Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Portugal versão 89.5

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O programa mais popular, et pour cause, da TSF é o Fórum. Não carece de apresentação. É um formato que marcou a rádio dos anos 90, tendo chegado a ser programa de culto. Hoje, continua a ser uma referência; mas do quê?

Quem procurar no Fórum da TSF a resolução de qualquer problema, seja ele qual for, estará a padecer de ingenuidade sem remissão. O mesmo para os que pretenderem ver radiografias da Nação onde apenas se mostram postais ilustrados. Piores, ainda, estarão os que reagem emocionalmente às reacções emocionais dos participantes, maldizendo a qualidade das discussões. Erros crassos.

O mérito do Fórum está no ser um vazio. A TSF abre um espaço que oferece ao ouvinte, e isto é o essencial. Essa situação cria a oportunidade de se actualizarem as competências cívicas do auditório. Uma dessas competências é pilar da vida em sociedade: a capacidade de elaborar espontaneamente um discurso oral que tenha ordem e tónus. Ora, em Portugal não se cultiva a oralidade na escola, com isso conseguindo-se duas coisas: o atrofio intelectual e cultural de gerações sucessivas; a grotesca ilusão de que o Santana Lopes é um tribuno de excepção; quando o facto de ele aparecer como excepção apenas carimba a miséria comunicacional da classe política.

É ataraxicamente curioso ver os programas de promoção da leitura, obra de sábios instituídos pelo Governo e pagos pelo Estado, a ignorarem a relação causal entre leitura e fala. A leitura só faz sentido para que se enriqueça a competência do falante em ser falante, levando a interacções comunitárias mais profícuas. Logo, a motivação para a leitura obtém-se a partir da motivação para a relação com o outro ao nosso lado. É esse mesmo plexo de carências e desejos que nos habitam genética, biológica, psicológica e culturalmente que permitiria usar os autores clássicos de modo inteligente — mas isto na condição da Escola conseguir formar adultos, o que implicaria que a Escola conseguiria mostrar as camadas pulsionais, imorais e abismais que sustêm e preenchem as obras clássicas. E ela não consegue, nem irá conseguir.

No Fórum da TSF, pelo menos, há quem se treine diariamente no exercício da civilização. A civilização, como alguns dizem cheios de razão, é uma grande conversa.

10.000

Que é que pensavam? Acabamos de passar mais um marco no Aspirina. E isto sem termos feito nada, nós os autores. Pois é. Ninguém reparou, eu também não, mas o comentário número 10.000 foi recentemente colocado aqui.

Concedendo: nesse sector, há um vaivém razoável, já que somos imensamente queridos pelos semeadores de spam. Eles põem, nós apagamos. Mas lá se vai conseguindo uma seara limpa.

É essa seara, que um dia a História lerá (às vezes, um mestrando aflito chama-se «a História»), é a ela que os nossos comentadores andam fazendo. Para nosso prazer e nossa instrução. Mandem sempre.

Vida de cão

As nossas relações nem eram más. Seguiam a lógica duma rotina antiga, que se foi instalando, depois de tomarmos juízo e derrubarmos os muros da nossa guerra fria. Que também a tivemos.
Ele acampava no terraço, eu tinha aposentos na marquise. Sentindo a dona fora, montávamos arraial na sala das visitas e trocávamos gentilezas. Ele inventava-me petiscos. Eu deixava-o lamber-me a tigela do leite e dançava-lhe às vezes no lombo o crazy-horse.
Não era fácil a partilha da dona, mas lá nos arranjávamos. E, quando ela o levava ao jardim, cheguei a ter saudades dele.
Há dias a patroa saiu, a uma noite de canasta. Eu fiquei a dormir, mas ela deixou ao menino a televisão ligada, para ver as notícias. A estúpida!
Eu bem que o estranhei quando ela regressou. Pareceu-me altivo, ensoberbado, a olhar-me lá do alto, nas suas tamanquinhas. Roçou-se, sem pudor, nas pernas da patroa, e acho que lhe impôs dormir no quarto dela. No tapete, estou eu a supor!
Gastei o dia seguinte a observá-lo. E, sempre que o olhava, era um tipo com direitos o que via. Eu seja cão se não era! E quanto mais eu olhava, mais direitos me exibia. Recusou passar a tarde no salão, desdenhou-me a tigela… E à noite, quando me viu ir às meninas, foi logo delatar-me à dona. O acusa-cristos! Não dormi toda a noite.
Na manhã seguinte exigi um conselho. E ela, muito dengosa, a fingir-me hipocrisias nos bigodes, enquanto me sugeria hierarquias, regras de precedência, protocolos… Acabou a confessar-me que ele tinha uma comenda, um dia nacional só para ele. Que finalmente alguém lhe fizera justiça.
Eu fui à minha vida, não me dei por achado, tirei informações no bairro. E, quando ela saiu, ofereci ao menino uma trela. Na coleira da trela ia o pescoço do justiceiro, um deputado qualquer, pelos vistos conhecido. Ficou insuportável, de vaidoso, e quem o queria ver era na rua, a levar o político ao jardim.
Soube-se ontem que afinal a comenda era falsa, e ele teve que soltar o benfeitor. Voltou a casa sozinho e devolveu-me a trela, acabrunhado. Metia dó, coitado! Quando um tipo se fia em certos gajos, é raro acabar bem.
Vai ser um rebuliço cá em casa, mas deixei de falar ao parvalhão.

