Não é novidade a maneira de estar do PR, mas convém fazer umas perguntinhas:
A que propósito dá Marcelo uma entrevista a uma televisão para fazer a sua apreciação do governo em funções? Será essa a sua função institucional pública, apesar de serem os jornalistas a fazer as perguntas? Não tem oportunidade de dizer tudo o que pensa ao Governo nas reuniões semanais? E o exercício do seu cargo, que deveria ser o que importa em entrevistas anuais, não lhe merece qualquer autocrítica? Não deveria ser esse o objecto das perguntas dos jornalistas?
E a que propósito dá dicas para a governação do país em público (caso dos professores)? Terá sido eleito para isso? As consequências da aplicação dessas dicas acaso recairão sobre ele? Não há um governo eleito para governar? E não há já comentadores que cheguem e sobrem por esses jornais e televisões fora a mandarem bocas sobre toda e qualquer tossidela do António Costa? Porquê colocar-se em pé de igualdade com essa gente?
E as ameaças constantes de que pode dissolver o Parlamento em qualquer altura, se lhe apetecer? Sim, se lhe apetecer, pois apesar de esclarecer que o fará se vir isto e aquilo e sabe Zeus que mais, parece que adora brincar com esse poder que tem e de o exibir sempre que lhe apetece (para os jornais e seus títulos, claro). São totalmente deslocadas e inaceitáveis tais ameaças. Imagino a vontade que o Costa tem de lhe passar a batata quente da passagem à prática dessas ameaças. Seria giro. Além de que, o facto de, na opinião dele, a oposição não constituir ainda uma alternativa, jamais deveria ser invocado. Significa que, se houvesse uma alternativa que lhe agradasse mais, dissolveria o Parlamento. Mas o que é isto? O resultado de umas eleições legislativas é para ele um “nem penses que vais durar quatro anos, meu menino”?
E começar a entrevista a dizer que este governo entrou em funções já desgastado e que teve um primeiro ano perdido? Não é um soundbite de imediato aproveitado por toda a oposição e que nem sequer corresponde à verdade, como ele próprio depois admite ao reconhecer o eclodir de uma guerra que tudo absorveu da acção política (para além da questão dos prazos para a aprovação do orçamento)? Isto foi mesquinho.
E por que razão ele, que anda sempre a comentar tudo e tudo e tudo a todo o momento, esperou por esta entrevista para se pronunciar sobre a atitude inqualificável dos senhores bispos e cardeais perante as conclusões do relatório sobre abusos sexuais na ICAR? Ficou à espera das reacções dos outros protagonistas públicos (e da própria opinião pública) sobre este assunto para responder em sintonia e ficar assim bem visto? Que hipocrisia.
Alguém devia pôr este senhor no seu lugar. Anda a abusar da nossa paciência. Todos vimos os seus elogios ao palco do Papa, que nos custaria e ainda custa milhões.

JS_VNB
Experiente