Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Rescaldo dos protestos contra o CPE, em Paris

MANIFESTANTE ENTRE A VIDA E A MORTE
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Foto Liberation

Cyril Ferez tem 39 anos, é sindicalista do SUD, encontra-se hospitalizado em estado de coma, depois de ter sido espancado pela polícia de choque. As autoridades abriram um inquérito para esclarecer “o incidente”. Fontes policiais afirmam que o manifestante estava alcoolizado, testemunhas falam que a polícia carregou no fim da manifestação, a delegação dos SUD que ia na cauda da marcha foi dispersa, Ciryl foi alcançado pelos polícias, tendo sido espancado por um elevado número de polícias de choque, e deixado inanimado e com a cabeça quase desfeita.

Uma ligeira evolução

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José Manuel Fernandes afirma, no seu “Público”, que, se fosse hoje, continuaria a defender a invasão do Iraque.
Num artigo intitulado “Dever e haver da invasão do Iraque”, ele descobre que, apesar das mentiras, do descontrolo total e da absoluta falta de planeamento para o pós-invasão, apesar do clima de guerra civil que já se vive no Iraque, apesar dos desmandos, das torturas e das arbitrariedades; apesar do fortalecimento de todas as facções fundamentalistas no mundo árabe… apesar de tudo, valeu a pena. Isto porque se calhar estaria tudo pior se tivesse sido tomado outro caminho qualquer.
Bem, pelo menos numa coisa a situação evoluiu. O jornal de José Manuel Fernandes já não apõe aspas à palavra “invasão” neste contexto, como fazia há precisamente dois anos.

O problema do abuso de droga nas redacções

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O editorial do Público de hoje é a prova viva de uma velha campanha: droga, loucura e morte!
Voltarei mais tarde ao assunto, mas o artigo é simplesmente genial: estará o esforçado José Manuel Fernandes convencido conseguir convencer alguém com aquele arrazoado de disparates, para além da estimável Helena Matos?
Aqui ficam alguns “factos”, para incentivar a leitura:
– A culpa da não existência de armas de destruição maciça é de Saddam: fazia Bluff e assim enganou maldosamente os Estados Unidos da América.
– A prisão de Abu Graib, a tortura e Guantánamo são a prova da superioridade da democracia dos Estado Unidos da América: só sabemos delas porque há imprensa livre.
– A al-Qaeda está muito activa no Iraque e o terrorismo disparou numa escalada incontrolável, porque a “base”, sabe-se lá com que cumplicidades, já actuava no Iraque nos tempos de Saddam.

O meu candidato a Ministro da Educação

É o Nuno Crato. Quem quiser, se ainda não o conhece, que investigue. O seu último livro, O Eduquês em Discurso Directo, pode dar azo a alergias, alguidares de pesporrência e fácies ruborizados em parasitas do sistema de ensino. Porém, a reflexão que está na origem do livro parte de uma ideia simples que vou tornar chã: os putos só aprendem à força. Não se exercendo força, não há pedagogia. É assim, é indiscutível, é óbvio. E quem não concordar, vindo com fórmulas rousseaucas onde os meninos se transformam num híbrido de anarquismo utópico com Ovos Fabergé, está a criar uma sociedade de analfabrutos.

Ora, eu gostava que este homem fosse Ministro da Educação. Em alternativa, que fosse Primeiro-Ministro. Começo aqui uma campanha nesse sentido.

O chifrudo manda saudades e pergunta se preferimos o Rainha bem ou mal passado

É isso mesmo Luís! É isso mesmo! Agora sim vi a Luz! Como foi possível andar enganado todo este tempo. Fátima é uma invenção da administração Bush para justificar a intervenção americana no Iraque, através de uma conspiração global da Opus Dei com a comissão de disciplina da Liga e liderada pelo Paulo Teixeira Pinto. Não te admires se começarem a abrir agências do BCP em Fallujah e se o Benfica ganhar o campeonato com a conivência do grande capital português (mesmo perdendo todos os jogos). Isto anda tudo ligado.

