcaria” e de “A fauna totalitária” sabe perfeitamente o que diz. Ele é um intelectual assumidamente incorrecto e faz da incorrecção política o seu padrão e o seu ideal. Mas não deixa de ser cómico que o incorrecto de direita que em “A porcaria” acusava o alegado “Estado policial” vigente em 2009, venha hoje exigir polícia e “condenação severíssima” contra os seus equivalentes da esquerda incorrecta.

Notícia de/da última hora

Foi encontrada esta madrugada numa cave de Belém por um segurança que fazia a ronda uma nova versão, com aparência de ser a genuína, da lei n.º 46 de 2005, que estabelece limites à renovação sucessiva de mandatos autárquicos. O diploma apresenta diferenças bastante esclarecedoras na redacção dos parágrafos 3 e 4 do artigo 1.º daquela lei, como adiante se pode constatar:

3- A presente lei não se aplica aos presidentes de/das câmaras municipais e aos presidentes de/das juntas de freguesia que se candidatem pelo PSD, nomeadamente nos casos de/do Luís Filipe Meneses e de/do Fernando Seara, os quais podem e devem exercer o número de/dos mandatos consecutivos que bem lhes aprouver.

4- Nem a presente lei nem qualquer outra norma jurídica portuguesa se aplica a autarcas do PSD de reconhecida idoneidade que tenham sido condenados a perda de mandato ou a pena de prisão, os quais estão autorizados a recorrer consecutivamente e sem qualquer limite de todas as sentenças e acórdãos de que tenham sido alvo, bem como a candidatar-se aos cargos autárquicos que lhes der na real gana.

Interrogado pelos jornalistas quando saía do palácio de Belém para ir passear o cão, Cavaco comentou:

– Dãããã!

D. Carlos e a sua Igreja

A homossexualidade é julgada pelo Catecismo da Igreja Católica como desordenada e contra a lei natural, em caso algum podendo ser aprovada. Isto exclui, aparentemente, que seja tolerável um bispo homossexual. Muito menos um bispo pedófilo, como já se viu por esse mundo, mas não é disso que D. Carlos Azevedo é acusado na Visão de hoje, com direito a capa sensacionalista da cor do inferno. A denúncia é de homossexualidade, com “assédio” para carregar as tintas. “Querem-me destruir”, reagiu D. Carlos. É capaz de ser verdade.

O catecismo vigente diz também que os homossexuais devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza, evitando-se para com eles todo o sinal de discriminação injusta. Já lá vai, portanto, o tempo em que os “sodomitas”, incluindo os da Igreja, eram condenados à fogueira. Agora pedem-lhes que dominem a sua sexualidade “desordenada” e que, pela oração, reentrem no caminho da perfeição cristã, que é a castidade. Quantos o farão? Não há estatísticas.

Foram sempre tão frequentes as práticas homossexuais no seio do clero que um santo doutor da Igreja que viveu no século XI, S. Pedro Damião, lhes chamou o “vício dos clérigos”. Isso é dito no seu Livro de Gomorra, obra que dedicou ao papa de então e que hoje é por muitos considerada como a bíblia da homofobia. Mais tarde, a Inquisição atirou-se aos clérigos homossexuais, pelo menos a alguns, como gato a bofe. Uma história circunstanciada dessa perseguição pela Inquisição de Lisboa é agora tese universitária de uma historiadora brasileira, de seu curioso nome Verónica de Jesus, intitulada precisamente Vício dos Clérigos (2010), que se pode ler na net. Os numerosos clérigos “fanchonos” ou “sodomitas” do Brasil eram recambiados para Lisboa e aqui julgados pelo Tribunal do Santo Ofício. Vários arderam em autos da fé, outros foram açoitados e enviados para as galés. Para a Inquisição, o acto mais hediondo, a pior ofensa a Deus, equiparada pelo santo tribunal a regicídio, consistia em “depositar a semente no vaso traseiro do paciente”. Menos graves eram os “toques” e as “molícies”, que o leitor imaginará o que fossem. Os inquisidores, como os confessores, eram voyeurs e regalavam-se com pormenores pornográficos. Tudo era minuciosamente inquirido, descrito e classificado.

