Revolution through evolution

Want to restore faith in Congress? Elect more women
.
Psychologists define the ‘dark core of personality’
.
People Can Die From Giving Up the Fight
.
We are predisposed to forgive, new research suggests
.
Take a step back from yourself to better realize the benefits of awe
.
Who believes in conspiracies? New research offers a theory
.
Ethics of lying: When loyalty trumps honesty
.
Continuar a lerRevolution through evolution

Toma lá e embrulha

Cavaco – Sou levado a pensar que esta decisão política de não recondução de Joana Marques Vidal é talvez a mais estranha tomada no mandato do governo que geralmente é reconhecido como geringonça.

Marcelo – O presidente Cavaco Silva, no fundo, disse que era a mais estranha decisão do meu mandato. Todos sabemos que quem nomeia as procuradoras-gerais da República são os presidentes, não são os governos. Portanto, a nomeação da procuradora-geral da República foi minha e de mais ninguém. Perante isso, tenho sempre o mesmo comportamento: entendo que, desde que exerço estas funções, não devo comentar nem ex-presidentes, nem amanhã, quando o deixar de o ser, futuros presidentes, por uma questão de cortesia e de sentido de Estado, e não me vou afastar dessa orientação.

Registe-se e arquive-se.

Ivo Rosa, promessa de isenção

Felizmente, Carlos Alexandre, uma vergonha ambulante para a Justiça portuguesa, não vai continuar a perverter a função que lhe foi atribuída pelo Estado no processo onde já se declarou incapaz de julgar sem preconceito e deturpação moral. Com Ivo Rosa, há a esperança de se introduzir decência e racionalidade na “Operação Marquês”. A sorte protegeu a Justiça neste processo que é uma questão de regime.

Exactissimamente

«São demasiado optimistas as manifestações públicas de regozijo por Portugal permanecer até agora impermeável ao populismo. Há um ambiente populista na nossa sociedade, alimentado e amplificado pelos actuais dispositivos desenvolvidos pelos media televisivos, radiofónicos e, cada vez mais, também pela imprensa escrita (um populismo onde os políticos se sentem investidos na condição de jornalistas e os jornalistas assumem a condição de políticos). Há um clima deletério que os media atiçam sempre que há uma ocasião favorável, recorrendo à teatralização e à dramatização que solicitam os afectos e criam clivagens irracionais, pessoalizações passionais, dilatações demagógicas. O último pico de calor neste ambiente de populismo difuso foi a substituição da Procuradora Geral de República, Joana Marques Vidal. Como pudemos verificar, o resultado do processo, como é próprio do populismo, acaba por ser a despolitização — a despolitização generalizada da matéria política. Quem tomar atenção aos pequenos e grande sinais, com olhar de analista, descobre facilmente que a escrita jornalística, mesmo nos jornais que gostam de se reclamar como “de referência” (algo hoje tão inexistente como o unicórnio), se inclina cada vez mais — num gesto que se vai naturalizando e tornando-se mimético — perante este ambiente, induzindo uma audiência e afastando progressivamente o público mais exigente. Experimentemos olhar para três títulos de artigos recentes: “Oh Joana, pensar que estivemos tão perto” (Pedro Candeias, Expresso), “Aprende, Joana: em Portugal quem manda é o PS” (João Miguel Tavares, PÚBLICO), “Joana e Lucília” (editorial do PÚBLICO, por Ana Sá Lopes,). Quem é esta Joana, nomeada com a mesma familiaridade (pelo menos nos dois primeiros artigos, o de Ana Sá Lopes é, quanto a este aspecto, de mais baixa intensidade) com que se nomeia a colega de turma? É a PGR. De repente, passa-se da função-PGR para a pessoa que a exerce, na sua identidade civil. Ou seja, passa-se da entidade pública para a pessoa privada. O jornalista expõe a pessoa enquanto tal, na sua nudez, como se tivesse a prerrogativa da objectivação e do tu cá, tu lá, criando uma proximidade artificial e arrogante que, na sua lógica extrema, vai dar ao “oh palhaço!” da invectiva popular. Se verificarmos com atenção, este tipo de títulos está hoje disseminado na nossa imprensa, mesmo quando depois nem correspondem ao tom mais sóbrio dos artigos. Mas não são apenas os títulos “sexy” que caracterizam este regime populista da escrita jornalística. Para fazer subir a temperatura populista, esta escrita jornalística recorre ao artifício da teatralidade, da tirada lúdica ou humorística: o jornalista ocupa o lugar da “vox doxa”, faz falar uma improvável “sociedade civil”. Tudo isto é servido por uma linguagem simples, por um vocabulário e uma sintaxe que são a forma necessária e consubstancial dos conteúdos simples, das ideias elementares. O editorialismo difuso e primário deste “building journalism”, que é um jornalismo sentado (aquele a que pertence hoje toda oligarquia instalada nos jornais), contaminou a escrita jornalística. E é fácil perceber que esta escrita se empenha, consciente ou inconscientemente, em imitar o modelo retórico e teatral das redes. Não se trata, aqui, de demonizar as redes. Mas a escrita jornalística (compreendo, com esta designação, também as secções de opinião) deveria ser outra coisa diferente. Não deveria, sobretudo, contribuir para as ondas de gritaria, tagarelice e teatralização enfática que emergem constantemente no espaço público. Essa escrita está destinada a falar apenas para o público que ela cria. É suicidária.»