Jorge Carvalheira

Arte e imitação

Jorge Carvalheira, que conhecemos de judiciosos comentários neste blogue, autor dos excitantes contos O Mensário do Corvo , que a Quasi editou em 2002, vai agora colaborar no Aspirina B. Este é o seu primeiro texto.

Gastei anos e anos em escolas, em universidades técnicas, a esgrimir contra fórmulas, a analisar impedâncias, a dissecar circuitos integrados e a sondar estados de alma em micro-chips. Tive uma bolsa na América, pos-graduei-me em sistemas, fui mestre em micro-correntes e acabei autoridade na selva oscura da robótica.

Quando me aventurei no mercado, e fui procurar emprego, rejeitou-me o tecido empresarial por ter currículo a mais. Reduzi expectativas, quis ir dar aulas, em vão, perdi concursos a jardineiro camarário. E acabei a retrair-me em casa dos meus pais, cheio de medo dum país que odiava a ciência, pensava eu. Após anos de depressão, descobri que toda a arte estava na iniciativa própria, na ousadia privada. Pois se assim era, não havia mais dúvidas, o caminho era a arte.

Eu tinha construído, no silêncio do quarto, meia dúzia de autómatos que jogavam à bola. Fiz umas adaptações e pu-los a deambular sobre uma tela. Um deles reproduzia na perfeição os tiques do urso enjaulado. Um outro era mestre a fingir o pânico do polvo acossado, a disparar borrões negros. O mais sofisticado simulava orgasmos de coelho, e rematava a obra com o final toque do mestre. As galerias não me davam sossego, ninguém calava os conselhos de administração, sedentos de arte não figurativa. Os meus robôs dilataram horários de trabalho, nos picos da estação trabalhavam em simultâneo, vinte e quatro horas porque o relógio mais não tinha.

Um dia preparei-lhes o terreno, liguei os circuitos automáticos, deixei o atelier mergulhado em luz febril e fui-me à cama, tomado de stress. Na manhã seguinte cheguei tarde ao trabalho, e encontrei, estendido no chão, um retrato da Mona Lisa, carregado de mistérios.

Antes que eu visse uma dinheirama a arder, fui-me logo aos robôs e arranquei-lhes as tripas. Era o que mais faltava, após tantas conquistas da modernidade, voltarmos agora à arte como imitação da natureza!

Jorge Carvalheira

Acima de nós, só Deus

É daquelas palavras na moda, que acabam por irritar pela profusão desnecessária, eu sei. Mas quem ouviu as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos à TSF, a propósito da coima atribuída pela Autoridade da Concorrência, ficou a conhecer o verdadeiro significado de “pesporrência”.
A pesada penalização surgiu a propósito de uma prática aparentemente normal aos olhos do Dr. Pedro Nunes: tabelar preços dos actos médicos. O valente bastonário, julgando talvez que vive na Itália corporativista de Mussolini, “não reconhece qualquer competência para sequer interpelar a Ordem” à AdC, e não lhe “passa pela cabeça” que aquela “tenha o atrevimento” de a multar. Mesmo prometendo recorrer aos tribunais, a Ordem sabe já que “não pagará a multa jamais”. Pior ainda: o homem declara-se “estupefacto pela AdC se ter lembrado de emitir um comunicado público, quando a Ordem tinha requerido expressamente para que não houvesse comunicado público.” Isto apesar de a AdC a tanto ser obrigada por lei… mas essas minudências não se aplicam aos assuntos da classe médica, pois não? Claro que o Sr. Dr. não acabou a sua prédica corporativista sem agitar o álibi do costume: eles andam a “pôr interesses de doentes em causa”.
Em resumo: a Ordem sabe-se totalmente imune a qualquer espécie de fiscalização da sua actividade. Voga centenas de metros acima do atoleiro onde labutam as criaturas comuns e nunca se rebaixará a pagar uma multa. Tem uma legitimidade que a coloca num pedestal fora do alcance dos reles órgãos fiscalizadores que emanam dos poderes eleitos.

A ministra e a comissão das bexigas

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, pode não ter grande experiência política. Mas aprende depressa. Hoje, deu provas de já dominar duas complexas artes do ramo: dar uma no cravo e outra na ferradura e colocar-se de cócoras ante os Grandes Vultos.
José Saramago resolveu apoucar a actividade de uma comissão de honra dedicada ao estímulo à leitura, de que até faz parte. «Não vale a pena o voluntarismo, é inútil, ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria. Não vamos exigir a todo o mundo a paixão pela leitura». A ministra, confrontada com estas pícaras declarações de Saramago, “estranhou”. Mas não tratou de lhe sugerir de imediato a saída de um organismo a que ele admite só pertencer por uma «fatalidade, como as bexigas». Quando lhe perguntaram se o escritor deveria sair da tal comissão, a senhora ministra soltou um grito de alma: «Meu Deus! Nada disso!»
Deve ter imaginado, num momento de susto, a sua carreira governamental num jazigo ao lado da de Sousa Lara. Temos política.

Quando pensarem mal dos nossos deputados, lembrem-se disto…

Segundo o noticiário da Rede Record de ontem, o Congresso Brasileiro anda ocupadíssimo com incidentes processuais, inquéritos parlamentares, cassações de mandatos, o “mensalão” e, agora, a aproximação do Mundial de Futebol. Resultado: há 68 dias que por ali não é votado um projecto de lei. Nem um só.
Não deixo de sonhar com o grande país que o Brasil poderia hoje ser. Se ao menos tivesse sido descoberto por malta mais capaz e organizada.

Trabalho infantil? Ah, ah, ah!

Eu sei que o maradona é muito giro, que fica bem a qualquer um achar-lhe imensa pilhéria e postular que anda por ali sabedoria a rodos. Mas alguém devia ter dito ao homem que os bobos têm um campo de acção algo limitado: cabriolas para animar jantares dos amigos cultos e pouco mais.
Como é que alguém se lembra de escrever e assinar isto: «a maior parte das crianças que cairiam no grupo que definimos como alvo do “trabalho infantil” estão melhor a trabalhar para as Multinacionais (ui, ui) que a “””””””beneficiar””””””” das condições que lhes (Portugal) proporcionamos»?
Amanhã, seguindo pela mesma viela, poderemos até garantir que os africanos estariam bastante mais confortáveis algemados a segadeiras na Europa do que a passar fome no Chade…
Apresenta-nos assim o maradona uma versão refrescada do velho chavão das crianças-do-terceiro-mundo-que-ainda-bem-que-trabalham-senão-andavam-a-prostituir-se. Aliás, este lugar comum também assoma à sua leve pena: “ou seja: antes putas que eu imaginar-me responsável aos olhos dos meus amigos do Bairro Alto por uma menina de nove anos estragar a vista e a infancia a montar relógios numa fábrica em Rayong.” Todos sabemos bem que os boicotes abrutalhados podem ter consequências terríveis; só que a alternativa não é por certo aceitar alegremente que cada vez mais crianças cresçam sem infância. Mas ficamos assim a saber que ainda há quem julgue aceitável que uma empresa maximize os seus lucros oferecendo — em Rayong, por exemplo — ordenados infantis, poupando-se ao esforço financeiro de pagar salários a adultos, mesmo os prescritos pelos padrões tailandeses! Tudo para que os investidores recebam mais uns cêntimos por acção ao fim do ano e nós possamos ter pochettes mais em conta.
Não me vou pôr a adivinhar se o maradona alguma vez amou uma criança ou não. Sei é que só um coração impermeável admite um tal pesadelo e ainda é capaz de o decorar com chistes supostamente espertalhões.

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Primeiras impressões

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As quais levei comigo, por troca com outras impressões:

Homo Ludens, Johan Huizinga, Edições 70

Às Avessas, Vasco Pulido Valente, Assírio & Alvim

Elogio da Cidade de Lisboa, Damião de Góis, Guimarães

Conto lá voltar, para colher mais impressões. E com Vossas Senhorias, que vos tem impressionado na Feira do Livro?

Sena, Sophia, Pacheco e quem os vê

De um amigo meu, magnífico poeta, seguríssimo ficcionista, excelente ensaísta, recebi um e-mail. Era a propósito do meu post de há dias, «As gavetas lá fora», que comentava um post do Abrupto. Porque eu não sou digno de ser o único a ler os juízos do meu amigo, e porque eles podem não ser desastrados de todo, e porque seguramente haverá quem não condivida os seus pontos de vista e saiba dizê-lo, aqui vai o que eu li esta manhã.

«Fernando…. E então as Três Marias não publicaram o livro delas durante a ditadura? E a Natália Correia, se não erro, uma antologia de poesia erótica que também foi apreendida? E não havia putas no país, coisa indecente?

«O tipo de conversa do P Pacheco pode reduzir-se a: este ano, por causa do frio, a natureza não fabricou boa fruta… Só que a perspectiva que ele adopta é no fundo a neo-realista e perfeitamente antiga e inútil e despropositada, hoje já não tem sentido falar-se assim… O que é uma obra-prima, aliás? Para o Pacheco e para nós são as mesmas? O Pacheco simplifica tudo, pensa que é um político clássico culto, o incorrupto inteligente… Mas tudo o que ele diz é inútil… só teria interesse eventualmente há 30 anos… O P Pacheco acredita que está a fazer história e que é personagem importante dela, por isso convém-lhe acreditar que a correspondência do Sena e da Breyner, tão líricos e revolucionários que eles eram, é que conta a história secreta do fascismo e retrata o país… E se conta só a mitomania de cada um dos autores, seres de eleição e narcisos na pátria miserável e miseravelmente habitada por gente que nunca ia à Grécia nem tinha uma visão metafísica da pátria? Nisso o P Pacheco e eles coincidem: dá-lhes jeito a todos que exista um espaço geográfico e imaginário onde eles podem situar-se como pensadores e heróis subjectivos, onde eles poderiam ser admirados se o povo fosse mais fino, onde eles apesar de tudo são figuras de excepção incompreendidas e exiladas… quando tudo o resto é vil… Sabes que mais, Fernando? Puta que os pariu a todos sem excepção… :-) ».

Silencioso em Auschwitz

Bento XVI esteve em Auschwitz. Talvez tocado pelo local, o papa lembrou-se de ecoar a pergunta que vem ao cérebro de qualquer ateu sempre que confrontado com mais uma malfeitoria do espírito humano ou colossal desgraça dos elementos: se Deus existe mesmo, porque não mexe uma palha para evitar estas catástrofes?
“Porquê Senhor Permanecestes calado? Como Pudestes tolerar tudo isto? Onde estava Deus nesses dias? Porque permaneceu em silêncio? Como permitiu Ele esta matança extrema, este triunfo do mal?” Não são lamentos de cristão interesseiro e pouco iluminado em assuntos da Fé; são palavras do chefe da Igreja Católica.
Estranha queixa esta, vinda de quem vem. Toda a teologia cristã pode ser vista como um labiríntico emaranhado de biombos destinados a ocultar a inacção e o silêncio de Deus. Quando Ele age, os Seus caminhos são insondáveis; quando fica quedo, trata-se por certo de um Mistério, coisa não destinada ao nosso ínfimo entendimento. Há sempre forma de dar ao vazio a aparência de grande ponderação e suprema bondade.
E até para ter permitido as matanças insanas dos nazis Nosso Senhor deve ter um boa desculpa na manga. Claro que ele tinha a agenda muito preenchida; é que ser uma divindade suprema, ainda por cima tripartida, não é pêra doce. Por exemplo, nos dias em que Hitler cimentava a sua liderança do partido nacional-socialista, no início de 1926, Deus estava ocupadíssimo com missão de extrema importância: aparecer à irmã Lúcia e reclamar dos maus tratos que andamos a dar à senhora Sua Mãe. Afinal, dar a conhecer à Humanidade que “são cinco as espécies de ofensas e blasfémias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria” só pode ser demanda prioritária, a exigir acção pronta e excursão prolongada do Menino Jesus, himself, a Pontevedra. Como poderia Deus, ao mesmo tempo, lembrar-se de cortar a carreira a Adolf Hitler, antes que o nazismo desse no que deu? Omnipresente mas não tanto, caramba…

Uma fábula com música

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Por mais desmentidos, desmontagens e desmascaramentos que apareçam, o Priorado do Sião continua a dar que falar, escrever e facturar. Por mim, já desisti de tentar compreender os fanáticos destas imposturices divertidas mas pegajosas.
Li há uns dias a lista de Grandes-Mestres do dito Priorado. De Leonardo a Cocteau, passando por Newton, é um verdadeiro dream team de supostos conspiradores. Incluindo, para lá de muitas figuras de cuja capacidade organizativa não duvido, o meu compositor predilecto: Claude Debussy. Sim; o Debussy incapaz de gerir a sua vida financeira, os seus prazos, as suas mulheres. Este homem tão desprovido de sentido prático teria sido, de 1885 a 1918, um dos vultos ocultos que governaram o mundo sem que de tal déssemos conta. Pois, pois.

A diáspora acetilsalicílica

Antecipando até a liberalização das farmácias, alguns dos nossos bem-amados colegas do Aspirina andam por aí a fazer pela vida, e bem.
O João Pedro da Costa dá alma, verbo e graça ao “blogue canino” do Brand New, conhecido programa de novidades musicais. O Daniel Oliveira voltou à cena do crime com o seu Arrastão: provocação, sarcasmo e análise inteligente nas doses do costume.
Claro que toda a gente já sabe disto tudo há um ror de tempo. O que ainda não sabem é o que os nossos ex-sócios António Figueira e Nuno Ramos de Almeida andam a preparar, com alguns cúmplices de ocasião… Na altura certa (e não com meses de atraso como agora) darei novidades.

Meteorologia

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Que bela noite. Perfeita para o fim do mundo. Uma noite quente, de céu claro, com milhões em quintais recém-regados, apontando telescópios para astros que nunca despontarão. Uma noite abafada, húmida, em que tudo nos parece justo, correcto, no sítio mais próprio. O calor que denuncia a iminência das grandes catástrofes geológicas. A calmaria que sugere o fim de todas as tribulações. Que bela noite.

Há editores por aqui?

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Hoje, na crónica que tem no «Expresso», escreve Inês Pedrosa sobre livros e editores, e diz algumas coisas duras e certeiras. À atenção de editores que, não a tendo lido, passem por aqui, destaque-se isto:

«Em Portugal ainda não houve coragem para a cultura democrática do meio termo: dos livros e autores criados nas estufas dos grémios e só para agremiados passou-se para a tabloidização descarada do livro-produto, com o corpo sorridente do autor recortado em cartão de tamanho natural rindo-se para nós e tapando o resto da «mercadoria» nas lojas de livros. É uma situação que convém sobretudo aos editores: aos ditos sérios, dá-lhes desculpa para reduzirem os sectores de filosofia e literatura, ou para manterem os escritores a pão e água de açúcar, recordando-lhes permanentemente a extrema generosidade que fazem em editá-los, neste mundo cruel de «best-sellers» de má vida, dominado pelo poder do capitalismo selvagem e dos hipermercados trituradores. Omitem pequenos pormenores, como esse, central, de que os custos de edição baixaram extraordinariamente com as novas tecnologias. É mais simples convencer os autores ditos difíceis de que a vida nunca lhes será fácil do que trabalhar para os tornar populares.»

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