Falou-se há alguns anos no nome de D. Carlos para suceder ao patriarca de Lisboa. O bispo auxiliar de Lisboa destacava-se pela sua inteligência, cultura, currículo académico, cargos eclesiásticos importantes que desempenhou, mente relativamente aberta, bem-falância, atitude viril. Para não destoar dos seus colegas, na sua qualidade de porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa atirou-se ao governo de Sócrates com as acusações de falta de diálogo, anticlericalismo, mentalidade laicista, etc. Insistiu na treta de que não havia liberdade de educação em Portugal, porque o Estado não dava mais dinheiro à Universidade Católica. Apesar de discordar de tudo isso e de não ser católico, não me custava achar que o bispo D. Carlos tinha boas qualidades para renovar a Igreja em Portugal e para cativar as camadas cultas. Pelos vistos, nem todos achavam isso dentro da Igreja, onde também há inveja e ódios mesquinhos. Quando se apontou o nome dele para patriarcável, logo surgiu a denúncia de assédio sexual, vinda de um antigo aluno e actual responsável eclesiástico. Não sei porquê, mas isto soa-me ainda um bocado como se viesse do Santo Ofício: “É fanchono, condene-se”.

Não sei o que a Igreja vai fazer agora, mergulhada que está nas suas contradições. Provará D. Carlos irremediavelmente da intolerância que ainda existe na Igreja em matéria de sexualidade? Como é a sua Igreja, não poderá ter grande razão de queixa, coitado.

As insónias do Relvas

O inconcebível e infatigável Relvas diz que nem dorme, só a pensar no desemprego. A fuga dos cérebros também o angustia. Se há coisa de que ele gosta é de cérebros, desde que conheceu alguns de raspão na universidade. Os números do desemprego por todo o país, em todos os escalões etários, são cada vez mais assustadores. Soubemos ontem que em Janeiro de 2013 o crescimento de desempregados registados nos centros de (des)emprego atingiu 16,1% em relação ao mesmo mês de 2012. São mais 104 mil desempregados inscritos, a perfazer um total de 740.000. Mais 40% só nos desempregados com curso superior, a tal massa cinzenta! Dois anos depois de ter sido corneteada uma política genial para travar o desemprego e a emigração de cérebros, os resultados estão à vista e metem medo. Até ao Relvas, diz ele.

Mas se Relvas não dorme, também não desarma e fala de medidas que (em Fevereiro de 2013!) ainda estão a ser preparadas – além daquelas que vão criar ainda mais desemprego – e de outras tão clandestinas que nem a sua filha as conhecia, apesar de o governo ter arranjado lindos nomes para elas, como “impulso jovem”. Relvas explica a falta de informação da filha não com a ausência de matéria para informar, mas com a declarada (ou descarada) intenção de não querer gastar dinheiro em propaganda. Como só tinha uma medida para anunciar, Relvas largou-a como se fosse um troféu: vai ser assinado um acordo com a comunicação social para dar emprego a jovens jornalistas totalmente remunerados pelo Estado. Com aquele narizinho cerebral, cheirou-lhe que devia apostar na gratidão dos tais jovens jornalistas por um aninho de emprego e na gratidão das empresas de comunicação social por terem trabalhadores à borla. De facto, é mais eficaz do que ameaçar jornalistas e o dinheiro que se gasta sai da rubrica política de emprego e não da rubrica propaganda. Relvas não dorme, mas tem ideias.

“A Fraude”: sairá drama ou farsa?

Desde ontem está em cena na SIC “A Fraude”, peça dramática em quatro actos.

Oxalá não saia farsa!

Na publicidade que têm feito diz-se que a investigação descobriu coisas novas e vai trazer à luz do dia certos nomes que andavam na penumbra. Conhecendo do que a casa gasta, não me admirava nada que os tais nomes, descobertos pela SIC, de novos implicados no caso BPN fossem, por exemplo, José Sócrates, Teixeira dos Santos, etc. A ver vamos. Para já uma certeza: Constâncio vai estar sempre na baila, como era de esperar.

