Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

O melhor blogue do mundo

Não apanhei o período da paixão pelos blogues, os anos de 2002 a 2004. Estava de ressaca, anteriores experiências comunitárias na Internet tinham-me já revelado o essencial e o acidental nisto de se comunicar com anónimos através de um teclado. E, talvez por ter começado num outro formato, pouco me fascinou, me fascina, nos blogues.

As leis da selecção natural também se aplicam na blogosfera. Stultorum numerus est infinitus, e nada como a Internet para o comprovarmos. Passado o ciclo da novidade — e exceptuando aqueles que, por variada causa, são militantes do meio ou se sentem obrigados a dar notícia de terceiros — ficamo-nos por um conjunto muito limitado de autores. Olhemos para a listagem de blogues referenciados aqui no Aspirina, por exemplo. A maior parte deles está activa, alguns mantendo um ritmo intenso. Quantos visito regularmente? Dois. Um deles é o melhor blogue do mundo.

O que Pacheco Pereira faz é admirável, sob qualquer ponto de vista. Primeiro, oferece conteúdos intelectualmente superiores num discurso acessível para o leitor médio (tal como faz na imprensa, onde alia o rigor da reflexão à simplicidade da argumentação), expondo a sua erudição e amplitude de interesses sem proselitismo. Depois, usa o meio para servir a comunidade, o que acontece com a publicação de e-cartas, fotos, textos de autor (a surpreendente parceria com Agustina), referências à blogosfera e, muito importante, com a reflexão e crítica da blogosfera enquanto objecto sociológico e ecossistema. Por último, mas cada vez mais longe do fim, a sua produção é constante; assim cumprindo a promessa, inclusa na etimologia, de os blogues serem diários e diários.

Com tudo, talvez o traço que mais me impressiona no Abrupto, e na pessoa que o faz, seja a ausência de cinismo. Há melancolia, sim, inevitável consorte da lucidez, e até essa apenas implícita, mas não há expressão do cinismo. O cinismo é imbecil, e o Abrupto é um dos mais poderosos antídotos contra a estupidificação nacional; logo, água choca para um lado, azeite puríssimo para o outro.

Lendo as suas “Regras Próprias“, não há como evitar a conclusão: eis o melhor blogue do mundo. Do meu mundo, pois claro.

Para que serve a Galiza

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A Galiza serve para albergar os galegos. Dá-lhes espaço e luz, um chão, um céu. E água, pedra e floresta. E sossego e inquietação. E vontade de partir para longe. E a saudade, já, do regresso.

Mas também a nós, portugueses, a Galiza serve. E para bem mais do que poderíamos supor.

Primeiro, e já não será pouco: a Galiza recorda-nos que somos menos únicos do que apreciamos pensar. E que o Universo, ou mesmo a Europa, não se andaram preparando para produzir, aqui, esta tão inesperada mistura, que chamámos portuguesa, de sonho e pragmatismo, de evasão e acanhamento, de um entusiasmo por amanhã e uma entrega já hoje à fatalidade.

Assim, a Galiza faz-nos sentir-nos menos sós nesta agreste Península. Estamos acompanhados na ríspida vizinhança dos excitáveis e excitados castelhanos. Que nos disturbam e cansam com o seu colorido, a sua eloquência, a sua certeza de ditarem as leis do planeta.

E, por isso, a Galiza serve para lembrar-nos a felicidade, que a Galiza não teve, de podermos fechar as portas e janelas à algazarra. E podemos ler Javier Marías no alpendre, ver Almodóvar no sofá, calcorrear um Prado silencioso e digital, ouvir Tamara enquanto passeamos. Como se o Mediterrâneo luzisse em Elvas ou viesse lamber as praias da Covilhã.

Serve a Galiza, igualmente, para recordar-nos uma sorte, sorte que ela também não tem: a de desconhecermos um idioma superior, dia e noite contaminando, abafando, ameaçando de morte o nosso. E, por isso, quanta necessidade há, quanta urgência talvez, de o protegermos, a este, e da maneira mais simples, e a mais esperta: conhecendo-o melhor, estimulando nele forças dormentes, usando-o com imaginação e fidalguia.

A Galiza é o nosso melhor contacto. Pode a Espanha ser-nos um exemplo de sociedade, e é decerto um parceiro comercial. Mas não nos é, nunca foi, nem parece que venha a ser, um interlocutor. Até hoje, ninguém apresentou uma fórmula para isso que não diminuísse Portugal.

A Galiza, essa, há-de servir-nos, sempre, de casa ao lado. Com amigos certos. Para uma longa conversa ao pôr-do-sol.

*

A conversa entre galegos e portugueses tem vindo a fazer-se também na blogosfera. Salientarei, do lado galego, O Levantador de Minas, o blogue de Jaureguizar Cabaret Voltaire (antigamente Facendo Amigos) e o de Martin Pawley Días Estranhos (sic). E ainda o Portal Galego da Língua. Do lado português, tem de destacar-se Renas e Veados, tal como Coroas de Pinho.

