União europeia

Caso se confirme ter sido uma acção organizada, ou inspirada, pelo “Estado Islâmico” – como tudo parece levar a crer – o ataque desta noite em Paris deveria gerar uma resposta militar conjunta da Europa. Isto é, a situação na Síria e no Iraque tem de ser finalmente resolvida através da erradicação completa dos terroristas e da instituição de soluções políticas que sejam mais fortes do que as divisões religiosas e étnicas.

Um dia de atraso para esse desfecho é mais um dia de perigo para a liberdade na Europa.

Há limites para a estupidez

Prova-o bem o laranja Paulo Mota Pinto, que, apesar de estupidamente sustentar que um governo de esquerda está ferido de “ilegitimidade democrática”, não leva a sua estupidez aos cumes atingidos pelo seu correlegionário Passos Coelho, que se lembrou agora de propor uma revisão constitucional de afogadilho para permitir realizar novas eleições legislativas.

“A revisão constitucional não deve ser usada como arma na luta político-partidária quotidiana, nem deve ser feita a reboque de uma situação ou caso concretos”disse, e bem, o constitucionalista laranja Mota Pinto.

Acrescentou, e bem, que a proposta de Passos Coelho é “irrealista e, portanto, mero argumento na luta político-partidária”. Isto porque, segundo alegou, o apoio do PS seria sempre imprescindível para encetar essa revisão, o que agora não iria obviamente acontecer.  Ou seja, digo eu, a proposta não passa de uma estúpida provocação de Passos Coelho.

Declarou por fim Mota Pinto, e muito bem, que a proibição de dissolução da AR que se aplica nos seis meses posteriores às eleições legislativas “foi prevista justamente para evitar a repetição a curto prazo de eleições no intuito de forçar mudanças na expressão da vontade popular até se obter um resultado ‘adequado’, em substituição do acordo entre partidos com representação parlamentar”.

Manobras de concertação dilatória

Em lugar de consultar os partidos e nomear um novo primeiro-ministro, como a Constituição lhe impõe, Cavaco tem-se entretido a conversar com os parceiros sociais. Para a semana, o farsante, que diz estar preocupado com o Orçamento, vai passar dois dias à Madeira – coisa absolutamente prioritária neste momento. Um jornal diz que lá para o fim do mês haverá nomeação de primeiro-ministro. Antes do Natal talvez haja um governo a funcionar.

No quadro desta insólita concertação cavaquina, o presidente da Associação das Empresas Familiares (AEF) foi esta manhã a Belém dizer que a economia precisa de confiança e que é preciso conhecer rapidamente as orientações do novo Governo, “seja ele qual for”. Adiantou, porém, aos jornalistas que os “benefícios sociais” anunciados (pelo PS) são “preocupantes”. Sobre a esperada decisão de Cavaco relativamente à nomeação de um novo primeiro-ministro, o dirigente das empresas familiares disse que a decisão é da exclusiva responsabilidade do presidente e que não lhe fez recomendação num sentido nem noutro, mas acrescentou: “Explicámos as vantagens e as desvantagens de um cenário de continuação de um Governo de gestão ou da indigitação de um primeiro-ministro do PS com um Governo minoritário.” Não recomendaram nada, mas explicaram as vantagens e desvantagens. É giro.

Nunca tinha ouvido falar deste “parceiro social”, a AEF. Quando se fala em “empresas familiares” vêm à ideia os pequenos industriais, comerciantes ou agricultores portugueses que lutam por vezes com dificuldades para manter as suas empresas a laborar e pagar salários acima dos mínimos. Ora o presidente desta associação que supostamente os representa, de seu nome Peter Villax, é dono de um grupo multinacional da indústria farmacêutica que tem fábricas em três continentes e factura mais de 100 milhões, a Hovione. É uma boa empresa de hi-tech que exporta a sua produção e diz pagar bem aos seus mais de 500 trabalhadores (em três continentes). Mas qual será a dimensão ou a facturação média das empresas filiadas nessa Associação de Empresas Familiares? E onde é que Villax paga impostos? Não explicou nada disso, mas também não lhe perguntaram… (Este Villax é o mesmo que há tempos declarou que “os portugueses não gostam de trabalhar.”)