O populismo jornalístico

Mistérios de Tancos

O caso de Tancos, pelo que se vai sabendo, tem bastantes ingredientes do clássico conflito entre polícias civis e militares. A tropa não gosta da justiça civil e considera-a intrometida em matérias reguladas pelo Código de Justiça Militar; a polícia civil e os órgãos que a tutelam desconfiam da corporação militar, imaginando que ela cerra fileiras para proteger os seus ou para ficar impune. Em consequência, civis e militares não passam informações uns aos outros e até se pregam partidas.

No caso vertente, o DCIAP tinha sido informado pela PJ, “vários meses antes” do roubo de Tancos, de que “estava a ser preparado um assalto a instalações militares no distrito de Leiria”, mas não só o DCIAP e a PJ não comunicaram esse facto às Forças Armadas e à PJM como parece que até o tentaram ocultar destas, segundo afirmou um antigo subdirector da PJM, o coronel Vítor Gil Prata, no site Operacional em 12 de Novembro de 2017, hoje citado no Público online, mas não no jornal de papel. Trata-se de uma acusação gravíssima, embora pouca atenção tenha despertado entre os fãs políticos do Ministério Público e da santa Joana Vidal.

A PJM, por seu turno, depois da casa roubada, decidiu fazer as coisas à sua maneira, sem passar cartão à PJ. As armas roubadas acabaram por aparecer graças à PJM, mas não o ladrão, que obviamente não actuou sozinho. A PJ e o DCIAP deitaram agora a mão ao ladrão e parecem ter concluído que houve conluio dos militares com o ladrão para este entregar as armas e escapar à justiça. Vai daí, a PJ e o DCIAP prenderam o director da PJM e outros militares, lançando sobre a instituição uma nuvem de suspeitas graves, ainda não bem especificadas. Falta apurar exactamente o que é que a PJM fez para recuperar o armamento, se agiu de modo legal ou ilegal e porque é que o ladrão só agora foi preso, quando há muito que era conhecido da PJM… se não também da PJ e do DCIAP.

Entretanto, o MP/DCIAP deveria ter respondido, mas não respondeu à gravíssima acusação feita por Vítor Gil Prata em Novembro de 2017. Ora, se detiveram o director da PJM, não seria também caso para mandar prender algum alto responsável do Ministério Público, sob suspeita de ter deliberadamente ocultado dos militares informações sobre o assalto iminente a uma unidade militar? Não seria mesmo caso para a procuradora-geral da República ser ouvida? Não haverá, aliás, no caso de Tancos também o habitual dedinho conspirativo do MP? Nada me admiraria!

Como é que os referidos conflitos entre civis e militares se resolvem ou previnem? Aqui têm certamente de entrar o governo e o parlamento, legislando para impor colaboração entre a justiça militar e a justiça civil. Uma solução, a fusão da PJM na PJ, foi avançada há anos por um ministro da Justiça, António Costa. Não sei se a solução era boa, mas a sua proposta foi, como é hábito, ignorada e nada mais se fez.