A 13 e 14 de Outubro, haverá no Porto um encontro luso-galaico sobre Weblogs. Toda a informação aqui.

O mapa acima, de fabrico alemão, usa o nome espanhol da Galiza. Para muitos galegos, esse é também o nome do seu país. Mas há que sublinhar, no conjunto, a saborosa incorrecção política da mapeação.

Leituras de fim-de-semana (2)

UM MOURO NO NORTE (cont.)

Chegara eu de Lisboa? Sim, e de mais longe ainda. Do recanto mais fundo do fundo Alentejo. Vinha duma terra, Mértola, outrora cidade altiva, rica, porto mercantil que abastecia Lisbuna. Um pacífico povo mouro aí vivia, laborioso, feliz. Até ao dia, infausto entre todos, em que hordas cristãs de nortenhos, falando uma língua inaudita, vieram destruir-nos casas e oficinas, impor-nos uma religião, fazer-nos esquecer a amada língua berbere. Ainda hoje a minha cidade, que acabou vila, é uma das três ou quatro jóias urbanas do País. Pois sim. Mas seria exagerado agradecermos aos cristãos do Norte terem tido a gentileza de não nos riscarem do mapa. Por nós, nunca recuperámos da invasão. Hoje batemos palmas à selecção portuguesa? Acreditem que também teríamos feito uma boa equipa.

Não me tornei padre. Essa batalha, o norte cristão perdeu-a. Ficou o mundo, também, com um problema a menos. Hoje, do púlpito, eu encheria atentas naves com verdades em que eu mesmo não acreditaria. Uma vida exemplar não era, igualmente, de mim esperável. Ainda assim, garanto que tinha perfil para voos eclesiásticos. Neste momento, poderia estar já a cónego, quem sabe se a mais. Seria feliz? Algo me faz supor que não. Mas nunca mo poderei provar. Também a vida nos vai formando, e acaba por fazer de nós seres inverosímeis, a perguntarem-se ‘como é que cheguei aqui’, olhando à volta, procurando um código, talvez escrito no desenho dos ramos ou no voo das aves, que nos informe, finalmente, do que viemos aqui fazer.

Concedo: também não eram, estas, considerações que me visitassem o ânimo, naquela tarde, há cinquenta anos, em que de longe avistei Guimarães por primeira vez. Não eram estas reflexões, nem nenhumas outras. E por isso eu era feliz.

Leituras de fim-de-semana (1)

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UM MOURO NO NORTE

Há gente que não assenta. Anda de terra em terra, aproveita o melhor de cada uma, e parte, parte de novo, que o vasto mundo chama. Uma pessoa assim sou eu. Nada de especial, adianto já. Mas sou irremediavelmente ‘especial’ para mim mesmo, e vivo na firme, ainda que improvável, convicção de sê-lo também para os outros. Ora, até nisso, não sou especial. É que todos, todos, assim nos sentimos. Vivemos confinados nessa desesperada, e também sólida, impressão de sermos o centro do mundo. Infelizmente, somo-lo. E, porque mais ninguém se dá conta disso, vivemos nesta desdita, e nesta solidão, que a gente sabe.

Não eram, estes, pensamentos que me atormentassem aquele domingo de Março de 1955 em que avistei Guimarães pela primeira vez. Nem é certo, sequer, ter percebido que era Guimarães aquilo que avistava ao longe. Vou explicar. Nesse longínquo dia, jogava o Benfica em Braga. Isso era uma boa razão para eu me meter à viagem, de Lisboa. A outra razão é que queria ser padre, e Braga era um sítio, digamos, muito adequado. Mas, e agora vem, não era bem Braga aonde me dirigia, e onde iria passar os oito intermináveis anos da minha adolescência. Era um alto cerro a leste da cidade, de onde se avistava o mundo inteiro, e Guimarães para começar.

Desde então, passei a acordar vendo a cidade três ou quatro léguas lá adiante, e garanto que há no mundo poucos espectáculos para um despertar assim. Quantas vezes a Penha não se recortou, nítida, sobranceira a um vale, o das Taipas, acamado num lago de nevoeiro, liso e brilhante. Tantos anos depois, isto ainda põe lírica uma pessoa. Depois, e o lirismo ainda não acabou, quantos pores-do-sol não viram estes olhos, em que Guimarães encerrava o dia num rosa-laranja glorioso, agora já não nítido senão irisado, como diriam os poetas. Já se percebeu: tenho da primeira capital portuguesa uma impressão muito devedora à natureza. Impressão limitada, decerto, mas intimamente enriquecedora. Também a natureza nos forma. De resto, mais tarde soube que jóia urbana Guimarães era, com um dos três ou quatro mais belos centros históricos do País. Na altura, este miúdo calhava caminhar pela cidade, achava bonito, mas não sabia quanto.