Quaisquer que tenham sido as falhas da supervisão ou a “ingenuidade” de Constâncio (esta confessada pelo próprio no primeiro inquérito parlamentar ao BPN, como ontem vimos na primeira parte da reportagem), um dos aspectos da história que a direita e a extrema-esquerda mais retiveram foi o facto de o então governador do Banco de Portugal ser socialista. Caía que nem ginjas. O partido dos banqueiros corruptos, o PSD, agradeceu ao deputado Melo a maneira habilidosa como conduziu o interrogatório para inculpar a supervisão, poupando assim os quarenta ladrões do bando laranja. A extrema-esquerda, na sua enésima convergência política com a direita “lacaia dos monopolistas”, explorou quanto pôde o caso BPN na tentativa imbecil de lançar lama sobre Constâncio, sobre o PS e sobre o governo socialista. Leia-se o famoso relatório do Semedo sobre o caso BPN, que não anda longe do que os comunistas disseram, se a alguém interessa o que disseram.

Idênticas “falhas” de supervisão ocorreram em todos os países, a começar pelos EUA. Sabemos hoje que o sistema financeiro não estava preparado, em lado nenhum, para as altas manigâncias e para o grau de banditismo bancário que levaram à crise financeira iniciada em 2008. Em particular, o BP, com um regime legal datado do cavaquismo, não tinha os meios indispensáveis para detectar essas fraudes, intervir atempadamente e evitar a bandalheira em que se caiu. Já o afirmou com toda a clareza um dos raros banqueiros portugueses em cuja palavra e inteligência confio, José da Silva Lopes.

Claro que também havia um ambiente injustificado de confiança, a rondar a condescendência, que anestesiou muitos responsáveis. Esses economistas todos – uns banqueiros, outros supervisores, outros ainda políticos – conheciam-se pessoalmente das faculdades onde leccionaram (sobretudo do ISE, da Nova e da Católica), do Banco de Portugal onde quase todos trabalharam e das salgalhadas políticas em que andaram envolvidos sob diversos estandartes. Oliveira e Costa tinha sido secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no X governo (Cavaco Silva) – e, antes disso, director da supervisão bancária no Banco de Portugal!!! Hoje perguntamo-nos como foi possível que se tivesse nomeado a raposa para fiscal do galinheiro…

Não se imaginava, antes da débacle de 2008, as proporções da irresponsabilidade e do malfeitorismo desse e de outros banqueiros. Um anterior governador do Banco de Portugal, António de Sousa, já se confessou arrependido de ter atribuído licença de funcionamento ao Banco Privado Português, apesar das profundas desconfianças que lhe terão suscitado (diz ele hoje) o modelo de negócio do BPP e a pessoa do seu presidente, o Rendeiro. Era preciso não só muita informação e muita convicção pessoal, como também muito apoio político para que um governador do BP se atrevesse a matar no ovo o negócio desses banqueiros abandalhados – alguns deles muito piedosos, outros com fortíssimas ligações no partido laranja – que pululavam no BCP, no BPN e no BPP (lista não exaustiva). Aliás, o sistema que nos rege nunca nomearia para governador do BP alguém que tivesse vestígios genéticos de desmancha-prazeres ou de estraga-festas. A mim e, possivelmente, a outros como eu, o BP mais parece uma oligarquia em que umas dezenas de indivíduos que se conhecem de ginjeira se cooptam uns aos outros, se protegem e se perdoam pecadilhos, independentemente da família política. O resultado está à vista.

