Tiro ao balão

O ex-presidente da CIP, Francisco van Zeller, está convencido, como todos nós, que foi o Governo quem deu indicações para que o relatório “encomendado” ao FMI fosse publicado como se de uma fuga de informação se tratasse. Van Zeller, que deve saber do que fala, acrescenta que é uma prática corrente do governo “mandar para os jornais à frente, para depois dizer que não é bem assim”. A técnica consiste em primeiro assustar, para depois o governo mostrar a sua moderação e magnanimidade. Aprenderam com aquela história do pide mau e do pide bom.

Todos os dias há desmentidos oficiais de projectos e de aldrabices postas a circular, pública ou clandestinamente, pelo próprio governo. Isto além do desmentido diário que o governo faz das promessas e do programa com que se apresentou perante o eleitorado. E todos os dias o governo prepara novos balões de ensaio.

Creio ser a primeira vez que um país europeu é governado à base de supostas fugas de informações e de desmentidos. O governo manda constantemente balões de ensaio para a comunicação social e fica a esperar a reacção do país. Havendo muitos protestos, inclusive vindos de dentro do próprio governo, Coelho e os seus sequazes fingem encolher-se e lançam novo balão. Quando não são declarações encomendadas ao ministro privado Borges, são relatórios supostamente confidenciais do FMI. Muitas vezes é o próprio Coelho ou um Relvas qualquer que manda umas patacoadas ou anuncia uma reforma marada, para ver o efeito.

Todos os dias há tiro ao balão, que se está a tornar no desporto n.º 1 em Portugal. Mas o tiro ao balão dá aos comentadores políticos, aos analistas económicos, a certos ministros do CDS-PP e ao público zangado em geral a falsa ideia de que conseguem influir na linha da governação. Acho que é esse um dos objectivos principais do Coelho, além de querer fazer passar por suave o pontapé no cu que está a dar a Portugal.

4 thoughts on “Tiro ao balão”

  1. Só faltava a este desgraçado país aparecer um governo a brincar numa “hora destas”, da crise gravissima que assola a europa. Penso que o Júlio está a fazer uma leitura correcta da actuação do governo. Isto merecia um brado de revolta. Se houvesse uma oposição à altura dos acontecimentos, já tinha dado um murro na mesa. Não compreendo ambém a passividade de certas forças vivas da nação, como por exemplo, os académicos.
    O país definha nas mãos de um punhado de irresponsáveis e vigaristas, com a cobertura do Presidente da República que parece ter como único objectivo defender os “seus” e a sua imagem.

  2. e agora descobre-se que a suposta encomenda do estudo à ocde não passou de mais uma mentirola dos estarolas de serviço.

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