Chegara eu de Lisboa? Sim, e de mais longe ainda. Do recanto mais fundo do fundo Alentejo.

[prossegue e termina mais logo]

Este artigo apareceu, por convite de Pedro Chagas Freitas (ver blogue aqui ao lado), no jornal «Global Minho e Porto», editado em Guimarães. A fotografia é autêntica. Foi feita num fotógrafo da Rua dos Poiais de São Bento, em Lisboa, na noite anterior à partida para o Norte. Meios sofisticados permitirão identificar o emblema como de um clube importante da capital.

CARTA AO POETA ANTÓNIO CABRITA A PROPÓSITO DE CERTOS IMPASSES

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Do poeta natural de Cabo Verde José Luís Tavares publicou o «Aspirina» alguns originais e traduções de poemas portugueses para caboverdiano. Hoje, um novo original, com destinatário e mensagem. Decerto não por causa, mas seguramente por arrastamento do «post» de Valupi / RenatoC. «Somos um aterro literário!».

CARTA AO POETA ANTÓNIO CABRITA
A PROPÓSITO DE CERTOS IMPASSES

Sim — sempre o soube —
amas o fogo que assoa as ventas
aos baixios da alma com a afeição
do sabre gangrenando a giba.

Com a confiança do que atravessou,
incólume, o gargarejo de zeus,
desentranhas o manancial que sete
gerações de poeira ocultaram sob
a cauda centrípeta do harmatão.

Irmão antónio, que suspiro não é
decreto que cauciona a orfandade do escriba?
A minha filha já me ronda os versos
com a veterania do felino, inda desconheçam
os molares o salitre oculto em cada naco.

Irmão antónio, a ciência do desengano
não é apanágio do que se extravia
num raso copo de mezcal,
mas daquele que desabalado de si
apalpa o pulso ao furacão.

Pois, tu também te perdeste,
com a loquacidade do naufragado,
à esquerda pantanosa de um tempo
que recicla os mais débeis gorjeios
que nem cócegas fazem às coronárias

— arrancado aos pinhais onde lufam
polígrafos ignorantes da fotossíntese,
nas margens do limpopo despistas agora
o ranço que aleita os ouedes
onde se oculta o manancial.

Sagrasses em pedra-pome o rasto dos delírios,
qual cego que seguisse o engodo duma mansa voz,
mas conturba-se a atonal rebentação
com seu fio preto de insónias — e meia vida
escoa-se pelo cano que rói o sebo aos mistérios;

a outra, confia-la à pestanejada porosidade
dos versos, reles baforada
sem o póstumo luzimento que recobre
a irrestrita inteireza do abismo.

José Luís Tavares

Perspectiva histórica

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Às vezes, para estimular os meus alunos a alguma maior perspectiva histórica (que, segundo alguns relatórios, e a minha própria experiência, lhes falta aqui e ali), forço neles um jogo mental. Assevero-lhes, por exemplo, que daqui a 30 anos, portanto quando eles tiverem 50, o iPod (ou o tetraneto dele) produzirá não imagens hesitantes de vídeo, mas experiências tridimensionais. Concretamente, poderão ver «Tróia» no exacto meio da cena, que se desenrolará em seu redor até perder de vista. E poderão, à escolha, espadeirar com Aquiles ou com Heitor.

Olham-me, então, entre espantados e fascinados. E eu prossigo, dizendo-lhes que Multatuli (o Camilo Castelo Branco cá do sítio), a terem-lhe contado que um dia se poderia, carregando uns botões, ver imagens móveis e realistas – e até em directo – numa caixinha de 12×6 cm, pagas com uns códigos bancários, teria tido, e com razão, um espanto maior do que eles agora têm com uma Tróia em 3D e sound surrouding.

Não sei se a tecnologia vai levar exactamente a isso. Pode até conduzir a conseguimentos que hoje não me passam – nem poderiam passar-me – pela cabeça. Nós não podemos senão extrapolar o conhecimento hoje disponível, projectá-lo no futuro. Assim, em finais do século XIX, Júlio Verne, que já conhecia o telefone, imaginou salas imensas com milhares de telefonistas lendo aos assinantes, um a um, as notícias do dia. A rádio era-lhe, ainda, inconcebível.

Com desconto para o meu erro factual (só verificável daqui a decénios), os meus alunos terão ganho – assim espero – alguma perspectiva temporal mais. Sempre útil, neste exigente mundo.

SOMOS UM ATERRO LITERÁRIO!

É uma sorte podermos ter o Fernando Venâncio no Aspirina. A sua generosidade intelectual é de uma cepa rara, aquela que quer criar comunidade. E talvez por isso (ou por acaso, que tanto faz) tenha aparecido aqui este desopilante exercício do Renato C., a merecer itálico e acenos de cabeça:

O problema da parvalheira literária deste País não tem origem na estrutura crítica, que melhor ou pior acaba, as mais das vezes, por resultar inócua para o compto das vendas da grande maioria das edições.

