Maravilhas do regresso da impunidade

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Joana Marques Vidal já disse a Marcelo que aceita ficar. Os bastidores do processo

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No fim-de-semana passado, duas fortalezas da direita mediática nacional, Expresso e Observador, garantiram ao País que Joana Marques Vidal iria ser reconduzida como PGR graças à intervenção do Presidente da República e à anuência do primeiro-ministro. Em ambos os casos, não se limitaram a lançar um boato nebuloso, antes detalharam os acontecimentos que teriam levado a esse desfecho, atribuindo a fontes ligadas a Marcelo a origem das informações. O silêncio de Belém que se seguiu levou a que (quase) ninguém duvidasse da veracidade do que aparecia publicado. Nesta terça-feira, saiu uma nota da Presidência onde se pode ler um curtíssimo texto de arrebimbomalho:

«o Presidente da República nunca manifestou, nem pública nem privadamente, qualquer posição sobre a matéria respeitante à nomeação do Procurador-Geral da República. Pelo contrário, sempre afirmou que essa matéria seria apenas objeto de apreciação uma vez apresentada a proposta pelo Primeiro-ministro

Estamos num caso de terceiro excluído. Ou os ex-líbris da direita mediática mentiram com quantos caracteres usaram, ou o actual Presidente da República é não só mentiroso como estouvado. Estouvado porque, se a versão publicada for verdadeira, então Marcelo estará também a envolver na sua mentira Joana Marques Vidal e um número indeterminado de pessoas que terá tido conhecimento do teor das duas reuniões onde, afinal, havia mergulhado de cabeça na manifestação da sua “posição sobre a matéria respeitante à nomeação do Procurador-Geral da República”.

Este episódio é análogo, em mais do que um aspecto e sentido, à “Inventona de Belém”. Então como agora, um Presidente da República de direita vê-se usado por órgãos de imprensa afectos às suas preferências partidárias, económicas e ideológicas como munição de altíssimo calibre contra um Governo socialista. Então como agora, a intriga gerada envolve dimensões do Estado melindrosas e opacas, onde o nevoeiro de guerra pode ser cerrado. Então como agora, estamos em contexto eleitoral para umas eleições legislativas. Finalmente, então como agora, o fedor da decadência de uma certa direita golpista, infelizmente poderosa e dominante facticamente, é agoniante.

Como é que Observador e Expresso reagiram ao desmentido presidencial? Com censura. Na madraça, notícia de rodapé. Nenhum dos fogosos combatentes do antisocratismo botando faladura. No semipasquim do militante nº 1 do PSD, idem. Pedro Santos Guerreiro, na rubrica da manhã onde cada editor à vez aproveita para fazer graçolas e mandar recados, ou aliviar a bílis, nem no espaço entre as letras se referiu ao curioso fenómeno de ter mandado publicar uma certa parangona que põe em causa ou a honra de Marcelo ou a sua deontologia. Mas talvez o Guerreiro não tenha falado nisso por ignorar o que o seu jornal fez no sábado passado, é uma hipótese. A outra é a de ele se estar a cagar porque o seu campeonato é o das capas sensacionalistas destinadas a serem desmentidas pelas autoridades, como se tem visto em relação a Tancos e quejandos que sirvam para atacar os malandros dos socialistas, não o do respeito pelo Estatuto e Carteira profissional dos jornalistas. Não me ocorre mais nenhuma explicação de momento.

Entretanto, vai ser maravilhoso ver esta corja de profissionais da baixa política a explorarem o afastamento da santa Joana.

6 thoughts on “Maravilhas do regresso da impunidade”

  1. Para mim, uma excelente notícia.
    Pode ser que, a partir de agora, a Justiça regresse aos tribunais. E por lá fique.

  2. Por aí, nuns tantos gabinetes e salões, foram abertas garrafas de champanhe.
    Sinal de que MRS foi cooptado.
    LG é uma desconhecida, aguarda instruções. É irrelevante, não tem a fibra necessária, não vai enfrentar os poderosos, encarregar-se-à dos pequenos ladrões. É funcionária, com todo o respeito que estes me merecem, Tinha curiosidade em saber por que aceitou o cargo.
    Bem gostaria de estar enganado. O tempo dirá.

  3. Rita Tavares tem, indubitavelmente, o poder de metamorfosiar-se em formiga para ser a fantástica ‘observadora’ que mostra ser.
    Pois não é que a senhora sabe ao pormenor todos os detalhes das conversas havidas em reuniões à porta fechada entre Marcelo e a Vidal, entre Marcelo e Costa e entre todos os intervenientes no processo de escolha de recondução da Vidal!
    E mais, a senhora transforma-se, sempre que precisa, em formiga mas não só: ela transforma-se em formiga com asas. Só pode ser pois a poderosa ‘observadora’ precisa ser voadora para poder estar rapidamente em todos os lados onde havia conversas acerca da recondução ou não da Procuradora Vidal.
    Esta Tavares, mais um Tavares, e como mais um bem ‘industriado’ Tavares ouviu tudo no sentido certo da recondução e onde havia a mínima dúvida ela imediatamente desfaz tal dúvida com uma argumentação ‘infalível’ a favor.
    Calculem, ela, até aconselhava Costa a reconduzir a Vidal por que isso lhe seria favorável eleitoralmente.
    Será que se ao Mano Costa lhe caíram expressamente os dentes todos por mentir a esta lhe caíram as asas de formiguinha observadora por tanto voar para nada?

  4. O expresso também já tem a sua vichissoise (é assim que se escreve?).
    Também ao nível do relato duma célebre reunião do conselho da revolução relatada pormenorizadamente pelo jornal politico-meteorológico chamado ‘ Tempo’, que não tinha chegado a realizar-se.

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