De uma entrevista de Freitas do Amaral hoje no Diário Económico:
«Freitas do Amaral assume as divergências que a determinada altura o afastaram de José Sócrates e diz acreditar que ele “não quis ficar para a História como o primeiro-ministro da austeridade”, deixando para o Governo seguinte os necessários cortes de despesa.
O país já fez as pazes com José Sócrates?
– Penso que não. E esta crise no PS – ou mini-crise – foi desencadeada por elementos próximos de José Sócrates. A primeira pessoa que fez uma declaração a dizer que havia uma crise de liderança no partido foi Santos Silva. Três dias depois veio Silva Pereira dizer que era preciso um novo congresso. Depois Vieira da Silva. Ora, independentemente de isto ter sido bom ou mau para o PS; isto denuncia uma certa precipitação do engenheiro Sócrates. Porque isto veio em consequência de almoços e jantares que ele promoveu. Alguns vieram em jornais. Enquanto o país estiver a sofrer, pelo menos metade do país dirá que isto foi o estado em que ele nos deixou.
Ora aqui está o que se chama um intriguista. Que sabe o homem sobre esta matéria? Não acabara Sócrates de aceitar uma proposta de emprego?
Guterres veio fazer um ‘mea culpa’ sobre a sua responsabilidade no estado do país. Sócrates ainda não o fez. Já o devia ter feito?
– Já, mas não está no feitio dele.»
É extraordinário o número de pessoas que atacam Sócrates na sua ausência, seguros da falta de resposta. Freitas do Amaral permite-se dizer, sempre que o entrevistam, o que não diria, aposto, diretamente na sua presença. Porque haveria Sócrates de pedir desculpa aos portugueses? Por ter lutado por – e conseguido enquanto não foi traído – impedir o resgate? É por isso que deve desculpas? Deve desculpas pelo que outros fizeram – deitarem ao lixo um acordo arduamente negociado? Deve desculpas por não ter cortado na despesa (parece que é isso que Freitas insinua)? Como assim? O défice em 2,6% antes da crise, e a dívida a diminuir não querem dizer nada? Quando é que Sócrates devia então ter cortado na despesa, segundo Freitas? Quando a Comissão Europeia e o Conselho decidiram, em 2009/10 planos de relançamento da economia (com fortes incentivos e apoios do BEI) para fazer face às primeiras consequências da crise do subprime? Devia Sócrates nessa altura ter dito “Não, peço imensa desculpa, mas as falências de empresas, o desemprego e a quebra de receitas são oportunidades únicas para voltarmos à pobreza que nos vai tão bem. É o que merecemos. Passem bem.”?
A maioria formada pela oposição no Parlamento a partir de Outubro de 2009 não diz nada a este suposto constitucionalista sobre certas dificuldades em fazer passar legislação e orçamentos, de que foi exemplo o fim das transferências para a Madeira?
É indecoroso da parte de Freitas do Amaral dizer de Sócrates o que diz, dando a entender, ou pelo menos não corrigindo quem sugere, que saiu do seu governo por divergências políticas, o que não é de todo verdade. Este senhor é uma vergonha. Além de um bocado tonto, claro – leia-se o que diz de Cavaco:
“Ele nunca foi ouvido por este Governo nas suas mensagens económicas. Se fosse uma pessoa vingativa, ou que gostasse de andar a fazer intrigas já estava a colocar mensagens em todos os jornais contra o Governo. E não está.”
Ah, ah! Afirmação mais tonta do que esta é difícl, atendendo à intriga máxima urdida no palácio de Belém contra um primeiro-ministro, apenas por não ser da sua cor política e para levar ao poder os e a da sua cor política.
As críticas que Freitas também tece na entrevista ao atual governo não são suficientes para apagar a sua falta de decência. Os pedidos de desculpa que deve a Sócrates são tantos quantas as entrevistas maledicentes que já deu.