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O País continua classificado como lixo, mas é um lixo tão bonito

Carlos Moedas, na última campanha eleitoral, e muito provavelmente depois de um almoço bem regado, chegou a dizer que bastaria o PSD chegar ao poder para que as agências de notação fizessem disparar o rating do País. Passados dois anos, e com um Governo que é um mar de credibilidade, o rating não mexe, é que não sobe nem um degrauzinho. Como é que o primeiro-ministro, que ainda hoje no Parlamento enumerou os sucessos do seu Governo, explica isto? Se o ajustamento está a correr tão bem, se Portugal é o melhor aluno da Europa e arredores, se temos um ministro das Finanças que fora do País tem fama de ser um génio, um primeiro-ministro com uma coragem nunca antes vista, uma coligação à prova de tudo, por que raio de carga de água as agências de rating não agem em conformidade?

A propósito do enorme sucesso da ida aos mercados houve quem lembrasse que a maioria dos investidores não pode comprar dívida portuguesa exactamente por causa do rating da República. Se não está à vista um segundo resgate, o que significa que a troika vai embora daqui a um ano, como é que o País vai regressar plenamente aos mercados classificado como lixo? Se calhar é só um pormenor sem importância. Ou então o Governo espera que até Junho do próximo ano, com as novas medidas de austeridade, ou seja, com o agravar da recessão, do desemprego e do desespero dos portugueses, as agências de notação comecem finalmente a ver a beleza que há em tudo isto.

Mestres na arte do jogo duplo

Marques Mendes, ontem na SICN, a propósito do ‘enorme sucesso’ da emissão de dívida, confessou ser um grande fã de Passos Coelho, não poupando elogios à sua coragem. Olha a novidade! E Marques Mendes não está sozinho, os figurões do PSD que semanalmente aparecem a criticar as políticas do Governo podiam até formalizar o clube de fãs do primeiro-ministro. Normalmente, quando o Governo mete os pés pelas mãos, são os que primeiro aparecem a criticar e são deles os ataques mais ferozes, muitas vezes, esvaziando o discurso da oposição que, com demasiada frequência, acaba por os citar. Mas, tal como ontem aconteceu, estes pseudo-críticos de direita também são muito rápidos a esquecer tudo o que criticaram anteriormente e a entrar em autêntico delírio com os magníficos resultados do Governo. De repente, desaparecem as dúvidas, que na realidade nunca existiram, e ficam todos em sintonia quanto ao rumo que o País deve seguir. Por isso, apesar de tantas figuras do PSD simularem estar em desacordo com o Governo, e de se falar tanto em eleições antecipadas, não se vislumbram no partido quaisquer movimentações para a substituição do líder. Passos e Gaspar têm muito mais fãs do que parece, e, em matéria de jogo duplo, Paulo Portas ainda tem muito para aprender com estes senhores.

O Passos Coelho ainda faz parte do Governo?

Nos últimos dias, os jornais têm dado notícia da guerra em que se transformaram os muitos Conselhos de Ministros, publicando os desabafos de alguns dos participantes. Não sabemos se são verdadeiras as notícias, mas o facto destas reuniões se terem transformado em autênticas maratonas e de apesar disso os porta-vozes das mesmas nunca terem nada de concreto para anunciar ao País revela que as notícias não devem andar muito longe da verdade. Segundo os tais desabafos, de um lado da barricada está Gaspar e do outro Portas, que não concorda com os cortes propostos pelo ministro das Finanças. Apesar de não ser novidade, consta que a coligação tem estado “por um fio”, mas Portas não está sozinho nesta guerra, têm surgido nomes de ministros do PSD que estarão do seu lado.

O que não tem sido notícia, o que pelos vistos ninguém desabafa, é qual tem sido o papel do primeiro-ministro no meio disto. É como se não participasse nas reuniões, ou como se o que pensa não contasse para nada. Parece que está para o Gaspar como a Cristas e o Mota Soares estão para Portas, eles que resolvam. A coisa chega ao ponto de já nem ser o primeiro-ministro a assinar as cartas dirigidas ao líder do PS, mas sim o novo ministro-adjunto que, dizem as más-línguas, está muito próximo de Cavaco. Aparentemente, isto já não incomoda ninguém e é visto como normal neste Governo anormal, onde já são mais do que as mães os que mandam mais do que o primeiro-ministro. A verdade é que isto não é um Governo, é um bicho de sete cabeças, literalmente.

