Couples who have sex weekly are happiest
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The search for happiness: Using MRI to find where happiness happens
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Honesty varies significantly between countries
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Eating to impress: Men eat more food when dining with women
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College studies may reduce risk of dementia for older adults, research finds
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More than half of ‘children’ misperceive or reject parents’ political party affiliations
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See! I Was Right
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Arquivo mensal: Novembro 2015
Dizem que é semipresidencialismo
Vozes da direita têm alegado que vivemos em regime semipresidencialista, de onde inferem a legitimidade de o PR decidir livremente a nomeação do primeiro-ministro e, no caso presente, deixar de nomear Costa para encabeçar um governo com apoio parlamentar maioritário. É mais um argumento desesperado de gente tendenciosa e ignorante.
O próprio Cavaco afina por esse diapasão, desde que soltou a célebre cavacada de 22 de Outubro, a saber: “Cabe ao presidente da República, de forma inteiramente livre, fazer um juízo sobre as diversas soluções políticas com vista à nomeação do primeiro-ministro.” E depois de ter sustentado isto, Cavaco embrenhou-se em conhecidas considerações políticas, justificativas da escolha que fez de um primeiro-ministro sem maioria no parlamento, em detrimento da alternativa maioritária que lhe fora já apresentada pelos partidos de esquerda.
Quando se fala de semipresidencialismo, alude-se ao facto de em Portugal o PR ser eleito por sufrágio popular e de, por essa razão, deter poderes importantes, designadamente o de dissolver o parlamento e o de demitir o governo. Ora em 1982, com a direita no poder, houve uma importante revisão da Constituição. Entre outras alterações feitas, houve uma que fortaleceu, outra que enfraqueceu os poderes presidenciais: 1) foi extinto o Conselho da Revolução, passando o PR a poder dissolver a AR sem necessidade de prévio parecer favorável daquele órgão extinto; 2) o governo passou a ser politicamente responsável apenas perante a Assembleia da República, deixando de o ser perante o PR. Ambas as alterações à Constituição – que o PS também apoiou – vinham na sequência de anteriores guerras contra Eanes, protagonizadas sobretudo por Sá Carneiro, mas secundadas por Mário Soares. Houve quem comentasse, após a revisão de 1982, que o semipresidencialismo português tinha sofrido um rude golpe, mas ninguém verteu lágrimas por ele. Os chamados governos de iniciativa presidencial também acabaram com a revisão de 1982. O próprio Cavaco o reconheceu em 2013: “Se um Governo que passa na Assembleia não responde perante o Presidente mas só perante a Assembleia, então não faz qualquer sentido um Governo de iniciativa presidencial.”
Uma das consequências de o governo ter passado a ser politicamente responsável exclusivamente perante a AR foi o PR ter deixado de poder demitir o governo por razões políticas, apenas podendo fazê-lo em circunstâncias excepcionais, “para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas”. Mas se o PR não pode agora demitir um governo por razões políticas, também não pode nomear ou deixar de o nomear um governo com base em considerações ou preferências políticas. Para nomear o primeiro-ministro, o PR apenas tem de ouvir os partidos representados no parlamento e ter em conta os resultados eleitorais. Se não gostar nem de uns nem de outros, só lhe resta meter uma rolha ou renunciar ao cargo.
Mano Costa e o “pathos” socrático
Não deve haver muitos portugueses que não tenham uma opinião formada sobre José Sócrates. Normalmente essa opinião é extremada, seja contra ou a favor. O estilo abrasivo e provocador do ex-primeiro-ministro foi sempre um ótimo catalisador de ódios e paixões. Foi assim no poder, foi assim no regresso de Paris e nos comentários televisivos, está a ser assim na gestão do seu caso judicial, o momento mais difícil da sua vida e que ainda está numa fase inicial. É, assim, normal que a Operação Marquês seja quase sempre vista de forma apaixonada.
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Ricardo Costa anda a repetir a mesma fezada desde que Sócrates foi preso. Que vamos ter acusação, que vamos ter condenação e que ela será, no mínimo, sobre fraude fiscal. Mas, com sorte e esforço, será também sobre branqueamento de capitais e corrupção. A partir deste pressuposto, reduz a defesa às manobras de boicote e atraso para esse desfecho. O seu receio é o de que a Procuradoria não se consiga organizar a tempo para chegar a tribunal e sair de lá em triunfo.