Para além do clássico conflito entre polícias civis e militares, no caso de Tancos meteu-se também a política, por obra da oposição de direita e da sua obsessão patológica de politizar a justiça e judicializar a política, apontando em tudo o que vai acontecendo a culpa criminosa do governo. Nunca souberam bem explicar porquê, mas logo após a notícia do roubo de Tancos os habituais vocalistas da direita começaram a exigir a cabeça do ministro da Defesa (Rui Rio é quase única excepção nesse coro). Também querem a demissão do chefe de Estado Maior do Exército, o que significa que a direita quer tomar partido no referido conflito corporativo, a saber, pelos polícias civis contra os militares – o que é mais uma imbecilidade épica desta direita desnorteada.

10 euros para quem conseguir explicar esta explicação

«Esse artigo não foi escrito tendo por base apenas uma fonte — foi escrito com recurso a várias, judiciais e políticas, todas elas bem colocadas. E essas fontes falaram ao Observador de boa fé. Simplesmente, julgavam ser portadoras de informações que não conheciam na totalidade. E aí está a origem do erro que cometemos — e que vamos trabalhar para que não se repita no futuro.»


Nova PGR: o Observador errou

Santa Joana faz o pleno entre a sua gente

PNR também agradece a Joana Marques Vidal o trabalho de equipa:

.
«O PNR gostaria de ter visto a actual Procuradora Geral da República, Dra. Joana Marques Vidal, reconduzida no cargo, já que foi uma pedra no charco em que se encontrava a nossa Justiça. Como se costuma dizer, “em equipa vencedora não se mexe” e, como tal, não aceitamos a falácia do argumento pouco transparente de um só mandato. Quem dá provas de um bom trabalho deve ser reconduzido, porque nestes casos o que tem sido “costume” não pode prevalecer sobre a eficácia.

Sabemos que Joana Marques Vidal mexeu com muitos lóbis, teve a coragem de enfrentar os poderosos habituados à impunidade e que essas forças de pressão tudo fizeram para a afastar. Também sabemos que este caso serviu para que os políticos do sistema se digladiassem entre si, não porque estivessem preocupados com a nobre função da nossa Justiça, mas apenas para representarem a habitual guerrinha do faz-de-conta de pluralidade e contraditório.

O PNR agradece à Dra. Joana Marques Vidal pelo bom trabalho desempenhado e por ter conseguido, corajosamente, que a Justiça começasse a funcionar, libertando-a das teias dos interesses e influências de poder político.»

Sócrates e o PS

José Sócrates declarou que o PS “foi cúmplice de todos os abusos” que sofreu por parte da justiça. Não deu mais esclarecimentos sobre a cumplicidade dos socialistas. Ora ser cúmplice significa, no caso em apreço, participar moral ou materialmente em delitos ou abusos criminosos. A acusação é grave, mas, pelo seu carácter genérico e aparentemente emocional, não parece ter outra consequência, senão a de involuntariamente contribuir para ilibar o PS de António Costa de qualquer possível acusação de intromissão na justiça a favor de Sócrates – acusação que estava obviamente implícita na histérica encenação produzida pela direita em torno da sucessão de Joana Vidal.

Algumas perguntas me ocorrem, porém.

– Será que Sócrates exige que o PS, António Costa ou o governo interfiram no processo judicial, advogando a sua causa, censurando a actuação do MP e dando assim a imagem de um partido, um primeiro-ministro e um governo que não se conformam com a independência do poder judicial?

– Será que o político experimentado José Sócrates ignora que é essa a ratoeira que o bando que congeminou a Operação Marquês estende agora a António Costa, ao PS e ao actual governo?

– Será que Sócrates ignora que o dito bando espera impacientemente que lhe seja oferecido o mínimo pretexto para tentar envolver António Costa e os dirigentes e governantes socialistas na Operação Marquês, salpicá-los de suspeitas de conivência e corrupção, fazer deles coacusados, colocá-los sob vigilância pidesca, etc.?

Não parto do pressuposto de que Sócrates se deva deixar imolar em benefício da causa socialista ou do governo. Desejo que ele prove em tribunal a sua inocência, denunciando todas as tramóias que a Operação Marquês, a nova PIDE e a comunicação social de direita lhe armaram. Nesse combate pessoal, mas em que não está inteiramente só, José Sócrates deveria estar ciente de que a pior ajuda que poderia ter neste momento seria precisamente qualquer tipo de “apoio” do governo de António Costa ou do PS.

Como a Cofina conseguiu mais um triunfo

«Em equipa que ganha não se costuma mexer, e portanto eu acho que não se deve mexer numa equipa que claramente está a ganhar, que é a equipa do Ministério Público e da procuradora-geral da República»


Paulo Rangel

«Do lado do CDS continuaremos a reforçar a recondução de Joana Marques Vidal. Se temos aqui um valor seguro, não nos faz sentido estar a trocar por outra pessoa. Em equipa que ganha não se mexe.»