A cobra e o monhé

Ontem, dentro de um táxi, o motorista anunciou-me ir contar um provérbio que, garantiu, tinha larga popularidade no perdido Ultramar. Que foi este: “Se encontrares uma cobra e um monhé, mata primeiro o monhé”. Não conhecia. Aliás, não julguei possível tratar-se de um provérbio e comecei a olhar pela janela à procura de um sítio propício para sair, no mais curto espaço de tempo, da esfera de influência sonora e rodoviária daquele tresloucado, plano de fuga dificultado por estarmos a transitar em pleno eixo Norte-Sul.

O que nos tinha levado para o monhé foi a intenção do taxista em discutir comigo a iminente inundação de dinheiro que Costa vai fazer no País. Ele estava contra e recitou-me o cardápio completo das malfeitorias que os socialistas tinham cometido desde o tempo de Soares. Igualmente me informou de ter votado sempre no Cavaco porque este o tinha livrado da tropa, informação que não explorei. E ainda conseguiu explicar que essa inundação de dinheiro, afinal, apenas corresponderia ao aumento de 1 euro nas pensões, mas que com os socialistas era sempre assim, só bancarrotas. Ah, e que o Costa tinha atraiçoado toda a gente, a começar pelo Seguro. Seguro esse em que ele teria votado, não fosse o monhé.

Mais tarde, fui à procura de outros exemplos desse suposto provérbio. E eles existem, tenham ou não origem em África. Tal como existe um padrão na política nacional. Um padrão onde há forças partidárias e sociais que exploram os défices cognitivos, a iliteracia e o medo da população para alimentarem um estado de violência permanente. Quem assim se entrega a esta forma de “fazer política” não está na base da pirâmide, está no topo. Tem acesso aos mais poderosos meios de comunicação social, ou até é deles proprietário ou director, e almoça e janta com os mais diversos poderes fácticos. Não possuem anos disto mas séculos. A sua pulsão oligárquica é genética.

Tanto o veneno que produzem e espalham no espaço público que se entende na perfeição a lógica deste “provérbio” racista e colonizador. Nasce do mais puro instinto de sobrevivência.

Liberdade democrática

Há poucas coisas que ainda me chocam, nesta altura da minha vida. Mas, aquilo que tenho ouvido e lido, nestes últimos dias, sobre conceitos tão básicos (ou deveriam ser!) como "democracia", "república parlamentar", "Constituição", e "idoneidade", não pode deixar de me chocar.

É certo que Portugal é uma democracia jovem, com pouco mais de 40 anos. Mas, ainda assim, acalentava a esperança de que um povo que viveu 50 anos em ditadura tivesse mais afecto por ela. Mais conhecimento sobre ela, e, acima de tudo, mais fome dela.

O que vejo é um povo animado pelos Midia direitolas, que, perante o exercício legítimo da democracia, a condena e achincalha usando, para isso, ou argumentos absurdos ou (pior!) argumentos primitivos e bacocos invocados por Marcelo Caetano e toda a trupe que, em nome de "cofres cheios" (frase também apadrinhada já pelo governo Passos) deixou o país com 75% de analfabetismo, milhares de estropiados de guerra e o terror semeado em cada esquina.

A verdade, é que, esse tempo, não difere muito para o que o anterior governo fez. Em nome dos tais "cofres cheios" (que não existem nem nunca existiram), substituiu os analfabetos por desempregados, os estropiados de guerra pela emigração e o terror pela austeridade.

Vejamos: não fez comichão política aos que agora rezam por um Salazar que apareça numa manhã de nevoeiro o facto de o PSD e o CDS, coligando-se ao PCP e ao Bloco de Esquerda, chumbarem e derrubaram o último governo do PS. E menos comichão fez esse chumbo ser feito a meio de uma legislatura (com todas as consequências mais graves que acarreta), ser feito em nome de "não ao PEC, não à austeridade" e logo a seguir orgulharem-se de ser "mais troikista que a troika" e afundarem o país em mais austeridade. Não fez comichão a ninguém, os midia direitolas manipularem a opinião pública querendo fazer parecer que a Troika chegou porque o PS queria muito que isso acontecesse, ao invés de explicarem a nua e crua realidade: a Troika chegou porque o PSD e o CDS ao chumbarem o PEC que era a única forma de não pedir ajuda externa naquela altura, obrigaram o governo do PS já condenado a assinar o acordo externo.

Muito menos comichão fez quando um importante militante do PSD insinuou que a política manipula a justiça, numa confissão inequívoca da conduta muito pouco idónea das forças políticas colocadas à direita.