Se calhar, o Ricardo sabe de algo que ainda não é público, estando aí a origem da sua certeza. Ou talvez seja apenas o seu destino de iluminado, aqui reforçado por conhecer de muito perto o animal que quer ser dos primeiros a despachar para o matadouro. Não faço ideia, e se ele tiver razão não me irei surpreender. Porém, também não me surpreenderei com uma absolvição de Sócrates. Tudo é possível, afiança-me a minha ignorância.
Onde ainda me surpreendo, felizmente, é na constatação de que para o director do Expresso, figurão do comentário político em Portugal, é não só possível como até recomendável que se façam balanços acerca do Processo Marquês sem revelar uma singela caloria de indignação, sequer de incómodo, acerca da dimensão política do caso. Politicamente, é relevante que se tenha prendido Sócrates sem se saber exactamente porquê (dado que as hipóteses para a corrupção foram mudando ao sabor da investigação), que se tenha prendido Sócrates para o investigar, que se tenha prendido Sócrates para o difamar e caluniar (usando para isso a maioria da imprensa) e que se tenha prendido Sócrates num calendário que casa perfeitamente com um plano para prejudicar António Costa, primeiro, e o PS, depois. Aliás, o mano Costa não esconde o gozo antecipado ao imaginar que Sócrates está acabado politicamente, aconteça o que acontecer. O que nos leva para a citação do parágrafo inicial do seu texto.
O que ali temos é uma projecção de si mesmo – fenómeno ubíquo até na academia em contextos científicos, quanto mais na palhaçada irresponsável e inconsequente do comentário político – onde se revela como um apaixonado. Nesse estado, ele não consegue encontrar posições moderadas, objectivas e racionalizantes. A sua pulsão é maniqueísta, por isso acusa quem não pensa como ele de ter uma opinião “extremada”. E não se fica por esta distorção, apaixonado como está, aproveitando para culpar Sócrates pelas paixões à sua volta. Ao referir-se a um “estilo abrasivo e provocador” poderemos não saber factualmente do que está a falar, mas não ficam dúvidas acerca do que alimenta a sua sensibilidade.
Calhando alguém obrigar o Ricardo a identificar aqueles que têm opiniões “extremadas” e “apaixonadas” a favor de Sócrates, quem seriam os nomeados? Iria falar do grupo “Sócrates Sempre”? Iria falar dos advogados de Sócrates? Iria falar dos amigos de Sócrates? De Soares? Será Costa capaz de encontrar algum defensor de Sócrates, mesmo sem ser extremado ou apaixonado, nos dirigentes e deputados do PS? E nos directores de jornais, editorialistas e publicistas, quantos deles têm assinado opiniões a favor de Sócrates?
Embora existam paletes de incansáveis coadjuvantes da acusação em jornais e televisões, não existem defensores de Sócrates no ecossistema que domina a comunicação social portuguesa. O que há são vozes isoladas cuja paixão é o Estado de direito, a decência cívica e a legitimidade democrática. Algo que o mano Costa espezinha no fervor da sua paixão.
Exactissimamente
Duas perguntinhas ao ex-administrador da Tecnoforma
- Atendendo a que a grande raiva da trupe laranja se deve ao facto de o PS não ter querido apoiar nem viabilizar um governo liderado pela coligação PàF, eu pergunto em que é que um governo PàF «viabilizado» no Parlamento pelo PS, que poderia garantir a aprovação do seu programa e do seu primeiro orçamento e nada mais, seria mais estável do que um governo do PS com o apoio declarado, «na perspetiva da legislatura», de dois partidos à sua esquerda, sendo o grande, o enorme, fator de união entre os três, a rejeição das práticas da direita exibidas nos últimos quatro anos?
- O que vos leva a pensar que a convocação de novas eleições vos daria um resultado diferente, para (muito) melhor?
[À saída da Palácio de Belém, foram estas as declarações de Passos Coelho:
“O PS tem a obrigação política e moral de apresentar uma solução de Governo.”
Sublinhando que o próprio António Costa afirmara que não derrubaria o Executivo PSD-CDS sem ter uma alternativa “credível, consistente, estável e duradoura”, o ainda primeiro-ministro frisou, contudo, que os socialistas ainda não têm “essa garantia”, nem sequer a garantia de que “partidos anti-europeístas e anti-NATO”, BE e PCP, assegurem essas condições de estabilidade.
