Se os namorados se beijam por serem namorados, se os amantes se desejam por serem amantes, se os esposos vivem juntos por serem esposos, se os pais cuidam dos filhos por serem filhos, se os filhos protegem os pais por serem pais, se os amigos preferem estar com os amigos por serem amigos, se os familiares ajudam os familiares por serem familiares, se os professores dão melhores notas aos bons alunos por serem bons alunos, se as empresas contratam empregados competentes por serem empregados competentes, se os patrões promovem profissionais talentosos por serem profissionais talentosos, se os consumidores escolhem certos produtos em vez de outros por serem esses os produtos certos em vez de outros, se a nossa vida é toda e sempre um processo contínuo e inevitável de discriminações instituídas como padrão de normalidade, e temos como legítimo que assim seja — então, porque não aceitar que se discriminem pessoas no mercado de trabalho com base no tom de pele, religião, orientação sexual, idade, deficiência física, opção política, estatuto social, origem geográfica, código genético, altura, fealdade, apelido, clube, capacidade para contar anedotas ou até mera recusa em prestar favores sexuais, posto que já o fizemos antes na esfera privada e ninguém nos acusou de discriminação, bem pelo contrário, e até ficaram todos contentes?
É uma pergunta.