Mas Cavaco alguma vez foi neutro?

Não percebo o espanto que para aí vai por causa do discurso de ontem de Cavaco. Até parece que foi a primeira vez que, em vez de discursar como Presidente da República, discursou como presidente do PSD. Menos ainda se percebe o espanto de alguns socialistas. Será que já esqueceram o nome do principal responsável pela queda do último governo socialista? Ah, espera, nessa altura a culpa da péssima relação entre Belém e S. Bento era do antigo primeiro-ministro e do seu lendário mau feitio. Portanto, Cavaco podia dizer o que quisesse nos seus discursos, afinal, estava a agir em legítima defesa.

Então e a culpa agora é de quem? Nunca se tinha visto um líder do PS tão bonzinho, tão responsável e, sobretudo, tão diferente do anterior. Coitadinho, não merecia isto. E ainda não viu nada. Mas já ficou com uma ideia de como seria liderar um governo socialista e ter de se deslocar semanalmente a Belém para reunir com o verdadeiro líder da direita.

Com que então Sócrates está a perder audiência

“A Opinião de José Sócrates” é um sucesso estrondoso, e há provas disso espalhadas por essa Internet fora. Incapazes de atacar o conteúdo, roídos até ao osso com as críticas certeiras à escumalha do Governo, ao PR e aos políticos europeus, os adversários de Sócrates, agarram-se desesperadamente a uma suposta queda de audiências. E têm tudo contadinho, até aqueles que, como eu, aproveitam a tecnologia disponível e vêem o programa umas horas depois de ter ido para o ar. Estão histéricos e deliram com o facto de Marcelo continuar a ter não sei quantos milhões a ouvi-lo, o que, aliás, não admira pois a coscuvilhice sempre teve muita audiência. Anseiam pelo domingo à noite em que não reste uma alma ligada à RTP. E podem continuar a rezar, mas mesmo que o deus das audiências lhes faça a vontade, aposto que continuam a não conseguir atacar o que interessa.

Haja alguém que não ande distraído

Lá teve de ser Sócrates a lembrar o relatório do Eurostat que dá conta do ‘notável’ recuo do abandono escolar em Portugal, fruto das políticas adoptadas nos últimos anos. É que o tal relatório parece ter passado despercebido aos líderes da oposição. Talvez tenham achado pouco, ou pensem que, no lugar do Governo anterior, teriam feito melhor, embora não digam como. Seja como for, é incompreensível que ignorem os dados do relatório e não os esfreguem na cara dos actuais governantes. E são todos defensores da escola pública, imagine-se se não fossem. No caso dos líderes da esquerda pura não espanta, só um milagre os levaria a elogiar algo vindo de um governo socialista. Já no caso de Seguro é ridículo, é como se fosse líder de um partido completamente novo, que terá começado do zero com a sua chegada à liderança. De um novo partido que se juntou à velha coligação negativa contra os Governos de Sócrates, e que não precisa para nada de relatórios, ainda por cima, vindos de entidades estrangeiras para reforçar os seus argumentos contra as políticas desastrosas do actual Governo. As sondagens que o digam.

Álvaro 1 – CDS 0

Portas tem fama de ser inteligente e é sem dúvida um político experiente, não se percebe é o que o País tem beneficiado com os seus já longos anos de carreira política. Se vivêssemos tempos normais, depois da espécie de remodelação anunciada ontem pelo Governo, não faltariam vozes a declarar a estrondosa derrota do CDS, que, pela voz de alguns figurões, tem exigido uma remodelação mais profunda. Parece que a inteligência de Portas não está ao serviço do partido de que é líder e muito menos ao serviço do País. Aparentemente, serve apenas os seus interesses pessoais. Afinal, é muito melhor ser ministro do que interpretar o papel de Paulinho das Feiras, essa é que é essa. E a verdade é que (fazendo aquelas continhas que a direita tanto gostava de fazer durante a governação de Sócrates), nos últimos onze anos, Portas já conta cinco como ministro. É pois a ele que temos de agradecer os cinco anos de governação da direita, governação desastrosa, diga-se, ao lado de três primeiros-ministros, qual deles o pior. O que vale é que o que ‘nos trouxe até aqui’ foi única e exclusivamente a governação socialista. Adiante.