Por isso, e perante aquilo que considera ser três acordos com pouca consistência, Passos notou que o cenário que mais agradaria ao PSD passaria pela devolução da palavra aos portugueses, com Cavaco a convocar novas eleições, algo que o Chefe de Estado está constitucionalmente impedido de fazer.]
Só há uma forma de testar o acordo da esquerda
A direita não se cansa de repetir que o acordo da esquerda não presta. Que é fraquinho. Que não é sequer um acordo. Que não passa de uns papelitos mal amanhados que os líderes dos partidos assinaram talvez por não terem mais o que fazer naquele dia. O que não deixa de ter piada. Mas, afinal, o que seria, no entender da direita, um bom acordo? Sequer existe, nas suas cabeças, tal possibilidade? Claro que não. Por isso, não se percebe por que razão não querem provar que têm razão. E só há uma forma de isso acontecer: Cavaco dar posse ao Governo do PS.
Se, tal como afirmam, o acordo não garantir um Governo estável, não têm com o que se preocupar, nem precisam de fazer a triste figura de sugerir revisões da Constituição para que haja novas eleições, já que estas serão inevitáveis independentemente de quem ganhe as Presidenciais. Novas eleições essas que, após o fracasso do Governo do PS, a direita ganharia com a tão desejada maioria. Com o bónus de a esquerda ficar arredada do poder nos próximos anos e de tão cedo não se voltar a ouvir falar de acordos. Só vantagens, portanto.
Contudo, a direita prefere tudo menos provar que tem razão. Porque será?
Constituição marada
O exemplar da Constituição de que Cavaco se serve foi comprado na Feira da Ladra a um vendedor de banha da cobra que costuma abastecer Belém. Estou em condições de afirmar que se trata de uma edição clandestina e apócrifa da lei fundamental. Cotejando a Constituição da República editada pela Imprensa Nacional com um exemplar da Constituição igual ao de Cavaco, que anteontem adquiri na dita feira, detectei uma grave disparidade no artigo 187.º, referente à formação do governo.
Constituição da República:
O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
Exemplar da Constituição marada de Cavaco:
O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República quando lhe apetecer, depois de ouvidas as entidades que bem lhe aprouver, especialmente as seguintes: grupos de constitucionalistas, politólogos, banqueiros e economistas que pensam como o Presidente da República; o Fundo Monetário Internacional; a Associação dos Comerciantes de Carnes Verdes e Afins do Distrito de Leiria; a Confederação dos Grémios da Lavoura; a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho; o sr. João Salgueiro; as agências Fitch, Moody’s e Standard and Poor’s; o sr. Mariano Rajoy; o presidente do Automóvel Clube de Portugal; o Patriarca de Lisboa; o sr. Marques Mendes; a esposa do Presidente da República e demais pessoas da sua roda. Acessoriamente poderão ser ouvidos os partidos representados na Assembleia da República, com a condição de o Presidente da República previamente se munir de tampões para os ouvidos. O Presidente da República terá também em conta os resultados eleitorais, deduzindo porém, a título de sobretaxa, metade dos votos e dos deputados obtidos pelos partidos nefastos para a almofada financeira da Nação.
Pedro&Paulo, desde 23 de Março de 2011 a papar otários
Capa do esgoto a céu aberto a uma semana das eleições. Hoje sabe-se que esta mentira se tratou de uma pulhice das antigas. Mas a intenção do pasquim faz recordar, no deboche “jornalístico”, uma célebre capa do CM, salvo erro em 1980, onde se juntavam duas notícias diferentes lado a lado de forma a permitir uma leitura conjunta na horizontal do começo dos títulos respectivos. Seria qualquer coisa como isto “Amanhã vamos votar para as legislativas” + “AD fez último comício em Lisboa”. Resultado gráfico da composição no eixo horizontal, esta parangona: “Amanhã vamos votar AD”.
Claro que o CM, neste caso da sobretaxa, poderá alegar que se limitou a publicar o que os pafiosos garantiram ir acontecer. Portanto, que se limitou a passar com estardalhaço o recado ao eleitor, sempre na perspectiva do interesse público – isto é, de um certo público. E nós acreditamos, que diabo, não há como este pasquim para despachar serviços altamente especializados de apoio ao trato da coisa pública pela gente séria.