O disparate reside, antes, no mesmo velho factor social que de tão devassado e moribundo perverte e arruína todos os demais: a Educação.

À força de uma sólida educação, composta por toda a sorte — ou azar — de lixo mediático com que entopem os neurónios às criancinhas inocentes, na verdade elas nunca passam disso mesmo: criancinhas; a inocência esvai-se, ainda assim.

Basta observar os comportamentos nas estradas, nos restaurantes, nas empresas, nos hipermercados, nas repartições, nos jardins, nas praias, em toda a parte. Aliás, até mesmo neste blogue… O português, essa coisa abjecta, polui com as suas atitudes infantis, inescrupulosas, pouco cívicas e nada inteligentes cada nanograma de ar que o rodeia. Cospe para o ar. Dá tiros no próprio pé.

E isto nem sequer está inter-relacionado com o nível socioeconómico das pessoas… Era bom se assim fosse, que sempre tínhamos a recorrente desculpa de sermos um País pobre e-tal-e-coiso. Mas, na verdade, a única diferença é que os economicamente ricos, embora tão pobres como outros quaisquer, detêm mais recursos para branquear os seus comportamentos.

Os piores canais e programas de televisão alcançam as maiores audiências; os piores jornais são os mais lidos — salvo honrosas excepções —, e a generalidade dos jornalistas são maus ou sofríveis ou acabam por evoluir para esse estádio à medida que acumulam experiência; as editoras recorrem ao tradicional “é o que vende” para ficarem de consciência tranquila; qualquer brutitates que saiba contar anedotas em público, ou qualquer crica com um par de cara ou um palmo de mamas, salta em menos de um fósforo para a ribalta das figuras públicas e lá se mantém, se estrategicamente fizer umas plásticas de quando em vez… E quando se dá por eles, zás! — derramaram as suas fartas pústulas num livro com a história da “minha vida”. Minha nossa! — quer dizer.

Se não, reparem que não é um problema confinado aos autores literários portugueses… Se quiserem algumas obras de referência de autores estrangeiros (das quais muitas são livros de vulto e, a seu tempo, best-sellers lá fora), tê-las-ão de ler em Inglês, Francês ou mesmo Espanhol. Contudo, se se dedicarem a esgravatar nos escaparates constatarão que não falta cá nada do lixo internacional. A bosta que se escreve em todo o mundo é traduzida e publicada à velocidade de uma corrida de burros. Porque muitas vezes os direitos para publicar a obra são alvo disso mesmo: de uma corrida de burros.

Há uma maré negra nas edições livreiras portuguesas. É um facto. Mas isso pouco ou nada se deve à acção dos críticos — muitos apenas na forma tentada — literários. Eles são normalmente gente boa que vasculha no lixo e por vezes se deixa contaminar. Apenas isso.

Falta, na listagem do insigne suprapostador, a Margarida Rebelo Pinto, o José Rodrigues dos Santos, o Miguel Sousa Tavares, o Gastão não-sei-quantos e outros que me neurastenizam a molécula (e que decerto me perdoarão pelo facto de me não serem mnemónicos)… Enfim. Mas nem todos são maus. Alguns escrevem bem e eu até os aprecio — o que, se eles soubessem — os encheria de contentamento e orgulho.

Afinal, o que faz falta é uma secção de reciclagem literária nos ecocentros do País. Quando assim for, pode ser que o aterro se dissipe…

Soube-me bem desabafar. Mas já criticava qualquer coisinha tenra…

Até já.

PS — Também acredito no Pai Natal.

Renato C.

O filme das vossas vidas

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Então é isso. Os vossos dias, e as vossas noites, esvaem-se-vos assim. Uma bebida num bar imensamente trendy, um ultra-rapidinha em casa antes do jantar fora, uma rupita levíssima que abala a conta do marido, uma queca nos lavabos do Centro Cultural de Belém.

Para ver-me informado disso, fiquei eu a noite passada roubando o sono ao corpo (sim, eu arrasto-me uma hora à vossa frente, calaceiros), dizendo-me que o filme da vida deles bem podia esperar até virem as primeiras críticas. Tudo bons pensamentos. Era a sábia natureza a surrurrar-me o melhor que lhe vinha à cabeça. Pois nada ajudou, viu-se. Sim, este desgraçado viu.

Claro, os actores portugueses fazem largos progressos. Já não se lhes lê nos olhos a deixa seguinte, a dele, ou a do outro, e conseguem mesmo uma vaga descontracção. Os cenários são convincentes. E a linguagem até não mete logo o lisboetês desta semana.

Mas a história… (não reparei no autor, mas vou reparar), a história não tem nada daquela finura que faz as grandes séries, norte-americanas ou brasileiras, o imprevisto ou o dulcíssimo susto que nos atraem para a ponta da cadeira, e já no primeiro episódio, pois claro.