Assunção Cristas

__

A exploração à outrance do final do mandato de Joana Marques Vidal começou no Verão de 2017 na Cofina. Os editoriais do CM e da Sábado, repetidos e espectacularizados na CMTV, começaram a juntar lenha para um incêndio por fogo posto marcado para a entrevista à Ministra da Justiça em Janeiro deste ano. Nesses editoriais, de forma maníaca e hiperbólica, o PS é tratado como uma organização criminosa. Donde, a leitura de qualquer acto ou omissão de dirigentes e governantes socialistas oferece diariamente à Cofina sistemáticas oportunidades para se divertir e para degradar o regime envenenando o espaço público ao carimbar todos os socialistas como ladrões do povo. Acontece que a Cofina é um dos mais importantes braços armados da oligarquia portuguesa, tendo uma relação simbiótica com outros órgãos de comunicação social cuja agenda política é exactamente a mesma. A sua importância sociológica, e também antropológica, merecia estudos profundos. No Expresso, no Observador e no Público não é raro lerem-se rasgadíssimos elogios ao esgoto a céu aberto, pintado como baluarte da liberdade graças à sua perseguição a Sócrates.

A Cofina sabia o que o PSD e o CDS também sabiam, e que acaba de se confirmar. Sabiam que o mandato da PGR não seria renovado pois tal ia contra a interpretação da lei – e contra a prática institucional recente – que convinha à autoridade do sistema de Justiça. Sabiam que tanto Costa como Marcelo, a que se juntava a própria Vidal e o sindicato do MP, estavam unidos nessa intenção de prepararem uma transição sem qualquer alarido para descontaminar politicamente a normalidade de um mandato único. Essa certeza abria uma imperdível oportunidade: fazer da saída da PGR que tinha prendido Sócrates uma tempestade que pudesse ser alimentada durante anos e anos. Os materiais para tal já estavam disponíveis na opinião pública graças ao culto de personalidade que a Cofina desenvolveu com Joana Marques Vidal, Rosário Teixeira e Carlos Alexandre, promovidos a super-heróis de um Ministério Público implacável contra os socialistas corruptos (os restantes casos judiciais a envolverem laranjas e laranjitas, mais o Benfica, servindo paralelamente para blindar o seu estatuto de caça-xuxas). Culto esse nunca repudiado pelos magistrados vedetizados, muito pelo contrário. Carlos Alexandre, embriagado pela fama e pela sua real impunidade, chegou a ir para a TV achincalhar um cidadão cujos direitos o Estado obrigava não só a respeitar como a defender. A santa Joana tendo aparecido a reclamar os louros por uma herança histórica que ia deixar aos vindouros. O clima, portanto, era o ideal para mais uma campanha terrorista de politização da Justiça e de judicialização da política.

O plano implicou a mais escabrosa hipocrisia. Se esta direita violentadora que apoiou Santana contra Rio, e que Cristas também representa, quisesse mesmo tentar obter a recondução da JMV, então teria feito trabalho de bastidores pela calada, procurando uma aclamação popular sem contágio partidário. Como sabiam que tal era impossível, havia que partidarizar ao máximo a questão para se chegar ao momento da saída da santa Joana e recolher os ganhos. A lógica era similar à do Brexit e de Trump, onde o objectivo nunca foi o de ganhar por tal se considerar altamente improvável. Queria-se era perder pela margem mínima para a partir dai garantir uma fonte inesgotável de retórica bélica. O texto calunioso de Passos Coelho, saído minutos depois da notícia da substituição da PGR ter começado a correr, é paradigmático da estratégia em causa. Ele não vai precisar de mudar uma linha ao libelo nos próximos 20 anos, assim tenha saúde, porque tudo se resume à repetição da fórmula Cofina: um socialista bom é um socialista preso. É isto a decadência em política, um deserto de ideias construtivas e aliciantes para o eleitorado, a redução da prática política ao ódio e à pulhice.