Nada disto fez comichão a ninguém. Tudo isto era e foi, para todos, respeitoso exercício democrático.

Mas, mal se vislumbra a possibilidade de os deputados com assento no Parlamento exercerem uma prerrogativa constante na Lei Fundamental, toda a gente se sente incomodada. Ouvem-se os maiores diaparates e insultos a uma coisa que nos levou anos a conquistar, que nos custou muito caro a conquistar: a liberdade democrática.

Eu não sei se o acordo à esquerda é bom ou mau, politicamente, o que eu sei é que é legítimo e que a direita pode espernear, pode estalar todo o verniz e mostrar a sua falta de chá democrático, que nada disso retira a legitimidade do panorama político actual.

Os meus cumprimentos,

Sofia Sobreira Calado

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Oferta desta nossa amiga, por email.

Condenados a minorias, é o fim da democracia

Ler os colunistas do Observador é deveras divertido por estes dias. Há gente verdadeiramente febril e à beira do delírio. A Maria João Marques, por exemplo, penso que desconhecida em Berlim e em Bruxelas, mas brevemente conhecida nas nossas televisões de cabo, não tenho dúvidas, diz-nos hoje que tem a boca aberta de espanto com a “hipocrisia e a imoralidade” que grassa no PS. Como se atrevem a querer governar com o apoio de uma maioria no Parlamento, quando a coligação não pode, por falta desse mesmo apoio? Como? Sim, como???

E o que atormenta, o que mais indigna esta alma?

«Mas o mais grave não é isto. Nem sequer que PCP e BE estejam a determinar e tutelar as políticas do governo PS. É que deixámos de viver em democracia. Depois de ontem, o PS pode governar sempre que ganhar eleições mesmo com maioria relativa. Mas, depois de ontem, o PSD só pode governar se, juntamente com o CDS, alcançar uma maioria absoluta. A direita tem agora uma sobretaxa eleitoral que precisa de pagar para poder governar. Copiando Orwell, ‘todos os partidos são iguais mas uns são mais iguais que outros’. »

É isto, leram bem. Vivíamos em democracia enquanto uma ala do Parlamento não queria colaborar na governação do país, mas “deixámos de viver em democracia” a partir do momento em que essa ala, eleita por milhares de portugueses, tão eleita como qualquer outra, resolveu acordar para a participação ativa na política depois de assistir à pouca-vergonha do governo da direita.

Estamos perante uma tragédia. É uma ditadura! “Deixámos de viver em democracia” porque no Parlamento se fazem agora alianças. Um escândalo. Será que a Europa já sabe? O pânico é tal que esta mulher até se esquece que os dois partidos da coligação acabaram de governar quatro anos com maioria absoluta, para mal dos nossos pecados.

Conservadora como é, para ela, um radical deve radicalizar. Não radicalizou sempre? Não era a tradição? O que é lá esta modernice? Não devem os esquerdistas esquerdizar? E, de vez em quando, não lhes devemos dar a mão para derrubar governos minoritários do PS? Valha-me deus, sim. Duas vezes sim. Era assim em Portugal. E assim é que estava bem. Com esta mudança, tão abrupta que lhe tira o ar, que vai ser do PSD? Só pode contar com o CDS! O que é isso, o CDS? O que é desta gente sem os Bobis a ladrarem ao PS? Algo me diz que esta PSD se sente abandonada.

Que o PS até agora tivesse de contar apenas consigo próprio para alcançar maiorias absolutas, era a ordem natural das coisas. Tudo joia. Diamante mesmo. Democracia plena. Mas o PS passar a ter aliados? Isso é deveras imoral. É o fim da democracia. Não se faz.

Pequeno exercício de história virtual

Pergunta:

Se o PS tivesse sido o partido mais votado em 4 de Outubro, com 36 ou 38% dos votos, como as sondagens durante longos meses indicaram, o que se teria passado?

Resposta:

Exactamente o mesmo que se passou: negociações falhadas do PS com a direita, negociações bem-sucedidas do PS com a esquerda, terminando com acordos de apoio do BE e do PCP a um governo minoritário chefiado por António Costa.

Teríamos a mesmíssima histeria da direita, acusando o PS de fazer acordos contra-natura com partidos revolucionários que querem Portugal fora do Euro e da Europa, que não respeitam os compromissos internacionais, blá, blá, blá.

Cavaco teria também feito o mesmíssimo e vergonhosíssimo discurso que fez a 6 de Outubro, tentando impor condições políticas às negociações entre partidos e tentando excluir o BE e o PCP de qualquer acordo partidário ou parlamentar com o PS.