O filme das vossas vidas? Talvez o espreite. Talvez não. As vossas vidas são-me valiosíssimas. O filme delas, não sei se deva dizê-lo, um tanto menos.

Versos que nos salvam

«Versos que nos salvam» era o título da secção de poemas mantida pelo José Mário Silva no velho «BdE» e, em tempos, no «Aspirina». Adoptamo-lo por nostalgia, claro.

Virgílio Rodrigues Brandão é poeta, advogado e colunista do Liberal de Cabo Verde. Reproduz-se um magnífico poema de Virgílio, encontrável também aqui.

ESTELA CANTO E FELICIDADE

Redoma do meu umbigo,
primeiro útero
e mãe.
Lembras-me Estela Canto
nas penumbras tardes de Buenos Aires
à beira do café
com o tango dançando nos coretos
teus lábios de quinta-essência curva
e sorriso prenhe.
Confesso: lembras-me
porque me dói a alma,
todos os homens teus têm duas mães,
gemem quando amam
e procuram por ti sem saberem
– na verdade dizem-se ditames de dias novos
em corpo-longe.
Sim. Ah, sim. Lembras-me
que sou petros in natura
ansiando de trágico o teu riso em noite escura
apagada dentro de luz
em todas as auroras dos gemidos
que ficam nas sombras dos dias…
Sim, lembras-me Estela Canto,
as dores de parto letrino e de dentes
do poeta
e todos os anseios de amanhã
consumindo anos de mar refinado
para perceber de Deus em ti obra
e beijo que podem ser melhoradas…
Lembras-te de me lembrar,
ainda menino,
que posso ser melhorado?…
Recordo-me – expeliste-me de ti…
Lembras-me Estela Canto,
uma parte de Adão em Buenos Aires,
recortando sentidos,
apagando alma de amores,
criando caminhos do belo nas rasuras,
parindo luz numa íris cansada…
Será que sabia que daí chegava a ti
– ao teu Porto Novo e ao teu Fogo –
milho vermelho para construir seiva
para me gerar?
Lembras-me Estela Canto
pois nasci em ti, que foste apagando
o verde e dás sentido ao belo
mesmo nas noites escuras
e no medo cansado que espreita na voz
residente no teu ventre que também balbucia
como o poeta chorou em Genebra
e Buenos Aires quando eu nasci: «Ya no seré feliz.»
O que não sabe, é que é feliz!
Em ti…

Virgílio Rodrigues Brandão

Os indignadores profissionais

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José Saramago quando director-adjunto do DN em 1975

Se há raça de gente que me põe descrente da humanidade, é a dos indignadores profissionais. São os descontentes porque sim, para lá de toda, mesmo a mínima, tranquilidade de espírito.

Isto vem trazido por um comentário, assinado «Rendinhas e Veneno» (vá lá, tem nisto graça), ao post anterior a este, e que diz, entre mais: «Pois é, só é pena que o DN não se lembre o que o José Saramago fez quando foi seu director… já lá vão uns 30 anos é natural que tenha caído no esquecimento…»

É uma insinuação recorrente. Ora, exactamente o «Diário de Notícias» (caramba, o Google até já existe) publicou este artigo que há-de esclarecer o «Rendinhas» bem mais, talvez, do que sonharia. A foto acima é daí tirada.

Do maior interesse são, também, as declarações de Luís de Barros, então director do DN, sobre a sua oposição à entrada de Saramago para a direcção.

Não tem excessivo interesse, mas lembro que pouca gente tem minado (bom, tentado minar) tanto a mitificação de Saramago como aqui o Degas. Simplesmente, nunca permiti que a indignação me guiasse. Por isso me é um prazer constatar que há outros mais dois-dedos-de-testa, como os que depõem neste post da «Estrada do Alicerce», de Ruy Ventura.

Para sublinhar – e apreciar – isso, não preciso sequer de concordar com tudo o aí dito. Assim discordo frontalmente da observação de Paulo Tunhas (aí citado), onde se considera Saramago «palavroso» ou «sem sombra de ironia». Se é verdade que alguns romances, sobretudo os dos últimos dez anos, valem por escassas dezenas das suas páginas (e um ou outro nem isso), creio poder ter-se o estilista Saramago na conta de invulgar economista da linguagem. E de um mestre em ironia. Demasiado subtil, por vezes? Bom, isso já pode ter a ver com quem o lê.

É isso, a indignação-porque-sim só enfraquece as causas. Normalmente, nem causas tem.

José Saramago em 1499 caracteres

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José Saramago com Adrienne Clarkson

Ainda hoje a presença de José Saramago nas letras portuguesas é da ordem da fantasmagoria. Nada fazia suspeitar, por 1980, que uma escrita assim fosse surgir, desarrumando quanto de instalado, e quanto de insubmisso, essa literatura então acolhia. Decididamente, Saramago podia ter sido inventado, previsto é que nunca. Nessa irrealidade nos encontramos ainda. Porque a questão é esta: se é verdade que as grandes escritas são inspiradoras e arrancam o melhor de nós, imitar a deste autor, tentar mesmo só aproximar-se-lhe, produzirá apenas o pastiche, a homenagem.

