E andou o sábio do “medo de existir” a defender esta doença

Numa entrevista ao PÚBLICO, em Maio passado, o analista da OCDE Paulo Santiago, que coordenou o relatório sobre a avaliação no sistema de ensino português, frisou que Portugal é mesmo “um caso extremo” na organização, uma vez que “não existe ainda nas escolas uma cultura de porta aberta, permitindo que professores observem aulas de outros colegas”. Portugal é também “quase um caso único” na OCDE no que toca à “relutância de professores e dos próprios directores em fazer um juízo profissional sobre outros colegas”, acrescentou.

Avaliação docente em Portugal não corresponde às boas práticas propostas pela OCDE

Baixar o salário mínimo, deixa cá ver, como a Irlanda

«Christine Lagarde e as autoridades irlandesas analisaram a possibilidade de “acelerar projectos de investimento” para baixar o “dolorosamente” elevado desemprego do país.»

Esqueçamo-nos por momentos da diferença abissal entre salários mínimos, que torna a comparação uma tolice. Um político que fala em público para apontar certos exemplos devia pelo menos informar-se se são exemplos de sucesso.

Um Governo sempre a puxar pelas energias negativas

Sócrates dizia que puxava sozinho pelas energias positivas do País, e era bem verdade. Já nessa altura, a direita mostrava-se muito incomodada com o facto de os portugueses começarem a acreditar que, apesar de terem pela frente um longo caminho até se aproximarem dos níveis de desenvolvimento dos países do Norte, não estavam condenados a ficar na cauda da Europa para sempre. A acreditar que com as políticas correctas se podia arrepiar caminho. E arrepiou-se caminho em áreas bem improváveis, como as tecnológicas, por exemplo, tendo em conta o atraso crónico do País. Fazia sentido até porque, em princípio, a ideia de termos passado a integrar a UE era essa, a de modernizar, desenvolver e enriquecer o País. Mas isto não interessava, nem interessa, à direita, por isso, valeu tudo para correr com quem andava a meter estas ideias na cabeça dos portugueses. Agora, no poder, esforçam-se todos os dias para nos devolverem a descrença no futuro, o desânimo e a velha distância que nos separa dos melhores.

Puxam pelas energias negativas e, ao contrário de Sócrates, não estão sozinhos. É isto que faz um primeiro-ministro que se atreve, não só a pensar, o que já seria grave, a dizer que bom, bom seria poder baixar a esmola a que chamam salário mínimo. E é também isso que fazem os que dizem e repetem que a austeridade veio para ficar, e que esta geração está condenada, ou à miséria, ou à emigração.

Com esta estratégia mórbida, os trastes que nos governam e os seus apoiantes, querem fazer-nos acreditar que o problema não está neles e nas suas opções, e que venha quem vier é este o nosso destino. Mas, lá está, se os jovens emigram é porque, apesar da crise e da austeridade que também lhes bateu à porta, há países onde não se desistiu do futuro. Já percebemos que não é o exemplo desses que devemos seguir, mas o Planeta é tão grande que deve haver um país onde vão buscar inspiração. Digam lá, qual?

Microcosmo e macrocosmo

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Quando o Aspirina B foi criado, em 2005, já havia muito boa gente farta da blogosfera política e a declará-la acabada. O mundo não iria mudar pelo prolixo teclar; e entretanto há coisas que mudam, apetece fazer outras. Também por essa altura era patente o sentimento de se ter esgotado o ideal primevo do convívio entre bloggers e entre autores e comentadores. Apareciam cada vez mais blogues privados ou sem caixas de comentários.

O modo como a direita chafurdou na sua decadência durante os Governos PS fez da blogosfera um lugar infecto, um esgoto para a indústria da calúnia e para a cultura do ódio. Os bravos da esquerda pura e verdadeira alinharam entusiasmados nas campanhas negras, felizes da vida numa união nacional com a escória da direita portuguesa para esse supremo combate histórico contra o imperialista Sócrates. O racismo ideológico nunca descansa e faz os mais estranhos companheiros de alcova.

O sucesso do Twitter e do Facebook retirou aos blogues o papel de espaço de habitação onde se celebrava a novidade do poder de comunicação digital e se estabelecia uma socialização entre autores e comentadores pelas mais variadas afinidades. A consequência foi o abandono da enorme maioria dos participantes e sua migração para as novas plataformas onde recriaram as suas afinidades com total autonomia e desvairadas potencialidades expressivas.

Dito isto, há que dizer isto: os espaços comunitários livres são aquilo que as comunidades quiserem que sejam – se um estúpido conseguir aborrecer e afastar muita gente com as suas palavras, isso apenas significa que esse estúpido está a ocupar um lugar abandonado. Esta constatação tanto vale para caixas de comentários como para templos e cidades.

O protagonismo mediático está verde, não presta

Cavaco é de longe o político que mais protagonismo mediático tem tido nas últimas décadas, mas ontem informou-nos que sabe que o tal protagonismo “é inversamente proporcional à capacidade de um Presidente influenciar as decisões tomadas para o País”. Mas quando é terá chegado a tão brilhante conclusão? Claro que só pode ser pura coincidência vir com uma tirada destas numa altura em que a sua popularidade é a mais baixa de sempre e a mais baixa de todos os Presidentes da República, baixando sempre mais um pouco de cada vez que abre a boca. E num tempo em que se tornou evidente que as suas previsões económicas valem tanto como as de Gaspar. Lembrar que este mago previu para o final do ano passado o regresso do crescimento económico. Já para não dizer que arrisca ser vaiado sempre que puser um pé fora do retiro de Belém.

Uma coisa é certa, o descaramento é o mesmo de sempre. A tarefa em que Cavaco mais se empenhou desde que é Presidente foi a guerra que lançou ao Governo de Sócrates. Aproveitou até à última gota todo o protagonismo mediático e não perdeu uma oportunidade para vir publicamente lançar veneno. Aposto que nessa altura não se importava de trabalhar dia e noite, desde que isso contribuísse para a queda do Governo. Mas segundo o que disse ontem, afinal, os discursos mais escabrosos que já ouvimos da boca de um Presidente da República não pretendiam influenciar em nada o que acabou por acontecer. E quando falava dos limites para os sacrifícios exigidos aos portugueses, ou fazia previsões de explosões sociais e apelos aos jovens para que se manifestassem também não pretendia influenciar o que quer que fosse, como sempre, foi tudo mal interpretado.

Seja como for, foi pena, muita pena, mesmo, não ter recusado o protagonismo mediático há mais tempo, mais concretamente nos anos oitenta do século passado. Isso, sim, teria tido uma influência muito positiva nos destinos do País.

Sois tão rasca, senhores

Há uma parte do país que se conforma com a maldição e com a penitência que lhe inflige a dupla Gaspar/Passos, interrompida amiúde, e de forma aparentemente programada, pelas tropelias do bobo Relvas e pelos nós de gravata falantes do Dr. Portas e que, mesmo passando pior, entende que tudo isto é muito bem feito, em todos os sentidos que quisermos atribuir à expressão. Pobres coitados, não têm conhecimentos para mais. Possivelmente rezam e pensam no paraíso. Também há os chicos-espertos e os patos bravos que não cabem em si de contentes por lhes estarem a oferecer um mercado de escravos em pleno século XXI.

Há porém outra parte do país que, mais cultivada, fortemente prejudicada e atenta ao desempenho da clique governativa, sente verdadeira vergonha pela mediocridade, indigência e incompetência destes governantes. Envergonhados. Envergonhados de serem portugueses como eles. Talvez o silêncio das manifestações tenha a ver com a vergonha, um sentimento um tanto inesperado e algo incompatível com manifestações. Quantas pessoas não há em Portugal com o décuplo da cultura, da inteligência e da competência dos políticos atualmente a governar o país? O que pensam quando ouvem Passos, o penteado, a falar das suas políticas na Assembleia? Riem? Choram? Ganham úlceras? Não ouvem sequer? Pode ser divertido rebolarmo-nos de riso quando ouvimos um primeiro-ministro a invocar a redução do salário mínimo na Irlanda como um exemplo que Portugal deveria seguir, para no minuto seguinte tornar essa comparação disparatada e inútil antecipando-se, ele próprio, ao que alguém pudesse objetar, ressalvando que, porém, na Irlanda o salário mínimo era então muitíssimo mais elevado e que em Portugal o dito não tem descida possível, de tão mínimo que é. E que por isso tal medida nem ficou no Memorando. O problema é que este exemplo de tolice abunda e tudo isto é demasiado grave para ser considerado uma diversão. Portugal bateu no fundo. O governo é mentiroso, inculto, insensível, incompetente, fútil e com um descaramento jamais visto. Os seus comentadores televisivos repetem as mentiras até à náusea. O primeiro-ministro nem falar sabe! Relvas é só esgares. Gaspar lê modelos enquanto fala. É, aliás, a mediocridade que faz rastejar este governo perante os ditames de outros, começando Passos por rastejar perante o pausado Gaspar, e percebe-se porquê.
O respeito pela democracia e pelas instituições torna as pessoas decentes quase impotentes. Mandam-se farpas, como aqui se faz, mas não deixa de ser frustrante. Tenho vergonha de um ministro que se ajoelha frente ao alemão Schäuble, a quem pede constantemente desculpas por pequenas ousadias e sai da sala com vénias. Tenho vergonha só de pensar que um primeiro-ministro português possa ser olhado como um total imbecil num Conselho Europeu.

Se ao Governo juntarmos o ocupante de Belém, que em igual se não em maior medida descredibiliza o cargo que ocupa, tenho vergonha do meu país. Ao que chegámos.

Nuno Melo estudou o assunto e partilha connosco o que descobriu

Consta que Nuno Melo vai tomar conta do que restar do CDS quando Portas iniciar o processo da substituição de Marcelo no papel de grande coqueluche da direita nos sermões dominicais. Faz todo o sentido. Este homem do Norte nunca se atrapalha e consegue despachar socialistas com a facilidade com que um camionista vira imperiais ao balcão a ver a bola. Eis um belíssimo exemplo:

[debate completo aqui]

Para além de apelar agora à união entre a oposição e o Governo PSD-CDS em nome do interesse nacional quando no passado apelou ao derrube do Governo PS em nome do mesmíssimo interesse nacional, para além de citar Vítor Constâncio como autoridade abonatória quando no passado o acusou de ser incompetente, indigno e criminoso, para além de não fazer referência a qualquer enquadramento internacional do aumento da dívida no Governo PS e recorrer ao enquadramento internacional para explicar as dificuldades do Governo PSD-CDS, Nuno Melo vai mais longe e chega à 1ª República: desde o fim dessa época que não se tinha visto algo tão mau a mandar na Grei como Sócrates.

Sócrates, e compreende-se bem, justifica os mais desvairados ódios na gente séria. É que nunca haviam levado tanta porrada naqueles coiros. Também vai sem discussão que os grunhos têm direito à sua grunhice. Mas isto de ficar sem consequências dizer-se publicamente, e logo num debate político com alguém que fez parte dessa equipa, que o Governo de Portugal entre 2005 e 2011 foi pior – seja lá qual for o filha-da-puta do critério ou ponto de vista – do que a governação de Vasco Gonçalves, Marcelo Caetano e Salazar é uma ofensa sem perdão.

A política tem um lado lúdico e folclórico que a direita portuguesa, na sua cultura oligárquica e na sua decadência, habita com desespero, vício e bazófia. Porém, o facto de estas declarações terem passado sem qualquer vestígio de indignação e exigência de reparação, sequer do interlocutor Zorrinho, expõe uma sociedade em estado de anemia e anomia. Não admira, pois, que este seja igualmente o país do Cavaco, do Passos, do Relvas e do Gaspar. O país onde os Nunos Melos valentões escarram do alto dos seus privilégios para cima da memória dos vivos e dos mortos.

A espiral depressiva

Cavaco tentou hoje alijar responsabilidades pessoais pela espiral recessiva:

“O governo tem a confiança da Assembleia da República. O governo não responde politicamente perante o Presidente da República”.

Parecia mesmo que ia a dizer que o Governo não tem a confiança do Presidente da República, mas era alarme falso:

“O governo não responde politicamente perante o Presidente”.

Apetece perguntar-lhe:

– E telefonicamente, já tentou?

Já tínhamos a espiral recessiva. Agora, graças a Cavaco, temos a espiral depressiva. Quando fala, o país fica mais um bocadinho na fossa.

Finalmente, regressámos à credibilidade

A direita portuguesa, nos idos de Março de 2011, estava muito desgostada com o Governo socialista. Porque este não tinha credibilidade. Era um Governo que apenas conseguia reunir o apoio dos parceiros europeus, da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e de Merkel. Um grupo não representativo da credibilidade de um país, portanto, especialmente calhando ser um país pertencente à União Europeia. Ainda por cima, essa gentalha estava decidida a apoiar o tal Governo socialista a manter a soberania e a lidar com a inevitável austeridade da forma menos penosa que fosse possível dado o contexto internacional. Mais uma vez, a direita portuguesa recebeu esse plano como péssima notícia para a sua fome de credibilidade. É que se há assunto de que a direita portuguesa perceba e esteja em condições de dar lições a respeito é o da credibilidade; atente-se à História e às suas magnas figuras.

Nesse tempo, a direita portuguesa telefonava amiúde para os mercados a dar conta dos terríveis problemas de credibilidade que a Nação enfrentava. Ele era o Freeport com os seus envelopes castanhos a serem distribuídos nos tascos da Margem Sul. Ele era a Manuela Moura Guedes a ser assediada pelo Rei de Espanha. Ele era o Mário Crespo e a asfixia democrática que mal lhe permitia ter um bloco noticioso na SIC dedicado às suas perseguições. Ele era o Granadeiro e o Bava a fazerem das suas para oferecerem a TVI ao anticristo. Ele era a chatice dos telefonemas de Sócrates para certos jornalistas, porque depois tinham de ficar a falar com ele e a dizer-lhe coisas em privado e isso às vezes durava mais de uma hora. Ele eram umas casas que ofendiam o apurado gosto estético da gente séria e dos imbecis com cartão de imbecil. Ele era aquela cena da licenciatura ao domingo que muito prejudicava a economia e a moral durante o resto da semana. Ele era uma autêntica desgraça para a credibilidade, era o que era.

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Os governos de direita não contam

Quanto tempo terá este Governo de estar no poder para que possa ser responsabilizado pelo que quer que seja? Já percebemos que dois anos não são suficientes. Não importa o que digam, façam ou deixem de fazer. Não importa o facto de serem criticados todos os dias por praticamente toda a gente. Apesar de tudo isso, há sempre um ministro, um deputado ou outro idiota qualquer a lembrar que a culpa da situação em que o País se encontra é, foi e continuará a ser dos seis anos de governação socialista. Resta saber até quando. É que sabemos que três anos de governação de direita também não têm impacto nenhum no País. Veja-se os Governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, foi o desastre que se viu, mas para a direita é como se esses três anos não tivessem existido. Dez anos, o tempo que duraram os Governos de Cavaco, parece tempo suficiente para que a direita possa ser responsabilizada, mas não é. Por isso é que têm sempre o cuidado de excluir esse período quando se põem a fazer contas ao número de anos que o PS esteve no poder. Assim por alto, de quantos anos precisam? Podemos esperar sentados, se a condição para assumirem a responsabilidade pelos seus actos for a obtenção de resultados positivos com as suas políticas, com toda a certeza, nem daqui a cinquenta anos o Sócrates se livrará de todas as culpas.

Não dá para manter uma magistratura activa quando se ganha apenas 10.042 euros por mês

Cavaco Silva, depois de ter passado três anos a espalhar que o Governo socialista não falava “verdade aos portugueses”, depois de ter encomendado/patrocinado/inspirado (é escolher) o maior escândalo político que se associa à Presidência da República em democracia, depois de ter exibido sem um frémito de vergonha as viscerais ligações políticas e pessoais aos escroques do BPN, depois de ter deixado o País com um Executivo sem maioria parlamentar para que fosse sistematicamente boicotado pela coligação negativa dos direitolas com os esquerdolas e desse modo sendo queimado em fogo lento até à altura certa para a golpada final, ainda fez uma campanha eleitoral onde afiançou ser ele o único garante da tão necessária estabilidade face à gravíssima crise e em que prometeu uma “magistratura activa”.

Cavaco é o político mais poderoso em Portugal, aquele que está há mais tempo em funções e aquele que teve a maior influência negativa no destino do País. Sendo um dos maiores manipuladores do atraso nacional e seus miseráveis, agitou a bandeira branca da “estabilidade” para captar votos do centro e acendeu a fogueira da “magistratura activa” para transmitir à direita que a vingança contra o anticristo seria servida de imediato. Como a imbecilidade de Louçã conseguiu levar o PS a enterrar-se alegremente (o que, simultaneamente, coloca Sócrates como um líder que estava longe de ter o partido na mão), o resultado foi a incrível reeleição de alguém que ofende a inteligência e a ética republicana.

Pois bem, Cavaco foi um dos principais agentes que abriram a crise política que levou ao chumbo do PEC IV, à demissão do Governo e à perda da soberania. E Cavaco, agora que a loucura da dupla Passos-Gaspar só consegue criar devastação económica e crueldade social, está completamente desligado do Povo que jurou defender.

Se a questão da legitimidade dos órgãos de soberania for para levar a sério, que se comece pelo caso mais escabroso de todos. Consta que visita diariamente um palácio ali para os lados de Belém.

E quantas desculpas já deve Freitas a Sócrates?

De uma entrevista de Freitas do Amaral hoje no Diário Económico:

«Freitas do Amaral assume as divergências que a determinada altura o afastaram de José Sócrates e diz acreditar que ele “não quis ficar para a História como o primeiro-ministro da austeridade”, deixando para o Governo seguinte os necessários cortes de despesa.

O país já fez as pazes com José Sócrates?
Penso que não. E esta crise no PS – ou mini-crise – foi desencadeada por elementos próximos de José Sócrates. A primeira pessoa que fez uma declaração a dizer que havia uma crise de liderança no partido foi Santos Silva. Três dias depois veio Silva Pereira dizer que era preciso um novo congresso. Depois Vieira da Silva. Ora, independentemente de isto ter sido bom ou mau para o PS; isto denuncia uma certa precipitação do engenheiro Sócrates. Porque isto veio em consequência de almoços e jantares que ele promoveu. Alguns vieram em jornais. Enquanto o país estiver a sofrer, pelo menos metade do país dirá que isto foi o estado em que ele nos deixou.

Ora aqui está o que se chama um intriguista. Que sabe o homem sobre esta matéria? Não acabara Sócrates de aceitar uma proposta de emprego?

Guterres veio fazer um ‘mea culpa’ sobre a sua responsabilidade no estado do país. Sócrates ainda não o fez. Já o devia ter feito?
Já, mas não está no feitio dele

É extraordinário o número de pessoas que atacam Sócrates na sua ausência, seguros da falta de resposta. Freitas do Amaral permite-se dizer, sempre que o entrevistam, o que não diria, aposto, diretamente na sua presença. Porque haveria Sócrates de pedir desculpa aos portugueses? Por ter lutado por – e conseguido enquanto não foi traído – impedir o resgate? É por isso que deve desculpas? Deve desculpas pelo que outros fizeram – deitarem ao lixo um acordo arduamente negociado? Deve desculpas por não ter cortado na despesa (parece que é isso que Freitas insinua)? Como assim? O défice em 2,6% antes da crise, e a dívida a diminuir não querem dizer nada? Quando é que Sócrates devia então ter cortado na despesa, segundo Freitas? Quando a Comissão Europeia e o Conselho decidiram, em 2009/10 planos de relançamento da economia (com fortes incentivos e apoios do BEI) para fazer face às primeiras consequências da crise do subprime? Devia Sócrates nessa altura ter dito “Não, peço imensa desculpa, mas as falências de empresas, o desemprego e a quebra de receitas são oportunidades únicas para voltarmos à pobreza que nos vai tão bem. É o que merecemos. Passem bem.”?
A maioria formada pela oposição no Parlamento a partir de Outubro de 2009 não diz nada a este suposto constitucionalista sobre certas dificuldades em fazer passar legislação e orçamentos, de que foi exemplo o fim das transferências para a Madeira?
É indecoroso da parte de Freitas do Amaral dizer de Sócrates o que diz, dando a entender, ou pelo menos não corrigindo quem sugere, que saiu do seu governo por divergências políticas, o que não é de todo verdade. Este senhor é uma vergonha. Além de um bocado tonto, claro – leia-se o que diz de Cavaco:
“Ele nunca foi ouvido por este Governo nas suas mensagens económicas. Se fosse uma pessoa vingativa, ou que gostasse de andar a fazer intrigas já estava a colocar mensagens em todos os jornais contra o Governo. E não está.”

Ah, ah! Afirmação mais tonta do que esta é difícl, atendendo à intriga máxima urdida no palácio de Belém contra um primeiro-ministro, apenas por não ser da sua cor política e para levar ao poder os e a da sua cor política.

As críticas que Freitas também tece na entrevista ao atual governo não são suficientes para apagar a sua falta de decência. Os pedidos de desculpa que deve a Sócrates são tantos quantas as entrevistas maledicentes que já deu.

O partido consciente e insubstituível

Para “libertar Portugal do desastre”, o PCP, “consciente das suas responsabilidades e do seu papel insubstituível para uma alternativa política”, acaba de propor solenemente uns tantos pontos. Destacam-se os principais:

– a nacionalização dos “sectores básicos e estratégicos da economia, a começar pela banca”.

– a renegociação da dívida pública, envolvendo sobretudo a “rejeição da componente ilegítima da dívida pública” (sabendo-se que todas as dívidas são ilegítimas, excepto as da banca e as dos monopólios).

– aumento do SMN, dos salários em geral, das pensões e dos apoios sociais.

– agravamento de impostos para os bancos e monopólios (se restar algum depois das nacionalizações).

– alívio da carga fiscal sobre os trabalhadores.

– descida do IVA.

– realização de eleições antecipadas.

É isto o que o PCP oferece ao país e aos outros partidos da oposição, com vista a uma alternativa política ao governo Coelho-Portas. Não tinha lembrado a ninguém, mas é genial.

Think reality

Mesmo para aqueles que detectem erros nas contas (é sempre possível encontrar erros nos números escolhidos e por escolher, por isso fogo à peça), mesmo para os fanáticos do anti-“socialismo” (grupo que reúne reaças e comunas por igual), mesmo para quem está num estado tão alienado que julga ser preferível não ligar à política (oh, seus infelizes…), esta peça é um magistral exercício de comunicação no campo dessa tão antiga e tão nova disciplina: a infografia.

E fica o desafio: faça-se uma versão europeia que consiga explicar aos europeus a crise na Europa.