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O nosso amigo Vicente de Lisboa deu-se ao trabalho de encontrar o exemplo a que me referi de forma errónea, acrescentando-lhe mais uma peça.
Demita-se, sr. Cavaco!
“Eu, como primeiro-ministro de um governo, estive cinco meses em gestão.” Foi com esta baboseira que Cavaco respondeu na Madeira a uma pergunta sobre se não era urgente a nomeação de um novo primeiro-ministro.
Aquilo a que se referia passou-se em 1987, quando o seu governo minoritário foi derrubado por uma moção de censura do PRD apoiada pelo PS e pelo PCP (3 de Abril). Seguiram-se negociações entre o PS de Constâncio e o PRD chefiado por Eanes, que juntamente tinham mais deputados do que a direita. O presidente Mário Soares – cometendo, aliás, a maior asneira da sua carreira política – não aceitou essa alternativa de governo que lhe foi apresentada e, no pleno uso dos seus direitos, decidiu dissolver a AR. Foram convocadas novas eleições, que decorreram a 19 de Julho. A 17 de Agosto tomou posse o novo governo, também liderado por Cavaco, mas já com maioria absoluta. A 28 de Agosto o programa de governo passou na AR. Não houve qualquer arrastar da situação pelo presidente, mas apenas os passos normais que se dão num regime de democracia parlamentar, quando um governo é demitido a meio do mandato. De resto, a decisão de Soares foi mais tarde considerada por Cavaco como uma “benesse”. Enorme hipocrisia a sua vir agora queixar-se de 1987!
Que analogia existe entre a crise de 1987 e a de 2015? Nenhuma. O PR não tem agora poder para dissolver a AR, enquanto em 1987 tinha-o inteiramente – e exerceu-o. Estamos agora no período de formação de um governo após eleições legislativas, enquanto em 1987 o governo minoritário saído das eleições de 1985 já governava há dois anos. Houve agora a rejeição de um programa de governo, enquanto em 1987 se tratou de uma moção de censura a um governo em exercício. Já nem menciono o facto de ser agora urgente aprovar o Orçamento, que Bruxelas exige todos os dias. Só uma mente chicaneira se lembraria de sustentar qualquer analogia com 1987 para tentar justificar o injustificável: um mês e meio passado sobre as eleições, ainda não há sombra de novo governo. Em 1987, um mês e dez dias depois das eleições, já havia governo e o seu programa já tinha sido apreciado na AR.
Cavaco está, de facto, a gozar com o pagode, como já disse o director da TSF. Ora um presidente que decide gozar com o pagode arrisca-se a levar com ovos podres. Como recusa fazer o que a Constituição lhe impõe, só lhe resta uma saída constitucional: renunciar ao cargo. Por isso, sr. Cavaco, preste um serviço ao país e demita-se quanto antes!
Só 18?
"O antigo líder do PS defendeu esta quarta-feira a sua tese de mestrado sobre a reforma de 2007 do Parlamento - que ele encabeçou enquanto deputado. Obteve 18 valores.
Ao analisar o período em causa, António José Seguro concluiu que a reforma de 2007 aumentou o controlo político do Parlamento em relação ao Governo ao conferir às oposições, por via regimental, instrumentos de que não dispunham na Constituição."
Baldaia finalmente livre
Com esta inédita e virulenta opinião – Um Presidente a gozar com o pagode – Paulo Baldaia anunciou urbi et orbi que já não papa cavacadas ao pequeno-almoço. Foram muitos anos de mastigação, sabe-se lá com que penosas indigestões, mas Baldaia está finalmente liberto da tortura. Agora, é um homem livre e já se pode juntar à comunidade que assiste perplexa e à beira do desvairo a mais uma manifestação de prepotência e irresponsabilidade do chefe da direita portuguesa.
