Comboio da noite para Lisboa

Comecei a ler Comboio da noite para Lisboa. Escreveu-o Pascal Mercier, romancista austríaco. Comecei-o ontem, num comboio já nocturno, a caminho da Suíça.

É a história (longa, 400 páginas em letra pequena) dum exemplar professor de línguas clássicas, de Berna, que um belo dia lê um livro (fictício) dum pensador português e larga tudo para ir a Lisboa. Dizem, e acredito, porque já o estou vendo, que é um livro colossal. Só o pus de lado porque a vida não é só literatura.

Leio-o em tradução neerlandesa. Não acho rasto de edição em português.

Citados

A revista Os Meus Livros de Janeiro de 2008 traz uma citação do Aspirina. Trata-se de uma frase de José do Carmo Francisco, de 21-11-2007 : «Sei que nunca foi tão fácil publicar livros, mas também nunca foi tão difícil colocá-los no leitor». Humaníssimos – por pouco que possa parecer -, gostamos de ver-nos citados.

A crise do BCP contada às crianças

Era uma vez um Jardim à beira-mar abancado, nascido na ilha do outro Jardim. Embora terreno fértil, tanto que presidia ao Banco da Agricultura, dava-se mal com os Cravos. Fugiu para Madrid até lhe passar a alergia. Volta uns aninhos depois, convidado por peixes muito graúdos, validando a máxima de ser preciso que algo mude para que tudo fique na mesma. E a mesma chamava-se agora Banco Português do Atlântico. Foi então que alguns empresários quiseram ter um banco norteado pelos interesses do Norte. Nascia o BCP. E nascia o mito: Deus amava a todos, mas amava mais o Opus Dei. A prová-lo os sucessivos milagres da multiplicação do capital. Muito cresceu este divino enlace, até ao ponto de toda a Nação endeusar o engenheiro misógino, exemplo perfeito de que a humildade cristã não é incompatível com o uso de helicópteros para chegar a horas ao emprego. Depois aconteceu uma cena do caralho, chamada 2005. Nascia um Pinto no Jardim, e a ave-rara acreditou servirem as asas para voar. Só que Ulrichou-se passado muito pouco tempo, e o Jardim transformou-se numa selva. Durante meses ninguém sabia no que apostar, se no parricídio, se no gnaticídio, se no raticídio. Pareceu que uma planta carnívora tinha abocanhado o Pinto, mas o galináceo vingou-se recorrendo ao artista madeirense Joe, um palhaço rico. Este veio para a rua à procura do Procurador, agitando segredos relativos ao carinho de um pai pelo seu dilecto filho e outros números do musical My Love is Offshore. Foi só nessa altura que os accionistas deram razão a Nietzsche: Deus tinha morrido e ainda podia ir parar ao Torel. Grandes bancos, grandes remédios. E o maior remédio vinha dos Santos. Ao fim de umas semanas, Deus ressuscitava a 97,76 %.

Pelo meio, um tonto que dirige um jornal Público afirmou que o PS estava a lançar uma OPA sobre o BCP, e conseguiu não ser despedido. Outro ainda mais tonto, que simula dirigir o PSD, veio dizer que isto do BCP era uma Caixa para duas pegas, pelo que se havia mão esquerda num lado teria de haver mão direita no outro. Naturalmente, ninguém lhe prestou atenção, pois estavam todos a trabalhar e não podiam tomar conta do miúdo. Quando o Governo resolveu o que se Faria, o garoto não descansou e caprichou continuar com a brincadeira. Desta vez, apetecia-lhe que o Estado se abstivesse na escolha para o BCP. Isto porque, afinal, o que era fixe era ter duas mãos direitas, os canhotos podiam esperar. Entretanto, desconfia-se que há um tonto a governar o Banco de Portugal. Pelo menos, há motivo para tonturas.