E todavia – já foi dito, mas importa repetir – muito escritor, ou aprendiz dele, ganhará em ler José Saramago atentamente. Há-de aperceber-se de que a naturalidade ou o artifício, a transparência ou o mal-entendido, a desarmante singeleza ou um requinte de perfídia, são outros tantos efeitos lúdicos, atingíveis com recursos inesperadamente simples, maneiros, à nossa espera no vasto areal do idioma. Se a língua portuguesa permitiu um ‘Saramago’, é porque ela anda grávida de outros.

Quanto ao resto, há muito que estamos conversados. Quem criou Ensaio sobre a Cegueira e Memorial do Convento entrou, e ficou, na literatura do planeta. O Nobel há-de ter sabido muito bem? É mais que certo. Mas nunca essa distinção precária e mundana foi deveras indispensável.

fv

Este texto acompanhou a oferta duma medalha de J.S. no DN do passado domingo. Mas está longe de ser – o leitor atento há-de tê-lo visto – um texto comemorativo.

Passeio bloguítico às tascas da má-língua

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Eu acho delicioso. E instrutivo. E dá-me sempre novos motivos para ser modesto. Nos meus tempos de maldizente, eu era – sei agora – um menino de coro. Hoje, nos blogues, a cena literária é pretexto para muita, mas muita mais ferocidade do que algum vez cá o Degas produziu em folha de papel. Dois exemplos fresquíssimos.

O juvenil «Não Li Nem Quero Ler» – juvenil no tempo de vida e no ainda difícil acerto dos autores com a gramática portuguesa – prossegue a sua abnegada missão.

Também o nunca esquecido Fernando Esteves Pinto, no seu «Escrita Ibérica», não consegue vislumbrar, na mesma e colorida cena, um luzinha que nos encante a existência.

E anda uma pessoa, como eu no DN deste domingo, a produzir 1499 caracteres de bondade sobre José Saramago. Isso depois de ter enfrentado, anos a fio, o mais monótono dos coros portugueses, onde nunca entrei, nem como menino, o dos «saramaguianos».

«Não é fácil dizer bem», ó George? Foi tu abrires a tampa, e o espírito soltar-se. Feliz. Reinadio. Imparável.

A tempo e horas

Ainda no «Esplanar», Carlos Leone – a propósito duma alusão minha aqui – lembra a distância que vai entre a produção dos «redactores» do «Não Li» e o trabalho de José Pedro George no blogue que Leone hoje gere. A distância é patente. É-o cada vez mais. Se desmereci a intervenção de JPG, retracto-me. Com gosto, de resto.

Para os não espeleólogos

O nosso amigo e colega que assinou aqui «afixe» escreveu um post encastoado num comentário a outro post. Não me perguntem como isso se faz – hoje é domingo, e não vou partir a cabeça. Sobretudo, isso não é o mais importante. Pensando bem, não é importante sequer.

Está tudo num comentário de Luís Oliveira ao meu post «Lixo atrai lixo». Que não tinha culpa. O post. Nem o Luís Oliveira provavelmente.

Caro «afixe» (permita-se esta interpelação encastoada num post…): se a qualidade dos comentadores é assim tão determinante (é este, parece-me, o teor do teu último contributo), andarei eu muito perdido ao ter o «Abrupto», o «Da Literatura», o «Esplanar» e «A Origem das Espécies» entre os meus blogues diários, que não permitem, todos quatro, o comentário, ou pelo menos o comentário não filtrado? Blogues onde não se comenta não são «blogues»? Terei eu lido mal?

A senha antiportista

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Não é por nada. Eu até acho o homem um grande escritor, e tenho-o dito amiúde. Mas, havendo aqui assinalado em outra celebridade literária um uso de «lenho» onde devia estar «lanho», eis que dou, em crónica de Miguel Sousa Tavares, n’«A Bola», com um também peregrino uso de «senha». O texto é já velhinho, mas actualíssimo. Ainda hoje o Porto não é amado por Lisboa e seu termo. Pois bem, lia-se na crónica de MST, e eu sublinho:

«…ou ainda um telefonema a Pinto de Sousa em que o presidente do FC Porto terá intercedido a favor de Deco e Mourinho, para que a Comissão Disciplinar da Liga suavizasse momentaneamente a sua tradicional e famosa senha antiportista — tudo isso, todos esses gravíssimos supostos indícios que…». O texto inteiro está aqui.

Caganitas? Nem mais. Só um linguista repara nelas. Mas é a verificação, bem-sucedida, duma hipótese. Um dia, prometi eu, alguém – que foi afinal um cronista célebre (e seus revisores, que «A Bola» terá) – haveria de confundir «sanha» com «senha».