O que diria o Paulinho das Feiras do líder de um partido, do qual depende a coligação que suporta o Governo, que parece abdicar do seu poder negocial, preferindo deixar o seu partido a falar para o boneco?

Será que Gaspar congelou o Governo?

Se ainda restasse alguma dúvida a respeito da incompetência de Passos Coelho o episódio da substituição de Relvas serviria para a dissipar. Nunca se tinha visto nada assim, um ministro anuncia a saída do Governo e, aparentemente, não há necessidade de o substituir. Nem se substitui o que saiu, nem se faz a remodelação que tantos, incluindo os parceiros de coligação, exigem. Até parece que vivemos tempos calmos e tranquilos em que tudo pode ser feito sem pressas.

E, desta vez, Passos Coelho, não pode acusar o Governo anterior, nem o Memorando, nem a crise internacional, nem a oposição, nem tribunal nenhum, o único responsável pelas remodelações governamentais é, ou costumava ser, o primeiro-ministro.

Por este andar, ainda o ouviremos dizer que este impasse é bom para a credibilidade do Governo e para a imagem do País perante os nossos credores.

Para enfraquecer a liderança de Seguro, Sócrates já vem tarde

Lendo muito do que se tem escrito acerca do regresso de Sócrates e das consequências que trará para a liderança de Seguro e para o PS, até parece que está a correr tudo bem ao actual líder socialista, que o partido está unido à sua volta, que o eleitorado o vê como alternativa ao Governo, que o PS vive num paraíso que o malvado do Sócrates vem destruir. Ora, mesmo com Sócrates caladinho durante os últimos dois anos, Seguro nunca convenceu ninguém e o simples facto de se pensar que o regresso de Sócrates vem abalar a sua liderança é a prova provada da sua mediocridade. Além disso, (e cá vai palpite) não estou a ver Sócrates a tentar prejudicar deliberadamente a actual liderança do seu partido com os seus comentários semanais. É socialista, se tiver ambições políticas precisará do partido e nunca mostrou ser vingativo, nem mesmo quando foi alvo da maior filha da putice de Cavaco. Estou a vê-lo, sim, a defender os seus Governos, ou seja, a defender o PS. Se correr mal, sai ele prejudicado, se correr bem, até o Seguro pode ganhar com isso. E é óbvio que o vamos ver a criticar ferozmente o actual Governo e a fazê-lo muito melhor do que o Seguro. Mas isso não é nada difícil e nada que muitos socialistas não façam já muito melhor do que o seu líder.

Por fim, acho piada que o António Costa diga que este regresso é “uma má ideia”. Logo ele que achou boa ideia encostar o Seguro à parede, publicamente, tratando-o como um miúdo e ameaçando-o com uma candidatura sua à liderança. Sócrates vai ter de se esforçar para conseguir suplantar esta humilhação a Seguro, e para deixar o partido mais dividido do que ficou com este episódio do seu amigo Costa.

O ministro das Finanças já não diz coisa com coisa

Só o desespero pode levar o ministro das Finanças a usar o memorando original para desculpar o falhanço completo das suas políticas. O PSD e o Governo descobriram, passados dois anos, que o documento, afinal, estava mal desenhado. Pois estava, a austeridade não era suficiente, por isso se apressaram a redesenhá-lo várias vezes sem sequer consultarem o PS, os parceiros sociais, ou quem quer que fosse, e lá foram entusiasmadíssimos além da troika. É no mínimo patético o ministro vir agora culpar quem negociou o memorando original, pois é disso que se trata. E é ainda mais patético se pensarmos que o ministro fez estas afirmações depois de ter passado horas a louvar os excelentes resultados que o País obteve e que, segundo ele, se confirmaram com a última avaliação positiva da troika. Que é o mesmo que dizer que o memorando está espectacularmente bem desenhado. Em que é que ficamos?