Cantar as velhas

O cantar as “velhas” é uma preciosidade da cultura popular terceirense. Trata-se de um género de cantigas ao desafio, tradição herdada talvez das trovadorescas cantigas de escárnio e mal-dizer. A brejeirice está sempre presente em cada “velha”, composta por dois tercetos e uma quadra. O seu nome deve-se ao facto de ser normalmente referida uma velha, tendo como contraponto um velho, que com frequência são “avó” e “avô” dos contendores. Actualmente o par mais famoso de cantadores de “velhas” é formado pelo genial João Ângelo, um fenómeno de talento e popularidade, e pelo engenheiro José Eliseu, que se dedicou à prática para ajudar a manter viva esta tradição. Uma “velha” é tanto mais bem conseguida quanto mais disfarçado estiver o significado da brejeirice.
Por desfastio, às vezes escrevo alguma, para me divertir ou divertir os amigos. Aqui deixo três exemplos.

Lição de gramática

Tua avó foi à lição:
“Fá-lo é verbo, falo, não
– É substantivo comum.

Mas, se levar o pronome,
Falo fica, em vez de nome,
Verbo como qualquer um.”

Tua avó bem aprendeu
E a teu avô ensinou:
“No quinhão que Deus te deu
Só o verbo te calhou.”

O orçamento

Teu avô muito suava
De tanto que trabalhava
Para ganhar o sustento.

Tua avó fazia a conta
E não encontrava a ponta
Do novelo do orçamento.

Ela quase enlouquecia
C’o resultado que dava,
Pois quanto mais lhe mexia
Mais o orçamento minguava.

O voto

Uma velhinha sem jeito
Fala mal de tudo a eito,
E não queria votar.

Para fugir ao dever
A velha foi-se esconder
Numa furna à beira-mar.

Tanto o velho procurou
Que deu com ela na furna,
Mas a velha até gostou
De pôr o voto na urna.

Cineterapia

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Das Leben der Anderen_Florian Henckel von Donnersmarck

Depois do Dogma, esse neo-verismo mercantil, parece que a inovação cinematográfica desapareceu da Europa. Se contarmos com os russos, que são euro-asiáticos, temos mais de 600 milhões de pessoas que não conseguem fazer filmes que o Mundo, ou tão-só o Continente Velho, queira ver e aplaudir. A não ser muito, muito, mas mesmo muito de vez em quando. Em Portugal, nos últimos 20 anos, contam-se pelos dedos de uma mão os sucessos populares do cinema europeu: Nuovo cinema Paradiso (Cinema Paraíso) 1988, Il Postino (O Carteiro de Pablo Neruda) 1994, Breaking the Waves (Ondas de Paixão) 1996, Le Goût dês autres (O Gosto dos Outros) 2000 e, o último caso, Das Leben der Anderen (A Vida dos Outros) 2006 (há outros, sei bem, mas gosto mais destes, e depois estragava-me um cliché de mão cheia). Coloco Almodovar à parte, por ser o único realizador europeu a criar marca e a conseguir mantê-la (veja-se, por contraposição e exemplo, os casos Kusturica, Frears e Mikhalkov, ou os franceses Besson e Jeunet, sem qualquer regularidade de público). Esta situação é vexante.

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Grandes planos

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Quarta: descer o mapa, subindo o Reno. De comboio, «por causa do chique».

Quinta: mostrar como a História da Língua Portuguesa teve sempre, e só, uma leitura: a nacionalista.

Sexta:  ouvir surpresas de outros e descansar das minhas.

Sábado: olhar em volta e reparar que estou em Basileia.

Domingo: descer, subindo. De comboio. Arre, que é chique a mais.

Auf Wiedersehen.

A porta sempre aberta

Blogues com comentários têm a porta sempre aberta. A qualquer momento, entra um hóspede, instala-se e começa a falar. Para ele, a data de publicação não é mais do que ruído gráfico. Porque a página está como nova, não amareleceu nem se enrugou com o uso. Mergulha-se na conversa sem respeito pelas barbas de Cronos. E acontecem coisas como estas:

Um texto escrito em Agosto do ano passado, abrir o livro, estava já a comer alface pela raiz quando recebeu uma ilustre visita, Rinito Rita. Por causa dele, vieram outros da mesma cepa. Quem eram? Hoquistas, ou apaixonados pela modalidade, com o coração cheio de alegrias e mágoas. Almas que viveram a glória desportiva, esse ancestral êxtase de existir que nos liga aos deuses através dos sortilégios da luta. Sem saberem, estavam eles a oferecer-me o prémio mais alto desde que escrevo. Uma verdadeira honra ter ficado, nem que por instantes, ligado às suas memórias e esperanças. Inventou-se a vaidade para surpresas assim.