Reconheço talento na tese, bastante melhor que outras versões que tenho lido, mas para dar best-seller continuo a pensar que falta um romance qualquer. Tipo amor à primeira vista que espera para acontecer. Mas amor gay, claro, tipo cowboys, que isto da literatura hetero já deu o que tinha a dar. Seja como for adivinho-te longa e profícua carreira literária seu Luís “Rodrigues dos Santos” Rainha. RMD

Terra chama frei Rodrigo!

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Fátima, um mito? Ná; eu usaria antes a palavra “fantochada”. Desculpa lá a franqueza; mas acreditar em Fátima é coisa mais grotesca do que ler o “Código da Vinci” como se fosse um tomo de História. Ou acreditar que os americanos derrubaram o WTC acolitados por uma tribo de pequenos venusianos de maus-fígados.
Fátima nem sequer foi invenção da Igreja. O mérito pertence quase por inteiro à pequena mitómana alucinada, Lúcia dos Santos. A imaginativa criança conseguiu convencer gente adulta supostamente na posse das suas capacidades intelectuais de que tinha visto as seguintes criaturas mais ou menos mitológicas: um tal de “Anjo de Portugal”, a Virgem Maria (que também fez uns cameos, lá para o fim da farsa, sob os pseudónimos de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Carmo), o menino Jesus em diversos estágios de crescimento e até mesmo S. José. Isto sem qualquer espécie de prova, no meio de testemunhos continuamente refeitos (recordem a historieta inicial, que dava conta de uma senhora com a saia acima do joelho, por exemplo) e, muito mais importante para qualquer cristão, servindo de veículo para uma mensagem vingativa, odienta e má; a léguas da ideia de Salvação universal que Cristo nos terá deixado.
Que raio de Deus é que exigiria a uma criança que rezasse muito, sob pena de ir parar ao Inferno? A tal “Senhora” de Fátima fê-lo. Da mesma forma, não se coibiu de endereçar esta pergunta aos três “videntes”: “quereis oferecer-vos a Nosso Senhor para aceitardes de boa vontade todos os sofrimentos que ELE vos quiser enviar, em reparação de tantos pecados com que se ofende a Divina Majestade, em desagravo das blasfémias e ultrajes feitos ao Imaculado Coração de Maria e para obter a conversão dos pecadores, que tantos caem no inferno?” Ao pé de coisas destas, até o teu satanismo faz boa figura… e o “Código da Vinci” parece um bem estruturado tratado de teologia.
E olha que a Igreja só embarcou no comboio de Fátima quando aquilo lhe cheirou a fonte de dinheiro e de poder. E, claro está, depois de já ter comprado grande parte dos terrenos circundantes.
Quanto à Opus Dei, antes se dedicasse ao satanismo e ao basquetebol (aquilo do encesto tinha a ver, não era?). Sempre era forma de se tornar em coisa mais divertida e menos manhosa.

O Luís Rainha nunca mais foi o mesmo depois de ler o Código de Da Vinci

Entre os cartazes para as manifs anti-americanas encontro este naco na mesma linha dos inesquecíveis clássicos da postologia de esquerda: “Fátima é um mito inventado pela igreja”, “os americanos fazem guerras para gastarem as munições em stock” e, claro, “a Opus Dei é uma comunidade de adoradores de Santanás com tendências incestuosas”. Enfim, aquela divertida e factual agenda. Mas a questão que se coloca é: a Atlântida! Para quando um poste do Luís Rainha sobre a Atlântida? RMD

Cooperação estratégica

Teve lugar ontem, no Palácio de Belém, o primeiro dos encontros semanais entre o novo Presidente e o primeiro-ministro. Toda a gente notou a mudança de cenário: em vez dos habituais sofás, uma mesinha redonda e austera; duas cadeiras com torcidos. Mas o punctum da cena, se me permitem, estava no material de trabalho, em que se espelham de forma claríssima todas as diferenças de estilo entre os dois políticos. Enquanto Sócrates trouxe para a reunião um discreto moleskine preto, Cavaco esperava-o com um caderno escolar dos antigos: capa azul, argolas e (quase que aposto) papel quadriculado para melhor fazer as contas.