Cavaco, desde 2008, que é isto. Não estamos perante qualquer novidade. Há um padrão no seu comportamento, e há causas óbvias. Ele fez de Belém, ou deixou que se fizesse no caso de ter sido manipulado, um forte avançado para comandar tropas e lançar ataques contra o inimigo, o PS. Em termos psicológicos, há abundante literatura que explica o fenómeno. Em termo políticos, Cavaco serviu com diligência e mérito os interesses da oligarquia. E em termos cívicos, ficarei a gostar um bom bocado menos deste meu país caso Cavaco saia da Presidência sem que se organize uma manifestação de repúdio pelo vergonhoso e aviltante exercício do cargo.
Revolução Francesa, reloaded
Cidadão ou muçulmano, perguntava Sahir. Boa pergunta.
“Estamos todos na merda, os muçulmanos”
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Em termos históricos, indo para o alto das pirâmides olhar o calendário, o triunfo da democracia e do secularismo aconteceu há um bocadinho. E só numa parte do Mundo, à custa das maiores violências que se conhecem, mais aquelas que se possam imaginar. Não ter passado por essas lutas, tragédias e glórias, só conhecer da grande História o que cabe em livros e ecrãs, leva-nos para a ilusão etnocêntrica de já não ser preciso convencer mais ninguém da legitimidade deste nosso modo de viver uns com os outros em territórios que nos pertencem por herança, ocupação e defesa. Ora, há quem insista em provar-nos que tal ilusão deve ser abandonada.
O terrorismo de bandeira islâmica tem diversos planos de análise onde cabem perspectivas de todas as ciências humanas sem excepção. A desvairada complexidade religiosa e política das suas causas é incontestável, agravada pelas interpretações ideológicas dessa mistela. O resultado é o de ninguém se entender e já todos terem perdido a esperança de vir a entender. Entretanto, estes recentes crimes de Paris – precisamente por já terem sido previstos há anos e anos, ainda termos fresca a memória do massacre no Charlie Hebdo e coincidirem com o atentado contra o avião russo no Egipto – introduziram uma urgência que é nova na intensidade e no aparato. De facto, algo no plano militar se alterou, estando a criar-se à velocidade dos dias alianças inauditas entre as diversas potências com capacidade para derrotar o “Estado Islâmico” com bombardeamentos e operações especiais. De caminho, e em resultado do que se antecipa possa ser uma destruição da estrutura no terreno dos terroristas como ainda não se viu até agora, a solução política para a Síria e a estabilização do Iraque poderão dar saltos decisivos. Não se trata de resolver todos os problemas e passarmos a ter Suíças no médio-oriente, pois pelos séculos fora haverá conflitos de variegada tipologia, mas de viabilizar como Estados esses territórios, conferindo-lhes poder para organizarem a sua segurança interna e para serem parceiros da pacificação das regiões hoje devassadas pela guerra e pela miséria.
Entre nós, está em causa reconhecer que quem apela a crimes contra cidadãos tem de ser punido. O discurso que o faça, tenha a origem que tiver, já é uma ameaça. Os muçulmanos que ajam como entenderem na reacção a mais estes crimes, o secularismo não quer saber de credos religiosos a não ser quando eles se invocam para violar a legalidade livremente estabelecida. São os cidadãos que devem exigir ao poder político um regime de tolerância zero para o apelo ao ódio e à morte. Se parte desses cidadãos forem também muçulmanos, tanto melhor. Não podemos é ficar à espera de quem não aparece nem se sabe se vai aparecer.
O presidente chicaneiro
Chicaneiro. Diz-se do advogado que se vale de meios cavilosos para retardar o andamento de um processo.
A Constituição não prevê o caso insólito de um PR recusar ou ir protelando fazer o que lhe compete. Por exemplo, não há um prazo para, após a rejeição de um programa de governo, o PR nomear um novo primeiro-ministro. Na sua excessiva boa-fé, a Constituição espera que o PR faça sem demora o que tem de fazer.
Perante a situação inédita de um governo ser rejeitado pelo parlamento, Cavaco resolveu fazer cera, parecendo mesmo disposto a fazê-la até ao limite da paciência do país. Já sabíamos, desde os episódios do seu primeiro mandato, que nos tinha calhado na rifa um presidente mentiroso e golpista. Confirma-se agora que o indivíduo é também um chicaneiro disposto a explorar cavilosamente certas indefinições da lei para protelar indefinidamente aquilo que tem de fazer.