Uma pequenina diferença haveria, porém. Após as eleições, António Costa teria sido chamado a Belém – tal como Passos Coelho o foi em Outubro –, mas Cavaco teria ameaçado não nomeá-lo primeiro-ministro se o líder socialista não lhe apresentasse uma solução governativa com estabilidade e durabilidade. Há muito que Cavaco vinha avisando que exigiria tal solução, dado considerar que governos sem apoio maioritário no parlamento não eram estáveis nem duráveis (sem razão, porque Guterres governou assim entre 1995 e 1999). Sabemos hoje – se alguma dúvida havia – que essa exigência de Cavaco era destinada apenas ao PS, se eventualmente recolhesse mais votos que o PSD e o CDS juntos, mas não tivesse maioria absoluta. Nomeando, como nomeou, Passos Coelho à frente de um governo sem maioria no parlamento, o presidente da República renegou sem vergonha os seus princípios e a sua palavra – que já não valiam nada, diga-se.

No fim, teríamos exactamente o mesmo resultado que agora se perfila: um governo minoritário do PS apoiado por uma maioria absoluta de esquerda no parlamento.

Cavaco deve agora chamar Costa e convidá-lo a formar governo. E depressinha, que se faz tarde.

 

Não sejam piegas e saiam lá da vossa zona de conforto, rapidinho

A meio da campanha eleitoral para as legislativas de 2015, tal como o documento acima testemunha, o “primeiro-ministro-presidente do PSD-pafioso-mor” dirigiu-se ao povo para lhe dizer o seguinte:

Que o valor da estabilidade deve ser o critério supremo a comandar a acção das forças políticas responsáveis.

Que ele já sabe que Costa vai chumbar um eventual Governo nascido de uma maioria relativa da direita.

Que sem maioria absoluta não há condições para esta direita se manter no poder, sendo necessário ir para eleições no mais curto espaço de tempo por não existir alternativa governativa que ofereça estabilidade.

Ou seja, e de forma cristalina, Passos pediu ao eleitorado para se pronunciar sobre o cenário político que se vive em Portugal desde 4 de Outubro. E não poupou no catastrofismo, dando como certo aquilo que veio, de facto, a acontecer – apenas lhe escapando a inaudita dialéctica do PCP. Ora, tal presciência contradiz a retórica da surpresa e do escândalo com que os direitolas têm enchido o espaço público para lidar com a evidência: podem ter ganhado na noite eleitoral, perderam de forma absoluta neste dia parlamentar.

Chama-se democracia, é aguentar no caso de estar a doer.

Azar dos Táv… Tavares

Já tudo foi dito sobre a legitimidade de um governo do PS parlamentarmente apoiado pelos partidos à sua esquerda. É totalmente legítimo, é constitucional e não constitui qualquer originalidade, muito menos anormalidade, no contexto europeu. É tão legítimo e aceitável como seria um governo da PàF com o apoio parlamentar do PS. Sucedeu que, com esta direita dos negócios privados com a coisa pública, das mentiras mais despudoradas jamais proferidas, da falta de orgulho nacional, da sujeição vergonhosa à Alemanha, da insensibilidade social radical e da caridadezinha, foi fácil, óbvio e desejado até por ela própria o corte com o centro moderado representado pelo PS, para já não falar do sobressalto provocado na ala radical do Parlamento. Ultrapassaram-se linhas vermelhas demais. A reação e os entendimentos à esquerda eram inevitáveis. As Teresas Leais Coelho desta vida não os previram. Azar. Não tinham consciência de si mesmas nem, pelos vistos, conheciam o António Costa.

Braços armados da coligação, os escribas da direita continuam traumatizados com a mudança operada, incapazes também de ver no comportamento da dupla Passos/Portas a causa desta «revolução» parlamentar, tendo nesse trauma também um certo peso o que vêem como uma «traição» da extrema-esquerda, aliados da direita nas horas difíceis. Juram vingança. O grosso da cambada reúne-se no Observador. Mas estão por todo o lado no papel de comentadores. Há «paletes» deles nas televisões, onde já não basta um de cada vez. Vão aos pares e aos trios. Não se aguenta.