Vítor Constâncio e os então responsáveis directos da supervisão fizeram, ainda assim, muito ou quase tudo o que podiam fazer com a informação, as competências legais e os meios de intervenção de que dispunham. Recordemos que enquanto alguns tentam agora, por oportunismo político e rasquice ingénita, assacar enormes responsabilidades à supervisão e acusá-la de ter fechado os olhos às manigâncias ou malfeitorias que se praticavam nos bancos citados, muitos banqueiros da nossa praça – entre os quais Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, João Rendeiro e os cavaquistas Tavares Moreira e Oliveira e Costa – acusavam precisamente o BP, e Vítor Constâncio muito em particular, de perseguição assanhada à sua nobre actividade financeira. Leiam-se as entrevistas, os artigos e os livros que essa pandilha publicou desde 2008. Para isso, sempre se valeram também do facto de Constâncio ser socialista, insinuando que o governador do BP estava contra o mundo da finança talvez por ser anticapitalista…

Quaisquer que tenham sido as “falhas” de Constâncio, ele tem por si esta circunstância importante: o ter estado entre o fogo dos políticos rascas, que o acusavam de uma coisa, e o fogo dos banqueiros delinquentes, que o acusavam exactamente do contrário. A julgar pelos seus adversários, está absolvido.

Comer com os olhos

Foi inaugurado ontem em Ílhavo o Aquário dos Bacalhaus. No primeiro dia centenas de visitantes literalmente comeram com os olhos garbosos exemplares vivos de “fiéis amigos” que à vista de todos davam apetitosamente à barbatana.

Ora aqui está em embrião, para quem puder ver, uma excelente solução para o futuro gastronómico dos portugueses, que deixo desde já à atenção do governo e da troica: comer com os olhos. Mediante um parco investimento, daqueles que não comprometem o futuro dos nossos filhos, poderiam ser construídos por todo o país muitos aquários como este, criando emprego (não remunerado, no caso dos animais marinhos) e satisfazendo a necessidade de contemplar visualmente diversas iguarias de que o governo está apostado em desabituar os estômagos portugueses. Em Lisboa e no Porto, pelo menos, impõe-se há muito a construção de um grande Aquário de Crustáceos. Seguir-se-á, com toda a naturalidade, o Museu do Bife, e lá para 2014 teremos o óbvio Museu do Courato.

Aparentemente já sintonizados com a nova ordem alimentar portuguesa, a Cristas e o Paulinho inauguraram ontem em Pombal uma valente fábrica que vai produzir ovos estrelados instantâneos, leram bem, e assim dar um impulso decisivo às nossas debilitadas exportações. Cocorocó!

Tiro ao balão

O ex-presidente da CIP, Francisco van Zeller, está convencido, como todos nós, que foi o Governo quem deu indicações para que o relatório “encomendado” ao FMI fosse publicado como se de uma fuga de informação se tratasse. Van Zeller, que deve saber do que fala, acrescenta que é uma prática corrente do governo “mandar para os jornais à frente, para depois dizer que não é bem assim”. A técnica consiste em primeiro assustar, para depois o governo mostrar a sua moderação e magnanimidade. Aprenderam com aquela história do pide mau e do pide bom.

Todos os dias há desmentidos oficiais de projectos e de aldrabices postas a circular, pública ou clandestinamente, pelo próprio governo. Isto além do desmentido diário que o governo faz das promessas e do programa com que se apresentou perante o eleitorado. E todos os dias o governo prepara novos balões de ensaio.

Creio ser a primeira vez que um país europeu é governado à base de supostas fugas de informações e de desmentidos. O governo manda constantemente balões de ensaio para a comunicação social e fica a esperar a reacção do país. Havendo muitos protestos, inclusive vindos de dentro do próprio governo, Coelho e os seus sequazes fingem encolher-se e lançam novo balão. Quando não são declarações encomendadas ao ministro privado Borges, são relatórios supostamente confidenciais do FMI. Muitas vezes é o próprio Coelho ou um Relvas qualquer que manda umas patacoadas ou anuncia uma reforma marada, para ver o efeito.

Todos os dias há tiro ao balão, que se está a tornar no desporto n.º 1 em Portugal. Mas o tiro ao balão dá aos comentadores políticos, aos analistas económicos, a certos ministros do CDS-PP e ao público zangado em geral a falsa ideia de que conseguem influir na linha da governação. Acho que é esse um dos objectivos principais do Coelho, além de querer fazer passar por suave o pontapé no cu que está a dar a Portugal.