Essa hipocrisia talvez tenha conseguido ser ainda mais intensa nos jornalistas e comentadores que fizeram campanha para a entronização da santa Joana. É que um cenário em que o próximo procurador-geral da República fosse alguém plebiscitado pela direita partidária e pelo tabloidismo de direita geraria uma situação única em todo o Mundo e arredores. Qualquer acto do MP não só podia como devia passar a ser entendido como o cumprimento de um mandato político oriundo dos partidos, políticos e órgãos de imprensa que declararam o seu apoio à senhora. Houve guerras civis que começaram por muito menos. E a irracionalidade desse cenário, onde o primeiro-ministro e o Presidente da República aceitavam ficar reféns das chantagens de uma súcia político-mediática fanática e delirantemente facciosa, expõe a chave interpretativa do que aconteceu: um jogo de espelhos, onde esta direita apostou tudo na saída da JMV para poder usar a sua regular e bondosa substituição como matéria caluniosa daqui em diante. Em que estado fica a honestidade intelectual desses jornalistas depois das figuras sectárias e idiotas a que se prestaram? Enfim, talvez a sua honestidade intelectual acabe por se manter intacta dado já não existir à partida nesta cruzada.

Para esta direita intelectualmente paupérrima e moralmente dissoluta, Joana Marques Vidal era o rosto do seu maior triunfo: o abate de Sócrates, a sua prisão e o linchamento público imparável e sem qualquer piedade da sua pessoa e de quem mais fosse possível apanhar. Daí sentirem-se a ganhar, sabem que tinham uma equipa dos seus ao seu serviço no Ministério Público. E é assim que pretendem continuar, agora fazendo da santa Joana um sebastianismo abjecto onde se irão afogar em rancor e paranóia.

Noto aqui um excesso de elogios e agradecimentos

 

O que terá levado Passos Coelho a agradecer tanto a Joana Marques Vidal e a lustrar-lhe o ego ao ponto de lhe chamar”humilde” e “lufada de ar fresco”, além de “íntegra”, “independente” e “suprapartidária”, num elogioso artigo publicado no Observador , depois de conhecida a sua substituta, onde só faltou chamar-lhe “querida”, “fofinha”, “adorada”, “muitos beijinhos”, “tudo de bom”, “obrigado”, tudo isto num fundo de “eles são maus, meu amor”?

 

Hmm…

 

Esta saída da toca não se fez, claro está, sem anedota. O bicho apresentou-se com a conhecida lata e fez questão de falar nos privilegiados que deixaram de o ser sob as ordens de Joana e apenas sob as ordens dela, deixando a ideia de que, até aí, era o fartar vilanagem, não especificando, porém sob a responsabilidade de quem, quando, como, etc. Não interessa. É o que dizem e o que ele diz. Interessa, sim, é que privilegiados, não mais. Graças à Joana.

 

Mas isto é anedota. Ele, por exemplo. Poderia ter visto o caso Tecnoforma e a utilização fraudulenta de milhões de fundos comunitários, confirmada pela Comissão Europeia, reaberto e não viu. Tudo arquivado. Nós que paguemos. Querem maior prova de fim dos privilégios e da “impunidade”? A senhora procuradora foi ou não foi implacável? Onde estão aqui os privilegiados?

 

“Poucos, até há alguns anos, acreditavam que realmente fosse possível garantir de facto, que não na letra da lei e nos discursos, uma ação penal que não distinguisse entre alguns privilegiados e os restantes portugueses. No termo deste seu mandato, são sem dúvida mais os que acreditam que se pode fazer a diferença e marcar um reduto de integridade e independência, onde as influências partidárias ou as movimentações discretas de pessoas privilegiadas na sociedade esbarram e não logram sucesso. “

Maravilhas do regresso da impunidade

+

Joana Marques Vidal já disse a Marcelo que aceita ficar. Os bastidores do processo

__

No fim-de-semana passado, duas fortalezas da direita mediática nacional, Expresso e Observador, garantiram ao País que Joana Marques Vidal iria ser reconduzida como PGR graças à intervenção do Presidente da República e à anuência do primeiro-ministro. Em ambos os casos, não se limitaram a lançar um boato nebuloso, antes detalharam os acontecimentos que teriam levado a esse desfecho, atribuindo a fontes ligadas a Marcelo a origem das informações. O silêncio de Belém que se seguiu levou a que (quase) ninguém duvidasse da veracidade do que aparecia publicado. Nesta terça-feira, saiu uma nota da Presidência onde se pode ler um curtíssimo texto de arrebimbomalho:

«o Presidente da República nunca manifestou, nem pública nem privadamente, qualquer posição sobre a matéria respeitante à nomeação do Procurador-Geral da República. Pelo contrário, sempre afirmou que essa matéria seria apenas objeto de apreciação uma vez apresentada a proposta pelo Primeiro-ministro

Estamos num caso de terceiro excluído. Ou os ex-líbris da direita mediática mentiram com quantos caracteres usaram, ou o actual Presidente da República é não só mentiroso como estouvado. Estouvado porque, se a versão publicada for verdadeira, então Marcelo estará também a envolver na sua mentira Joana Marques Vidal e um número indeterminado de pessoas que terá tido conhecimento do teor das duas reuniões onde, afinal, havia mergulhado de cabeça na manifestação da sua “posição sobre a matéria respeitante à nomeação do Procurador-Geral da República”.

Este episódio é análogo, em mais do que um aspecto e sentido, à “Inventona de Belém”. Então como agora, um Presidente da República de direita vê-se usado por órgãos de imprensa afectos às suas preferências partidárias, económicas e ideológicas como munição de altíssimo calibre contra um Governo socialista. Então como agora, a intriga gerada envolve dimensões do Estado melindrosas e opacas, onde o nevoeiro de guerra pode ser cerrado. Então como agora, estamos em contexto eleitoral para umas eleições legislativas. Finalmente, então como agora, o fedor da decadência de uma certa direita golpista, infelizmente poderosa e dominante facticamente, é agoniante.

Como é que Observador e Expresso reagiram ao desmentido presidencial? Com censura. Na madraça, notícia de rodapé. Nenhum dos fogosos combatentes do antisocratismo botando faladura. No semipasquim do militante nº 1 do PSD, idem. Pedro Santos Guerreiro, na rubrica da manhã onde cada editor à vez aproveita para fazer graçolas e mandar recados, ou aliviar a bílis, nem no espaço entre as letras se referiu ao curioso fenómeno de ter mandado publicar uma certa parangona que põe em causa ou a honra de Marcelo ou a sua deontologia. Mas talvez o Guerreiro não tenha falado nisso por ignorar o que o seu jornal fez no sábado passado, é uma hipótese. A outra é a de ele se estar a cagar porque o seu campeonato é o das capas sensacionalistas destinadas a serem desmentidas pelas autoridades, como se tem visto em relação a Tancos e quejandos que sirvam para atacar os malandros dos socialistas, não o do respeito pelo Estatuto e Carteira profissional dos jornalistas. Não me ocorre mais nenhuma explicação de momento.

Entretanto, vai ser maravilhoso ver esta corja de profissionais da baixa política a explorarem o afastamento da santa Joana.

As bobices do Tavares

No artigo que o Val cita abaixo, J. M. Tavares diz que anseia pelo liberalismo para Portugal. Define o liberalismo apenas negativamente, ou seja, como um regime “que não esteja dependente de um Vieira da Silva a redistribuir com a mão direita aquilo que Mário Centeno tira com a mão esquerda”.

Tanto quanto se pode presumir, Tavares defenderá, pois, um liberalismo oitocentista à Herbert Spencer, muito anterior ao advento do Estado social ou Welfare state que hoje impera consensualmente por toda a Europa. O também dito Estado de bem-estar social não é propriamente de esquerda, limitando-se a redistribuir uma parte maior ou menor do rendimento nacional através de políticas que a actual civilização europeia considera assegurarem um nível mínimo de coesão, solidariedade e justiça social. O liberalismo que Tavares presumivelmente defende foi condenado nos séculos passados não só pelos vários socialismos, comunismos e fascismos, mas igualmente pela social-democracia, pela democracia cristã, pela Igreja católica e até pelo Partido Liberal inglês, que introduziu em Inglaterra a segurança social inventada pela Alemanha do Bismarck, que também não era um perigoso esquerdista.

Julgo, porém, que Tavares não defende realmente o liberalismo selvagem do séc. XIX, universalmente condenado por todos os quadrantes políticos. Acho isso por uma razão simples: é que Tavares geralmente não defende porra nenhuma nem tem qualquer ideia doutrinária consistente sobre coisíssima nenhuma. Ele é tão somente um malabarista da palavra, apostado em construir frases, slogans e fórmulas atraentes, utilizáveis no combate político da direita contra o actual governo e contra a esquerda em geral.