A linguística, será ela afinal uma ciência muito séria?

A tempo e horas

Nova hipótese. Não há-de demorar que alguém, em vez de «ela viu-se ao espelho», grafe «ela viu-se ao espalho» (a ler como «espâlho»). Aposto uma cerveja. Eu pago-ma.

Lixo atrai lixo

No «Expresso» de hoje, um texto do crítico António Guerreiro ajuda a chamar as coisas pelos nomes. Não podemos dar o link, que é a pagar. Os negros são nossos.

«Na semana passada ficámos a saber, através de um comunicado da empresa, que João Paixão tinha sido substituído, no cargo de administrador das Publicações Dom Quixote, por Juan Mera. Por mais que o comunicado tente integrar esta substituição na vida normal da editora – pertencente ao Grupo Planeta, o maior grupo editorial de língua espanhola – há alguns indícios de que as coisas são muito menos serenas, como já tínhamos percebido com a saída, há pouco mais de dois meses, do director editorial João Rodrigues.

«O discurso das empresas, como o de cada indivíduo, tem um conteúdo latente que se manifesta como sintoma. Quando lemos, no mesmo comunicado, que o novo administrador irá prosseguir uma «programação editorial equilibrada, reconciliando as tendências do mercado com a identidade da editora, a qual tem por base autores portugueses e literatura em língua portuguesa», percebemos que uma tal afirmação é, no contexto, deslocada, e que ela só ocorre por insistência de um nó problemático: a conciliação dos interesses comerciais com a edição de livros de «literatura em língua portuguesa». E quando se diz «literatura em língua portuguesa», dever-se-ia dizer, simplesmente, «literatura», pois é toda a literatura que é banida pelos critérios comerciais, como podemos perceber pelo vasto lixo editorial que a Dom Quixote e as grandes e médias editoras produzem hoje. Para percebermos como as coisas mudaram nos últimos anos, devemos recordar que os autores portugueses que a Dom Quixote assume hoje como um fardo são os mesmos que há uns anos garantiam o sucesso comercial da editora. E, em boa verdade, já antes de a Dom Quixote ter sido comprada pelo Grupo Planeta, raros eram os autores portugueses que menos vendem (por maior que seja o seu prestígio) a entrar no catálogo da editora. Só que nessa altura as derivas comerciais ainda estavam no início, não era ainda necessário produzir tanto lixo e entrar na corrida selvagem onde só se salvam os livros que ocupam mais espaço nas livrarias, têm capas mais coloridas e cumprem a tarefa nauseabunda da mercadoria inútil, repetitiva, degradada.

«A lógica editorial, percebemos hoje perfeitamente, não é diferente da que governa a televisão e os jornais: o lixo atrai lixo e a partir de certa altura todo o circuito (edição, distribuição, comercialização) não consegue alimentar-se de outra coisa, não tem tempo nem espaço para funcionar de outra maneira. Lido nas suas manifestações sintomáticas, o comunicado da Dom Quixote diz-nos que o estado da edição em Portugal é uma calamidade, mas que a editora irá continuar, como muitas outras, a contribuir para ela. Quixotesco seria fazer o contrário; colectivamente suicida é persistir na mesma via.»

P.S. Creio que A.G. só não vê bem quando afirma «já antes de a Dom Quixote ter sido comprada pelo Grupo Planeta, raros eram os autores portugueses que menos vendem (por maior que seja o seu prestígio) a entrar no catálogo da editora». Houve, antes e depois da transacção espanhola, vários principiantes editados. O que terá faltado é o acompanhamento. O incentivo. E a convicção. Pelas razões que ele aduz, claro.

fv

Adrenalina

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Ao longe, São Jorge reverberava, não era dizer de mais, a um sol raso, macio, preparando um sumiço em glória.

A tarde vogava lenta sobre a cidade. Preso na largura das avenidas, o trânsito arrastava-se de volta a casa. Nada de especial, portanto, e estas são as piores premonições.

Ele subira os andares todos do Sheraton. Lá de cima veria, finalmente, a cidade tal como sempre a quis: rendida a seus pés e aos dum castelo que se apresentaria, como jamais, soberbo.

Assim era. Ao longe, São Jorge reverberava, não era dizer de mais, a um sol raso, macio, preparando um sumiço em glória. Como se tudo tivesse sido planeado. Porque era exactamente dessas tonalidades que ele estava precisado para a reportagem de uma Lisboa radiosa e um pouco, um pouco só, nostálgica. A máquina fotográfica ao peito acabara por ser, lá em baixo na recepção, comprovadora dos melhores propósitos. Não precisara ele de entrar em complicadas razões. A sua face, contra tudo o que imaginava, devia conter aquilo que define, aos recepcionistas deste mundo, um jornalista. O quê? Precisamente isso.