Mas se havia medidas que impediam o sucesso do ajustamento, e que pelos vistos não podiam ser redesenhadas, por que raio esperou dois anos para o denunciar, ainda por cima, com o Governo sempre a repetir que o País está no caminho certo? E, já agora, se o memorando estava tão mal desenhado, como é que o ministro explica que os génios da troika o tenham aprovado? Não me digam que a troika aprova tudo o que os governos propõem e até os avalia positivamente independentemente dos resultados catastróficos que apresentem.

E se Portugal chumbasse na avaliação?

O Governo não acerta uma, falhou todos os objectivos a que se propôs. As previsões para a recessão e o desemprego são revistas em baixa a um ritmo alucinante. Acreditarmos que os valores previstos hoje pelo ministro das Finanças são reais é o mesmo que acreditarmos na existência de unicórnios. Contudo, o mesmo ministro tem a lata de dizer que o “desempenho do País tem sido exemplar”, agarrando-se à avaliação positiva da troika. Assim, não importa o facto de a economia estar de rastos, de o desempenho do Governo ser desastroso e de as previsões serem as piores possíveis. O que importa é ter avaliações positivas. Mas, no meio de tanta pergunta, ninguém perguntou ao genial ministro que margem tem a troika para chumbar o Governo e não desbloquear a próxima tranche do empréstimo? O que aconteceria aos juros, não só de Portugal, mas dos outros países resgatados? O anúncio de tal decisão cairia como uma bomba nos mercados e as consequências para a economia europeia seriam imprevisíveis. Portanto, dê as piruetas que quiser, mas não diga que é exemplar o desastre pelo qual é responsável.

Debater o vazio

Ontem houve um debate no Parlamento com a presença do primeiro-ministro, mas é como se não tivesse existido. Não sobrou uma ideia, uma simples frase, do primeiro-ministro ou dos líderes da oposição, que hoje valha a pena destacar nos jornais, nos blogues ou onde quer que seja. Nem parece que o País está a atravessar a pior recessão das últimas décadas, é como se não se passasse nada. Que contributo deram, afinal, Governo e oposição, para o debate no Conselho Europeu?

Como é que podemos criticar os restantes líderes europeus pela falta de rumo da Europa e de ideias para ultrapassar a crise se dos nossos líderes políticos não se espera nada a não ser o vazio total?

Instalem uma chaminé no Ministério das Finanças

Pelos vistos, não há fim à vista para a sétima avaliação da troika. O impasse que seria resolvido durante o fim-de-semana está, afinal, para durar. E o secretismo é tanto que sabemos mais acerca do que se vai passando no Conclave do que nestas reuniões entre troika e Governo. Mas resta saber quem é que está a emperrar as negociações. Há uns dias, a comunicação social garantia que o atraso se devia à inflexibilidade da troika na questão do corte de 4 mil milhões. Que a troika exigia que os cortes avançassem em 2014, enquanto o Governo defendia que se prolongassem até 2015. É muito estranho que não haja uma fugazita para os jornais a dar conta do esforço do Governo para nos aliviar os sacrifícios. Se calhar, é porque a história do impasse está muito mal contada. Sabemos que o ministro das Finanças nunca se mostrou disponível para adiar os cortes, pelo contrário, como se viu, na semana passada à saída da reunião do Ecofin, quando o questionaram sobre o assunto. Portanto, a existir conflito teria de ser entre Gaspar e Portas, que segundo algumas notícias estaria empenhado em prolongar os cortes até 2015. Mas, mais uma vez, parece-me que a história está mal contada. É que, em princípio, 2015 é ano de eleições Legislativas e duvido muito que Portas, o político experiente, se tenha esquecido disso e esteja a lutar para que durante esse ano o Governo tenha de fazer cortes brutais, incluindo despedir milhares de funcionários públicos.

Teremos de esperar pelo fumo, que para nós será sempre negro, para vermos de que lado tem estado a inflexibilidade.