Desde que Tavares conheceu Ricardo Araújo Pereira, a sua retórica caceteira tem vindo a deslizar para um plano cada vez mais circense, sem deixar de ser agressiva. Tanto no Governo Sombra como no Público, ele procura dizer em fórmulas pretensamente jocosas aquilo que uma parte da direita pensa ou deseja profundamente, mas nem sempre ousa exprimir.  É o que sempre fizeram os bobos. Independentemente da dose de mentiras e calúnias que Tavares inocule nas suas intervenções faladas ou escritas, ele é sobretudo um bobo. Não digo que um personagem que a comunicação social tanto tem promovido não deva ser levado a sério. Digo apenas que o nível dos seus comentários é o da bobice. Não tem pano para mais.

Os lumpencaluniadores

Que se passa com a Joana Amaral Dias? Com um percurso político a lembrar Zita Seabra (esta saltando do PCP para o PSD e aquela do BE para o que calhar) e com uma alteração radical no seu simbolismo público também analogamente simétrico (a comunista retinta e heróica é agora uma devota de Fátima e a psicóloga assertiva e defensora de uma esquerda avançada é agora uma estrelita do Instagram para poder vender erotismo apolitizado e convencionalmente machista à indústria cor-de-rosa, a que junta o papel de vedeta na indústria da calúnia) a nova fase da sua carreira como celebridade deixa-nos confusos e alarmados. Andam a pôr algo marado na água dos ícones femininos da esquerda.

Veja-se este número circense abaixo. Um completo taralhouco entrevista a senhora e, a propósito de Vara, faz um pedido para que se exerça violência física sobre um dado cidadão pela simples razão de ainda continuar a desfrutar do seu estatuto de inocente e respectiva liberdade. Como reage a ex-deputada? Como se não tivesse ouvido o apelo ao linchamento, até alimentando o intoxicação emocional do taralhouco ao validar a sua pulsão criminosa. Acontece que o taralhouco não percebe nada de nadinha de nada do que se passou e está a passar com Vara, a começar pelo que esteve na origem da sua condenação e a terminar no modo como em Portugal se faz cumprir a Constituição e o Código Penal. Não admira, portanto, que o taralhouco seja um apaixonado fã de Joana Marques Vidal, estando em campanha para a sua recondução no cargo. Ele imagina que só assim conseguirá assistir ao definhamento de Vara na choça durante décadas à pala das migalhas supostas num crime de “tráfico de influência” com um sucateiro que o Ministério Público alega ter sido cometido sem ter disso prova directa.

O que se exibe no vídeo abaixo apenas difere em grau de obscenidade e grunhice do que vemos diariamente na “comunicação social de prestígio” e no “jornalismo de referência”. Quanto ao efeito pretendido, este taralhouco apoiado pela Amaral Dias e os caluniadores profissionais apoiados pelas respectivas direcções de imprensa onde calhem ganhar o pão (sejam jornais, televisões ou rádios) procuram exactamente o mesmo: audiências cívica e intelectualmente miseráveis, onde o sensacionalismo, a demagogia e o populismo mediático antipolíticos, antibanqueiros e anti-elites lhes continuem a garantir mercado para as suas marcas. E por que é que isto nos faz mal como comunidade? Se não conseguirmos responder, eles agradecem.

https://www.facebook.com/queroemigrarhoje/videos/2156651477940379/?t=1
.
.

Exactissimamente

«De acordo com os relatos feitos pelo FMI e pela CE, o governo português pretende prosseguir uma estratégia orçamental baseada: na moderação (e não em cortes) de salários e contratações na função pública; numa maior eficiência do Estado (e não na redução dos serviços coletivos prestados); e na redução dos juros, por via da credibilidade dos objetivos orçamentais (e não da redução da despesa). Afirmam ainda as instituições internacionais que as autoridades nacionais pretendem promover a competitividade da economia através de fatores não custo (qualificações, inovação, orientação exportadora) e não da redução dos custos salariais ou fiscais. E que pretendem assegurar a sustentabilidade da Segurança Social através da diversificação de fontes de financiamento (e não da redução de direitos). Ao contrário de outros tempos, as instituições internacionais não contestam estas orientações centrais da atual política económica do país.

Podemos encontrar diferentes razões para a anuência do FMI e da CE face às opções nacionais, mas uma coisa é evidente: no momento atual, a oposição de direita não pode contar com estes aliados tradicionais. Até que a maré mude, a tradição já não é o que era.»


O FMI, a Comissão Europeia e a direita portuguesa