Diz SIM à discriminação (e vive em paz com a tua consciência)

Se os namorados se beijam por serem namorados, se os amantes se desejam por serem amantes, se os esposos vivem juntos por serem esposos, se os pais cuidam dos filhos por serem filhos, se os filhos protegem os pais por serem pais, se os amigos preferem estar com os amigos por serem amigos, se os familiares ajudam os familiares por serem familiares, se os professores dão melhores notas aos bons alunos por serem bons alunos, se as empresas contratam empregados competentes por serem empregados competentes, se os patrões promovem profissionais talentosos por serem profissionais talentosos, se os consumidores escolhem certos produtos em vez de outros por serem esses os produtos certos em vez de outros, se a nossa vida é toda e sempre um processo contínuo e inevitável de discriminações instituídas como padrão de normalidade, e temos como legítimo que assim seja — então, porque não aceitar que se discriminem pessoas no mercado de trabalho com base no tom de pele, religião, orientação sexual, idade, deficiência física, opção política, estatuto social, origem geográfica, código genético, altura, fealdade, apelido, clube, capacidade para contar anedotas ou até mera recusa em prestar favores sexuais, posto que já o fizemos antes na esfera privada e ninguém nos acusou de discriminação, bem pelo contrário, e até ficaram todos contentes?

É uma pergunta.

Encontrem a Deus, mas noutro trabalho qualquer

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Todos vimos há uns dias o presidente do BCP, Paulo Teixeira Pinto, enquanto lia no teleponto a declaração das suas melhores intenções com a OPA sobre o BPI. Que era tudo amigável, que nada o movia contra ninguém, que queria era espalhar amor pelo mundo financeiro afora, jurava o senhor com o queixo quase trémulo de tanta linda intenção.
Afinal, o sucessor de Jardim Gonçalves é membro convicto da Santa Máfia, a Opus Dei; e a sua surpreendente nomeação para o cargo talvez não tenha sido alheia a esse facto. Sabemos também que tal organização tem como lema “encontrar a Deus no trabalho”. Logo, ficaria mal ao sr. presidente incluir no seu trabalho operações hostis e outras manigâncias de semelhante jaez.
Dias depois, a mesmíssima santa alma confirmou que a concretização da sua OPA levará ao despedimento de 3.000 trabalhadores. “É perto desse valor”, disse ele, não sei se mais uma vez acompanhado pelo seu piedoso tremor de queixo.
Admitir a intenção de chutar com 3.000 famílias para parte incerta talvez merecesse mais do que esta seca anuência, em termos de “valor”. Sobretudo para quem milita numa seita que quer promover uma “vida plenamente coerente com a fé nas circunstâncias vulgares da existência humana, especialmente através da santificação do trabalho.”
Mais: o sr. presidente é um dos animadores da folclórica Associação Cristã de Empresários e Gestores de Empresas, que se rege por um “Código de Ética” já entregue a Bento XVI, suponho que em cerimónia de adequada elevação espiritual. Este “Código” impõe aos signatários “o respeito e a promoção do projecto de vida dos trabalhadores”.
Naturalmente, compreendo que o objectivo máximo de um gestor possa ser realizar valor para os seus accionistas, ignorando tudo o mais. Desagrada-me é o farisaísmo desta malta que nos fala em santidade, em Deus e em Ética para no fim se revelar tão gulosa (não esquecer que a administração do BCP é recordista nacional de vencimentos) e indiferente à sorte dos seus colaboradores como o mais amoral incréu.
À laia de consolação, resta-me esperar que surja mesmo uma contra-OPA do BPI e que o sr. presidente se veja recambiado para o mosteiro. Lá, poderá procurar a santificação do trabalho sem dar cabo da vida a ninguém.

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