O caluniador-mor, João Miguel Tavares, a quem o Público enigmaticamente acha graça e no qual viu uma fonte de receitas (e que foi sem surpresa catapultado para a televisão, neste período de intensíssima ocupação do espaço público pelas ratazanas, e nem assim lá vão), encontra com gosto dias da semana em que apura a técnica da velhacaria mais repugnante. Hoje é um deles. Agora é António Costa que “furou, furou, furou sem parar”, até conseguir ser primeiro-ministro. Furou?? E chamas-lhe intrujão?Porquê o insulto? Ó Tavares, o que é que querias? Maioria absoluta nas eleições, não obtiveste. Desconfio que sabes porquê. Maioria absoluta no Parlamento, não tens com quem e não te podes queixar. O PS do Seguro, tonto, temeroso e conivente, já lá vai e paz à sua alma, apesar das assombrações assísicas. A União Nacional também já lá vai e há várias décadas. Não podes repetir as eleições, não podes obrigar os portugueses a votarem na direita daqui a uns meses e não podes viciar as eleições. Neste momento, não podes governar. Resta-te estrebuchar enquanto te pagarem, mas vai ser mau para a saúde. Vê lá isso.

De paf a puf

Amanhã é um grande dia para a direita. Vai finalmente perceber que perdeu as eleições de 4 de Outubro. Suspeitar, já suspeitava, mas precisava do desengano final.

Não é tragédia nenhuma, porém. O que custa mais são os primeiros quatro anos.

 

Ninguém aqui tem dúvidas, Pedro, podes ficar descansado

A repetição de que os eleitores do PS não queriam um eventual acordo entre socialistas, bloquistas e comunistas tem de ser um dos argumentos mais exuberantemente pífios que já invadiram o espaço público em muitos e muitos anos. Como toda a direita, e sua legião de adeptos disfarçados de jornalistas, repetem assanhadamente essa cassete, é provável que não encontrem mesmo mais nada para dizer perante uma possibilidade de maioria parlamentar que é a única a poder oferecer estabilidade governativa. A única.

Queriam os eleitores do PS, do BE e do PCP a continuação da devastação causada pelos maiores mentirosos – e traidores – que a história da democracia regista? E quem votou PAF queria que depois das eleições a direita viesse anunciar que, afinal, o programa do PS é que era bom? Será que os direitolas vão continuar a tratar os portugueses como se tivessem 5 anos de idade, já sem qualquer noção do ridículo que os consome?

Outro argumento lerdo é esse de os pafiosos terem ganhado as eleições, daí só eles poderem governar. Imaginemos que tal estupidez estava inscrita na Constituição, qual seria o resultado? O Parlamento deixaria de ter autonomia para encontrar qualquer outra solução governativa perante bloqueios políticos onde a oposição era maioria e teria de se repetir as eleições as vezes que fossem precisas até aparecer um partido ou coligação com maioria absoluta. E se não aparecesse? Ficaríamos com um Governo de gestão por anos e anos, talvez décadas. É esta a lógica que se prepara para ser repetida ad nauseam nos próximos dias, meses e anos.

Mas chega do meu paleio simplório e passemos a quem percebe mesmo do assunto. Aqui em baixo temos o Pedro, com a vantagem de estar em campanha eleitoral que é quando ele se revela decente e patriota, a dizer umas verdades aos portugueses acerca do que é e para que serve o Parlamento. Brilhante e incontestável discurso.

Revolution through evolution

Religious Upbringing Associated with Less Altruism, Study Finds
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Teen sex talks with parents, especially moms, associated with safer sex
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Singing’s secret power: The Ice-breaker Effect
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Chopin, Bach used human speech ‘cues’ to express emotion in music
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Empathetic teachers enhance children’s motivation for learning
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The surprising trick jellyfish use to swim
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Bond’s Beatings Would Leave Britain’s Best-Loved Spy with Double-O Vision

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A ratoeira de Assis

Desde o 4 de Outubro, António Costa tem mostrado o muito que vale. Aqueles socialistas que na noite das eleições pensavam em exigir a sua pele eram movidos por ressentimento e sede de vingança. O que resta dessa reacção de despeitados é hoje personificado por Francisco Assis. Um partido como o PS precisa de debate interno, como precisa de políticos com a qualidade, o perfil ideológico e a experiência de Assis, mas não no papel que ele tem estado a representar.