No alto, o elevador levara a um lounge fofo, concorrido, fazendo tempo para o jantar. Ninguém deu pela sua entrada, e ele achava-se no direito de ser olhado, perguntado pelos barmen ao que vinha. Por força que o rosto lhe apresentava, agora, traços cosmopolitas. Dali, do lounge, passava-se a um terraço exterior, aonde se prolongavam as mesas, as bebidas, a arte de sobreviver a um fim de tarde numa cidade atlântica.

Tejo, Lisboa e o resto espraiavam-se como nunca seus olhos haviam visto. Fora necessário erguer-se este monstro sobre o lombo da cidade para dela se obter tão alargada visão. O sol baixava, está dito. Dito está também que era disso que se precisava. As primeiras fotografias foram feitas dali: de entre os convivas e seu perfume exótico.

Descobriu, depois, que teria mais largueza num extremo do mirante, em que as mesas estavam desocupadas, parecia que abandonadas, ao longo do parapeito. Fincaria os cotos nos tampos sem toalha, e isso haveria de aumentar as forças ao longo alcance das objectivas.

Olhou, aí, desta vez na vertical, a cidade que, setenta metros abaixo, se atarefava. Minutos depois, as lentes varavam as fachadas, percorriam as janelas, devassavam alguma, pouquíssima, intimidade, fixavam aqui ou além um ponto, o zoom enquadrava, a foto fazia-se. Mas não era para isso que ali viera, e sim para fixar o longínquo, o impreciso, o quase improvável, como sustentam os poetas, e também os grandes ares, as distâncias que se esfumam, as antevisões da infinitude. E tudo isso ali estava, assim houvesse quem lhe parasse o sol.

Quem tão alto subiu, subirá ainda a uma daquelas mesas. Com isso se fará, lá ao longe, um acréscimo menosprezável. Mas é a altura do coração que para o fotógrafo conta. A cidade e o mundo em derredor dão-se ainda mais rendidos a essa lente que os palmilha… E é então, sim é então que a mesa cede para diante. Coisa de milímetros, o pé nem o sente. Mas ela já se inclinou, já descontou no palmo que a separa do parapeito, e Newton diria que o abismo se aproximou. Lisboa continua a entregar-se, há um júbilo naqueles ocres, naqueles tons laranja, num cada vez mais perceptível violeta. E a mesa vai caindo, vai convidando a coluna de ar que terá de percorrer-se, o passeio que haverá de enfrentar-se, a morte estúpida como se lhe chamará. «Ao peito, mantinha-se, miraculosamente intacto, o aparelho fotográfico. Verdadeiramente espectaculares, as fotografias virão inseridas na nossa próxima edição.»

A morte, mesmo uma assim – dizem – não é dolorosa. Dando por inevitável o embate, o cérebro lança ao organismo, em décimos de segundo, um banho de adrenalina que nos precipita em indescritível euforia. (Dizem! Não corra a experimentar. Tenha juízo). Grande e sábia natureza é esta nossa, ainda mesmo ali, quando vai findar-se às portas de um hotel mundano.

Não se chegou a tanto desta vez. Nem sempre os sádicos têm sorte. Uma finíssima unha, que afiançam negra, interpôs-se entre a inclinação que na mesa vinha a descrever-se e o ponto donde não teria havido já regresso. Sentido de equilíbrio, instinto de preservação, algo foi que atalhou o avanço à morte. O pé da mesa descansava já, de novo indiferente, no ladrilho.

Dum salto, viu-se no chão. O susto, o tremor, a sensação do transitório de tudo tomaram-no por instantes. Estivera a um passo de saber como era morrer, e sem uma razão forte. A escassos metros dele, pelas mesas ocupadas, prolongava-se o saboreio do exotismo peninsular. Ninguém olhou, ninguém dera por nada. E se alguma coisa o revoltou foi isso: a certeza de que, momentos antes, ele teria desaparecido no precipício sem um oh de ninguém.

As fotografias eram espectaculares.

Este texto foi inicialmente publicado no «JL», há uns bons anos. A história é, em cada pormenor, verídica. A foto não pertence ao caso, nem é tomada sequer do Sheraton. Mas dá uma ideia.

Você também googla?

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Hoje, no DN, uma interessante coluna de Diogo Pires Aurélio sobre presente e futuro do Google e as vantagens que traz ao investigador. Que tenha sido o publicista Pires Aurélio a expor-no-lo, aí está o que faz grande bem a um simples mortal.

E você? Ainda se envergonha de reconhecer que googla?

Há uns anos, uns bons anos, uma fotografia de Vasco Pulido Valente (julgo, já não sei, que acompanhando um texto meu a seu respeito) mostrava-lhe, em cima da mesa de trabalho, o Dicionário de Sinónimos da Porto Editora. Nada de especial? Nada, pois claro. O melhor estilista entre os portugueses vivos serve-se de instrumentos à mão de todos.

Não é pelos instrumentos, e sim pela inventividade, e pelo tino, que se distingue o artista.

Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório