O programa mais popular, et pour cause, da TSF é o Fórum. Não carece de apresentação. É um formato que marcou a rádio dos anos 90, tendo chegado a ser programa de culto. Hoje, continua a ser uma referência; mas do quê?
Quem procurar no Fórum da TSF a resolução de qualquer problema, seja ele qual for, estará a padecer de ingenuidade sem remissão. O mesmo para os que pretenderem ver radiografias da Nação onde apenas se mostram postais ilustrados. Piores, ainda, estarão os que reagem emocionalmente às reacções emocionais dos participantes, maldizendo a qualidade das discussões. Erros crassos.
O mérito do Fórum está no ser um vazio. A TSF abre um espaço que oferece ao ouvinte, e isto é o essencial. Essa situação cria a oportunidade de se actualizarem as competências cívicas do auditório. Uma dessas competências é pilar da vida em sociedade: a capacidade de elaborar espontaneamente um discurso oral que tenha ordem e tónus. Ora, em Portugal não se cultiva a oralidade na escola, com isso conseguindo-se duas coisas: o atrofio intelectual e cultural de gerações sucessivas; a grotesca ilusão de que o Santana Lopes é um tribuno de excepção; quando o facto de ele aparecer como excepção apenas carimba a miséria comunicacional da classe política.
É ataraxicamente curioso ver os programas de promoção da leitura, obra de sábios instituídos pelo Governo e pagos pelo Estado, a ignorarem a relação causal entre leitura e fala. A leitura só faz sentido para que se enriqueça a competência do falante em ser falante, levando a interacções comunitárias mais profícuas. Logo, a motivação para a leitura obtém-se a partir da motivação para a relação com o outro ao nosso lado. É esse mesmo plexo de carências e desejos que nos habitam genética, biológica, psicológica e culturalmente que permitiria usar os autores clássicos de modo inteligente — mas isto na condição da Escola conseguir formar adultos, o que implicaria que a Escola conseguiria mostrar as camadas pulsionais, imorais e abismais que sustêm e preenchem as obras clássicas. E ela não consegue, nem irá conseguir.
No Fórum da TSF, pelo menos, há quem se treine diariamente no exercício da civilização. A civilização, como alguns dizem cheios de razão, é uma grande conversa.