Por incrível que possa parecer, nenhum órgão de soberania tem competência para verificar a constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos actos e omissões do PR. Se o chicaneiro de Belém resolver não nomear novo PM e persistir na actual atitude obstrucionista e provocatória, continuando a viajar e a fingir que ausculta o país, o que poderá legalmente fazer-se para acabar com isso? Quase nada:
1 – A AR pode impedir que o governo demitido exorbite das suas funções de “gestão”, mas os deputados não têm aparentemente poder para impedir o PR de arrastar indefinidamente a nomeação de novo primeiro-ministro. No seu art. 162.º, alínea a), a Constituição diz que compete à AR “Vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos do Governo e da Administração”. O cumprimento da Constituição parece não se aplicar aos actos do PR.
2 – A Constituição permite que, por iniciativa de 2/3 dos deputados, o STJ inicie um processo de destituição do PR por crime praticado no exercício das suas funções, mas seria necessário provar que é crime recusar fazer o que a Constituição lhe impõe, coisa que os juízes do STJ demorariam seis meses a fazer – ou, mais provavelmente, a não fazer. A sugestão há dias feita por Vasco Lourenço para que seja futuramente possível destituir o PR por referendo é uma má ideia, além de inútil no momento presente.
3 – A renúncia do PR seria uma boa solução. Nesse caso, o presidente interino, Ferro Rodrigues, nomearia sem demora um novo primeiro-ministro, após audição obrigatória do Conselho de Estado. Mas tal solução está dependente da vontade do… chicaneiro.
4 – Podem sempre fazer-se manifestações de rua, greves, boicotes, etc., para exigir a substituição do governo demitido por um governo com apoio maioritário na AR. O arremesso de tomates e ovos podres ao PR e ao PM parece não ser uma forma legal de expressão da indignação.
Conclusão: muito cuidado com o PR que se elege, porque pode sair uma alimária chicaneira.
Belos
Apocalípticos e desintegrados
1. Segundo os extensos e excelentes artigos que tenho lido sobre o DAESH (ou ISIS), os seus combatentes e mentores acreditam serem os agentes do Apocalipse, que estará próximo. Sugiro ao resto do mundo que, em podendo, lhes mostre quão próximo está, ou estava. Para eles.
2. Há quem diga que se pode decapitar a organização terrorista, mas mais dificilmente a ideia. Penso que há, mesmo assim, grande vantagem nessa decapitação. Em primeiro lugar, as ideias não existem sem os homens. E esta ideia macabra partiu de alguém (provavelmente renascerá em outras cabeças; mas a luta contra o obscurantismo é eterna, com períodos de pico). Depois, a essa decapitação, pode seguir-se o desmantelamento e o desmembramento da organização (ainda que possa ser temporário, dá tempo a que mais mentes progridam, que o financiamento seja dificultado, que se descubra haver vida inteligente noutros sistemas estelares, enfim). Sem as escolas terroristas, por exemplo, que exigem alguma organização política e social, será mais difícil formar militarmente e preparar psicologicamente os recrutados ou aderentes. Em terceiro lugar, quando muitos compreenderem que o tal Apocalipse é só para eles e nem sequer é causado por eles, talvez comecem a utilizar a parte adormecida dos seus cérebros, os neurónios. De qualquer maneira, penso que não será tempo perdido.
3. Há também quem se interrogue por que razão jovens nascidos, criados e educados na Europa se deixam seduzir por uma organização tão violenta, fanática e alucinada. Na verdade, estes jovens nasceram geograficamente na Europa, mas as respetivas famílias nunca abandonaram as práticas e os valores do Islão, sendo nesses valores que educam os filhos. Claro que o Islão pode não ser isto, havendo milhões de muçulmanos a viver pacificamente no Ocidente. Mas há uma raiz comum e uma interpretação literal do Corão possível. Entre o mundo à sua volta, altamente contrastante, e os apelos e o colete de forças da religião do profeta, é plausível que algumas cabeças menos equilibradas, sem futuro ou mais perdidas entrem em curto-circuito e passem a ter orgulho em morrer, matando. “Eager to recruit, the group may spend hundreds of hours trying to enlist a single individual, to learn how their personal problems and grievances fit into a universal theme of persecution against all Muslims.” (fonte: The Guardian). A chamada «integração» plena só excecionalmente acontece. E é lenta. A organização acena-lhes com uma identidade (que sentem não ter) e com uma causa e não custa perceber que eles as agarrem. Além disso, para muitos jovens, há toda uma adrenalina em manejar armas. “Capture the rebelliousness of youth, their energy and idealism, and their readiness for self-sacrifice, while fools preach ‘moderation’ (wasatiyyah), security and avoidance of risk.” (excerto do Manifesto “The Management of Savagery/Chaos”, assinado por um tal Abu Bakr Naji, para o ramo da Al Qaeda para a Mesopotâmia, que se transformou no DAESH, citado no mesmo artigo do The Guardian).
