Calma, dir-me-ão, o anúncio da morte do BE é muito exagerado. Talvez. E a verdade é que vão estar 8 deputados na Assembleia, com um mandato para quatro anos, os quais, além do tradicional protesto, vão ter de seguir uma estratégia. Adianto já que a mesma me parece bem simples: por cada intervenção que o bloco fará contra as medidas do governo PSD/CDS, fará uma intervenção e meia a lembrar ao mundo o quão ligado está o PS ao acordo da Troika, ao ponto de ter sido o responsável pela sua assinatura. Nada de novo nesta frente, portanto. Pelo menos com estes deputados, formatados pela actual Mesa. Desejo-lhes felicidades democráticas no exercício de tão repetitiva e vã função!
Entretanto, lá fora, e nos bastidores, o processo histórico continua, e particularmente activo sobre o agrupamento. Tão activo que Louçã corre o risco de chegar à famosa Mesa e não encontrar por lá ninguém. Ou então, a concretizar-se o desejo de Miguel Portas, encontrar uns jovens com menos de 30 anos a dizerem que terão todo o prazer em coordená-lo a partir de agora.
Entra agora aqui o tema do nosso eurodeputado que se transferiu para o grupo dos Verdes no Parlamento Europeu, depois de romper a união de facto com o partido português pelo qual fora eleito, deduz-se que por se terem esvaído os 50% de afinidades que a ele o ligavam, sempre um bom argumento para ruptura conjugal.
A menos que queira permanecer além-Pirinéus e fazer carreira política como apátrida num partido verde continental, o seu regresso a Portugal, dentro de dias (se ceder às pressões) ou daqui a dois anos, fá-lo-á pensar certamente, ganho que está um genuíno gosto pela política, no partido ou movimento que o poderá acolher para poder prosseguir a militância. Inscrever-se no PCP para militar nos chamados “Verdes”, dando o braço a Eloísa? O preço parece demasiado elevado (refiro-me à inscrição, já que Eloísa é jeitosa) para tanta independência. E que teria Eloísa em comum com Cohn Bendit?
Então aonde militar, e com saúde?
Não me preocupa, obviamente, o futuro do eurodeputado recém-amigado. É lá com ele. É mero pretexto para a reflexão sobre a viabilidade de um novo partido ecologista sobre os eventuais escombros do BE.
Um pouco de contexto, pois. Em matéria de verdura, e de verdura ameaçada, existem seguramente em Portugal focos preocupantes de poluição, como cimenteiras, celuloses, suiniculturas e outros, porém não tão graves como os que estiveram na origem dos movimentos ecologistas que foram surgindo há décadas na Europa central, altamente industrializada e com centrais nucleares, ou nos países nórdicos, atravessados pelo círculo polar árctico, que os torna hipersensíveis às mudanças climáticas, ou ansiosos e excitados com elas, suspeitamos. Há ainda outra fonte de onde brotaram tais movimentos. Morto o comunismo e, pelo odor fétido libertado pelo cadáver, os seus derivados – o marxismo-leninismo, o trotskismo, o maoismo, etc. -, mas havendo sempre entusiastas do alternativo e do “fora do sistema”, os movimentos ecologistas, transformados entretanto em partidos, constituíram um bom substituto das causas perdidas, capaz de manter aceso o espírito de luta e constestação ao capitalismo, agora pela via da rejeição da poluição. Alguns acalmaram-se e já vestem fato, às vezes ocupando as cadeiras do poder.
Talvez por não nos faltar natureza vicejante e praias deslumbrantes e limpas, inclusivamente nos arredores das maiores cidades, os Verdes do PCP, como ramo, são um pouco atrofiados e, como causa, um pouco envergonhados, tendo içado o cartaz e a bandeira, mas não largando as calças do avô…
Regressando ao Rui Tavares, potencial activista “verde”. O seu ex-BE, um bloco não tanto de esquerda, mas antes de cimento, decorado de estrelas luminosas mas cadentes e perfumado de erva, mas um bloco – duro, fechado, inflexível e errante, e ultimamente, por força quiçá do erro original, das circunstâncias e da história, sujeito a fortes pressões contraditórias, perdeu o brilho, o “glamour” e, mais do que isso, ameaça abrir fendas irreparáveis ou mirrar pela força da erosão. Não se vislumbra saída.
Poderá o (ainda) eurodeputado e outros criar um novo partido, dando-lhe um qualquer tom de verde? Fará sentido em Portugal? Não soará a imitação, a tardio, a sucursal, para já não falar em sobreposição? Em que poderá transformar-se o BE? Em coisa nenhuma? Pulveriza-se e os dois ímanes mais próximos, PS e PCP, captam devidamente as partículas?
A coisa é mais séria do que parece, sobretudo para os seus elementos, porque aquelas pessoas existem e têm arranjado emprego (e família) sentando o traseiro na Assembleia e no delírio de acabarem com o PS. Mas a coisa também é séria, porque, a existir alguma força partidária naquele espaço, o que não é de todo obrigatório, seria útil ao grande partido do centro-esquerda poder contar com um potencial parceiro de coligação não agarrado a radicalismos serôdios. Construirá esta gente alguma coisa – verde, amarelo ou azul celeste – sem Louçã? Contra Louçã?