– Já reparaste as vezes que te telefonam quando estás a pagar numa caixa do supermercado?
– A sério?
– A sério.
– Porque será? Se calhar as caixas atraem os telefonemas.
– Se calhar.
– Ele há cada enigma neste mundo! Ainda outro dia…
– Espera, desculpa, estão-me a telefonar.
– E não estás numa caixa de supermercado!
– Sim, que faria se estivesse… Quem fala?
tem graça, fernando, que a mim acontece o mesmo. e algo mais misteriso ainda, numa situação recíproca: os telemóveis de outras pessoas ligarem-me sozinhos quando as suas proprietárias estão nas filas das caixas. tenho uma amiga que não falha: dezenas de mensagens inintelígíveis deixadas pelo seu aparelho no meu, à socapa das duas.
A tua amiga deve gastar pouco com essa brincadeira, susana. Ela não sabe bloquear o telemóvel?
Eu não sei, meninas. Mas acham que, nesta história, tem a mínima importância isso de os telemóveis tocaram quando se está numa caixa de supermercado?
Estou como o pobre do Valupi. O mulherio toma-o a sério. E, pior, à letra.
Essa do «mulherio» parece sair directamente dum fado daqueles em que se contrata um «char a ban» para ir almoçar às hortas. Mulherio rima com Rossio.
ora essa fernando. estava só a fazer conversa.
Tá bem, Susana. E, pelos vistos, o «mulherio» não te lembrou o «Rossio», nem a Suíça, o Nicola e o Dona Maria. Tudo associações mui pouco fadistas.
isso não, fernando. lembra-me estio, mas também fastio, para contrastar.
Ó Fernando, e se tu nos dissesses quem fala?
Conta lá também essa do Valupi – é verdade que o mulherio o toma a sério, à letra? Fiquei sem perceber se achas que isso lhe agrada ou não.
Sininho,
Ui, isso, quem fala, ficou segredo.
E, do Valupi, sabe-se pouco. Menos ainda o que lhe vai na alma. Mas, se os sinais não enganarem muito, ele rebola-se misticamente de riso.
âncio,
Boa notícia, na passada. Valupi tem alma.
Valupi tem alma? Eu só espero que ele não venha com outra acidulada. Eu estava muito bem no meu cantinho e ele veio com aquela forquilha do diabo atormentar a minha tranquilidade.
O Valupi descobre-se um artigo de supermercado que anda nas mãos de todos os consumidores, os quais o pegam, lêem, pesam, agitam e voltam a colocar na prateleira. E para lá fica, assistindo à clientela a ficar aflita na zona das caixas, por causa dos inconvenientes telemóveis, os tais de que tanto se fala e que tanto dão a falar.
valupi,
Tem esta vantagem, o gajedo. Obriga-te à explicação. Titila e consegue. Proeza que me escapa, caraças! Será da pila?
Estás em promoção, Valupi?
rvn, sim. A pila é um embaraço, como sabes.
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claudia, sim. Compras um pelo preço de dois, ou três.
Se é assim, tenho que rever as minhas contas.