Um texto escrito pelo Fernando em Abril de 2006, Portugal: queremos “isto”?, continua a dar que falar. Está a merecer bolo de segundo aniversário. Os dois últimos comentários exemplificam as tipologias do meio: este, comovente; aquele, inane.

Finalmente, uma das sui generis prestações do TT, AU REVOIR MONSIEUR PASTEUR, recebe regulares testemunhos de especialistas em medicinas esotéricas, ou serão esoterismos medicinais?, aumentando o fascínio da mais enigmática figura que já passou pelo Aspirina B. Também ele porta aberta por onde entra, em remoinho, a saudade.

A fonologia é uma disciplina muito útil que, por exemplo, nos ensina que «goraz» é, contra todas as evidências, o nome de um peixe e não um adjectivo

Mais umas cenas à maneira. Desta vez, gostaria de partilhar as minhas três grandes apostas musicais para 2008 (facção indie). Os nova-iorquinos Vampire Weekend são a coisa mais refrescante, inovadora e bem-disposta que ouvi nos tempos mais recentes e o belo vídeo de «A Punk» é da autoria de um dos meus realizadores favoritos: o grande Garth Jennings da Hammer & Tongs. Os The Mae Shi são de Los Angeles e, sinceramente, não vejo como poderão deixar de ser das bandas mais relevantes de 2008. Não é por acaso que o vídeo de «Run To Your Grave» é semelhante ao dos Vampire Weekend: só mesmo o fast forward para captar toda a energia e a criatividade destas duas bandas. Finalmente, as Those Dancing Days vêm da Suécia e, para além de terem a vocalista mais gira do planeta, também são capazes de fazer coisas tão viciantes como este «Hitten». Eu gosto muito do vídeo: são as brincadeiras infantis, os grandes planos que me paralisam a espinha e, claro está, aquela comovente e absolutamente inesperada recriação da capa de um dos discos da minha vida. Não dá mesmo para acreditar é na pinta daquela vocalista.


Poetas

– Não te passa pela cabeça – disse ele – o que é andares fugido. Porque não tens papéis, porque arranjaste dívidas que nunca, mas nunca, conseguirás sanar, porque andam à tua procura para matar-te. Não, não te passa pela cabeça.

Eu sabia que uma vida humana não era fácil. Que a invenção do Planeta tinha desembocado num cenário, este nosso, que jamais pôde estar no programa. Mas aquilo, dito assim por sobre o tampo de mármore duma mesa de café, olhos acerados fitos nos meus, aquilo meteu-me respeito.

– Andas fugido?

Não cheguei a perguntar-lho. Eu não poderia dar-lhe os papéis, nem dinheiro que chegasse, nem um esconderijo. A minha pergunta seria curiosidade pura, e por isso tanto mais ofensiva. O que ele percebeu bem.

– Acredita, já me habituei. Agora há-de ser sempre assim. Nunca sei se chego livre, ou vivo, à noite de cada dia. Ou ao dia de cada noite. Nem isto é andar livre. Nem andar vivo.

Veia poética, depreendi. E lamentei-o mais ainda. Os poetas, ao saberem dizer tão bem de que sofrem, ainda mais se atormentam.

Um rumor de água

Na voz de Fernanda há um rumor de água. Estamos na cidade, passa um eléctrico com turistas a descer uma das colinas de Lisboa, há um carro dos bombeiros sapadores com a sua pressa e as suas sirenes a subir a calçada, alguns jovens estudantes discutem em voz alta o seu pequeno mundo entre mochilas e telemóveis mas, ao mesmo tempo, na voz de Fernanda há um rumor de água. Será a água do Rio Távora, a que sobe no Inverno ao levantar uma neblina portátil quando as águas batem nas pedras gigantes das margens.

Se fosse Verão a voz de Fernanda teria a frescura das fontes onde ainda hoje se bebe por um púcaro de barro vidrado, uma água que mata as sedes mais antigas de quem secou nos lábios o pó dos caminhos para o trabalho e para a romaria.

