Haverá temas mais importantes na actualidade. É possível. Mas também parece injusto não dar relevância aos frutos sumarentos da elite do laranjal. Duarte Marques pertence a essa elite. Representa-a com notoriedade e sucesso. Um dia será ministro. Por agora, recebe salário do Estado e escreve no Expresso. Que um político que tenha feito campanha e denúncias na Procuradoria-Geral da República para se levar a tribunal outros políticos por razões políticas seja convidado para ser parte do elenco comentarista do Expresso diz menos sobre esse fulano do que sobre o jornal que vê nele um valor a promover civicamente. Malhas que o império Balsemão tece.
Eis um naco do seu estilo escalabitano:
Decorrido que está o primeiro mês de liderança de António Costa como "chefe de fila" do Partido Socialista, o ex número 2 de José Sócrates revela já um belo currículo de gafes, erros cometidos e notórios recuos. Curiosamente, a melhor iniciativa que teve até agora foi a estratégia para descolar do "elefante no meio da sala" em véspera do conclave socialista. Revelando sangue frio, cálculo político e medindo bem todas as palavras, António Costa resistiu com dignidade a participar no "big brother" que tem sido o caso Sócrates. Pode dar uma bela aula de táctica, mas não de estratégia política.
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Daqui até às eleições, Duarte Marques sempre que se referir a António Costa colará algures no texto a estrela amarela do “ex número 2 de José Sócrates” não vá algum dos seus leitores, ou ele próprio, esquecer-se do crime. Igualmente será criativo nas metáforas, neste caso tendo optado por «”chefe de fila”», uma imagem que talvez remeta para o bucolismo da Volta a Portugal. E também deixará a sua chancela de especialista em táctica e estratégia. Este é o político que foi para o Facebook gritar “Aleluia” ao tomar conhecimento de que Sócrates tinha sido detido para interrogatório. Pensemos: que levará alguém com pretensões a ter uma carreira política a ir para o meio da rua festejar a detenção de um inocente e ainda se permitindo recorrer ao léxico religioso para enfatizar a sua alegria? Que se passará naquela cabeça? De que outros feitos será capaz às escondidas aquele que se expõe assim publicamente? Ou está doente ou estamos perante um retinto pulha, terceiras opções ficando excluídas. É esta inteligência que pretende dar lições de táctica e estratégia ao actual secretário-geral do PS.
E se bem o pensou, bestialmente o fez. Resolveu atacar Costa usando o bate-boca à volta do que o Memorando estipula, ou deixa por estipular, acerca da privatização da TAP. Isso leva-nos para uma sumária recordação do que esteve em causa.
Primeiro, Passos Coelho disse o seguinte no Parlamento:
"A privatização da TAP, que o doutor António Costa tanto critica hoje, era um dos objectivos inscritos no memorando de entendimento. Era uma privatização da TAP a 100%, veja-se até onde ia o neoliberalismo" em Maio de 2011, disse Passos Coelho.
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Costa contrapôs:
"Ao contrário do que diz o primeiro-ministro, o que estava no memorando de entendimento com a troika [assinado pelo PS] não era a previsão de uma privatização a 100% da TAP. Não, o que estava no memorando de entendimento era que a TAP só seria privatizada parcialmente e nunca na sua totalidade", garantiu António Costa.
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Um outro Costa veio em ajuda do Pedro:
"O Dr. António Costa tem produzido, desde que é secretário-geral do PS, um conjunto de afirmações de uma forma relativamente ligeira, o que leva a que depois seja confrontado com documentos que o desmentem. Ora, na página 8, no ponto 17, do memorando de entendimento original está assumido pelo Governo que o subscreveu, que foi o Governo do PS, a assunção do princípio da venda total quer da Galp, quer da REN, quer da TAP", disse Marco António Costa aos jornalistas hoje em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, Marco António Costa.
Entretanto, as leituras das diferentes versões do Memorando deixaram alguns confusos e os restantes a dar razão a Costa. O assunto parecia ter morrido com a mesma indiferença geral com que tinha começado. Não creio é que alguém estivesse preparado para o que o feroz carrasco de socráticos Duarte Marques iria conseguir acrescentar. Que é isto:
Privatização da TAP: Também neste caso ficamos esclarecidos que afinal o líder do PS só desmente aquilo que o Governo não disse, mas ao mesmo tempo confirma que Passos Coelho diz a verdade. Confuso? Nem por isso. António Costa apelidou o governo de fantasista ao afirmar que o Memorando de Ajustamento que Sócrates assinou com a Troika referia uma privatização parcial da TAP. Pois é! Precisamente o que o Governo está a fazer. Foi precisamente isso que Passos Coelho confirmou no debate quinzenal, ou seja, alienar uma percentagem da empresa. Mas António Costa critica o Governo por fazer aquilo que ele próprio defende e que está no memorando assinado pelo governo de Sócrates. Isto promete. Ficava bem pedir desculpa e assumir o erro.
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Duarte Marques quer que Costa peça desculpa pelas mentiras de Passos Coelho e Marco António, mentiras que o próprio confirma terem sido ditas pela liderança do seu Governo e do seu partido. Esta força da Natureza dá sinais de estar destinada a um futuro glorioso. Não sei é se teremos em Portugal palha suficiente para alimentar o animal.