Alerta fotocópias ou equivalentes
O que terão Passos e Cavaco combinado para atrasarem assim a nomeação de um novo governo? Que se passará nos bastidores? Haverá algum problema com números? Com contas? Com documentos? Lembro-me de, já depois das eleições, Passos ter dito que estavam programados para duas legislaturas, o que significa que não estavam preparados para «passarem a pasta» já.
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Parabéns pela sinceridade
Levanta-te, Europa
Desde o Verão que acompanho diariamente o que se passa, e não se passa, em Ramadi. O interesse por esta cidade iraquiana nasceu do interesse por uma cidade curda-síria, Kobani. Aqui, a um período de intensas notícias sobre o cerco e invasão do “Estado Islâmico”, seguiram-se meses sem que os nossos noticiários dessem conta do que por lá acontecia. E todos os dias algo ocorria com a resistência curda e os bombardeamentos de aviões norte-americanos. O mesmo fenómeno com Ramadi, em que os noticiários deixaram de se ocupar da cidade depois de ter caído nas mãos dos assassinos. Ora, passei a procurar outras fontes de informação.
O que aprendi nos últimos 6 meses não será, em boa parte, distinto do que qualquer especialista militar sabe: que o exército iraquiano foi destruído com a queda de Saddam e ainda não existe, que o “Estado Islâmico” deve as suas proezas estratégicas ao facto de estar a ser liderado militarmente por ex-oficiais de Saddam e que bastaria existir vontade militar dos países da região para se reduzirem os assassinos que restassem depois da razia à clandestinidade. Tal não acabaria com o terrorismo enquanto fenómeno indestrutível, mas acabaria com esta marca de terrorismo que continuará a espalhar violência crescente enquanto aparentar conseguir resistir ao poder militar daqueles que escolhe como inimigos.
Ontem, até às notícias dos ataques em Paris, parecia que os assassinos estavam a ter um dia particularmente funesto: tinham perdido Sinjar, uma cidade iraquiana que lhes permitia a ligação entre a Síria e Mosul, tinham perdido al-Hawl, vila síria importante por causa da produção de petróleo, tinham visto o “Jihadi John” feito em pedaços (ou assim consta) e até em Ramadi se aperta cada vez mais o cerco pelo exército iraquiano, milícias e aviação internacional, para além de outros pequenos ganhos territoriais aqui e ali e de um tiro ao boneco da aviação internacional cujas parcelas correspondem a dezenas de mortos todos os dias. Algo neste cenário terá mudado com os acontecimentos de Paris? Não, quando muito estará em causa é acelerar o processo.
Não posso concordar mais com Jeremy Corbyn quando este diz que preferia ter levado o “Jihadi John” a um tribunal britânico em vez de o saber morto à bomba. A mesma boa intenção civilizada e civilizadora para qualquer outro criminoso do “Estado Islâmico”, muitos que serão igualmente vítimas das mais variadas formas de miséria e violência e podendo nós questionar até que ponto foram livres nas escolhas que os levaram para o crime. Porém, não podemos ignorar que este tipo de terrorismo se distingue de outras formas de espalhar o terror por não existir algo que possa ser negociado. Não há nada para trocar com quem vive obsessivamente o delírio fascista de anular a Humanidade. Tem por isso toda a razão Obama quando ontem lembrava que os ataques de Paris eram crimes contra a humanidade. Não são, pois, apenas mais uns números a somar às fatalidades criminais de outra tipologia.
Os crimes não são todos iguais, e é essa uma destrinça fundamental que está na origem da noção de Justiça que perfilhamos na actual fase da Civilização. Esta é também a consciência de que os refugiados que procuram a Europa, os quais fogem do mesmo inimigo, são nossos irmãos em sofrimento e esperança.