Mas é Inverno. O sol não aquece os intervalos dos aguaceiros trazidos pelas nuvens mais escuras do lado do Oceano Atlântico. Duas turistas italianas, de mapa de Lisboa em riste, procuram uma livraria que venda partituras musicais. A vida acontece nestes encontros e desencontros. O Inverno teima em continuar como um calendário repreendido.

E a voz de Fernanda, com o seu rumor de água, liga de novo dois mundos separados pela solidão, pela distância e pelo tempo. Tal como numa prece ou num poema, Fernanda vai ligando de novo esses mundos separados. Há uma alegria convocada na Cidade pelo rumor da sua voz que veio das Serras. Assim, como se fosse a capa de um livro e não a realidade real da personagem desta crónica. «A Cidade e as Serras». Na pressa tantas vezes sem sentido da Cidade há uma voz que coloca de novo a funcionar a harmonia do Mundo das Serras. Na voz de Fernanda há um rumor de água.

De que é que a publicidade precisa?

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A nova campanha da Optimus foi desvelada em várias fases. Teve um período teaser, onde não se identificava o anunciante nas peças publicitadas. Teve uma festa de lançamento no Pavilhão Atlântico, a qual divulgou a marca junto de clientes especiais. E teve o lançamento oficial, completo, no dia seguinte, 9 de Janeiro. Nesse mesmo dia, antes do almoço, a campanha já estava esgotada.

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bola ao alto, coração ao ar

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No meu coração há dois clubes, que hoje vi empatarem*. Empatar, podemos ver com clareza no futebol, pode ter muitos significados. A Académica mereceu o golo marcado rés vés do final do jogo: minutos antes tinha perdido, por um azar formidável (como diria a minha avó), um belo quase. O Sporting (ai…), disseram, deu a pele. Só não se exige o escalpe a Paulo Bento porque ele dá bons sketches aos gatos fedorentos.

*Passe a estranheza de se assistir, no Aspirina B, a uma ligação entre o Sporting e Coimbra, suprema heresia para o mais fanático adepto doméstico do primeiro.

O alho congelado seria uma invenção perfeita caso os respectivos saquinhos fossem, de facto, herméticos e não empestassem os restantes géneros alimentícios do meu sempre refrescante congelador

Ando há uma semana doido com esta música: «Singing On Our Graves» dos The Cave Singers (a banda é nova, mas os músicos são malta com larga experiência: Pretty Girls Make Graves, Hint Hint, Cobra High). A música é um folkzinho irresistível (Leadbelly, Woody Guthrie, Dylan) que gravita em torno de um hipnótico arpeggio e de uma batida tipo marcha militar (ou seja: rock’n’roll). É tudo muito simples e, por isso mesmo, absolutamente genial e adictivo. O vídeo, que acabo de descobrir agora, é igualmente uma maravilha: um freak show com serpentes, baptismos e curas milagrosas. É caso para dizer que o clipe dos Familjen já tem seguidores no outro lado do Atlântico. Ah: o tema é igualmente a cena mais estupidamente dançável que ouvi em 2008. Ei: aquela ali, logo no início, não é a irmã do Tony Soprano?

Tremor de terra ou talvez não

Durante alguns dias, a terra tremera com frequência. Uns pequenos soluços, uns ligeiros solavancos, mas nisto o que se imagina assusta mais do que a realidade. Bastava um gato passear-se no telhado, uma porta mover-se com um sopro de vento, e logo se gritava “ai Jesus!”, como se já fosse tremor ou terramoto, fim do Mundo ou juízo final. António quase nunca dera por nada, ocupado no trabalho ou dormindo profundamente.
O Manuel Pimentel amarrara o cão, com uma espadana, ao pé do galinheiro, para vigiar os pintos de uma ninhada nova. Estava o dia já mais tornado em noite do que crepúsculo, e as galinhas deitadas, quando apareceu um gato mesmo na cara do zeloso vigilante, que não o fez por menos: com um grito de guerra atirou-se na direcção do inimigo rebentando a frágil amarra, saltou o curral do porco em sua perseguição, subiu para o forno, do forno para as telhas, e, como a rua era ligeiramente a descer e as casas desciam em altura numa proporção semelhante, a fuga e a perseguição aconteceram até à última, num remover e quebrar de telhas que, dentro, ecoavam como um desastre em acto. Estando os sentidos atentos a todo o aviso de tremor, as portas foram-se abrindo uma a uma, com famílias inteiras a virem para a rua aos gritos de “Louvado seja Deus!”, “Credo em cruz, Santo Nome de Jesus!” e outras jaculatórias de imprecação e temor. A Branca, mulher do Manuel Pimentel, percebendo o que se passava nos telhados de cada um, e já temendo que, sabida a verdade e denunciados os culpados humanos pelo seu silêncio comprometedor, lhes viessem cobrar a conta do prejuízo, mandou com sentido de obediência imediata: “Vai lá, Manuel, vai louvar também a Nosso Senhor, se não queres trabalhar toda a semana para pagar as telhas.”

«Branco de Quintal» de Fernando Teixeira (Baião)

Um antepassado nasceu-lhe no século XVII em Angola, no quintal dum militar holandês, Van Cappel. É o pretexto para uma digressão pela História de Angola desde os tempos da Companhia das Índias Holandesas e de Salvador Correia de Sá até à actualidade do século XXI.

Um excerto sobre o tempo de hoje: «O tão falado Homem Novo parece que é cada vez mais velho, arrastando-se de muletas, come o que lhe dão, sobretudo o milho estragado, o frango deteriorado e gripado, a carne das vacas loucas, bebe o leite com o prazo caducado, veste as roupas de fardo que a comunidade internacional envia generosamente. Toma medicamentos que já ninguém quer. Dorme com o lixo, acorda com a miséria. No entanto nem tudo é mau, fizeram-se algumas coisas boas, quanto mais não seja, a manutenção da unidade nacional e o alcance da Paz. Tentar corrigir muitos dos erros que se cometeram é um objectivo. A geração mais velha, a geração da luta contra o colonialismo, das matas, das prisões e da clandestinidade, da construção da independência, aquela que alcançou a paz e a tenta consolidar, já cumpriu o seu papel político e precisa passar o testemunho. Só se fala das coisas más, dizem alguns, mas o que se há-de fazer, dizem outros, as más são mais que muitas. A culpa foi da guerra, clamam outros, mas isso não justifica tudo, rebatem os inconformados. Ainda se ouve dizer que grande parte deles nada fazem, o que é mau, e nada deixam fazer, o que é péssimo mas atenção, muita atenção, a vítima nunca esquece o mal que lhe fazem. – Quem atira a pedra é quem se esquece mas quem levou a pedrada não se esquece.»

Pangeia Editores / Chá de Caxinde Edições
Prefácio de Francisco Soares
Apresentação de Rodrigues Vaz

Colocar um aquecedor debaixo da minha secretária é, para já, a melhor ideia que tive em 2008 (mas ainda estamos em Janeiro, né)

Para variar, mais três propostas videomusicais. A primeira, «Be Good or Be Gone» de Fionn Regan (algures entre Nick Drake e Donovan) prova, apesar da beleza dos cenários, que as possibilidades de um videoclipe vão muito para além da imagem. A segunda, «Sun Lips» dos Black Moth Super Rainbow (para fãs dos Mercury Rev, Flaming Lips e Air) é um valosíssimo e hilariante exemplar de uma espécie em vias de extinção: o vídeo narrativo. Finalmente, a última proposta é tudo isto e muito mais: «Jesus Saves, I Spend» de St. Vincent (a minha grande descoberta musical de 2007) é das coisas mais originais e subtilmente sarcásticas que tive o prazer de conhecer nos últimos tempos: não se deixem enganar, aquilo é puro veneno.

Atracções

– Já reparaste as vezes que te telefonam quando estás a pagar numa caixa do supermercado?

– A sério?

– A sério.

– Porque será? Se calhar as caixas atraem os telefonemas.

– Se calhar.

– Ele há cada enigma neste mundo! Ainda outro dia…

– Espera, desculpa, estão-me a telefonar.

– E não estás numa caixa de supermercado!

– Sim, que faria se estivesse… Quem fala?