Na entrevista de ontem, Costa apontou a Assis, e bem, dois erros: estar contra um acordo que desconhece e achar preferível que o PS adoptasse a estratégia errada de ser oposição. A primeira acusação é verdadeira, mas a atitude de Assis resulta da sua oposição de fundo a uma aproximação do PS ao Bloco e ao PCP, algo que se pode respeitavelmente discutir dias, meses e anos a fio, sem qualquer resultado prático. A segunda acusação é também verdadeira, mas aí o erro de Assis é crasso, ao preconizar que o PS viabilizasse o governo da coligação e fosse depois oposição, ficando à espera das escorregadelas do governo para suscitar sucessivas crises políticas.

Na hipótese académica de termos Assis ao leme, portanto, o PS abstinha-se na apreciação do programa de governo, negociava meia dúzia de cedências contra uma abstenção no Orçamento e permanecia alerta no hemiciclo para impedir, juntamente com a restante esquerda, o tandem Passos-Portas de fazer o que lhe desse na real gana. Obtinha-se por esse modo muito do que o PS quer, mas sem sofrer o desgaste da governação minoritária nem ter que aturar as chantagens do Bloco e do PCP. Assim dito, parece lindo e fácil.

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Sem brincadeiras, por favor, alguém me ajude

De quem é que partiu, no grupo Impresa, a estrambólica ideia de tentar fazer do Bernardo Ferrão uma personagem minimamente respeitável no jornalismo político? Aposto que foi do mano Costa, essa inteligência ofuscada que nos conduz pelo meio das trevas. Mas o desafio será equivalente ao de se esperar que uma banheira cheia de merda se transforme numa barra de ouro à pala de ladainhas chonés e paciência infinita.

Enfim, talvez tenham de recuperar o Crespo para dar formação ao novel talento pois só o convívio com o José Gomes Ferreira e o Medina Carreira é capaz de não chegar.

Exactissimamente

A justiça parece, de facto, fazer-se em todos os lugares excepto nas salas dos tribunais. E com a bênção do Ministério Público. Como é possível que quando existem tecnologias informáticas que permitem saber quem abriu e fechou um ficheiro, quem o enviou, exportou ou importou, tecnologias que inclusivamente tornam impossível que alguém não autorizado abra um documento, o MP nunca consiga saber de onde vieram as fugas nem tão-pouco determinar quem foi o responsável?

E se a lei permite que jornalistas se constituam assistentes de um processo, e se parte do processo aparece no dia seguinte nas páginas dos jornais, como é possível que não haja uma reacção imediata de quem tem a obrigação de preservar a inocência de um cidadão até a uma condenação formal? É que, se o tivessem feito, não teriam sentido providências cautelares que, por serem requeridas pelo arguido, geram sempre a suspeita de que a justiça aceitou lançar um manto escuro sobre a liberdade de expressão.


Isabel Stilwell

Mentirosos compulsivos

Hoje, perante a passividade bovina dos entrevistadores do Diário de Notícias, foi a vez do deputado laranja Costa Neves reincidir na mentira despudorada que temos ouvido das bandas da direita desde as eleições de 4 de Outubro:

“O ideal era que o PS fizesse o que o PSD, perante governos minoritários do PS, sempre fez ao longo de 40 anos de história: viabilizámos. (…) Como a história demonstra, o PSD viabilizaria um governo minoritário do PS. Fez isso com Guterres e com Sócrates.” (DN, 4.11.2015, p.5)

Assim, em pelote provocatório, ou ainda sob as vestes pudibundas de uma alegada “tradição” ou da “Constituição não escrita”, vem a direita repetindo a mentira a que tenta segurar-se desde o trambolhão de 4 de Outubro. É necessário, pois, martelar a verdade até que os ouvidos lhes doam.

Desde 1976 que a Constituição contém uma cláusula que estipula, invariavelmente, que a rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções (actualmente o art.º 192.º).

Quando é que o PSD ou os partidos de direita conjuntamente dispuseram de uma maioria absoluta para poderem chumbar um governo minoritário do PS? Em 1976? Em 1995? Em 1999? Em 2009? A resposta é: nunca!

A direita não inviabilizou os governos minoritários de Soares, Guterres e Sócrates porque nunca teve poder para os inviabilizar. Faltou-lhe sempre para isso o apoio dos partidos à esquerda do PS. Em contrapartida, o PSD não hesitou em sabotar o governo do Bloco Central (1985) e o PSD e o CDS não hesitaram em derrubar governos minoritários do PS, mas só quando puderam contar com os votos convergentes dos partidos à esquerda do PS (1977 e rejeição do PEC IV em 2011).