Um Governo sempre a puxar pelas energias negativas

Sócrates dizia que puxava sozinho pelas energias positivas do País, e era bem verdade. Já nessa altura, a direita mostrava-se muito incomodada com o facto de os portugueses começarem a acreditar que, apesar de terem pela frente um longo caminho até se aproximarem dos níveis de desenvolvimento dos países do Norte, não estavam condenados a ficar na cauda da Europa para sempre. A acreditar que com as políticas correctas se podia arrepiar caminho. E arrepiou-se caminho em áreas bem improváveis, como as tecnológicas, por exemplo, tendo em conta o atraso crónico do País. Fazia sentido até porque, em princípio, a ideia de termos passado a integrar a UE era essa, a de modernizar, desenvolver e enriquecer o País. Mas isto não interessava, nem interessa, à direita, por isso, valeu tudo para correr com quem andava a meter estas ideias na cabeça dos portugueses. Agora, no poder, esforçam-se todos os dias para nos devolverem a descrença no futuro, o desânimo e a velha distância que nos separa dos melhores.

Puxam pelas energias negativas e, ao contrário de Sócrates, não estão sozinhos. É isto que faz um primeiro-ministro que se atreve, não só a pensar, o que já seria grave, a dizer que bom, bom seria poder baixar a esmola a que chamam salário mínimo. E é também isso que fazem os que dizem e repetem que a austeridade veio para ficar, e que esta geração está condenada, ou à miséria, ou à emigração.

Com esta estratégia mórbida, os trastes que nos governam e os seus apoiantes, querem fazer-nos acreditar que o problema não está neles e nas suas opções, e que venha quem vier é este o nosso destino. Mas, lá está, se os jovens emigram é porque, apesar da crise e da austeridade que também lhes bateu à porta, há países onde não se desistiu do futuro. Já percebemos que não é o exemplo desses que devemos seguir, mas o Planeta é tão grande que deve haver um país onde vão buscar inspiração. Digam lá, qual?

O protagonismo mediático está verde, não presta

Cavaco é de longe o político que mais protagonismo mediático tem tido nas últimas décadas, mas ontem informou-nos que sabe que o tal protagonismo “é inversamente proporcional à capacidade de um Presidente influenciar as decisões tomadas para o País”. Mas quando é terá chegado a tão brilhante conclusão? Claro que só pode ser pura coincidência vir com uma tirada destas numa altura em que a sua popularidade é a mais baixa de sempre e a mais baixa de todos os Presidentes da República, baixando sempre mais um pouco de cada vez que abre a boca. E num tempo em que se tornou evidente que as suas previsões económicas valem tanto como as de Gaspar. Lembrar que este mago previu para o final do ano passado o regresso do crescimento económico. Já para não dizer que arrisca ser vaiado sempre que puser um pé fora do retiro de Belém.

Uma coisa é certa, o descaramento é o mesmo de sempre. A tarefa em que Cavaco mais se empenhou desde que é Presidente foi a guerra que lançou ao Governo de Sócrates. Aproveitou até à última gota todo o protagonismo mediático e não perdeu uma oportunidade para vir publicamente lançar veneno. Aposto que nessa altura não se importava de trabalhar dia e noite, desde que isso contribuísse para a queda do Governo. Mas segundo o que disse ontem, afinal, os discursos mais escabrosos que já ouvimos da boca de um Presidente da República não pretendiam influenciar em nada o que acabou por acontecer. E quando falava dos limites para os sacrifícios exigidos aos portugueses, ou fazia previsões de explosões sociais e apelos aos jovens para que se manifestassem também não pretendia influenciar o que quer que fosse, como sempre, foi tudo mal interpretado.

Seja como for, foi pena, muita pena, mesmo, não ter recusado o protagonismo mediático há mais tempo, mais concretamente nos anos oitenta do século passado. Isso, sim, teria tido uma influência muito positiva nos destinos do País.

Os governos de direita não contam

Quanto tempo terá este Governo de estar no poder para que possa ser responsabilizado pelo que quer que seja? Já percebemos que dois anos não são suficientes. Não importa o que digam, façam ou deixem de fazer. Não importa o facto de serem criticados todos os dias por praticamente toda a gente. Apesar de tudo isso, há sempre um ministro, um deputado ou outro idiota qualquer a lembrar que a culpa da situação em que o País se encontra é, foi e continuará a ser dos seis anos de governação socialista. Resta saber até quando. É que sabemos que três anos de governação de direita também não têm impacto nenhum no País. Veja-se os Governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, foi o desastre que se viu, mas para a direita é como se esses três anos não tivessem existido. Dez anos, o tempo que duraram os Governos de Cavaco, parece tempo suficiente para que a direita possa ser responsabilizada, mas não é. Por isso é que têm sempre o cuidado de excluir esse período quando se põem a fazer contas ao número de anos que o PS esteve no poder. Assim por alto, de quantos anos precisam? Podemos esperar sentados, se a condição para assumirem a responsabilidade pelos seus actos for a obtenção de resultados positivos com as suas políticas, com toda a certeza, nem daqui a cinquenta anos o Sócrates se livrará de todas as culpas.

Afinal, Passos não é incompetente, é teimoso

Para Marcelo Rebelo de Sousa o Governo tem de mudar de rumo e parece que só não o faz porque Passos é teimoso. Portanto, ao contrário do que muitos pensam, Passos não é incompetente, impreparado e incapaz de uma ideia que não passe por seguir cegamente o que a troika manda, é só teimoso, muito teimoso. O Governo está cheio de ideias para nos tirar deste imbróglio e sabe muito bem qual o rumo a seguir, só tem de resolver o problema da teimosia do primeiro-ministro. Nada que não se possa resolver.

E é assim que estes comentadores de direita dão uma no cravo e outra na ferradura. Parece que está a fazer-lhe uma crítica quando na realidade está a protegê-lo daquilo que mais o acusam: de ser totalmente incompetente para ocupar o lugar de primeiro-ministro.
Do mal, o menos, é teimoso.

O Passos não é humorista, mas tudo o que diz soa a anedota

Passos aproveitou o resultado das eleições italianas para discorrer acerca da estabilidade política. Diz ele que “é um elemento muito importante nos tempos que estamos a viver”.

Pronto, está explicado, só é importante nos tempos que estamos a viver. Há cerca de dois anos, o País não precisava de estabilidade política para nada, até porque, como toda a gente sabe, a crise europeia só começou a 6 de Junho de 2011. Antes disso, o País vivia desafogado, qual bancarrota, qual quê. Só isso explica que alguém que valoriza assim a estabilidade política tenha derrubado o Governo anterior a meio do seu mandato só porque estava cheio de pressa para chegar ao pote. Algo perfeitamente natural, ninguém pode falar de instabilidade de espécie nenhuma. Após a eleição, este defensor da estabilidade política fez mais, não descansou enquanto não mandou às urtigas toda a oposição, o PR, os parceiros sociais e a esmagadora maioria dos portugueses. Deve ter sido por não fazerem falta à estabilidade política do País. Afinal, é muita gente para manter estabilizada, já basta ter de estabilizar os membros do Governo. E, lá está, porque o País não está assim tão mal. Não somos a Grécia e muito menos a instável Itália.

Ainda se pode chamar Governo a isto?

Na passada semana, Vítor Gaspar admitiu que teria de pedir mais um ano à troika.

Já hoje, em Madrid, Paulo Portas apoiou o pedido de Gaspar, afirmando que um bom prémio para recompensar o esforço português seria os parceiros europeus apoiarem o pedido de extensão de maturidades.

E, agora mesmo, acabo de ouvir, na SICN, Passos Coelho a garantir que não vai pedir mais tempo nem mais dinheiro, que o Governo pretende cumprir os prazos e que o programa é para concluir até Junho de 2014.

Que parte do Governo é que quer cumprir os prazos? E qual deles vai aparecer primeiro a dizer que não foi isto que disse?

Uma perguntinha aos senhores da troika

Se as empresas portuguesas fizessem como fazem algumas (pelos vistos, muitas) empresas dos evoluidíssimos, competentíssimos e honestíssimos países do Norte que vendem gato por lebre, aumentando assim brutalmente os seus lucros e a riqueza dos respectivos países, se calhar os senhores não teriam aterrado hoje em Portugal com a missão de nos virem dar lições de economia e de moral, pois não?